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3 AS TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO: SUAS PERSPECTIVAS E AS

3.2 A administração Científica: Taylor, Fayol e Ford

Ao se dedicar a administração científica Taylor possibilitou a substituição da empiria pela racionalização do trabalho e abriu precedentes para a superexploração dos trabalhadores, como evidenciado já anteriormente nesta pesquisa. Taylor estava voltado para eliminar os desperdícios nas indústrias americanas, comprovadamente um dos elementos importantes na formação dos preços dos produtos. Dessa maneira, objetivava-se alcançar

maior produtividade e, tornando menores os custos e melhores margens de lucro, se enfrentaria a crescente concorrência em todos os mercados

Esta forma de organização é que permitirá posteriormente ao engenheiro Henry Fayol um maior e mais complexo aprofundamento dessa superexploração pois, se para a administração científica a ênfase nas tarefas era a principal característica, para o fundador da Teoria Clássica, a ênfase passa a ser na estrutura da empresa. Fayol acreditava que a eficiência da empresa pode ser ampliada por meio de sua organização e da aplicação de princípios gerais da administração em bases científicas. Chiavenato destaca que “embora os engenheiros não tenham se comunicado entre si e tenham partido de ponto de vista diferentes e até mesmo opostos, suas ideias constituem as bases da chamada abordagem clássica da administração”. (CHIAVENATO, 2003, p. 74).

Fayol define o ato de gerenciar como prever, organizar, comandar, coordenar e controlar. A definição de Fayol possibilita uma ampliação da necessidade de gerenciamento especializado e desenvolvido por homens devidamente selecionados e capacitados. No entanto vimos que a preocupação com o chamado “primeiro escalão” já se fazia presente nas buscas e preocupações de Taylor.

Chiavenato observa que o administrador é alguém que aprendeu a pensar, a raciocinar, a avaliar e ponderar em termos abstratos, estratégicos, conceituais e teóricos. Para Chiavenato existe uma “santíssima trindade” a orientar o administrador rumo ao sucesso. O autor elenca que para ser bem sucedido profissionalmente um administrador deve desenvolver as três competências consideradas essenciais:

Conhecimento: significa todo o acervo de informações, conceitos, ideias, experiências, aprendizagens que o administrador possui a respeito de sua especialidade [...] Perspectiva: significa a capacidade de colocar o conhecimento em ação. Em saber transformar a teoria em prática. Em aplicar o conhecimento na análise das situações e na solução dos problemas e na condução do negócio [...]. Atitude: significa o comportamento pessoal do administrador frente às situações com que se defronta no seu trabalho. A atitude representa o estilo pessoal de fazer as coisas acontecerem, a maneira de liderar, de motivar, de comunicar e de levar as coisas para a frente [...]. (CHIAVENATO, 2003, p. 33-34).

Para Chiavenato, dentre as três competências a atitude é a que mais se sobressai permitindo que o administrador se torne um agente de mudança. O autor afirma ainda que a atitude faz acontecer à mudança de mentalidade, cultura, processos, atividades, produtos e serviços. Pelas definições pode-se observar o quanto é exigido aos “líderes modernos” resultados no sentido mais complexo que a palavra pode representar. Se para Taylor um chefe

deveria ter características como otimismo, pulso firme, e esforço pessoal há um salto qualitativo e quantitativo nas exigências atribuídas aos novos homens que possuem a missão de gerir resultados. Chiavenato conceitua a administração científica da seguinte maneira:

A abordagem da administração Científica é uma abordagem de baixo para cima (do operário para o supervisor e gerente) e das partes (operário e seus cargos) para o todo (organização empresarial). Predominava a atenção para o método de trabalho, para os movimentos necessários à execução de uma tarefa, para o tempo padrão determinado para sua execução. Esse cuidado analítico e detalhista permitia a especialização do operário e o reagrupamento de movimentos, operações, tarefas, cargos etc., que constituem a chamada Organização Racional do Trabalho (ORT). (CHIAVENATO, 2003, p. 74).

A definição do autor elucida o interesse e necessidade no controle dos trabalhadores uma vez que são esses que efetivamente possibilitam acúmulo de capital aos detentores dos meios de produção. Enfatiza ainda a busca constante de novos e efetivos meios de controle dos trabalhadores para que esses entreguem tudo que sua capacidade laborativa consegue produzir. As técnicas modernas de gerenciamento, no entanto transferem para os administradores a responsabilidade de gerir, motivar, controlar; tornando-os distantes de sua identidade de trabalhadores. Estes já não são se percebem explorados, oprimidos, subjugados. Sob a falácia da “liderança” tornam-se algozes de seus companheiros de trabalho e perdem a identificação de sua categoria.

A mudança de percepção gerencial atribuindo o sucesso da empresa por meio de sua organização e da aplicação dos princípios gerais da administração em bases científicas possibilitou ao engenheiro francês Henry Fayol um maior e mais efetivo aumento de controle produtivo ao buscar uma visão global e universal da empresa. Se para a administração científica a ênfase estava na tarefa realizada pelo operário para o autor da teoria clássica a estrutura da empresa passa a ser a principal característica. Em termos conceituais Chiavenato assim descreve a teoria clássica:

A preocupação básica era aumentara eficiência da empresa por meio da forma e disposição dos órgãos componentes da organização(departamentos) e de suas inter- relações estruturais. Daí a ênfase na anatomia(estrutura) e na fisiologia (funcionamento)da organização. Nesse sentido, a abordagem da Corrente Anatômica e Fisiologista é uma abordagem inversa à da Administração Científica:de cima para baixo (da direção para a execução) e do todo (organização) para as suas partes componentes (departamentos). Predominava a atenção para a estrutura organizacional, para os elementos da Administração, os princípios gerais da Administração e a departamentalização. Esse cuidado com a síntese e com a visão global permitia a melhor maneira de subdividir a empresa sob a centralização de um chefe principal. Foi uma corrente teórica e orientada administrativamente. (CHIAVENATO, 2003, p. 74).

Fayol já conhecia os resultados iniciados com Taylor dos meios de controle dos trabalhadores e os resultados que estes produziam na acumulação de produção. Para o engenheiro, interessava ampliar e sistematizar suas observações no controle global da empresa partindo de uma visão macro da instituição e sua capacidade organizacional. Seu propósito em observar a eficiência da departamentalização bem como a atribuição do “chefe principal” gera impactos nas atitudes comportamentais dos trabalhadores, esses perdem a compreensão da execução do processo como um todo, distanciam-se do processo e vão se tornando os “robores mecanizados” que Henry Ford usará em suas oficinas de automóveis.

A esteira rolante descrita e criticada por Braverman atinge com Ford o ápice da produtividade para os capitalistas e uma perda subjetiva aos trabalhadores, já que esses não precisam de qualificação especializada, pois na proposta de Ford cada trabalhador precisará apenas executar pequena parte da tarefa na produção. Sob a promessa sedutora de pagamento bonificado a quem mais produzir Ford alimenta nos trabalhadores o desejo de enriquecimento sem que estes pudessem compreender o que Marx observa quando afirma “a elevação do salário desperta no trabalhador a obsessão do enriquecimento [típica] do capitalista que, contudo, ele apenas pode satisfazer mediante o sacrifício do seu espírito (Geist) e de seu corpo”. (MARX, 2010, p. 27). Ao trabalhador por mais que este produza não poderá enriquecer, pois o enriquecimento está na concentração da exploração dos meios de produção e no que estes podem produzir. Na concepção marxiana “o que diferencia as épocas econômicas não é “o que” é produzido, mas “como”, “com que meios de trabalho”. Estes não apenas fornecem uma medida do grau de desenvolvimento da força de trabalho, mas também indicam as condições sociais nas quais se trabalham”. (MARX, 2013, p. 257).

Os meios de trabalho que Ford utilizou foram à completa exploração das forcas físicas e subjetivas dos trabalhadores. Estes já não participam do processo, não compreendem a complexidade do mesmo, não necessitam sequer se movimentarem para produzir. Há em Ford a proposta sedutora do enriquecimento que nada mais é que a busca desenfreada por mais produtividade aos que efetivamente detém os meios de produção. No entanto o trabalhador sequer conseguirá usufruir do objeto que ele próprio produziu quiçá vir a enriquecer, situação que se vislumbra na sequência e efetivamente se comprova ao longo da história no modo de produção capitalista.