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2 PRODUÇÃO E LEIS DE INCENTIVO

4 A EXIBIÇÃO NO BRASIL E O DOCUMENTÁRIO NA SALA DE CINEMA

4.2 A abertura para os circuitos estrangeiros

A política de cunho neoliberal de Fernando Collor foi decisiva – e extremamente desastrosa – para o futuro do cinema nacional. Logo após, a abertura econômica mantida pelo presidente Fernando Henrique Cardoso propiciou a entrada, no mercado brasileiro, de produtos importados mais modernos que os nacionais, pois esta era a lógica da competitividade.

Tal cenário - em alguns pontos adverso ao produto nacional -, não foi diferente para as salas de exibição brasileiras que se encontravam bastante degradadas, sem grande atrativo a um público que se mostrava já assíduo da televisão e do videocassete. Inúmeras salas, nas grandes e pequenas cidades, se tornaram local de exibição de filmes pornográficos.

“A disponibilidade de recursos e as remunerações das aplicações financeiras declinaram em consequência da adoção do Plano Real. Criou-se uma situação de enxugamento dos recursos das

empresas exibidoras. Passou-se a exigir competência e capacidade operacional e administrativa que a maioria das empresas não tinha” (LUCA, 2010, p.63)

Com Fernando Henrique Cardoso empossado presidente da República, e a consolidação do Plano Real, a economia brasileira se estabilizou. Como consequência natural da estabilidade econômica e do aumento considerável da renda da população, as salas de cinema voltaram a ter público.

Paralelamente, o mercado norte-americano de salas de cinema já se encontrava no limite e

necessitava de um mercado externo para vender os seus produtos. Nosso mercado ainda era virgem57

para o modelo de salas que estavam por vir. Em meados dos anos 90, grupos estrangeiros passaram a frequentar nosso mercado, como as empresas UCI (United Cinema International), a Cinemark e a Hoyts, entre outras.

O modelo de sala de cinema que estava sendo trazido ao Brasil pelos norte-americanos era o das salas multiplex - complexos de várias salas já existentes no Brasil em alguns locais -, que dispunham de uma tecnologia de ponta em relação ao que existia no parque exibidor brasileiro, mas de segunda linha em relação ao americano. Elas vão sendo instaladas aos poucos em shoppings no interior e depois nas grandes cidades. Nas regiões mais valorizadas, como as capitais, os shoppings ainda eram privilégio dos exibidores nacionais. Isso foi mudando conforme essas grandes empresas foram ocupando o território nacional.

É importante constatar que o exibidor nacional tinha contratos de exclusividade com as distribuidoras para o lançamento de certas películas. Esse é um dos motivos potencializadores do modelo multiplex, já que permite ao exibidor ter a sua disposição mais salas para diversificar lançamentos, aumentando os lucros. Algumas empresas começam a montar suas salas pelo interior do país, como a rede Cinemark que instala sua primeira sede em São José dos Campos, interior paulista. Outras ainda utilizaram o mecanismo de se associar a exibidores nacionais, o que permitiu a elas o acesso imediato a locais privilegiados como os shoppings das capitais. Não demorou muito para esse padrão de salas ganhar espaço. Conforme se instalavam, dominavam o mercado e relegavam ao ostracismo as salas que se localizavam na rua - situação agravada pelo fato de permanecerem sem nenhuma novidade tecnológica. Em função dos circuitos não apresentarem um serviço distinto, muitas vezes o público buscava assistir aos filmes em videocassete que davam a chance, em alguns casos, de dispor de uma qualidade sonora superior.

57 Segundo André Pierro Gatti, esta não seria a primeira vez que empresas estrangeiras entram no mercado brasileiro, mas neste período isso se deu de forma mais radical e agressiva.

Alguns exibidores nacionais se mantiveram nos shoppings, ou fizeram acordos com esses novos complexos norte-americanos. O exemplo de rede que foi mais bem sucedida é a Cinemark que, em 2002, “(…) já era a empresa de exibição cinematográfica em atividade no Brasil com maior número de salas, posição galgada em apenas 5 anos de atividade”(GATTI, 2005, p.290). Os grupos que entraram no mercado nacional com maior vigor nesse período foram a General Hoyts, a Cinemark e a UCI-United Cinemas Internacional.

“O objetivo comercial destas empresas era um só, ou seja, conquistar a hegemonia do mercado de exibição cinematográfica. Num primeiro momento, nos anos 80, estas empresas preferiam invadir mercados mais atraentes, como a Europa, América do Norte, Oceania e Ásia. A partir de 1997, as empresas transnacionais da exibição passaram a se instalar fisicamente no Brasil.” (GATTI, 2005, p. 277)

As salas de exibição, principalmente aquelas localizadas na rua, sofreram uma crise jamais vista. Como dito anteriormente, o Brasil chegou a ter em 1975 um total de 3.276 salas. Em 1985, 10 anos depois, o parque exibidor caiu drasticamente para 1.423 salas. Também o valor do ingresso variou

radicalmente: nos anos 70 era US$1.33; em 1998 passou a US$ 4.23. (NORITOMI, 2003, p. 26).Com

essas mudanças no circuito exibidor brasileiro, igualmente mudou o público frequentador das salas, além de diminuir em relação aos anos 70, quando o pico de público foi 60 milhões por ano, para não mais que 20 milhões nos anos 80. (NORITOMI, 2003, p. 26). Agora vai se caracterizar como um público frequentador assíduo de shopping-center.

A dominação do modelo Multiplex de salas, em especial dentro dos shoppings, além de representar uma mudança radical no padrão de circuito existente no Brasil até os anos 90, implicou em mudança de aspecto social. Agora a sala de cinema está localizada em um ambiente onde o consumo é o mais importante e, por consequência, passou a ser frequentada pelas classes classe A e B, sendo que a

cidade de São Paulo traz algumas peculiaridades.58 “Entre 1995 e o fim de 2002, o número de salas no

Brasil passou de cerca de mil para perto de 1.700 – sendo que, segundo dados da Abrasce (Associação de Shoppings Centers), mil salas estão localizadas nos centros comerciais, ou seja, 65% do total.” (BUTCHER, P. apud GATTI, 2005, p. 266)

“Historicamente, a legislação maior, constitucional, e a legislação cinematográfica vigentes, nas décadas de 1960, 70 e 80 eram fatores inibidores no que se referia à presença de empresas estrangeiras na exploração do mercado cinematográfico brasileiro” (GATTI, 2005, p. 279).

No final dos anos 90 as empresas estrangeiras já eram uma presença real no Brasil.

58Nas salas de cinema existe uma concentração em torno das classes A e B, mas destaca-se no caso paulistano que os índices dos maiores frequentadores são também maiores que os espectadores de outras localidades. (GATTI, 2005, p. 267).