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A Ajuda Humanitária da UE: Noção, Âmbito, Natureza e Princípios

No documento A AJUDA HUMANITÁRIA DA UNIÃO EUROPEIA (páginas 132-135)

7. Conclusão

7.2 A Ajuda Humanitária da UE: Noção, Âmbito, Natureza e Princípios

Princípios

No plano internacional, o Instituto de Direito Internacional apresentou uma definição de Ajuda Humanitária. Embora não existindo uma noção universal, a Ajuda Humanitária é entendida como a prestação de assistência a pessoas ou comunidades com o objetivo de reduzir o sofrimento ou evitar a morte. Estas catástrofes têm origem natural, humana, técnica ou qualquer outra.

133 A UE respeita o quadro internacional da Ajuda Humanitária, e o direito internacional, tal como referem os Arts. 2º e 3º, nº 5 do TUE e 214º do TFUE. Contudo, acabou por desenvolver um conceito de Ajuda Humanitária de âmbito internacional, com princípios próprios. Assim, por Ajuda Humanitária entende-se a Ajuda Humanitária a Estados terceiros (Art. 214º do TFUE) e a Ajuda Humanitária a Estados membros, ou seja, a Cláusula de Solidariedade (Art. 222º do TFUE).

A Ajuda Humanitária tem na sua base duas causas: as catástrofes naturais ou humanas. O princípio da prioridade da Ajuda Humanitária aos Estados em vias de desenvolvimento foi abandonado, logo surge a estipulação da Ajuda aos Estados membros, quer por parte da UE, quer por parte de outros Estados membros.

Associada à noção de catástrofe, esta Ajuda é a “Ajuda de Urgência”, aquela que se impõe face às necessidades do caso concreto. O objetivo é o de reduzir o sofrimento humano e salvar vidas.

Por outro lado, a Ajuda Humanitária da UE compreende também todas as medidas de prevenção, que visem atenuar ou evitar uma situação de crise.

Isto significa que a Ajuda Humanitária compreende os atos da UE em momento anterior à crise através de medidas de prevenção ( p. ex. para atenuar os efeitos de crises ambientais, ou a instalação de sistemas de alerta rápidos), e os atos de assistência e socorro durante a crise e enquanto a situação de urgência se mantiver.

A Ajuda Humanitária é um instrumento de atuação pontual. A UE não atua em todas as situações. Os recursos são limitados, a racionalização dos meios e as prioridades são essenciais para a sustentação da assistência.

A Ajuda Humanitária da UE é a Ajuda de curto prazo e de mandato limitado. A DG ECHO tem mandato limitado e atua através de parcerias com ONG ´s que prestam assistência no terreno, a par de equipas de peritos e dos escritórios que possui em várias localidades, em função das necessidades.

Apesar de ser apresentada como ajuda de curto prazo, a verdade é que na prática a Ajuda Humanitária da UE tem sido desenvolvida também em casos de longo prazo, nomeadamente nas crises esquecidas. Em certas regiões de África, existem crises humanitárias permanentes, como no Sudão e no Sudão do Sul. O mesmo acontece nos campos de refugiados. A sobrevivência destas populações depende exclusivamente da

134 Ajuda Humanitária. Se a UE recusasse continuar a prestar Ajuda Humanitária, milhares de pessoas perderiam a vida.

A Ajuda Humanitária não é uma forma de gestão política internacional e não resolve os conflitos internacionais. A Ajuda Humanitária pode permitir identificar as áreas que necessitam de alterações políticas profundas. Estas são áreas em constante tensão, as quais não devem negligenciar medidas de prevenção de forma a evitar futuras crises ou atenuar os seus efeitos.

Nos termos da previsão legal, a Ajuda Humanitária da UE pressupõe que a causa da crise seja de origem natural ou humana. Contrariamente ao que sucede no plano internacional, a UE centrou a Ajuda Humanitária em causas específicas. Atualmente, faz cada vez menos sentido a separação das causas. Em primeiro lugar, as causas são cada vez mais complexas e múltiplas, e em segundo lugar é mais difícil determinar as causas das crises. Muitas causas de catástrofes naturais têm origem humana.

A UE visa atuar no plano internacional, onde as catástrofes ocorrerem e a necessidade de resposta se fizer sentir.

Embora seja possível a construção da Ajuda Humanitária como Direito do Homem a nível internacional, na UE ela é entendida como parte da Política de Ação Externa e dever fundamental dos Estados, atuando a UE subsidiariamente. Com a adesão da UE à CEDH entende-se por força dos Arts. 1º, 2º e 3º que a UE tem o dever de prevenir, proteger e assistir os cidadãos e residentes no território da UE, e mesmo no quadro da subsidiariedade, a Ajuda Humanitária é um Direito Humano oponível à UE.

Os princípios da Ajuda Humanitária da UE são os princípios de direito internacional, conforme os Arts. 214º do TFUE, 2º e 3º do TUE, e os mesmos princípios da Ajuda Humanitária internacional da CICV. Acrescem ainda um conjunto de princípios que resultam da prática da Ajuda Humanitária da UE. São eles os princípios da necessidade; transparência; flexibilidade; responsabilidade; «do no harm»; subsidiariedade; da racionalidade; sustentabilidade; planeamento; coordenação; resposta integrada; os princípios especiais da assistência alimentar (Art. 2º da Convenção da Assistência Alimentar); da saúde (qualidade da assistência; intervenções médicas com base nos resultados; da ação para garantir a recuperação rápida); do Wash (princípio da resposta integrada) e, por fim, o princípio da dignidade do Ser Humano. Quanto aos princípios que envolvem a Cláusula de Solidariedade, apesar de não se referir a eles expressamente, eles

135 são os consagrados nos Arts. 2º e 3º, e os princípios de direito internacional, já que a UE conforma a sua ação com o direito internacional.

Enquadrada no direito internacional, a Ajuda Humanitária da UE desenvolveu especiais particularidades próprias quanto à noção, através da determinação das causas e quanto aos princípios.

Em suma, a UE criou a Ajuda Humanitária de âmbito internacional (em Estados não membros), e desenvolve a Ajuda Humanitária de âmbito regional (da UE para com os Estados membros e entre estes).

Os desenvolvimento legislativos quer nos Tratados (TUE e TFUE), quer em atos como Regulamentos e Decisões, já anteriormente referidos neste trabalho, destinados a Estados terceiros ou a Estados membros, permitem fundamentar a criação e o desenvolvimento de um direito da Ajuda Humanitária pela UE.

No documento A AJUDA HUMANITÁRIA DA UNIÃO EUROPEIA (páginas 132-135)