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A AMÉRICA ANDINA DURANTE A CONQUISTA E COLONIZAÇÃO EUROPEIA

Regressando às disputas territoriais antigas, antes da chegada espanhola (meados de 1532) no mar do pacífico lado oeste da América Latina, ou do advento português (por volta de 1500) no lado atlântico leste latino, o que seria hoje litoral brasileiro, sabemos que já eram disputadas as terras da América (assim como outros continentes) por meio do Tratado de Tordesilhas (1494), assinado pelos reis católicos D. João II de Portugal, Fernando de Aragão e Isabel de Castela

FIGURA 9 – Por que o Brasil continuou um só enquanto a América espanhola se dividiu em vários países?

Fonte: BARRUCHO, Por que o Brasil continuou um só enquanto a América espanhola se dividiu em vários

países? 2018.

Para Moreira e outros (1978), neste tratado entre as metrópoles, a Igreja Católica teve um papel dominante, não só pelo fato de ter conduzido as negociações, mas também, por ter imposto sua doutrina de “legitimação do expansionismo” e colonização. Porém, condicionava que tal expansão, seja em nome da Santa Sé, e que os povos colonizados deveriam ser

convertidos. Estabelecendo assim, uma expansão da fé com o intuito de ganhar mais adeptos e deles receber indulgencias e contribuições. Conforme os autores:

Segundo os autores, Moreira, Bugallo e Albuquerque, em 1978, indicam que o Tratado de Tordesilhas teria sido estabelecida em 7 de junho de 1494, e as esferas de influência estariam definidas, fariam parte de Castela as terras descobertas a além do meridiano que traspassava a 370 léguas a ocidente de Cabo Verde, limite diminuído para 200 léguas no que no tocante aos descobrimentos que Colombo pudesse fazer a segunda viagem, a qual estaria sendo programada.

Discute-se muito as razões secretas da escolha da linha divisória sendo a questão mais debatida a de saber se D. João II tinha já nessa data conhecimento da existência do Brasil. A intervenção da Santa Sé foi extremamente activa, como veremos. De tudo resultou que o tratado seja um marco fundamental no desenvolvimento de várias linhas políticas, e pelo menos as seguintes: a) O começo da execução de um projeto que temos chamado Euromundo e que veio a traduzir-se na submissão da totalidade do globo ao governo das potências ocidentais, todas de etnia branca; b) A definição de uma política colonial da Santa Sé, que veio a receber forma laica na ONU. (MOREIRA; BUGALLO; ALBUQUERQUE, 1978, p. 11).

Vale lembrar, que antes mesmo do Tratado de Tordesilhas acontecer, o poder papal dirimiu quatro Bulas papais com poder imperativo. A primeira Bula Romanus Pontifex, assinada em 8 de janeiro de 1454, por Nicolau V. Segunda, a Bula Aeterni Regis Clementia, de Sisto IV de 21 de junho de 1481 visando o Tratado de Paz de Toledo assinado no ano anterior, reconhecendo as ilhas do Atlântico como portuguesas, com exceção das Canárias e sobre o litoral da Guiné. (MOREIRA; BUGALLO; ALBUQUERQUE, 1978).

A terceira Bula a Inter Coetera, assinada em 4 de maio de 1493, estabeleceu a primeira linha de demarcação territorial, concedendo aos reis de Castela, Leão e Aragão, a posse das ilhas e terras firmes recém descobertas ou a descobrir. Encontradas a cem léguas a oeste do meridiano de Cabo Verde. Não abrangia o território do atual Brasil, logo, houve protesto do rei D. João II, visando renegociações para um novo tratado entre os reinados, gerando assim o Tratado de Tordesilhas. Nas palavras do autor:

Há de se notar a imprecisão dos limites estabelecidos pela Bula e pelo Tratado, o que se justifica diante da precariedade de conhecimento sobre as novas terras descobertas. No caso o arquipélago de Cabo Verde, com várias ilhas, a origem da contagem não ficou estabelecida, pois havia de várias dimensões. Isso tudo sem se citar a rusticidade dos instrumentos de medição astronômica. Com todas essas dificuldades, ficou entendido, entre portugueses e castelhanos, que o Meridiano de Tordesilhas, limite entre suas possessões na América do Sul, seria o que passasse na altura da hoje cidade de Belém e que se prolongaria para o sul até o porto de Laguna. A fronteira terrestre seria uma linha reta de Belém a Laguna. Se assim prevalecesse, a possessão portuguesa teria menos de três milhões de quilômetros

quadrados. O Território brasileiro não teria a Amazônia, o centro oeste e o extremo sul. (BORBA, 2013, p. 61).

Já a quarta Bula de Júlio II, em 1505, oficializando o meridiano de separação definido pelo Tratado de Tordesilhas, de 7 de junho de 1494, fixada a 370 léguas a ocidente de Cabo Verde. (MOREIRA; BUGALLO; ALBUQUERQUE, 1978). Por conseguinte, ambos Estados, Espanha e Portugal, possuíam legitimidade para se expandir, apropriar-se e colonizar as novas terras a serem exploradas.

Neste contexto, as metrópoles lançam suas missões expedicionárias, a coroa espanhola envia os “conquistadores” Hernán Cortez para América central em 1502, Francisco de Pizarro em 1532 ao Peru e Bolívia, Diego de Almagro e Pedro de Valdívia em 1540 Chile e Argentina. Destes, os três últimos apresentarão maior relevância, devido à área que colonizaram, que é a América do sul. Procuram com estas campanhas, conquistar as partes correspondentes do Tratado de Tordesilhas. (BOULOS, 2013).

A Igreja Católica participou ativamente no processo de conquista e colonização, utilizando como meio para justificar sua intolerância por outras crenças. Representada na prática através da violência aos indígenas, proferida pelos conquistadores como atos de fé. Já que a matança seria para purificação de heresias como nudez, ídolos, rituais e danças. Também subjugaram e mataram escravos, degradavam os solos, exploraram, as jazidas de metais preciosos, legitimados pela santa inquisição. (ROSA, DEVITTE E MACHADO 2012). Uma outra análise pode ser vista em Elliot e outros (2004):

conquista podia significar, portanto, colonizar, mas também podia significar assaltar, saquear e seguir adiante. A conquista no primeiro sentido dava primazia à ocupação e exploração da terra. No segundo sentido, concebia o poder e a riqueza de uma forma muito menos estática – em termos muito mais de posso de objetos fáceis de transportar, como outro, pilhagem e gado, e de domínio sobre vassalos do que de propriedade de terra [...].” (ELLIOT; BETHELLV, 2004, p. 138).

Destarte, devido à agressividade durante a colonização, as colônias espanholas tinham a missão de: explorar minerais e limpeza étnica-religiosa. Tal era a crueldade, que a maior arma utilizada pelos conquistadores, não chegou a ser a pólvora e cavalos – que lhes prestava superioridade bélica no campo de batalha – mas, os vírus e bactérias trazidas do Velho Mundo. Disseminados com o propósito de reduzir populações, tornando-as, mais fáceis de controlar. Tendo em vista, os povos indígenas americanos não tinham conhecimento das enfermidades, logo, vinham a perecer de varíola, malária, sarampo, sífilis e tifo. (ROSA, DEVITTE E MACHADO, 2012).

No século e meio que seguiu à primeira viagem de Colombo, a população indígena da América sofrera uma redução de 90% (...). Os dois grandes impérios nativos do início do século XVI não foram as únicas regiões afetadas pelas doenças do Velho Mundo. É improvável que algum canto das Américas tenha escapado incólume. (RESTAL, 2006, p.100).

Os fatos mencionados acima, são para ter uma visão das intenções da coroa espanhola no século XVI. Em que o objetivo não era, colonizar para apropriar-se – ou integrar as novas terras para futuramente dar continuidade – mas sim, visando a extração de minérios tais como a prata (de Argentina, Bolívia e Peru), ouro (do México e Peru), pedras preciosas (da Colômbia e Venezuela) e cobre (Chile e Peru).

Em meados do século XVIII, após ter colonizado a vasta área desde a América do Norte, Central e do Sul, inclusive as Filipinas. A coroa então decide dividir as terras conquistadas em Vice-reinados (“Virreinatos”) e Capitanias gerais (“Capitanias Generales”). Visando a proteção das colônias de invasões de outras bandeiras (Holanda, França e Inglaterra), e de piratas à procura de metais.

Figura 10 – Imperios Español y Português en 1790.

Desta maneira, conforme elucida a Figura 3, as áreas que possuem maior relevância ao decorrer do trabalho, é o “Audiência de Chacas” (atual Bolívia) – no mapa de 1790 pode ser vista o acesso ao mar – “Capitania General de Chile” (atual Chile) e “Virreinato del Peru” (atual Peru). Os espanhóis visaram a separação devido às antigas ocupações dos habitantes, neste caso dividiu o território boliviano e peruano por terem sido território Inca, e Chile dos Mapcuhes, pois tinham conhecimento dos antigos conflitos entre culturas, logo, procuraram evita-las durante o período da colonização.

3 A COMPOSIÇÃO TERRITORIAL DOS ESTADOS INDEPENDENTES NA AMÉRICA ANDINA E A GUERRA DO PACÍFICO

Ao iniciar este capítulo, devemos tratar sobre o contexto histórico presente durante as independências latino americanas. Visto que, isto influenciará aos futuros Estados a estabelecerem suas fronteiras e limites territoriais, assim como relações políticas diplomáticas entre os mesmos. Para tanto, nossa argumentação se dará pela seguinte sequência: inicialmente, trataremos a composição territorial da América andina na época das independências; seguimos para a importância do salitre para a região; debateremos os motivos para a “Guerra do Pacifico” para cada um dos países envolvidos e, por fim, apresentaremos o desenrolar da guerra para que possamos entender as consequências para os países na atualidade.

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