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A égide neoliberal e o Estado mínimo: nuances do capitalismo contemporâneo

homem, desenvolve suas relações – nas mais diversas instâncias do cotidiano – alheio de suas próprias percepções, bem como das percepções que possa vir a ter dos outros, efetivando, dessa forma, a alienação.

É importante pensar o modo como as relações são estabelecidas em cada sociedade; na sociedade contemporânea, estabelecida desde o surgimento da burguesia, a forma de organização social estabelece-se mediante as contradições estabelecidas pelo binômio capital/trabalho.

Esse aspecto central da sociabilidade capitalista influencia nas mais diversas instâncias da sociedade, a saber: econômica, política, social, e demais; não é de se estranhar que para perpetuar esse modo de sociedade, haja uma força a qual irá potencializar e promover mecanismos de efetivação da exploração da vida humana, mas que também, algumas vezes, por força e pressão da sociedade que se organiza, irá viabilizar algumas concessões à classe trabalhadora.

Tentar-se-á aqui desvelar como a instituição Estado, no contexto contemporâneo, tem usado estratégias para garantir e solidificar o capitalismo, bem como suas estratégias políticas e ideológicas de dominação social.

1.1.1 A égide neoliberal e o Estado mínimo: nuances do capitalismo contemporâneo

Pensar propostas de mudanças sociais, econômicas e políticas a serem implementadas na sociedade não é algo novo. Porém o percurso histórico mostra que, no tempo presente, as principais propostas de mudança favorecem apenas uma pequena parcela da sociedade, em detrimento do maior número de indivíduos possíveis.

A doutrina neoliberal executada por este projeto hegemônico – o do capital – propõe falaciosamente a defesa do bem estar humano. É o que explicita Harvey(2008) ao descrever o que seria o neoliberalismo, em suas palavras:

é em primeiro lugar uma teoria das práticas político-econômicas que propõe que o bem-estar humano pode ser melhor promovido liberando-se as liberdades e capacidades empreendedoras individuais no âmbito de uma estrutura institucional caracterizada por sólidos direitos e propriedade privada, livres mercados e livre comércio(HARVEY, 2008, p. 12).

35 A partir da colocação do autor pode-se observar o apelo às práticas individualistas, em nome de uma liberdade que não se efetiva de fato nesta sociabilidade28. De acordo com essa perspectiva, este empreendedorismo do indivíduo deve se dá interligado a uma estrutura institucional, visando formas “livres”29

de ação para o progresso da humanidade.

A liberdade, proposta por esse conjunto de preceitos denominado neoliberalismo, na verdade reflete “interesses dos detentores de propriedade privada, dos negócios, das corporações multinacionais e do capital financeiro”(HARVEY, 2008, p.17). Outrossim, destaca-se o interesse do grande capital em adotar medidas que enfraqueçam a perspectiva da organização das classes trabalhadoras, traduzindo os seus interesses como sendo interesses de toda a sociedade.

Questiona-se, então, aqui, esse tipo de “liberdade” que é proposta tanto aos indivíduos quanto ao mercado, como sendo elemento fundamental para a sociedade alcançar o progresso.

Assim, entendido o neoliberalismo como a concepção capaz de orientar políticas destinadas a superar as mazelas do atraso e permitir, mais rapidamente, alcançar as vantagens da globalização, o progresso e a modernidade, tais manifestações extremas de exploração e miséria seriam superáveis (CARCANHOLO, 2008, p.82).

Essa seria a ideia proposta pelos neoliberais, segundo o autor, para fundamentar as medidas que deveriam ser implementadas a partir desse ideário. Porém não é isso que se observa. É certo que, em países como o Brasil, consequências extremas como a expansão do trabalho infantil, dada a exploração de mão de obra barata, são resultado da adoção de medidas neoliberais. De acordo com Carcanholo(2008) tal realidade é vista pelos neoliberais, da seguinte forma:

[...], se de fato esses extremos ocorrem, só podem ser o resultado do atraso, das políticas populistas anteriores, da ausência de uma prática liberalizante na medida adequada; tal situação só pode ser consequência de um Estado interventor ainda enorme, ineficiente e deformador. Se, durante esse tempo, medidas liberais foram adotadas, não o foram na magnitude certa, no volume adequado, na profundidade exigida(CARCANHOLO, 2008, p.84)

Esse discurso é usado para que medidas neoliberais sejam, cada vez mais, adotadas no mundo, retirando do foco toda a destruição em massa provocada pelo modo de governar neoliberal. Observam-se alterações nas mais diversas áreas da vida em sociedade, quais

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De modo que, na sociedade do capital, diz-se que o indivíduo é livre para executar sua capacidade empreendedora, porém ele não possui as condições objetivas adequadas para a produção de tais capacidades. 29

36 sejam: nas relações sociais, no desenvolvimento tecnológico, na divisão social e técnica do trabalho, na forma de pensar a vida cotidiana, “das formas de ligação à terra e dos hábitos do coração” (HARVEY, 2008, p.13). Isso porque concebe-se que as formas de gerir o mercado devem ser usadas como “guia” para todas as relações estabelecidas entre os indivíduos.

Na verdade, o pensamento neoliberal é, antes de tudo, uma estratégia capitalista dentro dos pressupostos econômicos, para se evitar que a economia venha a ter algum colapso, como a crise de 193030. A criação de um Estado de Bem estar Social31, para a garantia do progresso na sociedade, produziu para o mercado altas taxas de crescimento econômico nos países de capitalismo avançado, nos anos de 1950 e 1960. Harvey(2008) denomina esse período como sendo o tempo do neoliberalismo embutido, quando foram jogadas as primeiras sementes para o crescimento do que viria posteriormente.

No final da década 1960 começa a “ruir” o neoliberalismo embutido. A nível mundial, é a partir de 1970 com a grande crise de superprodução, que a onda neoliberal, nas suas estratégias mais atualizadas, vai ser implementada junto ao processo de reestruturação produtiva, como forma de responder a essa crise.

Ainda, no final da década de 1980, mais precisamente em 1989 adota-se, por meio de consenso de Washington32, algumas medidas como a redução dos gastos públicos, privatização das instituições estatais, reforma tributária, quebra das barreiras comerciais; uma série de medidas adotadas em ordem global, especialmente em países em desenvolvimento, como o Brasil. A adoção de tais medidas reconfigurou o cenário político econômico brasileiro, com destaque para o processo de privatização das estatais, entre outros preceitos neoliberais estabelecidos a partir do consenso de Washington.

Dessa forma, faz-se necessário situar qual é o modelo de Estado pensado e adotado para a formação de uma sociedade sobre os preceitos neoliberais. De fato, o Estado possui um

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Tendo em vista que as crises geopolíticas, configuram-se como ameaças ao poder capitalista, desta forma firmam-se alguns acordos de classe entre capitalistas e trabalhadores. De seu lado os capitalistas buscaram pensar numa combinação de Estado, Mercado e instituições democráticas. Já, a classe trabalhadora buscou pensar estratégias políticas de resistência a ordem estabelecida como forma de responder as imposições do governo voltado para os interesses do capital(HARVEY, 2008).

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De acordo com a política do Estado do Bem Estar Social, ou Welfare State, todos os indivíduos possuíam direitos, desde o nascimento, a bens e serviços que deveriam ser repassados a população através do Estado, ou ainda indiretamente, através de seu poder de regulamentação sobre a sociedade civil. Esses direitos versavam sobre a saúde e educação em todos os níveis, ao desempregado, à garantia de renda mínima, bem como de recursos para sustentação dos filhos. Cabe salientar que no Brasil ele não se implantou de fato.

32“O Consenso de Washington é „uma política de ajustamento‟, estabelecida pelos atores globais – FMI, Banco

Mundial, para garantir a inserção subordinada e independente dos países periféricos e „devedores‟ à nova ordem

mundial. Nesse sentido, configura um plano estratégico, fundado na liberalização e na desregulamentação da economia, definindo como receituário de ajuste: estabilização, reformas do Estado, e retomada de investimentos

37 papel fundamental para a manutenção das práticas neoliberalistas, adotando medidas que viabilizam os interesses do grande capital, mantendo o controle e a ordem para a garantia da propriedade privada. De acordo com Harvey,

O papel do Estado é criar e preservar uma estrutura institucional apropriada a essas práticas; o Estado tem de garantir, por exemplo, a qualidade e a integridade do dinheiro. Deve também estabelecer as estruturas e funções militares, de defesa, da polícia e legais requeridas para garantir direitos de propriedade individuais e para assegurar, se necessário pela força, o funcionamento apropriado dos mercados(HARVEY, 2008, p. 12).

Assim sendo, o Estado cria toda uma estrutura institucionalizada para favorecer o desenvolvimento da economia, porém defende-se que sua intervenção deve se dá de forma mínima na área social, pois entende-se que ele não compreende de forma adequada os sinais que o mercado sugere como os preços, por exemplo, e “porque poderosos grupos de interesse vão inevitavelmente distorcer e viciar as intervenções do Estado (particularmente nas democracias) em seu próprio favor”(idem) o que não seria viável para os interesses capitalistas.

Na verdade, o Estado possui a missão de favorecer as condições para a acumulação de capital, uma acumulação agora desterritorializada, internacional e financeirizada. Defendendo, pois, interesses multilaterais dos negociantes do capital financeiro. Fundamenta Harvey “dou a esse tipo de aparelho de Estado o nome de Estado Neoliberal”(ibidem, p.17) o qual

deve favorecer direitos individuais à propriedade privada, o regime de direito e as instituições de mercados de livre funcionamento e do livre comércio. Trata-se de arranjos institucionais considerados essenciais à garantia das liberdades individuais. O arcabouço legal disso são obrigações contratuais livremente negociadas entre indivíduos juridicamente configurados no âmbito do mercado(HARVEY, 2008, p. 75).

Entre as medidas a serem adotadas, possuem destaque aquelas estabelecidas pelos Estados Unidos, em 2003, as quais decretam a privatização da economia, direitos de propriedade e participação econômica às empresas estrangeiras; quebrando as barreiras comerciais, facilitando o processo de mundialização do capital, abrindo as fronteiras, inclusive, no que diz respeito à questão dos transportes, serviços públicos, construções, finanças e tudo mais que facilite o investimento do capital estrangeiro em seu território. De acordo com Carcanholo isso ocorre

38 por uma razão muito simples: na sociedade capitalista, por mais que o mercado tenha se desenvolvido e domine, sempre haverá espaço adicional para a expansão do seu domínio; o mercado sempre pode conquistar dimensões antes ocupadas pelo não- mercado(CARCANHOLO, 2008, p. 84).

Dessa forma, cria-se o Estado Neoliberal, pensado por e para o capital. Assim, em defesa do interesse do capital, vigora a privatização das políticas sociais, com destaque da saúde, nos anos de 1960, e da educação a partir de 1990. Além do processo de privatização, sucateia-se o aparelho estatal – instituições, formas de contratação, condições e reações de trabalho33 –, passa a vigorar na sociedade a ideia de um Estado que nada tem a oferecer de qualidade à população, tudo pensado como estratégia da ideologia neoliberal. Sataniza-se o aparelho estatal, defendendo – em nome do mercado – a ideia da privatização.

O Estado dá conta de políticas públicas precárias como forma de garantir os mínimos sociais a população, desenvolvendo políticas de cunho paliativo, o mercado passa a atuar, na verdade, gerindo tanto a área de serviços quanto as políticas sociais, e dissemina-se na sociedade uma forma de pensar que favorece o projeto do capital.

Setores antes geridos ou regulados pelo Estado têm de ser passados à iniciativa privada e desregulados(libertos de todo tipo de interferências). A competição – entre indivíduos, entre empresas, entre entidades territoriais (cidades, regiões, países, grupos regionais) – é considerada a virtude primordial. [...] Em situações nas quais essas regras não estejam claramente estabelecidas, ou em que haja dificuldades para definir os direitos de propriedade, o Estado tem de usar seu poder para impor ou inventar sistemas de mercado(HARVEY, 2008, p. 76).

Dessa forma, aqueles que podem pagar para ter acesso, de forma privada, aos serviços e atendimento de “qualidade” buscam o mercado, e aqueles que não possuem recurso – na verdade a classe trabalhadora – fica a mercê de um estado mínimo que desenvolve “políticas pobres para os pobres”, políticas de cunho paliativo e focalizadas. Há, ainda, destaque ao retorno de práticas filantrópicas, por meio de um suposto “terceiro setor34”, por meio do apelo

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O sucateamento do Estado no Brasil é visualizado no cotidiano das instituições publicas; na área da educação é crescente o número de escolas que vêm sendo abandonadas por falta de reformas estruturais, falta de investimento em capacitação profissional, muitas vezes com condições desumanas de trabalho; na área da saúde tem-se a redução dos leitos hospitalares, falta de insumos para o funcionamento na esfera básica da saúde pública, baixa remuneração salarial, entre outras.

34A categoria “terceiro setor” será aprofundada no segundo capítulo, porém não se pode aqui deixar de iniciar a

discussão de um suposto “terceiro setor” na sociedade, especialmente por ser nesse lócus de trabalho de

39 a um novo modelo de solidariedade dita social, a qual também foi pensada como mecanismo neoliberal e interesse de expansão do mercado.

1.2 - A reestruturação produtiva e a classe trabalhadora no Brasil: o “terceiro setor” como fonte alternativa de ocupação

De fato, o chamado “mercado de trabalho” vem sendo radicalmente reestruturado - e todas as “inovações” levam à precarização das condições de vida da massa dos vendedores de força de trabalho: a ordem do capital é hoje, reconhecidamente, a

ordem do desemprego e da “informalidade”.

José Paulo Netto35

Em meados dos anos de 1970, enquanto no Brasil (de 1968 a 1973) a economia desponta, configurando-se o que se chamou de “milagre econômico”, com destaque para o binômio ditadura x acumulação, inicia-se uma grande crise de superprodução no mundo – a qual expressava uma crise estrutural no sistema capitalista. A partir de então, se configura, na economia e na sociedade em geral, um quadro crítico: queda da taxa de lucro a partir do aumento do preço da força de trabalho – conquistado por meio de reivindicações e lutas sociais; maior concentração do capital; crise do Estado de bem estar social, o que, consequentemente, abriu espaço para as privatizações, flexibilização das formas de produção, bem como da força de trabalho e do mercado(ANTUNES, 2007).

Deflagrou-se, então, um conjunto de transformações no próprio processo de produção de mercadorias(KURZ, 1992), através da constituição das formas de acumulação flexível, das formas de gestão organizacional, do avanço tecnológico, dos modelos alternativos os binômio taylorismo/fordismo, dentre os quais se destaca especialmente o “toyotismo” ou o modelo japonês(ANTUNES, 2010, p. 21).

Tais transformações decorrem da própria forma habitual do capital, a saber: a economia estabelecida entre os grandes grupos(empresas transnacionais) os quais monopolizam a própria disseminação do sistema capitalista na sociedade, bem como “da própria necessidade de controlar as lutas sociais oriundas do trabalho”(idem, p.22).

Como forma de responder a sua própria crise inicia-se aquilo que se chamou de reorganização do modo de produção capitalista e do seu sistema político e ideológico, a partir da efetivação das medidas neoliberais, estabelecidas no Consenso de Washington, com o

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40 processo de desmonte e privatização do setor estatal e a desregulamentação dos direitos do trabalho, com enfoque para as grandes alterações nas condições e relações de trabalho.

Colocou-se em questão o “custo” do trabalho em todos os quadrantes do mundo, ou seja, mesmo naqueles países onde a experiência fordista-keynesiana(HARVEY, 1993) foi inexistente ou limitada. Assim, a saída da crise – sempre invocada como um processo natural, a exigir respostas práticas – estaria na redução de custos, por meio da flexibilização das relações contratuais de trabalho, retirando-se o Estado da regulação destas relações, inclusive no que refere à questão da proteção social, com a redução dos encargos sociais(BEHRING, 2003, p. 214).

A partir dessa reorganização prático-ideológica do capital começa-se a estabelecer, mediante o que já foi elencado pela autora, a reestruturação do trabalho e da produção, como estratégias do capital para conseguir se contrapor à crise. Esse quadro estabelecido pelo capitalismo se configurava, de uma forma geral, como uma ofensiva contra a classe trabalhadora que necessita vender sua força de trabalho como forma de sobrevivência.

As formas pensadas pelo capital de reorganização de seu modo de dominação social vêm sendo desenvolvidas como forma de “gestar um projeto de recuperação da hegemonia nas mais diversas esferas da sociabilidade”(ANTUNES, 2010, p.22), desde o modo como o processo produtivo tem se efetivado, bem como na dimensão ideológica.

Assim sendo, verifica-se um contexto de grandes mudanças, em nível mundial, provocadas pelo processo de reestruturação produtiva, mudanças funcionais ao capital, na medida em que elas

Seriam responsáveis pela instauração de uma nova forma de organização industrial e de relacionamento entre o capital e o trabalho, mais favorável quando comparada ao taylorismo/fordismo, uma vez que possibilitam o advento de um trabalhador mais qualificado, participativo, multifuncional, polivalente, dotado de uma “maior realização no espaço de trabalho” (ANTUNES, 2010, p.22).

Pode-se compreender, desse modo, como a captura da subjetividade do(a) trabalhador(a) ocorre de forma velada, na medida em que o capital cria mecanismos ideológicos de dominação e manipulação, ao sugerir a ideia de um(a) trabalhador(a) mais qualificado(a), apto a desenvolver diversas atividades laborativas na empresa e/ou instituição.

Outrossim, efetivam-se as medidas contraditórias do capital. É o que o autor apresenta ao sugerir:

Criou-se, de um lado, em escala minoritária, o trabalhador “polivalente e multifuncional” da era informacional, capaz de operar

41 com máquinas com controle numérico e de, por vezes, exercitar com mais intensidade sua dimensão mais intelectual. E, de outro lado, há uma massa de trabalhadores precarizados, sem qualificação, que hoje está presenciando as formas de part-time, emprego temporário, parcial, ou então vivenciando o desemprego estrutural(ANTUNES, 2010, p.24).

Em um prisma global, todo esse quadro estabelecido pelo processo de reestruturação produtiva do capital, tem intensificado o agravamento da destruição da natureza e do meio ambiente, sem precedentes na história da humanidade, como também tem ocasionado a ação destrutiva contra a força de trabalho humano, deixando grande parte da população fora do processo produtivo, e aumentando ainda mais o contingente de desemprego estrutural.

No Brasil, na década 1980, mesmo em ritmo mais lento que os países centrais, a acumulação sofre algumas modificações. Teve início as mudanças organizacionais e no setor tecnológico, as quais eram geradas no interior do processo produtivo. Segundos dados da Organização Internação do Trabalho (OIT), na realidade contemporânea

quase um terço da força humana mundial disponível para o ato laborativo, ou se encontra exercendo trabalhos parciais, precários, temporários, ou já vivencia as agruras do não-trabalho, do desemprego estrutural(ANTUNES, 2011, p. 138-139).

Esse processo se dá na medida em que as empresas adotaram novos padrões tecnológicos e novos modelos de organização do trabalho. Inicia-se a utilização da informatização produtiva, com destaque para o uso do sistema just-in-time, ganhando relevo os ciclos de controle da qualidade total e por meio da difusão da microeletrônica.

Nesses primeiros anos da década de 1980, a reestruturação produtiva caracterizou-se pela retração de custos, mediante a redução da força de trabalho, de que foram exemplos os setores automobilísticos e de autopeças, e também os ramos têxtil e bancários, entre outros. De modo sintético, pode- se dizer que a necessidade de elevação da produtividade ocorreu por meio de reorganização da produção, redução do número de trabalhadores, intensificação da jornada de trabalho dos empregados, surgimento dos CCQs (círculos de controle de qualidade) e dos sistemas de produção just-in-time e kanban, entre outros principais elementos(ANTUNES, 2006, P.18).

Ainda, no final da década de 1980, no Brasil, amplia-se o uso das novas tecnologias, como a introdução da microeletrônica nos setores mecânico, petroquímico, automobilístico, bancário, entre outros. Tem destaque a instalação de novas linhas de montagem no setor automobilístico, muito embora estas coexistissem com as antigas, o que se configuravam como “um grau relativamente elevado de heterogeneidade tecnológica no interior das

42 empresas, heterogeneidade que foi uma marca particular da reestruturação produtiva no Brasil recente”(idem, ibidem).

Na ultima década do século XX (1990), o processo de reestruturação produtiva se agudiza, havendo um grande enxugamento da força humana de trabalho, bem como a crescente desregulamentação dos direitos sociais; a flexibilização das contratações; uso de novas formas de gestão e um grande processo de terceirização, culminando em um grande