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2 PRODUÇÃO E LEIS DE INCENTIVO

Artigo 39: Isenta empresas programadoras de TV a cabo estrangeiras do Condecine 23 ,

3.3 As distribuidoras e os filmes

3.3.6 Downtown Filmes

A Downtown é uma empresa que foi criada por Bruno Wainer em 2006. Atualmente, a empresa distribui exclusivamente filmes brasileiros, e procura desenvolver projetos com os diretores e produtoras de destaque no mercado nacional. Em alguns casos, procura realizar parcerias não

54 Site: http://www.imovision.com.br consultado de maio de 2011.

exclusivamente na distribuição, mas em todas as etapas do projeto. Além de trabalhar com diretores novos no mercado, trabalha com aqueles mais autorais, como Beto Brant no filme Crime Delicado e

Cão sem Dono, e filmes como: O Céu de Suely (2006), Estômago (2008) e Só dez por cento é mentira (2010). Também teve participação nos sucessos: Meu nome não é Johnny (2008), Divã (2009), Chico Xavier (2010), De Pernas pro ar (2010), e o documentário Lixo Extraordinário (2010).

Bruno Wainer assim define a tríade da indústria cinematográfica: “o produtor é o super otimista, o distribuidor é o realista e o exibidor é o pessimista.” (WAINER, 2010). Para ele o fato de sua empresa ser direcionada exclusivamente ao filme nacional é um diferencial:

“É a única distribuidora que se dedica 100% aos filmes brasileiros. Você podia dizer que a Riofilme também se dedica 100% aos filmes brasileiros, mas a Riofilme não tem uma distribuidora convencional, é mais uma fomentadora. No mínimo, a Downtown é a única distribuidora privada dedicada 100% aos filmes brasileiros. E aí não tem concorrente nessa área.” (WAINER, 2010)

A Downtown é responsável por grandes sucessos nacionais, mas também tem interesse em filmes mais de nicho. Nas palavras de Wainer:

“Quem paga a conta da Downtown são os grandes filmes, são os grandes sucessos, são esses que sustentam a empresa. Não quer dizer que, com isso, a gente não possa de vez em quando lançar filmes que a gente gosta, sem obrigatoriamente mirar ganhar muito dinheiro. É bom a gente ter os filmes que a gente aprecia no nosso cardápio de filmes. É por isso que, de vez em quando, a Downtown distribui documentários, mesmo sabendo que será uma missão quase impossível ganhar algum dinheiro com ele.” (WAINER, 2010)

O grande problema - não só na opinião dele mas de vários distribuidores entrevistados - é que são produzidos poucos filmes realmente competitivos no Brasil. Isso tem como consequência deixarmos o mercado à mercê da atuação das majors. Diz Wainer: “Quando entra um filme bom, que faz sucesso, um filme vitorioso, demora muito tempo pra entrar outro filme vitorioso. Então aquele filme, que você atraiu (público) pra assistir, se você demora muito pra dar um outro filme pra ele, ele perde de novo aquela relação com o filme brasileiro.”.

Igualmente considera que a televisão seria o local ideal do documentário e comenta que inclusive irá distribuir um documentário chamado Sequestro, que ele tomou conhecimento da existência através da televisão:

“O Sequestro eu descobri porque eu estava em casa vendo o Fantástico, e diz o seguinte: ‘Vocês vão ver umas cenas espetaculares, nunca vistas antes, chocantes! ’ - eram extratos do Sequestro. Eu nunca tinha visto, não conhecia o diretor, não fazia a menor idéia de quem ele era. Quando eu vi, passaram 6 minutos, eu liguei para o meu pessoal: vem cá, quem é o cara?” (WAINER,

2010)

O documentário Surf Adventures (2002) foi distribuído e produzido por Bruno Wainer na época em que estava na Lumière. Este filme foi um grande sucesso de público e segue até hoje, ocupando 4º lugar no ranking de documentários. Ele relata que distribuiu o filme porque conhecia o mercado de surf na época: “Eu sou surfista, eu pego onda desde que eu tinha 8 anos de idade, então eu conhecia o mercado, eu sabia que ali tinha um mercado. Ali tem as lojas que vendem roupa, as revistas de surf, enfim, eu já conhecia a história”(WAINER, 2010). Mas faz uma ressalva: um filme com uma temática tão especifica como a do Surf é um tipo de filme que deve acontecer a cada 15 anos. Os conhecimentos dele sobre o tema do surf também se devem ao fato de ter lançado um filme chamado

The Endless Summer 2(1994)55 que era a continuação de um grande sucesso dos anos 60, The Endless Summer 1(1966).

“Então, na verdade, é o seguinte: o que aconteceu no Surf Adventure (2002) é que uns 5 anos antes eu distribuí um documentário gringo de surf chamado The Endless Summer 2(1994), porque o The Endless Summer 1 (1966) foi um documentário que foi um clássico nos anos 60, que foi feito por um cara chamado Bruce Brown, no final dos anos 60. Obviamente que já existia um mundo de documentários de surf lá na Califórnia, mas esse foi o primeiro filme de surf. Nenhuma distribuidora acreditou, ele alugou um cinema em Nova York, o filme ficou um ano em cartaz e ganhou uma fortuna. Foi um filme que difundiu esse life style dos surfistas (...) 30 anos depois a New Line produziu o The Endless Summer 2(1994), com o mesmo Bruce Brown. Aí foi um filme que teve um relativo sucesso nos EUA. E eu sabia que tinha um potencial no Brasil. Lancei o filme e o filme fez mais 100 mil espectadores no Brasil. Aí eu falei: aí tem. O Surf Adventures (2002) foi um projeto que surgiu depois, tinha um programa na televisão chamado Surf Adventures, que era um programa bem sucedido naquele momento, eu conheci o diretor. Um dia ele me procurou e disse: ‘e aí, vamos fazer?’ Eu falei: vamos fazer um documentário brasileiro de surf bem feito, pra valer. E foi um barato de fazer, foi super jóia de fazer, teve um resultado super legal, teve um resultado super legal mesmo.” (WAINER, 2010)

Outro filme distribuído por Bruno, agora através da Downtown Filmes, foi o documentário

Garapa (2009), de José Padilha. Ele tinha plena consciência que era um filme de nicho, que foi

beneficiado pelo Prêmio de Distribuição da Petrobras, recebendo 100 mil para a distribuição. A negociação para a distribuição se deu da seguinte forma: José Padilha precisava de uma distribuidora para entrar no edital de distribuição da Petrobras e Bruno Wainer, que além de achar que o filme tinha um tema importante, gostaria de estreitar relações com José Padilha, com quem já vinha discutindo de participar na distribuição do Tropa de Elite 2(2010).

Wainer questiona o fato da utilização dos 100 mil da Petrobras para a exibição em sala de

55 Os custos de distribuição do filme foram todos da Lumière, parte através de Artigo 3º, lançado em 1994

cinema, se pensarmos no resultado final:

“Se talvez o filme fosse assim direto num canal de televisão, Garapa (2009) o filme do José Padilha no Multishow, 15 dias de campanha: ‘venha ver o próximo filme do Padilha’. Aí teria uma divulgação espontânea, uma ocupação na imprensa, seria visto nacionalmente por muito mais gente. Porque eu acho que o negócio do cinema é brigar lá por um espaço no mainstream, você está entendendo? Acho que ali é que é a arena. O cinema americano vai achar ótimo se a gente ficar aqui só cuidando da periferia e deixar o centro pra ele.” (WAINER, 2010)

O filme começou nas capitais, Rio de Janeiro e São Paulo, com cópias digitais, e depois foi para demais cidades, permanecendo em cartaz até o limite possível. Isso é desenvolvido por um departamento de programação da distribuidora que tem como função “espremer até sair a última gota, está entendendo? Claro que Garapa é um filme que, de cara, só podia estar destinado mesmo ao circuito mais independente, cult, autoral. E tem um pouco desse circuito pelo Brasil inteiro.”(WAINER, 2010) É praticamente um consenso entre os distribuidores que documentário na sala de cinema não traz retorno, com raras exceções, mas mesmo assim Bruno acredita ser importante ter uma carteira diversificada de produtos.