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1.6 As bases teóricas da abordagem Gerativa

2.1.2 A abordagem baseada no predicado: construcionismo

Na vertente baseada no predicado, linguistas como Gleitman (1990), Borer (1994, 1996), Goldberg (1995), van Hout (1996), Hale e Keyser (1997), Arad (1998),

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entre outros, assumem que as informações temáticas são determinadas pelas posições estruturais na configuração, mais do que pelas entradas lexicais de predicados.

Arad (1998) observa que todos os sistemas de mapeamento sintático baseados em entradas lexicais são fundamentados em algumas especificações que servem de entrada para o mecanismo de mapeamento. Esses sistemas, segundo a autora, incluem pelo menos três níveis distintos: o primeiro, de representação lexical, em que estão todas as informações relevantes para a sintaxe; um nível sintático, no qual as informações lexicais são mapeadas (estrutura profunda); e um sistema de mapeamento, isto é, um mecanismo cuja entrada é constituída de informações lexicais e a saída, de informações sintáticas.

Hale & Keyser (1993, 1997, 1998 e 2002), por exemplo, defendem a existência de uma sintaxe lexical, na qual são expressas as relações argumentais, distinguindo-se do nível de projeção da sintaxe sentencial. Tal proposta se fundamenta no relacionamento existente entre os itens lexicais que participam da predicação, não nas informações lexicais de um item considerado o núcleo do predicado. No nível de projeção da sintaxe sentencial, o item lexical se relaciona com seus argumentos e com as categorias funcionais da projeção sentencial. No nível da projeção lexical, o item lexical participa de um sistema de relações estruturais com seus argumentos.

Apesar de existir em número abundante nas línguas naturais, os verbos são limitados quanto à variedade e complexidade de configurações em que ocorrem. Tais estruturas determinam a quantidade de posições para argumentos internamente na sintaxe lexical, em termos da relação estabelecida pelos núcleos lexicais presentes na estrutura do predicado. Segundo essa teoria, por meio de um tipo específico de incorporação – conflation –, a matriz fonológica de um núcleo lexical ocupa a posição de um núcleo que regente não realizado fonologicamente, derivando-se as classes verbais sintéticas a partir das analíticas.

Assim, os autores caracterizam a configuração monoargumental como uma estrutura argumental simples, em que um núcleo verbal seleciona um núcleo nominal como complemento. Tal configuração corresponde à classe dos verbos inergativos, os quais manifestam uma estrutura analítica ou sintética: “dar um grito > gritar”, conforme ilustrado em (21):

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V V N gritar [grito]

A configuração (diádica) biargumental básica, segundo os autores, é uma estrutura argumental representada por um núcleo adposicional – preposicional / posposicional – nulo, que toma um nome como complemento e projeta um especificador, além de projetar um núcleo verbal mais alto, também nulo. Esta configuração é a responsável por gerar estruturas transitivas como “Maria engavetou os documentos” (= Maria pôs os documentos na gaveta), conforme ilustrado em (22), com dados do inglês: (22) V V P shelve DP P P N [ ] [shelf]

A configuração biargumental composta é uma estrutura argumental, cujo núcleo verbal exige complemento predicativo, ou seja, de natureza adjetival, e que projeta um especificador. Esta é a configuração correspondente à classe dos verbos inacusativos alternantes, que ocorrem em estruturas como “A poluição avermelhou o céu” e “O céu avermelhou’, conforme ilustrado em (23), com dados do inglês:

47 (23) V1 V1 V2 redden DP V2 V2 A [red]

Com relação aos verbos que apresentam complementos preposicionais, os autores distinguem entre preposições de coincidência terminal e preposições de coincidência central. As primeiras são aquelas em que o termo incorporado representa o ponto final do movimento da entidade representada pelo argumento. As segundas correspondem àquelas em que o termo incorporado passa a ter contato com a superfície denotada pelo argumento. Os traços semânticos em questão correspondem, respectivamente, às posições de “localização”, expressa em inglês pela preposição on, e “locação”, expressa em inglês pela preposição with, conforme (24):

(24) a. He put books on the shelf/ He shelved the books

b. They contaminated water with poison/ They poisonned the water

Nesse modelo, os tipos de estrutura argumental descrevem eventos como criação, mudança de estado e locação, mediante regras sintáticas que articulam os núcleos lexicais, i.e., todas as operações têm lugar na sintaxe (lexical).

Outras propostas baseadas no predicado incluem a distribuição dos argumentos na estrutura oracional, pela projeção de núcleos funcionais acima de VP responsáveis por codificar propriedades aspectuais do predicado ou a quantização do argumento (interno) (cf. BORER 1994, 2005 a,b, NAVES (2005), RAMCHAND, 2005). Tais abordagens são formuladas a partir do estudo original de Tenny (1986, 1989), em que os papéis temáticos são definidos em função propriedades aspectuais do predicado.

No âmbito da abordagem construcionista, Borer (1994, 1996) apresenta um modelo que pretende inserir as propriedades aspectuais, dada a relevância da categoria

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aspecto, sem, contudo, sobrecarregar as entradas lexicais como ocorria, por exemplo, no modelo proposto por Chomsky no âmbito da TRL, segundo a autora, redundante em virtude da duplicação de informações para atender às entradas lexicais e às estruturas sintáticas. Isso justifica o desejo de desenvolver um modelo mais simples, em que as entradas lexicais indicassem apenas o número de argumentos sob a forma de variáveis, dispensando por completo as hierarquias temáticas. A autora resolve a questão da interpretação dos constituintes a partir da inserção de informações aspectuais localizadas em posições estruturais específicas.

Para Borer, o aspecto aktionsart é compreendido como parte semanticamente importante para os itens lexicais. No entanto, diferentemente de abordagens projecionistas, a linguista concebe uma estrutura sintática que abarque categorias aspectuais com valores distintos (AspP evento e AspP processo), sendo tais categorias dotadas de plenitude funcional com núcleo e especificador próprios, habilitados para atuarem na atribuição de caso e proporcionar legibilidades aos argumentos.

Na próxima seção, apresentamos a abordagem da semântica representacional, buscando adequá-la à abordagem projecionista. Seguindo o pensamento de Jackendoff (1990), Chierchia (1989), de certo modo Dowty (1989), entre outros, assume-se que o sentido das orações é estruturado e está submetido a um tratamento sistemático, constituindo um componente autônomo da teoria gramatical, tal qual a sintaxe. Isso significa que a teoria que se ocupa das relações semânticas é elaborada e apresenta primitivos e operações próprios. Para expressar tais relações, adota-se um princípio de projeção da representação semântica sobre a representação sintática e regras de correspondência (a hierarquia temática) entre essas duas representações (JACKENDOFF, 1990).