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A Área de Projecto e as Competências Gerais da Educação Básica

2.4 Área de Projecto – o aprender a fazer

2.4.1 A Área de Projecto e as Competências Gerais da Educação Básica

Se atentarmos nas competências gerais a alcançar no final da educação básica, previstas no Currículo Nacional, perceberemos então melhor a importância da Área de Projecto. Efectivamente, todas elas encontram nesta área um espaço natural para o seu desenvolvimento. De entre elas, destacaremos, todavia, sete que o documento acima citado configura:

• Mobilizar saberes culturais, científicos e tecnológicos para compreender a realidade e

para abordar situações e problemas do quotidiano.

Questionar a realidade, problematizá-la como forma de melhor a compreender assume-se como prioritário em Área de Projecto. Nesta área curricular não disciplinar, a organização de actividades cooperativas de aprendizagem, orientada para a integração e troca de saberes procura assumir-se como solução para a resolução de problemas, temas de pesquisa ou de intervenção. A Área de Projecto constitui-se, efectivamente, como uma área

curricular não disciplinar de natureza transversal e integradora, procurando assim responder a situações e problemas do quotidiano. Responder aos interesses e necessidades dos alunos e promover a interacção da escola com o meio envolvente são objectivos que subjazem às sessões de AP. O recurso a elementos provenientes das diversas disciplinas e áreas curriculares não disciplinares confere a esta ACND um carácter transversal, na medida em que procura integrar-se e articular-se com as restantes áreas curriculares.

• Usar adequadamente linguagens das diferentes áreas do saber cultural, científico e

tecnológico para se expressar;

O trabalho colaborativo, que geralmente impera em Área de Projecto, proporciona a discussão, a troca de ideias, o debate. Neste sentido, AP facilita e promove até a harmonização de diferentes linguagens para a comunicação de ideias. É neste contexto que se deve também explorar o potencial das tecnologias de informação e comunicação (TIC) no uso adequado de diversas linguagens. A este propósito, importa referir que o Decreto- lei 6/2001 associa a utilização destas tecnologias às novas áreas curriculares, onde se insere AP. Os projectos a desenvolver apresentar-se-ão, então, como espaço privilegiado para que o aluno opte pela linguagem que melhor se adeqúe ao seu trabalho.

• Adoptar metodologias personalizadas de trabalho e de aprendizagem adequadas a

objectivos visados;

O problematizar de situações obriga, necessariamente, à procura de uma solução. Importante em AP é que os alunos concebam um plano de acção (projecto) que lhes permita a resolução do problema. Este método de trabalho (trabalho de projecto), de que mais adiante daremos conta, implica a escolha dos recursos e materiais a utilizar, bem como das actividades a desenvolver algo que, em Área de Projecto, se procura efectuar, relembre-se, de forma autónoma pelo aluno. Por outro lado, o trabalho colaborativo desenvolvido em AP poderá proporcionar a descoberta e/ou exploração de diversas formas de organização da aprendizagem do aluno.

• Pesquisar, seleccionar e organizar informação para a transformar em conhecimento

mobilizável;

A Área de Projecto é por excelência a área da pesquisa. Nela não encontramos conteúdos predefinidos. O saber constrói-se. Assim, em AP, o saber fazer ganha outra

dimensão. O trabalho de campo, entenda-se a recolha de dados, obriga a que os alunos seleccionem, num primeiro momento, os seus instrumentos (pesquisa bibliográfica, entrevistas, inquéritos…) e, posteriormente, tratem os dados recolhidos. Este processo de organização e tratamento de informações, sempre com recurso às TIC, deve ter um objectivo concreto, seja para a resolução do problema, tema de pesquisa ou de intervenção, seja para a utilização dos materiais criados em Área de Projecto nas áreas curriculares disciplinares (conhecimento mobilizável). De qualquer modo, a apresentação e divulgação dos trabalhos desenvolvidos nesta área assumem-se como fundamentais, pois é desta forma que se dá significado à produção realizada. Sempre importante no desenvolvimento dos projectos é a interacção que possam permitir com o meio onde a escola se insere.

• Adoptar estratégias adequadas à resolução de problemas e à tomada de decisões; O contributo que a Área de Projecto pode dar para o desenvolvimento desta competência é inegável. Acreditamos que nenhuma outra área curricular a possa, neste ponto, suplantar. No dizer de Paulo Abrantes,

“o envolvimento dos alunos em projectos significativos, que poderão ser de grupo ou individuais, será porventura a melhor forma de desenvolver as suas capacidades de pesquisa e tratamento de informação, numa perspectiva de crescente autonomia, ou de reflexão sobre problemas da vida individual e colectiva numa lógica de educação para a cidadania” (Abrantes et al, 2002, p.17).

Consequentemente, este trabalho investigativo, centrado na resolução de problemas, permite a simulação de problemas reais e proporciona, igualmente, uma real resolução dos mesmos. Assim, pretende-se uma valorização da interligação entre teoria e prática, bem como a integração de conhecimentos, adoptando-se formas de aprendizagem em contexto de trabalho.

• Realizar actividades de forma autónoma, responsável e criativa;

Em Área de Projecto, a liberdade de que alunos e professores gozam em termos de percurso a construir responsabiliza-os. De facto, já fizemos aqui referência ao novo papel que esta ACND atribui a professores e alunos. Estes últimos devem, recorde-se, conceber, realizar e avaliar o projecto de forma autónoma. Deste modo, a liberdade que lhes é

conferida, na forma como seleccionam o seu problema, ou tema de pesquisa ou de intervenção, deverá ser entendida como estímulo para o desenvolvimento da curiosidade intelectual. Ao desenvolver-se a autonomia dos alunos, proporciona-se-lhe um espaço para revelar diferentes capacidades / aptidões e, consequentemente, se fomenta a criatividade dos trabalhos produzidos. Indubitavelmente, trabalhar num ambiente de projecto, que lhe pertence, pode levar a um maior envolvimento pessoal do aluno. Neste processo, torna-se importante avaliar todo o percurso, sendo a auto-avaliação um instrumento fundamental também na responsabilização do aluno. Aos professores compete, naturalmente, utilizar e/ou construir instrumentos de avaliação eficazes que confiram credibilidade a todo o projecto.

• Cooperar com outros em tarefas e projectos comuns;

Procurando romper com as formas de ensino tradicional, a Área de Projecto pretende, sobretudo, potencializar a forma como o conhecimento é construído, adquirido, problematizado e também utilizado. Ao incutir nos alunos o gosto pela investigação, proporcionando a troca de experiências e saberes, a AP promove uma nova concepção do saber no âmbito da sala de aula. Introduzir novas metodologias / actividades na sala de aula é, em consequência uma inevitabilidade. O trabalho colaborativo, organizado em torno de necessidades e interesses comuns, procura desenvolver competências para trabalhar em grupo e, em última análise, melhorar o desempenho escolar dos alunos. Neste sentido, o respeito pelo seu trabalho e pelo dos outros, bem como a responsabilidade de cada um no contributo dado ao projecto comum, e consequente desenvolvimento da sua auto-estima, assumem-se como valores e atitudes que, necessariamente, saem fortalecidos através da realização cooperativa de projectos. Com já o referimos, nas ACND e concretamente em Área de Projecto procura-se valorizar não só os saberes disciplinares, mas simultaneamente os saberes relacionais, afectivos e atitudinais.