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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.8. Aproveitamento da água pluvial

O uso da água para fins não potáveis pode ser suprido a partir de fontes alternativas. Tomaz (2003) cita como uma fonte potencial para suprir determinadas demandas de água, o aproveitamento da água das chuvas.

O manejo e o aproveitamento da água da chuva tem sido prática exercida por diferentes civilizações e culturas ao longo do tempo. Passando pelo Oriente, Oriente Médio, Europa, e pelos Incas, Maias e Astecas na América Latina, relatos de dispositivos de coleta e armazenamento de água de chuva remotam a sistemas construídos e operados há mais de 2000 anos (RAINWATER HARVESTING AND CIVILIZATION, 2002).

Estas práticas, como um conjunto de outras, pouco a pouco foram sendo substituídas e esquecidas pela população (Phillippi et al., 2006). Na medida em que novos e mais modernos sistemas de abastecimento foram disponibilizados, estas práticas de coleta e aproveitamento de água perderam espaço.

A escassez, a perda da qualidade dos mananciais pela crescente poluição, associados a serviços de abastecimento ineficientes, são fatores que tem despertado diversos setores da sociedade a retomada do aproveitamento da água pluvial (PHILLIPPI et al., 2006).

A água da chuva faz parte atualmente da gestão urbana de recursos hídricos. Vários países da Europa, Ásia, Oceania e da América utilizam água pluvial em residências, indústrias, comércios e irrigação de agriculturas. A literatura técnica internacional tem mostrado o esforço de muitos países desenvolvidos em programas e pesquisas, procurando melhor aproveitar a água da chuva. Estes trabalhos apresentam experiências na Alemanha, Reino Unido, Japão, Singapura, Hong Kong, China, Indonésia, Tailândia, índia, Austrália, EUA, além de alguns países da África (PHILLIPPI et al., 2006).

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Diferentemente de outros países e culturas, o aproveitamento da água pluvial no Brasil não acompanha o desenvolvimento do país, e só nas últimas décadas esta prática tem se destacado, principalmente na região do semi-árido nordestino. A crença de que a água é infinita e abundante no país, contribui para o baixo aproveitamento de fontes alternativas no Brasil.

Um processo de aproveitamento dessas águas poderia diminuir os volumes disponibilizados de água potável que são usadas para fins menos nobres nas residências. A Tabela 5 apresenta a demanda interna e externa de água em uma residência familiar.

Tabela 5: Demanda interna e externa de água não potável em uma residência

Demanda Interna Unidade Faixa Valor

Usual

Vaso Sanitário – Volume l/descarga 6 a 15 9 Vaso Sanitário – Frequência Descarga/hab/dia 4 a 6 5 Máquina de lavar roupa – Volume l/ciclo 100 a 190 100 Máquina de lavar roupa – Frequência Carga/hab/dia 0,20 a

0,37

0,37

Demanda Externa Unidade Faixa Valor

Usual

Gramado ou Jardim – Volume l/dia/m² - 2 Gramado ou Jardim – Frequência lavagem/mês 8 a 12 10 Lavagem de carro – Volume l/lavagem/carro 80 a 150 100 Lavagem de carro – Frequência Lavagem/mês 2 a 4 2 Manutenção de Piscina – Volume l/dia/mês 2,5 a 3,0 3 Manutenção de Piscina – Frequência Lavagem/mês 4 a 8 6

Fonte: Vaccari (2005) apud Manca (2008)

Nota-se na Tabela 5 que a maior parte dos usos menos restritivos de água consomem grandes volumes do recurso. Levando-se em conta que esta água é potável, que consumiu vários insumos no seu tratamento e, além disso, levando-se em consideração a pressão sobre os recursos hídricos e sua eminente escassez, torna-se viável qualquer medida que possa cooperar com a conservação da água de melhor qualidade, substituindo por outra menos restritiva.

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Um sistema de aproveitamento de água de chuva possui características próprias e individualizadas, atendendo o princípio de saneamento ecológico, sendo na essência independente de um sistema centralizado (Phillippi et al., 2006). Quando utilizado, contribui para a conservação da água.

Coletar água de chuva não é apenas conservar água, mas também energia, considerando o consumo necessário para a operação de uma estação de tratamento de água, o bombeamento e as operações correlatas de distribuição entre reservatórios. Estudos mostram que o custo energético tem se constituído num montante aproximado de 25% a 45% do custo total de operações de sistemas de abastecimento de água. Soma a isso, que o aproveitamento da água pluvial reduz a erosão local e as enchentes causadas pela impermeabilização de áreas como coberturas, telhados e pátios, captando e armazenando-as. Assim, a água da chuva que escoaria e poderia causar uma enchente, com todo o risco de contaminação dos corpos d’água, torna-se disponível para diferentes usos.

Pode-se afirmar que o aproveitamento de água de chuva é um sistema descentralizado e alternativa para suprir usos específicos, permitindo, entre outros, a conservação de recursos hídricos, reduzindo a demanda e o consumo de água potável.

Para a coleta da água de chuva são necessárias calhas, condutores, dispositivos para descarte da água de lavagem de telhados e a cisterna para sua reservação.

De acordo com o manual ANA/FIESP & Sindiscon-SP (2005) a metodologia básica para o projeto de sistemas de coleta, tratamento e uso de água de chuva envolve as seguintes etapas:

 Determinação da precipitação média local (mm/mês);  Determinação da área de coleta;

 Determinação do coeficiente de escoamento;

 Projeto dos sistemas complementares (grades, filtros, tubulações, etc.);  Projeto do reservatório de descarte;

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 Escolha do sistema de tratamento necessário;  Projeto da cisterna;

 Caracterização da qualidade da água pluvial;

 Identificação dos usos da água (demanda e qualidade).

Dentre as possibilidades de coleta da água pluvial, as técnicas mais comuns e utilizadas são através da superfície dos telhados ou das superfícies no solo. O sistema de coleta da chuva através de telhados é mais simples e quase sempre produz, uma água de melhor qualidade.

Alguns trabalhos foram realizados no intuito de analisar a viabilidade de aproveitamento da água de chuva. Nos seus trabalhos Vaccari (2005) analisou a demanda de água para fins não potáveis para a Estação de Tratamento de Esgoto localizada no campus da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e para a média de consumo de uma residência de 5 habitantes. O consumo foi de 276 l/dia e 120 l/dia, respectivamente. Concretizando seus estudos, após realizarem o balanço hídrico do sistema de produção e demanda de chuva, obtiveram que para atender 50% da demanda de água de bacias sanitárias e mictórios do prédio da ETE-UFES com água de chuva seria necessário a utilização de um reservatório com capacidade de aproximadamente 30 m3 de água, enquanto que para atender 70% da demanda de bacias sanitárias de uma residência, um reservatório de apenas 3 m3.

De acordo com Annecchini et al. (2006) para atender uma residência com 5 habitantes na cidade de Vitória, tendo área de captação da chuva em torno de 100 m2, considerando aproveitamento da água em 80%, com índices pluviométricos em torno de 61 mm por mês, deveria ser construído um reservatório de 5,0 m3 para atender 100% da demanda de água não potável residencial.

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