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CAPÍTULO 3 ESTUDO DE CASO: O NÚCLEO DOS PRODUTORES DE

3.9 Fases Distintas das Alianças Mercadológicas

3.9.3 A Aliança Mercadológica firmada com o Frigorífico Mataboi e a empresa de

Depois de várias reuniões com o Diretor-Geral do Frigorífico Mataboi e com a Diretoria da Braspelco Indústria e Comércio Ltda, concretizou-se, em 24/03/2000 a parceria mercadológica entre esses três elos da cadeia produtiva da carne bovina, com o abate inicial de 195 cabeças e exportação para a Suíça, já com a marca Beef Tropical (atual marca utilizada pelo Núcleo). Essa parceria significou bem menos incremento financeiro para os produtores, na verdade, quase insignificante, mas proporcionou a incorporação de um outro elo da cadeia produtiva da carne bovina: a indústria de curtumes Braspelco Justificava-se essa parceria em virtude da insustentável situação financeira da associação de produtores. Caso houvesse outra alternativa, tal parceria certamente não se efetivaria, pelo maios não com o retrocesso financeiro aos pecuaristas que o contrato previa.

Assim como o contrato com o frigorífico Bertin, o acordo com o Mataboi era informal, realizado entre a diretoria do Núcleo e do Frigorífico. Ex-ante, eram determinados os padrões e premiações do abate, e, ex-post, o preço da arroba do boi. Este preço, no entanto, era vinculado ao preço do dia praticado pelo Frigorífico Bertin, pois normalmente, este “estabelece” primeiramente o preço praticado no mercado, possibilitando maior estabilidade e segurança ao Núcleo. Ou seja, evitavam-se comportamentos oportunistas com relação ao preço por parte do frigorífico Mataboi.

TABELAI3: Parâmetros de classificação e premiação dos animais abatidos na aliança Núcleo/Mataboi - Machos Castrados e Fêmeas.

Peso Kg por Animal Macho Castrado Peso Kg por Animal Fêmea

Acima de 220 kg Preço @ Boi + R$2,00/Cab. Acima de 215 kg Preço @ vaca acrescido de R$2,00 + R$2,50/Cab. De210a219kg Preço @ vaca acrescido de R$2,50 De 200 a 210 kg Preço @ vaca acrescido de R$1,50 De 200 a 214 kg Preço @ vaca acrescido de R$1,50 + R$2,00/Cab. De 180 a 200 kg Preço @ vaca acrescido de R$0,50 De 180 a 200 kg Preço @ vaca acrescido de R$0,50

Durante a vigência do contrato (24/03/00 a 15/09/00), foram comercializados 3253 animais de apenas 20 produtores (de um total de 90). Infelízmente, por falta de controle (e/ou prestações de conta) por parte do frigorífico, o índice de precocidade dos os animais abatidos não pode ser identificado, resultando em perda de controle desse índice do desempenho geral por sexo e do fluxo financeiro dos associados do Núcleo.

Sem dúvida, o ponto mais relevante dessa nova aliança foi ter incorporado a indústria de curtume ao contrato. Antes de qualquer Aliança com a indústria frigorífica, o pecuarista não tinha qualquer conhecimento sobre a qualidade do produto que ofertava. A partir do primeiro contrato com o Bertin, passou-se a identificar a qualidade do produto came até a balança, e, mais recentemente, com o contrato Mataboi/Braspelco, a qualidade de seu principal sub-produto: o couro.

Entretanto, a intenção da Braspelco com a parceria era muito mais de alcançar ganhos futuros, visto que os associados do Núcleo representam uma parcela irrisória de fornecimento para essa empresa, cuja visão, a partir de uma bonificação de R$2,00/cabeça pelo couro de animais precoces, era aproveitar a capacidade do Núcleo de difundir propostas e ideais condizentes com a melhoria geral da qualidade do couro.

Diante dessa parceria, cabia ao pecuarista:

• Entregar animais jovens (novilhos/novilhas) perfeitamente acabados e identificados ao frigorífico;

• Marcar corretamente o animal, seguindo os procedimentos descritos pela ABNT-NBR 10453 - Marcas de Identificação de Gado, Regiões e Tamanhos - ou utilizar brincos; • Usar instalações para o manejo, dentro de critérios técnicos que preservem ao máximo

a integridade e qualidade dos animais, evitando contusões;

• Não se deve, em hipótese alguma, usar os seguintes expedientes: cercas de arame farpado, currais com pregos; parafusos ou lascas de madeira pontiagudas; ferrão pontiagudo para tocar os animais.

Para melhorar a remuneração aos associados e estimular o número de abates, o Núcleo repassou parte da comissão recebida do Frigorífico Mataboi, pelo fornecimento da Escala de Abate (que era de R$3,20/cabeça para machos e R$2,60/cabeça para fêmeas), ao associado, no valor de R$1,50 por animal classificado. Retirou-se, ainda, a taxa de inspeção da antiga parceria com o Bertin (R$1,50) e passou-se a penalizar em R$1,00 por animal desclassificado.

Segundo a Braspelco, a melhoria do couro tende a beneficiar não somente as empresas de curtumes, sendo que a remuneração atualmente dada por essa firma tem a intenção de proporcionar um pequeno incentivo inicial, já que toda a cadeia produtiva tendería a ser mais bem remunerada por um couro de qualidade. Segundo a Cartilha- Braspelco, o couro tem influência direta sobre o preço da arroba paga pelos frigoríficos, que o dividem da seguinte maneira: 57% para o corte traseiro, 22% para o corte dianteiro, 9% para a ponta-de-agulha, 7% para o couro-verde e 5% para os subprodutos. Segundo essa empresa, tal percentual ainda é muito pequeno, porquanto um couro vale, nos Estados Unidos, algo entre US$ 50 a US$60, enquanto um razoável couro brasileiro permanece entre US$25 a US$30 - nos bons frigoríficos. A melhoria da qualidade tendería, pois, a incrementar o preço final da arroba, aumentando o faturamento do produtor, da indústria processadora e dos curtumes.

Numa primeira e única avaliação da qualidade do couro ofertada pelos associados do Núcleo, a Braspelco aferiu irregularidades quanto ao excesso e má utilização das marcas de fogo, marcas no transportes com riscos de carroceria dos caminhões, além de vazamento das raias e veiamentos, depondo contra as vantagens inerentes de um couro proveniente do Novilho Precoce.

0 Núcleo, no entanto, entende que o processo de melhoria do couro é lento e que deverão surgir efeitos positivos quando os bezerros nascidos após a implementação do programa de qualidade do couro estiverem sendo abatidos.

Diferentemente da anterior aliança com o Frigorífico Bertin, ao longo do contrato com o Frigorífico Mataboi, inúmeros problemas de diferentes ordens foram surgindo, influenciando negativamente a parceria, até sua suspensão, em setembro de 1999. Entre alguns dos problemas, podem-se citar.

• A desorganização e/ou ausência dos relatórios de abates exigidos pelo Núcleo;

• Cálculos financeiros incorretos (com certa frequência) das premiações pagas aos pecuaristas;

• Insatisfação de grande parte dos associados quanto ao aproveitamento das carcaças74, o que acabam por absorver os ganhos da premiação do Novilho Precoce;

74 Aproveitamento de carcaça refere-se à relação entre o peso da carcaça do animal após a realização da “toalette” (retirada da cabeça, patas, couro e vísceras) pelo peso do animal vivo.

O posicionamento unilateral por parte do Frigorífico Mataboi, enviando, em 11 de setembro de 2.000, uma nova tabela de classificação, a qual a empresa denominou como “Programa de Melhoramento de Carcaça e Couro Bovino”, foi decisivo para a quebra contratual da Parceria só exigir, em uma das cláusulas do novo “Acordo”, que os animais estivessem “livres de marcas e cicatrizes ou marcados em locais adequados conforme

especificação, livres de bemes e/ou carrapatos75 ” e retirando parte e/ou reduzindo as

premiações anteriormente oferecidas, o frigorífico selou o fim da parceria com o Núcleo de Produtores de Novilho Precoce.

3.9.4 O Envolvimento de toda a Cadeia Produtiva da Carne Bovina: do Produtor à

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