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Os Direitos do Homem, o DIH e a Ajuda Humanitária: Evolução

No documento A AJUDA HUMANITÁRIA DA UNIÃO EUROPEIA (páginas 129-132)

7. Conclusão

7.1 Os Direitos do Homem, o DIH e a Ajuda Humanitária: Evolução

Os Direitos do Homem, o DIH e a Ajuda Humanitária apresentam como denominador comum a dignidade do Ser Humano. A evolução histórica, das relações, do direito internacional e dos sistemas de proteção regionais permitiram o encontro daqueles dois ramos de direito, e a contribuição de cada um deles para o crescimento da Ajuda Humanitária. Esta não é mais vista como uma forma de caridade fundada na religião. Com efeito, é possível encontrar e construir uma base de sustentação material da Ajuda Humanitária de forma coerente, sólida e de acordo com valores internacionalmente reconhecidos.

O nascimento e evolução dos direitos, e mesmo das organizações internacionais resultou sempre de uma necessidade. Necessidade de alcançar acordos, necessidade de evoluir em termos económicos, necessidade de manter relações amigáveis entre Estados, necessidade de os cidadãos lutarem contra os abusos de poder ou arbitrariedades, e necessidade de manter a paz. Os Direitos do Homem surgem como forma de combater o abuso de poder e os regimes totalitários, e aplicam-se em tempos de paz e de guerra.

A evolução dos Direitos do Homem assume uma nova dimensão com o fenómeno da regionalização dos sistemas de proteção, em especial na Europa, no âmbito do Conselho da Europa com a adoção da CEDH e a criação do TEDH. Importante conquista para os Direitos do Homem são as adesões à Convenção, também, por parte da UE. Enquanto organização de Estados e criadora de atos internos e interventora no plano da ação externa, a UE adere aos Direitos do Homem e reforça a promoção dos seus valores, aos quais se vinculou nos Tratados.

O DIH tem na sua base num episódio específico, ou seja, a Batalha de Solferino. Foi a presença de Henry Dunant que posteriormente impulsionou as Conferências que viriam a dar lugar à primeira Convenção de Genebra. Foi também neste contexto que nasce a CICV, a primeira organização internacional destinada aprestar Ajuda Humanitária sem discriminação, independentemente, da nacionalidade, da religião ou das ideologias defendidas. O DIH evoluiu com o Direito de Haia e o Direito de Nova Iorque. Constitui um conjunto de regras jurídicas que abrangem os limites à guerra pelas partes envolvidas

130 nos conflitos e contém regras para assistência aos civis e militares. O âmbito de aplicação do DIH está delimitado pela existência de um conflito armado. O DIH teve impacto no plano da ação externa regional, na medida em que a UE se vincula ao respeito do DIH nos termos das Diretrizes da UE sobre a Promoção da Observância do DIH e, em geral, do direito internacional.

A Ajuda Humanitária entendida como assistência e socorro à população no sentido reduzir o sofrimento ou impedir a morte de pessoas surge na História relacionada com a prática religiosa. Posteriormente, evolui no campo das regras do DIH. Com efeito, a prestação de socorro e assistência às vítimas dos conflitos deixa de estar baseada exclusivamente na fé e na vontade individual. Passam a existir regras que impõem limites à utilização de armas, fica previsto o socorro às vítimas, e a responsabilidade dos Estados em prestar a assistência necessária.

A Ajuda Humanitária esteve consagrada no Pacto das Nações. A Carta da ONU não prevê expressamente a Ajuda Humanitária. No entanto esta foi definindo o seu espaço no plano internacional. No tempo de guerra surgem regras de DIH. Fora dos contextos de conflitos armados a Ajuda Humanitária encontra fundamentos nos valores da solidariedade, dos Direitos do Homem, e da moral. Prestar assistência de forma a reduzir o sofrimento ou evitar a morte significa respeitar o valor máximo: a dignidade do Ser Humano. Esse é o valor que norteia os Direitos do Homem e o DIH.

A Ajuda Humanitária da UE foi influenciada por duas vertentes. Uma é a Ajuda Humanitária internacional, na medida em que a UE respeita o direito internacional, enquadra a sua ação pelos valores internacionais e procura a coordenação com a ONU, a CICV e ONG ´s que fazem a ponte entre a assistência e as populações. A outra é a prática dos próprios Estados membros.

Inicialmente influenciada pelas práticas dos Estados membros e respetivos relacionamentos com as antigas colónias, a Ajuda Humanitária foi ganhando autonomia e importância nas relações internacionais. Esta importância cada vez maior na ação externa justificou a inclusão das missões humanitárias no quadro da Política de Ação Externa da UE. Com efeito, a UE desenvolveu a Ajuda Humanitária para Estados terceiros, no quadro do direito internacional, mas delimitou a sua noção, e o seu âmbito desenvolvendo, com essa prática, princípios e formas de agir. Esta Ajuda Humanitária é imprescindível no

131 plano internacional. Com base nos números recolhidos e na informação pública podemos dizer que milhares de pessoas dependem da assistência da UE para sobreviver.

Do plano internacional, a Ajuda Humanitária adquire uma nova visão no plano regional da UE.

A Ajuda Humanitária da UE assenta nos valores previstos nos Tratados, nomeadamente, democracia e Direitos do Homem. Com efeito, inclui-se no plano do NovoHumanitarismo, embora não no sentido negativo, ou seja, da prossecução de objetivos políticos.

A Ajuda Humanitária foi e pode ser usada como desculpa ou motivação para impor determinadas posições políticas internas. Conforme se demonstrou também os Estados que pedem ou aceitam a Ajuda Humanitária podem impor medidas, exigências ou quaisquer contrapartidas como forma de aceitar a atuação dos atores humanitários e o acesso à população. Portanto, o perigo existe de ambas as perspetivas e de ambos os lados. Contudo, a história da Ajuda Humanitária diz que são os Estados não democráticos que violam, normalmente, os Direitos do Homem, aqueles nos quais os riscos e as situações de utilização para finalidades estranhas ao salvamento das pessoas são maiores.

Esta investigação não encontrou nenhuma referência e acusação fundada sobre a politização da Ajuda Humanitária da UE. Conclui-se que é possível a compatibilização entre os princípios tradicionais e o respeito por valores como os que a UE tem prosseguido. Eles servem sobretudo como guia e linha de orientação no âmbito da decisão interna, no plano da ação no terreno, e para definir estratégias de coordenação e relacionamento com outras entidades como ONG´ s e Estados.

Os Direitos do Homem, o DIH e da Ajuda Humanitária internacional estabelecem o quadro da Ajuda Humanitária da UE para Estados terceiros. Em tempos de conflitos armados, a UE compromete-se a respeitar o DIH. Fora destes contextos, a Ajuda Humanitária é fundada nos mesmos valores da solidariedade e dos Direitos do Homem.

As organizações internacionais, os Estados e a UE nos seus discursos e documentos referem-se à Ajuda Humanitária no plano da solidariedade e não no plano jurídico. Contudo, a UE desenvolveu uma noção, e princípios próprios decorrentes da prática e do relacionamento com as entidades e atores humanitários. Os mesmos fundamentos aplicam-se à Ajuda Humanitária da UE no território dos Estados membros. Apesar de aplicam-se apreaplicam-sentar como uma atividade ainda em desenvolvimento, quer do ponto de vista teórico e legal, quer do ponto de vista prático, a Ajuda Humanitária tem alguns instrumentos

132 contraditórios para a sua efetivação, entre a UE e os Estados membros. A UE seguiu no plano regional duas linhas diferentes, ou seja, as previsões da Ajuda Humanitária no Art. 214º e a Cláusula de Solidariedade no Art. 222º, ambos do TFUE.

Por outro lado, o Mecanismo de Proteção Civil (Decisão nº 1313/2013/UE do Parlamento Europeu e do Conselho) permite dar respostas rápidas e eficazes às populações.

O Fundo de Solidariedade (Regulamento nº 661/2014 de 15 de maio de 2014) só se aplica a catástrofes naturais, e o Fundo Europeu de Ajustamento à Globalização (Regulamento nº 1309/2013 de 17 de dezembro de 2013) sobre a ajuda aos trabalhadores desempregados vítimas da crise económica e financeira, tendo em vista a criação de emprego, beneficiam os Estados mais desenvolvidos.

Estes meios são ainda insuficientes para responder a crises humanitárias e á urgência de resposta. Aqueles instrumentos servem, principalmente, para reduzir o risco de urgência procurando controlar o nível da necessidade.

Estes instrumentos são também criticáveis devido aos critérios para efeitos de distribuição da assistência, acabando por beneficiar os Estados membros mais ricos, deixando desprotegidos os Estados membros com maiores fragilidades económicas. Assim se demonstrou anteriormente através da identificação dos valores já disponibilizados pelos Fundos.

A UE não poderá deixar de desenvolver a Ajuda Humanitária para Estados terceiros e Estados membros de forma equivalente, coerente e proporcional.

No documento A AJUDA HUMANITÁRIA DA UNIÃO EUROPEIA (páginas 129-132)