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AÇÕES REVISIONAIS E SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO

No documento Contratos bancários e relação de consumo (páginas 38-52)

Considerando a questão da nulidade de cláusula contratual por ofensa ao CDC, esta pode ser declarada nula de ofício, sem que seja necessário realizar seu pedido expressamente. Isso porque, está claro no CDC a necessidade de que o fornecedor de um serviço aja de modo ético, evitando a ocorrência de cláusulas abusivas em contratos, conforme pode ser verificado nos artigos 39, 47 e 51, do referido diploma:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)[...] V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva; [...]

Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.

[...]

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: [...]

IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;[...]

maneira unilateral; [...]

XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor; § 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade que: [...]

III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso. [...]

§ 4° É facultado a qualquer consumidor ou entidade que o represente requerer ao Ministério Público que ajuíze a competente ação para ser declarada a nulidade de cláusula contratual que contrarie o disposto neste código ou de qualquer forma não assegure o justo equilíbrio entre direitos e obrigações das partes. (BRASIL, 2015).

A ideia de lesão busca a proteção do contratante, que por algum motivo se encontra em estado de inferioridade, seja por inexperiência na realização de contratos, ou na falta de familiaridade com os termos usados, enfim, independente do motivo, se for caracterizado prejuízo como resultado da desproporção entre as partes, expressa no teor do contrato, cabe o entendimento de que houve lesão (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2004).

Sobre lesão resultante de contratos, Gagliano e Pamplona Filho (2004, p. 370) esclarecem que “[...] no contrato, mesmo naqueles paritários, ou seja, naqueles em que as partes discutem livremente suas cláusulas, em determinadas situações, um dos contratantes, por premências várias, é colocado em situação de inferioridade.”

Como já mencionado, e de acordo com Gomes (2009), apesar do contrato trazer consigo o princípio da obrigatoriedade, não se cogita sobre a impossibilidade de revisão contratual, usando o argumento de que as partes teriam concordado com o conteúdo do contrato, ou ainda sob alegação do “pacta sunt servanda”, ou seja:

O princípio da força obrigatória, denominado classicamente pacta sunt servanda, consubstancia-se na regra de que o contrato é lei entre as partes. Celebrado que seja, com a observância de todos os pressupostos e requisitos necessários à sua validade, deve ser executado pelas partes como se suas cláusulas fossem preceitos legais imperativos (GOMES, 2009, p.36).

Isso porque, não é aceitável, considerando os moldes do direito, que se exija obediência cega, já que existe a possibilidade de que uma das partes contratantes ser mais vulnerável que a outra.

Ainda sobre a obrigatoriedade dos contratos, Gomes (apud BARCELOS, 2010) reconhece que passou a ser aceita, em caráter excepcional, a “possibilidade de intervenção judicial no conteúdo de certos contratos. A mudança de orientação deve-se a acontecimentos extraordinários que revelaram a injustiça da aplicação do princípio em seus termos absolutos.”

Reafirmando a condição de que os contratos praticados pelas instituições financeiras, normalmente, são contratos de adesão, onde se tem cláusulas pré- estabelecidas unilateralmente, sem que seja permitido ao consumidor discuti-las e alterá-las, evidencia-se a aplicabilidade do CDC em suas possíveis revisões.

O artigo 52 do Código de Defesa do Consumidor trata exatamente do fornecimento de crédito ou concessão de financiamento, indicando que o fornecedor deve observar as exigências legais:

Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre:

I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional; II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros; III - acréscimos legalmente previstos;

IV - número e periodicidade das prestações; V - soma total a pagar, com e sem financiamento.

§ 1° As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação.(Redação dada pela Lei nº 9.298, de 1º.8.1996)

§ 2º É assegurado ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos.

§ 3º (Vetado). (BRASIL, 2015).

De modo semelhante se encontram algumas disposições no Código Civil, vetando também a existência de cláusulas arbitradas unilateralmente para beneficiar exclusivamente uma das partes do contrato:

Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes. (BRASIL, 2015).

Deste modo, constata-se a plena possibilidade de se propor Ação Revisional, através da qual o consumidor pode requerer a nulidade das cláusulas inseridas em

contrato que venham a lhe acarretar em onerosidade excessiva, ou ainda em demasiado benefício ao banco.

Gagliano e Pamplona Filho (2007, p. 57 apud PANICKI, s/d) são enfáticos ao afirmar que:

Hoje, não mais os coronéis de outrora, mas grandes indústrias, empresas e instituições financeiras, muitas delas formando cartéis, lançam no mercado produtos e serviços, alguns de primeira necessidade, os quais são adquiridos por consumidores de todas as idades, sem que possam discutir os termos do negócio que celebram, os juros que são estipulados e as garantias que se lhes exigem.

É por este motivo que o CDC, quando refere-se a inclusão, nos contratos de adesão, de cláusulas que implicam em limitação do direito do consumidor, orienta que estas devem ser redigidas com destaque, permitindo que o contratante as identifique imediatamente, e que as mesmas sejam ainda de fácil compreensão:

Art. 54 – […]

§3º Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor.

§4º – As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão. (BRASIL, 2015).

Verifica-se assim que os consumidores possuem o direito de serem previamente informados das cláusulas contratuais e, ainda, que estas devem ter uma redação clara e compreensível, permitindo sua imediata e fácil compreensão, de forma a não deixar qualquer dúvida ou permitir um mau entendimento quanto a sua finalidade.

Desde sua promulgação, o Código de Defesa do Consumidor, apresenta normas que entram em conflito direto com as práticas das instituições financeiras, sobretudo, no que se refere à existência de vantagem manifestamente excessiva. Veda assim a fixação de obrigações unilaterais, a falta de definição prévia dos encargos; as cláusulas protestativas e abusivas e também ao enriquecimento ilícito; dentre várias outras (PANICKI, s/d).

Em função disso, qualquer contrato realizado após a promulgação da Lei n. 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), e que se refira a uma relação de consumo, precisa seguir os preceitos expressos nessa lei. No que se refere à ação revisional, a jurisprudência é ampla, conforme pode ser observa-se a seguir:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. JUROS REMUNERATÓRIOS ABUSIVOS. Revisão dos juros de acordo com a taxa de mercado aplicada pelo BACEN no período. APELAÇÃO PROVIDA. (Apelação Cível Nº 70061231429, Décima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Elisabete Correa Hoeveler, Julgado em 18/09/2014). (Disponível em: <http://tj- rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/141110016/apelacao-civel-ac-

70061231429-rs>).

Trata-se de apelação cível em virtude de ação revisional de cédula de crédito bancário, provida em primeiro grau, em que o cliente se insurge em virtude da taxa praticada pela instituição financeira. O tribunal reformou a sentença, reforçando que as instituições financeiras não se submetem à Lei de Usura, mas devem observar a taxa média de mercado informada pelo Banco Central. A taxa média de mercado divulgada pelo Bacen, nesse caso, era de 23,44% ao ano, e a taxa praticada pela instituição foi de 29,69% ao ano. A taxa foi ajustada conforme a taxa média de mercado e a apelação julgada procedente, e a instituição financeira foi condenada a arcar com o ônus da sucumbência.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. JUROS REMUNERATÓRIOS ABUSIVOS. Revisão dos juros de acordo com a taxa de mercado aplicada pelo BACEN no período. APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. (Apelação Cível Nº 70061083440, Décima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Elisabete Correa Hoeveler, Julgado em 18/09/2014). (Disponível em: <http://tj- rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/141110018/apelacao-civel-ac-

70061083440-rs>)

O caso acima se refere a uma apelação de sentença de primeiro grau que julgou improcedente a ação de revisão contratual por taxa abusiva. O Tribunal, também, nesse caso, utilizou como parâmetro a taxa média de mercado:

[...] no caso, verifica-se que a taxa média apurada pelo BACEN, no mês da celebração do contrato era de 21,09%. Diante disso, tem-se que o percentual do contrato (27,14%a.a - fl.55) discrepa significativamente da taxa média praticada pelo mercado no período, restando demonstrada a alegada abusividade da taxa de juros remuneratórios contratada. (Apelação Cível Nº 70061083440, Décima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Elisabete Correa Hoeveler, Julgado em 18/09/2014).

(Disponível em: <http://tj- rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/141110018/apelacao-civel-ac-

70061083440-rs>)

A apelação foi parcialmente provida. Observa-se que a Corte mostrou-se sensível à situação da contratante, que pactuou com juros que não pode escolher, frente à necessidade em que se encontrava.

APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO REVISIONAL. CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO. ACOLHIDA. CLÁUSULAS ABUSIVAS. Capitalização. Possível a cobrança de capitalização dos juros em periodicidade mensal, porquanto presente previsão contratual expressa, consoante entendimento do STJ. APELAÇÃO CÍVEL PARCIALMENTE CONHECIDA E, NA PARTE CONHECIDA, PROVIDO. (Apelação Cível Nº 70060584836, Vigésima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Eduardo Richinitti, Julgado em 30/09/2014). (Disponível em: <http://tj- rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/151190131/apelacao-civel-ac-

70060584836-rs>).

Na jurisprudência acima quem apelou foi o Banco, contra parcial provimento da sentença de primeiro grau, de uma ação revisional de juros de contrato de cartão de crédito. O juízo a quo entendeu por limitar as taxas de juros remuneratórios ao percentual de 137,13% ao ano e afastar a capitalização dos juros remuneratórios em qualquer periodicidade. O tribunal entendeu por permitir a capitalização dos juros sob a seguinte fundamentação:

Para os contratos bancários posteriores à Medida Provisória nº 1.963-17, de 30 de março de 2000, (atual MP nº 2.170-36/2000) admite-se a incidência da capitalização de juros em periodicidade inferior a anual desde que expressamente pactuada. Essa é a orientação atual do STJ acerca do tema, conforme o REsp nº 973.827/RS, de relatoria para o acórdão da Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 08/08/2012. [...] No caso dos autos, as cláusulas gerais indicam sua contratação (cláusula 12.1, fl. 48, verso), sendo possível a incidência de capitalização mensal no caso em apreço. (Apelação Cível Nº 70060584836, Vigésima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Eduardo Richinitti, Julgado em 30/09/2014). (Disponível em: <http://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/151190131/apelacao-civel-ac- 70060584836-rs>).

A apelação foi provida em parte e redimensionada a sucumbência, porém, o recálculo dos juros foi mantido, no sentido de acompanhar a taxa média de mercado, conforme decidido em primeiro grau.

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. EMBARGOS À EXECUÇÃO. JUROS REMUNERATÓRIOS. CAPITALIZAÇÃO. AFASTAMENTO DA MORA. JUROS REMUNERATÓRIOS: não há falar em

limitação da taxa de juros remuneratórios, desde que estes não ultrapassem demasiadamente a taxa média mensal divulgada pelo BACEN para a operação, conforme orientação pacifica das Cortes Superior e Extraordinária. CAPITALIZAÇÃO MENSAL: viável a capitalização mensal dos juros para contratos firmados após 31 de março de 2000. Inteligência da Sumula 539 do STJ. CARACTERIZAÇÃO DA MORA: nos termos da Orientação firmada nos autos do REsp 1.061.530/RS o ajuizamento de ação revisional em que se reconheça abusividade nos encargos da mora não é suficiente a afastar a caracterização da mora, para o que se exige o reconhecimento da abusividade nos encargos exigidos no período de normalidade do contrato, o que não se verifica nos autos. NEGADO SEGUIMENTO AO APELO. (Apelação Cível Nº 70065247025, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Pedro Luiz Pozza, Julgado em 17/06/2015). (Disponível em: <http://tj- rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/199981968/apelacao-civel-ac-

70065247025-rs/inteiro-teor-199981983>).

A apelação acima foi julgada improcedente. Entendeu o Tribunal que a taxa praticada pela instituição financeira, no caso, uma Cooperativa de Crédito, estava de acordo com a taxa média de mercado informada pelo Banco Central, e que a capitalização mensal está autorizada para contratos posteriores a 31 de março de 2000, tendo em vista a edição da súmula 539 do STJ.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO REVISIONAL COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. AUSÊNCIA DE ABUSIVIDADE DA TAXA DE JUROS. DEPÓSITO DO VALOR INCONTROVERSO NÃO EFETUADO. MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA QUE INDEFERIU A ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. NEGADO SEGUIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. (Agravo de Instrumento Nº 70065167520, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Pedro Luiz Pozza, Julgado em 15/06/2015). (Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/topicos/44904004/processo-n- 70065167520-do-djrs>).

A decisão acima trata de um agravo, cujo seguimento foi negado. Ocorre que a parte que interpôs o agravo não cumpriu a determinação judicial de depositar o valor incontroverso. Além disso, não foi identificada a abusividade na taxa, conforme parecer:

[...] no caso em liça, a própria agravante traz a comparação entre os encargos exigidos pela instituição financeira, referentes ao período da normalidade, nos contratos ora examinados e a taxa média de mercado apurada pelo BACEN à época das contratações, razão pela qual não há falar em abusividade, pois não ultrapassada em uma vez e meia a taxa média. (Agravo de Instrumento Nº 70065167520, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Pedro Luiz Pozza, Julgado em

15/06/2015). (Disponível em:

<http://www.jusbrasil.com.br/topicos/44904004/processo-n-70065167520- do-djrs>).

Pelas decisões transcritas e comentadas observa-se que o Tribunal analisa caso a caso verificando a existência ou não de abusividade na cláusula que pactua os juros remuneratórios, tendo como parâmetro, em todos os casos, a taxa média de mercado, informada pelo Banco Central. Afasta, em todos os casos, procedentes ou improcedentes, a limitação da taxa em 12% ao ano, e reconhece a exclusão das instituições financeiras do alcance da Lei de Usura ou da limitação de juros, considerando abusivas somente as taxas fixadas em índice consideravelmente superior a média de mercado. Posiciona-se o referido tribunal, em consonância com o que ensina a doutrina e o que prevê a legislação, em matéria de contratos firmados por instituições financeiras.

CONCLUSÃO

O estudo proposto teve como foco central a abordagem que o CDC dá as relações de consumo que envolvem contratos bancários e as questões polêmicas que as permeiam, como as ações revisionais e as de suspensão da execução.

Com base na pesquisa bibliográfica realizada, constatou-se que os contratos existem desde os primórdios da humanidade, quando tinham a intenção de regrar as relações de convivência. Com o passar do tempo foram evoluindo, sendo utilizados em larga escala, e a cumprir importante função social.

Em função das mudanças e o advento das relações de consumo, foi se tornando imprescindível que o contrato fosse mais amplamente regulado pela Legislação, de modo a fornecer garantias e proteção para as partes. Tal sua importância que não escapa sequer do texto constitucional, ou seja, encontra-se regulado pela CF/88, pelo CC/02, e ainda pelo CDC, além de vasta gama de leis especiais.

Assim, conclui-se que a Legislação brasileira procura garantir os direitos do consumidor em todos os momentos, sendo que considera esta a parte vulnerável do contrato. Em se tratando da abordagem dos contratos bancários, principalmente nos contratos de adesão, evidencia-se a preocupação do legislador em proteger o consumidor, sendo que o CDC prevê, na ocorrência de cláusulas abusivas, a anulação das mesmas, ou ainda de ações revisionais. Nessa última hipótese o CDC autoriza a alteração e modificação de cláusulas contratuais desproporcionais, definindo a revisão contratual como sendo um direito básico do consumidor, o qual na relação de consumo assume a posição de parte vulnerável, pois contrata por necessidade, já que precisa de bens e serviços básicos do dia a dia da vida

moderna.

Ainda sobre a possibilidade de ações revisionais, estas são a alternativa indicada em casos de constatação de que o contrato possui cláusula que fixa uma taxa de juros muito elevados, pois embora não estejam mais expressos e definidos os percentuais máximos para a cobrança de juros, como estava anteriormente especificado na CF/88, dispositivo alterado por emenda constitucional, que determinava a taxa máxima de 12% ao ano, ou seja, 1% ao mês. Mesmo não havendo mais esta especificidade, ainda assim, tanto legisladores, como doutrinadores e juristas entendem que as altas taxas de juros praticadas na atualidade contrariam a função social do contrato, já que o motivo de existência do contrato é o interesse da coletividade e da produção, mostrando-se como um serviço essencial para o bom desenvolvimento da sociedade. Através dele se fornece o crédito necessário para o aumento do dinheiro disponível no mercado financeiro, devendo estas finalidades estarem devidamente ajustadas a disciplina legal dos juros.

A partir do estudo contatou-se que as instituições financeiras, polos passivos de grande número de ações revisionais de contratos, não se submetem à Lei de Usura, e nem tem fixado um teto máximo das taxas que podem praticar, a única limitação que se verifica é em razão da taxa média do mercado, divulgada pelo Banco Central. Esse também é o parâmetro adotado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul para reconhecer a existência ou não de abusividade.

Constata-se que o Código de Defesa do Consumidor apresenta os dispositivos necessários para uma revisão contratual, mas ele não é autoaplicável, ou seja, em se verificando a abusividade, é preciso que a parte prejudicada leve o contrato para revisão por parte do judiciário.

Confirmou-se que o CDC permite que, toda vez que contratos de adesão forem firmados em relações de consumo, e os aderentes constatarem a abusividade, possam buscar a solução judicial com maior segurança. Embora a legislação brasileira apresente normas que preveem sanções para a prática de juros abusivos, ela é insuficiente para evitar que essa prática se perpetue no cotidiano. Ou seja,

inobstante a legislação protetiva, os consumidores precisam estar atentos, pois infelizmente um grande número de contratos ainda apresenta a inserção de cláusulas abusivas, de dispositivos prejudiciais aos aderentes.

Nesse sentido, o estudo se mostrou extremamente proveitoso, como objeto de pesquisa para acadêmicos e estudiosos que se interessem pela área. Também é útil para a sociedade como um todo, pois apresenta informações importantes sobre a proteção legal do aderente ao contrato de adesão e a possibilidade de buscar, judicialmente, a reforma de cláusula que lhe seja injustamente ou exageradamente desvantajosa. A pesquisa abriu espaço para novas reflexões, que permitam um aprofundamento do tema, especialmente da pesquisa jurisprudencial, sobre esse tema tão relevante e que afeta de forma tão intensa a sociedade.

REFERÊNCIAS

BARCELOS, Soraya Marina. Fundamentos da Obrigatoriedade dos Contratos.

Publicado em 10 de dez. 2010. Disponível em:

<http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/6092/Fundamento-da-obrigatoriedade- dos-contratos>. Acesso em 18 de junho de 2015.

BENJAMIN, Antônio Herman V.; BESSA, Leonardo Roscoe; MARQUES, Cláudia Lima. Manual de Direito do Consumidor. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008.

BONATTO, Cláudio; MORAES, Paulo Valério Dal Pai. Questões Controvertidas no

Código de Defesa do Consumidor: principiologia. Conceitos. Contratos Atuais.

Porto Alegre. Livraria do Advogado, 1998.

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Constituição da República Federativa do

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