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Guerra do pacífico repercussões na demarcação territorial da América Andina

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GUERRA DO PACÍFICO

REPERCUSSÕES NA DEMARCAÇÃO TERRITORIAL DA AMÉRICA ANDINA

Florianópolis 2019

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GUERRA DO PACÍFICO

REPERCUSSÕES NA DEMARCAÇÃO TERRITORIAL DA AMÉRICA ANDINA

Trabalho de Conclusão do Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de bacharel.

Orientador: Prof. Luciano Daudt da Rocha, Me.

Florianópolis 2019

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minha família que estiveram sempre ao meu lado e a quem lhe possa servir como base de informação.

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Gostaria de agradecer ao professor Luciano Daudt, que foi apoio essencial durante o trabalho, também gostaria de agradecer aos meus pais, Laura Carola Salmon Quiroz e Yuri Jesus Grignon Gamarra, que me proporcionaram a oportunidade de estudar, apesar das dificuldades, por último, ao meu avô Efrain Davey Salmon, que me fez despertar interesse no assunto abordado neste trabalho.

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A Guerra do pacífico e os conflitos ideológicos entre Bolívia, Peru e Chile, não só se deram a partir apenas de interesses locais de cada uma das sociedades. É importante ponderarmos a grande influência de atores internacionais, devido aos interesses que estes possuíam no território rico em minerais, fertilizantes naturais e etc. Isto, agregado às vontades nacionais de expansão territorial, culminou na guerra e desentendimentos diplomáticos que perduraram por gerações. Há de declarar que não podemos estudar o conflito armado como um fato isolado deve ser considerada a complexidade social que está presente nestes países, assim como investigar o contexto histórico que envolvia disputas pela mesma área, desde as civilizações pré-colombianas. Ao evidenciar o a progressão histórica que envolve a área hoje compreendida como Deserto do Atacama, passaremos a observar a relevância que possui para as economias nos dias de hoje. Consideraremos as consequências geográficas, econômicas e sociais que a Guerra do Pacífico gerou, assim como a herança político diplomática para os países envolvidos.

Palavras-chave: Guerra do Pacífico. Bolívia. Chile. Peru. Território. Salitre. América Andina. Incas. Mapuche. Atacama. Minérios.

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The Pacific War and the ideological conflicts between Bolivia, Peru and Chile, were not just because of local interests from each society. Its important to measure the huge influence from international agents, due to the full mineral territory interest, natural fertilizers and etc. Added by the national intentions to expand, this combination generated the war and diplomatic disagreements that lasted until today. As statement, we cannot study the conflict as an isolated fact, we should consider de society complexity present in the Countries, investigating the history context as well that involved disputes for the same area, since the first native civilizations. As we see such historical context that evolves the Atacama Desert, we will start to observe its relevance for the economies nowadays. We will consider the damage that the Pacific War generated such as geographical consequences, economics and how it injured the cultures.

Keywords: Pacific War. Bolivia. Chile. Peru. Territory. Fertilizers. Andean America. Incas, Mapuche. Atacama. Minerals.

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1 INTRODUÇÃO...9

2 COMPOSIÇÃO HISTÓRICA DOS TERRITÓRIOS DA AMÉRICA ANDINA...12

2.1 O IMPÉRIO INCA E OS NATIVOS AMERICANOS...19

2.2 A AMÉRICA ANDINA DURANTE A CONQUISTA E COLONIZAÇÃO EUROPEIA 33 3 A COMPOSIÇÃO TERRITORIAL DOS ESTADOS INDEPENDENTES NA AMÉRICA ANDINA E A GUERRA DO PACÍFICO...38

3.1 OS PROCESSOS DE INDEPENDÊNCIA...38

3.2 OS INTERESSES DOS PAÍSES PELOS RECURSOS NATURAIS DA REGIÃO...42

3.3 A GUERRA DO PACÍFICO E A RECOMPOSIÇÃO TERRITORIAL DA AMÉRICA ANDINA...48

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...58

5 REFERÊNCIAS...59

ANEXOS...65

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1 INTRODUÇÃO

Entende-se como América Andina a área composta pelos seguintes países: Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela. Tendo em vista que as montanhas dos Andes passam por todos estes países em grande parte de seus territórios, nelas habitam povos de culturas similares entre os países citados. Já que são descendentes indígenas dos povos pré-colombianos.

A pesquisa visará o estudo de uma temática muito importante para o entendimento das relações entre as nações da América Andina, mais precisamente entre a Bolívia, Chile e Peru. Para isto, voltaremos aos antecedentes históricos destes países possuem, neste caso, conflitos, sendo um deles com maior relevância denominado como Guerra do Pacífico ou Guerra do Salitre.

Atualmente Bolívia e Peru fazem parte do CAN – Comunidade Andina a qual surgiu pelo Acordo de Cartagena de 1969. Já foram signatários da antiga UNASUL – União das Nações Sul Americanas, convenção de Brasília de 2008, que procurou cooperação econômica dos países. Por fim, também fazem parte da OEA – Organização dos Estados Americanos, organização criada em 1948, visando defender os interesses do continente, procurar soluções de pacíficas aos litígios e cooperação econômica entre os membros.

A Guerra do Pacífico é considerado como um dos mais importantes conflitos bélicos regionais, devido a repercussão das consequências pós-guerra, que se alastrou até os dias contemporâneos. Apesar de terem iniciado em 1879, estes litígios tiveram fim no Tribunal Internacional de Haia em 2014, em que Chile foi sentenciado a entregar aproximadamente 49.696 km² ao Peru, por conta da excessiva expansão chilena marítima e territorial durante a guerra. (SALMON, 2006, p. 1).

Entretanto, esta pesquisa, não se manterá apenas a dissertar sobre o conflito supracitado. Mas também, do passado litigioso que estes países possuem, desde antes da colonização europeia, já houve guerras entre os antigos povos. Os antigos habitantes deixaram uma herança cultural sumamente importante para as atuais civilizações, por isto, veremos num viés histórico.

Outrossim, é incontestável que tal herança cultural foi se preservando através das gerações, não só no âmbito civil, mas também político, cujo reflexo é nítido no âmbito das relações diplomáticas entre estes países. Logo, a pesquisa buscará identificar esta herança para adquirir melhor entendimento da problemática na Guerra do Pacífico.

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Para tanto, essa pesquisa pretende responder como os conflitos territoriais na

América Andina impactaram os países envolvidos? Para responder à questão de pesquisa,

foram traçados objetivos, no qual o geral é debater as consequências da Guerra do Pacífico

para as sociedades nacionais na América Andina. Para alcançar o objetivo geral, traçamos

os seguintes objetivos específicos: a) conhecer o processo histórico da formação dos territórios e das sociedades da América Andina; b) debater, com base na historiografia, os conflitos territoriais na América Andina, durante os séculos 19 e 20 e; c) debater as consequências dos conflitos territoriais para as nações envolvidas.

A atual pesquisa se baseia apenas em conhecimentos científicos, utilizar-se-á diferentes métodos de pesquisa, tais como método histórico partindo da premissa que as atuais relações entre as sociedades da América do Sul tem origem no passado, e para entende-las é necessário pesquisar suas raízes, tendo em vista que muitos problemas não ficaram bem resolvidos e se alastram até os dias de hoje. Concomitantemente, será utilizado o método comparativo, que colocará em evidência duas culturas para conseguir identificar as diferenças, assim como, as consequências que os conflitos acarretaram para diferentes sociedades. Será utilizada a metodologia de abordagem de forma explicativa, visando aclarar o tema de forma que seja mais fácil de compreender o contexto histórico. Serão empregados aos países, de maneira qualitativa e quantitativa no que diz a respeito de suas economias, pois há de serem mensurados em questão de importância a nível mundial, assim como quantificados em questão de suas representatividades no âmbito comercial internacional. Serão utilizadas hipóteses básicas, que afirmarão fatos por meio presença de provas documentais, caso haja ausência das mesmas, não serão levantadas hipóteses. (MARKONI; LAKATOS, 2003).

No que diz às fontes bibliográficas e documentais, serão utilizadas fontes escritas tais como livros e revistas, publicações como artigos científicos, teses, dissertações e monografias. Materiais cartográficos de origem digital, tais como mapas com divisões político administrativas, informações hidrográficas, relevos, demografia e distribuição de rodovias, assim como gráficos de dados econômicos, importações, exportações, produção de insumos e mão de obra. (MARKONI; LAKATOS, 2003).

A relevância que esta pesquisa trás, é devido ao fato que na ciência das relações internacionais, procura-se entender os atuais comportamentos dos Estados a nível global. Para isto, é necessário, compreender os antecedentes de cada país, e contextualizar as ações políticas e diplomáticas que acontecem diariamente. Cabe a nós, observar o atual sistema internacional, ser críticos e procurar compreende-lo, postulando estudos e sintetizar soluções

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eficientes, para isto é necessário investigar de forma imparcial, evitando julgamento de mérito ou aceitando qualquer opinião.

Como cidadão da América do Sul, me senti forçado a procurar entender a temática da diplomacia Bolívia – Chile e Peru - Chile, pois revelaram-se em críticas, ao meu ver, conforme apresentado na pesquisa. Ao visitar os três países, sente-se certa pressão da imprensa na população e vice-versa, no que diz a um possível conflito envolvendo os três países, podendo ser apenas político diplomático ou bélico. Por estes motivos, decidi investigar sobre a história destes Estados, ao passo que, me deparei, com a complexidade inerente ao tema, que será explorada nos capítulos a seguir.

Para melhor entendimento dos conflitos fronteiriços na região andina, esta pesquisa inicialmente abordará debates sobre os conceitos de território, fronteiras e a guerra. As heranças que os Incas e Mapuche deixaram na região, a colonização espanhola e as consequências da divisão feita visando a exploração sistemática, que mais tarde viriam concretizar o conflito mais importante entre os países do sul do Pacífico.

Apresentado tal contexto, o trabalho fará imersão na problemática da Guerra do Pacífico, iniciada em 1879, não só como um conflito de ideais nacionalistas dos países Andinos como Bolívia, Chile e Peru - e interesses expansionistas, além das também das influências externas como a intervenção da Inglaterra e os interesses de natureza privada, visando a exploração do “salitre” e outros metais presentes na área do deserto de Atacama.

Por fim, o capítulo final procura debater quais foram as consequências destes conflitos territoriais para as economias dos países envolvidos. Neste momento, os países são analisados individualmente, assim como os Tratados celebrados, acontecimentos importantes durante a Guerra e o pós conflito, quais consequências e litígios causados posteriormente. Das quais se destacam as demandas requeridas pelo Peru e Bolívia na Corte Internacional de Justiça, voltadas no tema de insatisfação político-social, resultantes da sucumbência.

Nas considerações finais, alega-se a importância que este debate representa nos dias atuais, apresentando o atual cenário econômico de cada país envolvido. Ficará exposto, desta forma, as consequências que o conflito trouxe e como prejudicou economicamente os países sucumbentes, os quais poderiam ter usufruído do aproveitamento dos recursos naturais, caso o conflito não tivesse acontecido. Expõe-se a crítica aos fatos decorrentes dos interesses nacionais do Chile, que comprovadamente agiu em conjunto com a Inglaterra, desapropriando territórios dos países vizinhos.

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2 COMPOSIÇÃO HISTÓRICA DOS TERRITÓRIOS DA AMÉRICA ANDINA

É muito importante analisar as questões limítrofes dos países que fazem parte da América Andina num escopo histórico, para melhor entendimento do trabalho. Tal como a identificação geográfica e demográfica, desta maneira, serão expostos os antigos registros correspondentes a delimitação territorial destes Estados. Ao passo que, foram demarcados a partir de ocupações de antigos povos, colonização, convenções e tratados entre nações.

Para isto, é necessário compreender a conceituação de território e territorialidade, já que não é apenas o somatório dos fatores região e lugar, mas apresenta uma complexidade maior. A etimologia da palavra território tem sua origem do latim “territorium” derivada do vocábulo latino “terra” e remete ao sistema romano em que o direito de propriedade era absoluto. O “dominus” tinha total controle de sua “domina”, traduzindo uma questão de domínio numa área geográfica demarcada. Desta maneira, o conceito de território para os Estados pode ser associado ao poder, não só no sentido físico – político - mas também via poder simbólico1, relacionado à apropriação de determinados grupos para manter sua

sobrevivência e dominância. (SILVA, 2015).

Conforme os últimos estudos de geógrafos a nível internacional, há teorias no que tange o sistema territorial. Uma destas apresentada por Claude Raffstein na sua obra “Por uma Geografia no Poder” de 1993, expõe, se entende como território o produto das relações sociais que se estabelecem num espaço. Neste sentido, o espaço é constituído de forma e função social, ao espaço do homem, de trabalho, de vida, ou seja, é produzido através de relações sociais somadas através do tempo. Raffstein (1993).

O espaço é, portanto, anterior, preexistente a qualquer ação. O espaço é, de certa forma, “dado” como se fosse uma matéria-prima. Preexiste a qualquer ação. “Local” de possibilidade, é a realidade material preexistente a qualquer conhecimento e a qualquer prática dos quais será o objeto a partir do momento em que um ator manifeste a intenção dele se apoderar. Evidentemente, o território se apoia no espaço, mas não é o espaço. É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente, o ator “territorializa” o espaço (...) O território, nessa perspectiva, revela relações marcadas pelo poder. O espaço é a “prisão original”, o território é a prisão que os homens constroem para si. (RAFFSTEIN, 1993, p. 143-144).

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Poder simbólico: Segundo Pierre Bourdieu, o poder material pode ser visto em estado físico por uso da força como instrumento de alcance para os resultados. Já o poder simbólico é invisível, tênue e só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que estão sujeitos a este, quando usado pelo Estado seu objetivo é manter a estrutura de dominância, para garantir a hegemonia. (WACQUANT, 2013).

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Com isto em mente, passamos então a entender que o território é constituído pela matéria-prima espaço, esta, por sua vez é um complexo somatório dos fatores “função social” e seus derivados “função de trabalho” e “função de vida” incluindo o fatorial “tempo”.

Conceituado o termo território, avançamos para a questão fronteira, em que possui dois entendimentos na área acadêmica, a primeira, trata da história política entre Estados nacionais e do limite de soberania de um poder central. Já a segunda, trata sobre o vivido e as interações entre populações em zonas fronteiriças. (SILVA; TOURINHO, 2016).

Como nos mostram os autores, podemos perceber uma síntese sobre o conceito de fronteira.

Figura 1 – Território, territorialidade e fronteira.

Fonte: SILVA; TOURINHO, Território, territorialidade e fronteira, 2016.

Do quadro, destaca-se os autores que melhor ajudam a entender a questão. Segue para o debate do Gottman.

O conceito de fronteira vai de encontro com o explicado acima a respeito de território, o autor Jean Gottman, expõe que o mundo não seria uma “bola de bilhar”, sem limites ou fronteiras, no caso, o território seria “abrigo de um povo”, por isso a relevância das fronteiras delimitando regimes políticos distintos”. Explicitando que as fronteiras são compostas de uma complexidade maior, tendo em vista que os povos em que nelas habitam possuem história, costumes e etnias peculiares que convergem ou divergem entre outros. (SILVA; TOURINHO, 2016).

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Reforça desta forma, conforme a figura, o autor Karl Haushofer2, a fronteira seria

flexível, podendo ser expandida e um povo deve adquirir o “sentido da fronteira”, “esse precioso fator espiritual que mantém a vida”. A fronteira, desta forma, não seria equivalente apenas à linha geométrica do direito internacional público. (SILVA; TOURINHO, 2016). É lícito, partir deste pressuposto, expor o que disserta a sétima rodada interamericana de 1933, que tratou sobre o tema.

Pode-se definir o estado como agrupamento humano estabelecido permanentemente num território determinado e sob o governo independente. Da análise dessa definição, consta-se que, teoricamente, são os quatro elementos do estado, conforme estabelece a Convenção Interamericana sobre Direitos e deveres dos Estados, firmada em Montevidéu, em 1933, que indica os seguintes requisitos: a) população permanente; b) território determinado; c) governo; d) capacidade de entrar em relação com os demais estados. (ACCIOLY; SILVA; CASELLA, 2012, p. 388).

A despeito do citado acima, pode-se notar, conforme propõe à Convenção de Montevidéu3, que as definições de um estado num território são superficiais, pois não

considera, de certa forma, a complexidade que cada nação possui e os povos que nelas habitam. São características técnicas e rasas, devido às particularidades de cada povo.

Ao observar o elucidado acima, há de se articular que no conceito exposto por Gottman, a palavra povo possui um papel subjetivo de sujeito principal, em que necessita ao meu ver, ser melhor compreendido.

O conceito de povo esteve dentro de duas grandes invenções políticas, a cidadania, a democracia e a nacionalidade (...) pode significar a parte e a totalidade de uma população, tomar acepções positivas e negativas, ser glorificado, depreciado ou mesmo temido. É usado como justificativa para quase tudo na vida política e social, pois é dele que emanam, ao menos em teoria, a legitimidade dos governos, assim como os problemas sociais e econômicos. (...) O povo é considerado responsável pelos sucessos e fracassos de uma sociedade e é em nome dele que as diversas vozes se elevam na cena pública. (PEREIRA, 2011, p. 1).

É do povo que nasceram os maiores poderes na questão sócio-política, tal como citado acima é imprescindível apresentar o papel que este possui no âmbito nacional e 2

Karl Haushofer – 1869 a 1946, foi um dos mais importantes autores de geopolítica estratégica, general militar, geógrafo e político, suas obras influenciaram fortemente às ideias expansionistas de Hitler durante o período da Alemanha Nazista, colaborando com o início da segunda guerra mundial.

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Convenção de Montevidéu – sétima conferência internacional americana que ocorreu em 26 de dezembro de 1933 na cidade Montevidéu, capital do Uruguai, instituiu os requisitos para que os Estados possam fazer parte do direito internacional. Ratificada e promulgada no Brasil via Decreto Nº 1.570, de 13 de abril de 1937, em que dispõe sobre os direitos e deveres dos Estados e sobre asilo político. BRASIL (1937).

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consequentemente internacional. Em nome do povo são tomadas decisões governamentais, muitas vezes não representando os interesses deste, nem sempre por culpa dos poderes, seja legislativo ou executivo, mas por não conseguirem compreender a vontade do mesmo por conta da própria complexidade. A particularidade de cada povo está enraizada na história cultural destes, assim como muitas vezes mencionado, crenças dogmáticas, raças, tradições e outros fatores podem influenciar para aprovação ou reprovação das decisões tomadas pelos estados.

O povo é sempre uma questão a ser resolvida, um problema a ser solucionado, uma vez que defini-lo e encontrar os modelos de sua efetivação político institucional é sempre um grande desafio. (...) São duas vertentes semânticas em constante conflito (...) na primeira, são utilizados critérios de natureza quantitativa, étnica, cultural, linguística, religiosa e econômica para conceituar o povo através de um exame das condições reais em que se apresentam os grupamentos humanos. Na segunda, o povo é percebido como componente do sistema político e “é flagrante a insuficiência da observação de suas condições reais”, isto é, físicas, socioculturais e espirituais. Trata-se neste caso de construções abstratas, uma sistematização de “certos elementos extraídos do real, e a partir do qual se elabora uma noção de povo”. (PEREIRA, 2011, p. 2).

Observa-se então, conforme elucidado acima, as duas conceituações ou “vertentes semânticas” do que seria “povo”, na primeira são observados os critérios de natureza étnica, cultural, linguística, religiosa e econômica. Esta é a vertente que auxiliará a evoluir o estudo da problemática vivenciada pelos povos descendentes dos nativos americanos, particularmente após a guerra do pacífico.

Não há como ser confundido o conceito de povo com o de população, uma vez que este designa uma mera expressão numérica, demográfica ou econômica, a qual compreende o conjunto de pessoas que vivem no território de um Estado ou que estejam temporariamente nele. Portanto, não basta que uma pessoa esteja no território de um determinado Estado para se subsumir na condição de povo, eis que é imprescindível, para tanto, que haja um vínculo jurídico especial entre esta pessoa e o Estado. (BAALBAKI, 2005, p. 5).

Após ter explanado sucintamente a complexidade dos povos, cabe desenvolver, com apoio dos grandes nomes do campo acadêmico, sobre a questão de fronteira, ou limites dos territórios estatais. Desta maneira, ao ver o quadro 1, nota-se que no autor Hidelbert Isnard, propõe que as fronteiras seriam a “cristalização” dos limites da organização do espaço, dirigidos por distintos projetos políticos, inclusive projetos não representados pelo Estado explicitamente. Isnard, (1979). Destarte, no que se refere aos projetos políticos não representados pelo Estado, ao meu ver, é a influência da sociedade e seus interesses, sejam

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eles por conta da cultura, tradição ou valores religiosos, pois estes podem tornar as fronteiras hostis ou apaziguá-las.

Como são formados os limites territoriais? Segundo Friedrich Ratzel, as fronteiras são o órgão periférico do Estado, destacando-se duas características: Fronteira como zona, seriam as cidades, e fronteira como linha, neste caso, o traçado geodésico. Também propõe Kjellén, as fronteiras como epiderme dos Países, em outras palavras a pele dos órgãos estatais. Em adição, Jacques Ancel, trás a preposição que as fronteiras seriam linhas em permanente tensão entre dois campos de força, são “isóbaras” – termo meteorológico para representar pressão atmosférica. Estas pressões podem acontecer para (SILVA; TOURINHO, 2016).

Em suma, linhas e zonas seriam os limites, em que a jurisdição do Estado estaria limitada a estas, será abordado, a tipificação das fronteiras segundo Ratzel, em que facilitará a absorção cognitiva.

Figura 2 - Território, territorialidade e fronteira.

Fonte: SILVA; TOURINHO, Território, territorialidade e fronteira, 2016.

Em consoante com a figura 2, na América Andina e América Latina, os tipos de fronteiras tipicamente encontradas são as do tipo Políticas Dupla (países com mais de uma zona de contato com outros), Naturais por Marcos Físicos (divididos por rios, montanhas, desertos, florestas e lagos) e todas Artificiais Demarcadas (demarcadas por tratados ainda que estabelecidas sobre marcos físicos). (SILVA; TOURINHO, 2016).

No caso, os países de maior enfoque como Bolívia tem fronteira com Peru em parte separados pelo Lago Titicaca assim como pelo Rio Guaporé que a separa do Brasil. Já Chile é separado do Peru, Bolívia e Argentina pelo deserto do Atacama e a Cordilheira dos Andes.

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Por último, Peru que separa do Brasil, Ecuador pela floresta amazônica, Bolívia e Chile pelo deserto, lagos e florestas.

Após ter apresentado a fundamentação geográfica, conceitos de territórios e fronteiras, auxiliarão a expor sobre as antigas ocupações dos nativos ameríndios da região da América Andina, passaremos a ver os quadros expondo as antigas civilizações e as fronteiras daquele período. E, conforme trazido no parágrafo anterior, os tipos de fronteiras apresentadas por Ratzel, facilitarão a entender por que os antigos povos procuravam expandir-se até chegar em pontos geográficos que possam servir de delimitação territorial. Conforme tipifica o autor, as fronteiras do tipo naturais e dos subtipos marcos físicos e boas, eram para os monarcas antigos, as únicas maneiras que poderiam demarcar as extensões civilizacionais e protege-las de invasões beligerantes.

Levando em consideração que o Império Inca e o povo Mapuche careciam de conhecimentos cartográficos, consequentemente ao não ter como propor linhas “imaginárias”, procuravam rios, lagos e montanhas para que os separem de outros povos, o Rio Maule foi a última fronteira do sul do Império, a qual os separava do povo Mapuche, ambos usaram a Cordilheira dos Andes não só para separá-los de outras culturas, mas também para favorece-los no campo de batalha. Segue a Figura 3, para melhor entendimento.

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Fonte: BROOK, Map from Inca Empire from XVI, 2018.

Este mapa possui a particularidade de apresentar os principais rios, lagos e montanhas dirimir a dramática desta pesquisa, tais como nascentes afluentes do Rio Amazonas (norte do Peru), Rio do Maule (centro do Chile), Cordilheira dos Andes (atravessando o Peru, Bolívia e Chile), Oceano pacífico (banhava antigamente, os três países) e o Lago Titicaca (local de origem dos Incas. Nota-se, que geograficamente, os Incas estiveram presentes nos países citados, porém, durante a chegada dos espanhóis tiveram que recuar para o sentido norte, estabelecendo-se na área Peruana e Boliviana.

Depois de observar a figura 3, que como mencionado, apresenta os principais divisores naturais do Império Inca. Porém, há de constatar, que é necessário ilustrar onde situou-se o povo Mapuche, conforme a figura abaixo, que explicará devidamente.

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Fonte: MALK, Território Mapuche, 2012.

Vemos que o povo Mapuche alcançou, segundo o mapa, a se estabelecer na região da atual Argentina especialmente, no Norte em direção de Oeste à Leste. A redução territorial que este povo sofreu foi drástica, por conta da chegada dos colonizadores espanhóis, que após anos de guerras, foram compactados na área laranja do mapa. Mais precisamente na parte sul do Chile e parte do oeste Argentino. Este povo, deixou seu legado, cultural e religioso, até hoje estão estabelecidos no Sul do Chile.

Destarte, é lícito conceber que para esta pesquisa ser melhor compreendida, utilizar-se-á outros conceitos dos que foram apresentados nos quadros anteriores, desta maneira, ficará mais fácil observar a complexidade composta nos povos descendentes de ameríndios nativos que já povoavam as terras antes da colonização espanhola. Considerando que são conservadas até hoje as línguas que remetem ao contexto pré-colombiano, costumes, alimentação, religião, entre outros. Dentro dessa herança, manteve-se a concepção de aquilo conquistado pelos ancestrais deveria ser mantido, em parte assim foi durante a divisão dos Vice-reinados e Capitanias Gerais da Espanha para evitar revoltas internas.

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Herdou-se também, a rivalidade explicitada pelos historiadores peruanos – aversão esta, que é explicada mais à frente por conta da imposição do nome aukas aos Mapuches pelos Incas - a questão étnica Incas e Mapuche, herança tal, que mais tarde, influencia na aliança entre Peru e Bolívia – por conta da influência cultural deixada pelos Incas que habitaram em sua maioria, em ambos países. Influenciando, as sociedades andinas a engajar conflitos entre culturas, adicionados os interesses imperiais Chilenos e Ingleses, colaboraram com a dramática da Guerra do Pacífico.

Na sequência deste capítulo, trataremos da ocupação dos territórios da América Andina durante o período pré-colombiano e período da conquista e colonização da América. Tratamos inicialmente do período em que a região era habitada pelos nativos Mapuches e Incas. Na sequência, o contexto das independências é tratado como base para o entendimento dos conflitos territoriais acontecidos ao longo dos séculos 19 e 20.

2.1 O IMPÉRIO INCA E OS NATIVOS AMERICANOS

Ao tratar do assunto das primeiras culturas que habitaram na região andina, faz-se necessário articular o tema falando sobre o Império dos Incas e o povo indígena Mapuche. Tendo em vista, que os Incas povoaram desde o sul da Colômbia até o norte do Chile, sendo o maior império pré-hispânico nas américas, chegando a ter de 3.000 a 3.500 km de extensão e ligados por 1100 léguas (7260 km) de estradas. Já o povo Mapuche, desde o sul do Chile até o leste da Argentina. (FERNANDES, 2010, p. 16).

Como veremos na figura abaixo, em que apresenta o domínio Inca desde 1400 até 1532 ano que coincide com a chegada espanhola.

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Figura 5 – The Inca Empire, from 1400 to 1532.

Fonte: HEATHER PRINGLE, The Inca Empire, from 1400 to 1532, 2011.

Conforme a figura acima, podemos contemplar a extensão territorial do antigo império, o qual não só chegou a povoar tais terras naquele marco histórico, mas deixou uma herança étnica e cultural, a qual se alastra até os dias atuais. Esta, não só sobreviveu à colonização espanhola, guerras e conflitos ideológicos, mas também ao tempo. Gerações descendentes de indígenas que moram na área andina, conservaram as tradições e até os idiomas4, a população do Peru é de 25,8% e mestiços5 60,2%, restando apenas 5.9% de

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Idiomas - Dados disponíveis em Central Intelligence Agency – CIA - indicam que no caso dos países a língua ameríndia até hoje falada é de 13.6% + 14.9% Peru (Quéchua e Aymara), 21.2% + 14.6% Bolívia (Quéchua e Aymara) e 1% Chile (Aymara e Quechua). Estados Unidos da América (2019).

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Mestiço – ou cholos, quer dizer mistura de ameríndios com brancos, no Peru e Bolívia, houveram durante anos dificuldades ao fazer levantamentos sobre etnias dentro da sociedade, ao verem a opção de se reconhecer como branco ou cholo, escolhiam a alternativa branco. O termo cholo acabou se tornando pejorativo para aqueles que vinham dos Andes, um sinônimo de etnia inferior, uma questão histórico-cultural que remete aos tempos da colonização, quando espanhóis subjugavam aqueles que não fossem brancos. Com isto, a

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brancos. Já na Bolívia, 20% ameríndios, 68% mestiços e 5% brancos, restando ao Chile 9.1% Mapuche, 88,9% brancos. (Estados Unidos da América, 2019, p.1).

Algumas fontes apresentam os índices de etnias quéchuas6 e aymaras que são línguas

faladas desde o período pré-colombiano até hoje. Na chegada dos espanhóis, estes para facilitar e simplificar a conquista separaram as tribos sob domínio Inca7 pelas línguas que

falavam, sem importar seus costumes e etnias. Surgem então, as etnias ou grupos indígenas denominados Quéchuas e Aymaras em que muitos cidadãos peruanos e bolivianos se sentem identificados.

Como caracteriza o autor Jorge Cervantes (2019) em sua pesquisa sobre diferenças genéticas entre populações da Bolívia e Peru, há uma imensa semelhança entre os povos que habitam na área, devido à sua descendência indígena.

Bolívia e Peru são países andinos vizinhos na América do Sul, compartilham geograficamente o Altiplano e o Lago Titicaca (o lago mais alto do mundo). Além da conexão geográfica, cultural, étnica e linguística cooperativa estão presentes entre os dois países desde os tempos do Império Inca. Bolívia é um dos países menos populosos da América do Sul. Grupos étnicos presentes nesse país são: Quéchuas, Aymaras, mestiços, brancos e guarani. Estudos anteriores têm mostrado que o mestiço tanto peruano quanto boliviano (mistos, predominantemente de nativos americanos) são conectados pela mesma genética. (CERVANTES, 2019, p. 1).

Conforme o levantamento de dados feito pela Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (2019), 44% dos bolivianos que responderam ser mestiços faziam parte de algum grupo indígena de origem Quéchua ou Aymara. Desta forma, devido à semelhança racial e cultural entre a população peruana e boliviana, por conta de terem tido os mesmos ancestrais – Incas, consequentemente, há maior cooperação política e social entre ambos países. Há de se agregar, que tal cooperação se torna militar durante as invasões chilenas nas minas de salitre bolivianas, que mais tarde culmina na Guerra do Pacífico.

A origem dos Incas é até hoje discutida no âmbito das ciências da história, uma delas possui um embasamento de conhecimento empírico, passado por gerações de pai a filhos, mais tido como uma lenda em que explica que o deus sol vendo a perdição e caos na Terra, enviou um casal para estabelecer a ordem. Surgindo este, do Lago Titicaca, em que Manco 6

Quéchua – ou quíchua, era a língua oficial falada pelos Incas, não era a única, Aymara é outra língua hereditária desde o tempo do império.

7

Inca – na língua quéchua significa filhos do Sol, devido à mitologia em que Tayta Inti ou Pai Sol, que enviou seus filhos para instituírem a ordem na terra. Só podiam ser incas os que eram de linhagem direta, a sociedade era estamentária e estes ocupavam o topo da pirâmide, sendo a nobreza.

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Capac e Mama Oqllo seriam os enviados, o homem carregava um bastão de ouro com a missão de finca-lo por onde andasse e onde afundasse iniciariam ali a povoação. Tinham estes, como tarefa ensinar técnicas de cultivo, ourives, têxtil e construção casas, assim como leis de guerra e culto ao Sol, impondo este a outros povos mais tarde dominados. (ARAUJO, 2019).

Havendo declarado sua vontade Nosso pai o Sol a seus filhos, os despediu de si. Eles saíram do Titicaca e caminharam até o setentrião, e por todo o caminho, onde paravam, tentavam afundar a barra de ouro e nunca afundou. Assim entraram numa venda ou dormitório pequeno, que está sete ou oito léguas no meio dia desta cidade, que hoje chamam Pacaritambo, que quer dizer venda ou dormida que amanhece. Pôs este nome o Inca pois saiu daquela dormida ao tempo que amanhecia. É um dos povos que este príncipe mandou povoar depois, e seus moradores se jactam hoje grandemente do nome, pois o impôs nosso Inca. De ali chegaram ele e sua mulher, nossa rainha, ao vale do Cuzco. (VEGA, 2016, p. 50).

Outra teoria para o aparecimento dos incas é que, das cavernas da área de Paccaritambo8 citada pelo próprio Garcilazo e conhecida em quéchua como Paqariq Tampu

que quer dizer lugar de origem, lugar de amanhecer ou casa de reprodução. De lá partiram os irmãos Ayar, sendo estes Áyar Manco, Áyar Cachi, Áyar Uchu e Áyar Auca na companhia de suas irmãs, Mama Ocllo, Mama Huaco, Mama Kora e Mama Arawa, todos à procura de terras que fossem férteis, visando o estabelecimento de seu legado. Houve um desentendimento com o irmão Cachi e o prenderam numa caverna, Manco Capac assume a liderança e decide reunir as tribos até o então dispersas pelo vale para impor ordem, tornando-se o primeiro imperador Inca. (ARAUJO, 2019).

Vale ressaltar, que o enfoque desta pesquisa, ao ter citado as lendas sobre a origem do império, retirando os objetos e personalidades mitológicas, é interessante como as duas versões convergem no que tange a localização de onde surgiu e o primeiro líder. Neste caso, fica explícito que o vale do Cusco é onde se iniciou o estabelecimento da civilização e Manco Capac como fundador do que anos mais tarde vem se tornar uma hegemonia na América Latina.

8

Paccaritambo ou Tamputoco - é um dos nove distritos da província de Paruro, situada no departamento de Cuzco, no Peru.

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O escritor Inca Garcilazo9 menciona alguns parágrafos atrás, como foi o processo até

chegarem no primeiro estabelecimento dos Incas, vale do Cusco, mais precisamente na montanha Wanakawri10 em que fincaram o bastão de ouro e afundou conforme pedido pela

divindade da cultura destes. Mais tarde, outros Incas constroem a famosa cidadela de Machu Picchu considerada uma das sete maravilhas mundiais protegidas pela UNESCO, encontrada por Hiram Binghman11 em 1911.

Em 1911, com apoio de Yale e alunos, Bingham lançou uma expedição para Cusco, área situada no sul do Peru, capital do Tawantinsuyu, do grande Império Inca. Ele estava procurando por Vilcabamba, uma capital neo-Inca na floresta na região leste dos Andes, durante 40 anos descendentes de imperadores Incas saíram daquela cidade para lutar contra a colonização espanhola. Os espanhóis venceram a resistência e saquearam Vilcabamba em 1572, os arredores da área foram desapropriados e ficaram inabitados. De fato, a localização desta cidade se manteve perdida na área acadêmica. (BURGUER; SALAZAR-BURGUER 2015, p. 3).

Ao estudar as obras de Garcilazo, percebe-se que há uma mistura do folclore com fatos históricos pontuais, tudo isto devido a sua descendência, era mestiço filho de conquistador espanhol com uma princesa Inca, a qual lhe ensinou tudo o que escreveu em suas obras, em adição com o que viu. Seu ponto de vista nas crônicas é de alto valor para o entendimento do contexto histórico, tanto do tempo de auge do Império até o declínio, facilitando a colonização. A posição que teve em todo este âmbito foi muito privilegiada, pois conseguia assistir pelo viés espanhol por conta de seu pai, observando todo o processo estratégico para culminar a conquista e o viés do povo que estava sendo subjugado por conta de sua mãe inca, em que pese seus relatos de suma importância para este trabalho.

9

Inca Garcilazo de la Veja – O Inca Garcilaso de la Veja nasce em 12 de abril de 1539 em Cuzco, testemunha privilegiada que soube registrar os fatos ocorridos no século XVI, seus pais foram o capitão espanhol Sebastião Garcilaso de la Veja e a princesa Inca Chimpu Ocllo. Passou sua infância em Cusco, vinculado com as duas civilizações, sua mãe o ensinou o idioma dos Incas, vivendo assim em conjunto com a nobreza do antigo império, d, e outro lado, aprendeu com seu pai as estratégias de guerra e acompanhou de perto as batalhas. (VEGA, 2016).

10

Wanakawri – ou Huanacaure é umas das montanhas mais altas da cidade de Cusco, sua elevação é de 4.089 metros e possui imensa relevância arqueológica na região, foi também um dos locais mais sagrados do tempo do império.

11

Hiram Bingham – líder da expedição de 1911 Yale Peruvian Expedition, professor de história latino americana da universidade de Yale dos Estados Unidos, foi responsável por três expedições em 1910 (1912 e 1914-15) patrocinadas por Yale e National Geografic Society. Em decorrência destas, em 1911 descobriu a cidade perdida de Machu Picchu, até o então fora dos mapas acadêmicos. (BURGUER; SALAZAR-BURGUER, 2015).

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Abaixo um mapa que ajudará a entender onde isto veio acontecendo, expõe também as conquistas dos imperadores incas mais tardios.

Figura 6 – State and Religion in the Inca empire.

Fonte: MACCORMACK, State and religion in the Inca Empire. 2015.

Acima pode ser visto a área mais escura indica a região de Cusco, onde tudo iniciou, considerado por muitos historiadores o berço do império. Segundo item do quadro conforme pode ser visto é referente as conquistas do imperador inca Pachacuti ou Pachacutec, que conquistou desde Tiahuanaco ou Tiwanaku (Bolívia) até Quito (Ecuador) – uma distância de aproximadamente 3.250 Km no período 33 anos – sendo sucedido por Tupa ou Tupac Yupanqui conquistando o litoral peruano, já seu sucessor Guayna Capac foi o imperador inca

(28)

que mais expandiu o império indo desde o sul peruano até o centro-leste de Chile. (MACCORMACK, 2015).

Argumenta-se também reforçando o explicado acima, que a área Cusquenha – também conhecida como Tahuantinsuyo ou Twantinsuyu (as quatro direções ou partes juntas) - não teve aumento significativo desde o século XI até meados do século XV, a expansão começa com o oitavo monarca Viracocha Inca, que até 1437 expande o império um aproximado de 40 Km ao sul de Cusco. Seu filho Pachacutec Inca, e o neto Tupac Inca aumentaram o império sem precedentes, por fim Guayna Capac como citado acima alcança o ápice da civilização, em suma, o território que chegou o a ocupar era uma área com cerca de 4800 Km de extensão e abrigou aproximadamente mais de 12 milhões de habitantes. (ARAUJO, 2019).

Os incas dividiram seu império em quatro partes, estas eram chamadas de suyus ou suyos, visando a melhor gerência e ordem social, a capital política e religiosa era situada em Cusco. Desta maneira, Chinchaysuyu, devido a etnia Chincha da região litorânea do noroeste - a área mais povoada, Antisuyu era a parte montanhosa hoje conhecida como Andes, Kollasuyu ou Collasuyu era a maior parte do império, desde o lago Titicaca até o Rio Maule sul de Santiago, o Cuntisuyu ou Contisuyu por sua vez, desde o Cusco – que também era dividido em Alto Cusco Hanan12 (Chinchasuyu e Antisuyu) e Baixo Cusco Hurin13

(Cuntisuyu e Collasuyu) - até o pacífico. (ARAUJO, 2019).

Figura 7 – Inka Myths.

12

Hanan – Segundo o escritor Garcilazo, Hanan Ayllu ou alto Cusco era habitado por aqueles que eram superiores, os primogênitos, irmãos maiores.

13

Hurin – Pelas crônicas, é descrito como Hurin Ayllu ou baixo Cusco, composto pelos cidadãos tidos como segundos ou posteriores, ocupado pelos irmãos dos primogênitos, braços direito das autoridades.

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Fonte: URTON, Inka Myths. British Museum Press; University of Texas Press, Austin, 1999, p. 11.

Há de se argumentar, sobre o sistema econômico do Estado Inca, para Fernandes em 2010, o modo de produção predominante em todo o território era muito semelhante aos dos modelos orientais, classificado segundo o autor Fernandes, como modo de produção comunal-tributário. Este Estado tinha como base econômica o plantio de batata e milho, tinham um sistema de regadio muito avançado, com aquedutos e canais de água doce, que também eram utilizados para pecuária, lhamas, alpacas e vicunhas. Estas terras pertenciam ao Estado, logo não havia propriedade privada, porém os habitantes usufruíam destes cultivos em consequência da distribuição não havendo escassez de alimentos. Fernandes (2010).

Conforme o cronista Garcilazo expõe:

As quatro fronteiras que o Império dos Incas tinha quando os espanhóis entraram nele eram os seguintes. Ao Norte chegava até o rio Ancasmayu, que passa entre os confins de Quito e Pasto; quer dizer, na língua geral do Peru, rio azul. Está abaixo da linha equinocial14, quase perpendicularmente. Ao meio dia tinha por término ao rio chamado Maule, que passa leste e oeste passando o reino do Chile, antes de chegar nos araucos15, o qual está mais de quarenta graus da equinocial ao sul. (VEGA, 2016 p. 34).

14

Equicional – relativo a ou próprio do clima ou das regiões situadas na linha do equador.

15

Araucos e araucanos – do quéchua aukas que significa inimigos, rebelde ou selvagem – pejorativo usado para nomear o povo Mapuche.

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Cabe neste contexto, ao meu ver, tal complexidade social e política era do Império Inca que se assemelha a outros impérios na história da humanidade, tal como o Império Romano do século III, também foi dividido em quatro partes pelo imperador Diocleciano, procurando estabelecer mais ordem, recolhimento de impostos e segurança no Império. Neste interim Roma foi comandada por quatro governantes, chamada então de tetrarquia, serviu para restaurar o controle e recuperar áreas do império que estavam sendo perdidas até o então. Logo, Diocleciano designa Galério como seu césar16 do oriente e o co-imperador Maximiano

nomeia Constâncio Cloro para o ocidente, sendo a tetrarquia dominada por dois césares e dois augustos. (FRANCHI, 2013).

Em especial, três discursos (...) permitem analisar a formação e consolidação do colégio imperial tetrárquico de finais do século III d.C., (...) São eles: Panegírico de

Marmiteno em honra a Maximiano Augusto, discurso de aniversário de Mamertino em enhra a Maximiano Augusto e Panegírico de Constâncio César, de um orador anônimo. A primeira dessas três obras foi proclamada no ano de 289 d.C. de autoria

de Marmiteno, provavelmente por ocasião das comemorações do aniversário de Roma. Inicialmente o que sobressai neste discurso é a data de sua proclamação, anterior a associação de Galério e Constâncio Cloro ao poder imperial, ou seja é um discurso que aborda a gênese da fomração tetrárquica, quando completou aproximadamente três anos de Diocleciano se aliou a Maximiano, chamando-o para ser seu co-imperador. (...) Isto porque este imperador empreendeu reformas de princípios autocráticos, que não se restringiam somente a incorporação de novos símbolos de poder (...), mas também em aspectos efetivos do Estado concernentes a administração, fiscalização e questão militar, o que acabou propiciando um maior controle do Estado sobre a vida pública. (FRANCHI, 2013, p. 135 – 137).

O motivo que me levou a comparar impérios distantes em matéria cronológica e geográfica, é para analisar a complexidade social que os Incas alcançaram. Uma civilização muito avançada que ao ser invadida pelos espanhóis passava por uma profunda crise estrutural e mesmo assim causou-lhes imensa impressão, por conta das riquezas (ouro, prata e bronze), distribuição de alimentos, organização social e sistema de tributação.

Defende Fernandes, que a economia no Império Inca não chegou a conhecer a moeda, as relações comerciais baseavam-se em permutas, e o tributo assegurava o trânsito dos bens pelo Império. A partir de 25 a 50 anos de idade deveriam pagar tributos, a forma de pagamento era com trabalho pessoal e não em espécie. Já os soldados, sacerdotes e nobreza estariam isentos do mesmo, assim como os velhos, inválidos e crianças.

Haviam três tipos de tributos, o primeiro seria o trabalho coletivo nas terras do Inca, visava sustentar o topo da pirâmide (também para estoque em tempos de crise), o segundo era 16

César – ou Caesar, era o nome dado ao chefe de estado menos graduado que o imperador, este último (mais graduado) teria como nome Augusto ou Augustus

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serviço pessoal temporário conhecido como mita ficavam à disposição do Estado para construir e conservar obras públicas. O último tipo, por sua vez, era o tributo têxtil, além de função econômica fazia parte de um ritual sagrado, cada família devia entregar ao Inca uma parte dos tecidos produzidos (FERNANDES, 2010).

Alguns costumes inerentes da cultura e educação andina com comportamento voltado a modelos econômicos sociais, por exemplo, costumes como a reciprocidade17, sistema

redistributivo18 são confundidos com a coletivização dos meios de produção e distribuição do

modelo comunista ou socialista. Possuíam um sistema contabilidade até hoje utilizado nos Andes, usavam os kipus19 como instrumentos de contagem, usados para contar habitantes,

animais, insumos, metais e etc. cada cor representava um destes.

Contavam também com mercados, chamados de catus20, eram compostos de

vendedores e compradores, trocavam alimentos, cerâmicas e tecidos, alguns itens eram usados de referência de valor. Segundo o autor, o império pode ser caracterizado em comunal primitivo, escravagista e inclusive como sistema feudal. (FERNANDES, 2010).

Os Incas muitas vezes utilizavam-se de uma espécie de “serviço de crédito”, onde já tendo trabalhado podiam receber alimentos. (...) O comércio local, era realizado por meio te intercâmbio de produtos pelas próprias famílias ou nos catus, que significa mercado em quéchua. No contexto econômico, este mercado é entendido como local de negociação de valores estabelecidos (...) baseados na lei de oferta e procura e sem a mínima intervenção do Estado. (...) o império Inca valeu-se de alguns objetos que incorporaram valor e participaram do sistema de trocas onde tinham importância, ainda que valor primitivo. O certo é que estes objetos eram vistos com sinal de

17

Reciprocidade – era comum entre as comunidades de camponeses da região andina, desde antes da chegada dos incas. Ela consistia na prática da solidariedade e ajuda mútua entre os membros de uma das comunidades. Por exemplo, no caso de um matrimônio toda a comunidade ajudava a levantar a casa dos recém-casados. (FERNANDES, 2010).

18

Sistema redistributivo – era o controle do trabalho, baseado no sistema de redistribuição instituído pelo Estado Inca, consistia na mita, em que os trabalhadores contribuíam ou prestavam serviços ao estado por meio de trabalhos temporários, mas não por meio de tributos. Incluía pastoreio, tecelagem, coleta de produtos em bosques e lagos. Haviam três tipos de produtos supridos pelo Estado por meio deste sistema, o primeiro era artigos de subsistência e utilitários armazenados em depósitos, segundo artigos que satisfaziam as

necessidades militares, o último, objetos de valor e prestígio. (FERNANDES, 2010).

19

Kipus – ou Quipus, instrumentos utilizados para contabilidade e comunicação, compostos por cordas de algodão e nós, representando algum tipo de contagem. Usados para contar lhamas, alpacas, milho, batata, tecidos, cerâmicas, habitantes em determinada área e etc. em que o imperador recebia via mensageiros para manter o controle de recursos, censo demográfico, responsabilidades tributárias e noções de força militar.

(FERNANDES, 2010).

20

Catus – ou Ccatu do quéchua, quer dizer mercado, praza ou feira, para o historiador Charles Stanish, este termo está inserido no processo de evolução cooperativa da humanidade num contexto de civilizações primitivas. Stanish (2017).

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status. As conchas marinhas do tipo Spondylus (mollu e chaquira), pimenta do tipo

ají (...). (FERNANDES, 2010, p. 44).

Ressalta-se neste contexto, os metais preciosos tais como ouro, prata e bronze, não possuíam valor mercantil, apenas religioso. Eram usados para ornamentar coroas, templos, vestuário, armas e objetos para uso pessoal de cunho simbólico. Não chegaram a ser usados como moedas de troca, representavam e um status dogmático.

Os direitos monárquicos eram sucessórios para os filhos, em 1525 o imperador Huayna Capac morre sem sucessor designado. Os filhos Huascar e Atahualpa aspiravam juntos pelo poder, dividem o império em norte e sul, posteriormente tornam-se inimigos. Huascar perde a guerra civil contra o irmão. O processo de colonização seria faciltado com o exército inca desgastado, assim como escassez de recursos alimentares e militares, o exército espanhol vai em direção contra Atahualpa, estavam equipados com índios rebeldes, cavalos, navios e pólvora (escopetas e canhões) a tecnologia mais avançada da época, colocando-os em posição de vantagem no campo de batalha. (ARAUJO, 2015).

Atahualpa então é derrotado e preso, desde a prisão organiza táticas para liberá-los dos colonizadores, os que restaram das guerras se reúnem em Vilcabamba como último ponto de resistência. Consequentemente Pizarro, esquematiza uma ordália21 declarando-o culpado e sua

sentença é a morte. No ano seguinte, Pizarro concede à população um governante Inca, irmão mais novo de Huascar, Manco Inca, também se rebela contra os espanhóis e acaba sucumbindo depois do conflito. (ARAUJO, 2015). Segundo o historiador Jose de La Riva-Aguero (1966), Tupac Amaru I, filho de Manco Inca é o último imperador Inca legítimo, monta uma campanha para retomar a cidade de Cusco e de Vilcabamba sai com o último exército inca, ao perder a batalha para o Vice-Rei Francisco de Toledo, recebeu uma pena de morte que ficou marcada na história peruana, foi decapitado e esquartejado na praça pública da cidade de Cusco.

Por fim, o vice-rei Toledo, tirou das selvas o sucessor posterior, Tupaj Amaru e seu legado. O infeliz homem, Tupaj Amaru, foi aniquilado na Praça Maior do Cusco, enforcados e extirpados a sua companhia; desta maneira acabou o legado masculino dos reis Incas e a última sombra de sua monarquia. (RIVA-AGUERO, 1966, p. 111).

21

Ordália – do latim ordalium significa julgamento também conheciada como juízo de Deus em latim judicio Dei, praticado pela Igreja Católica Apostólica Romana durante as colonizações. Consistia em num tribunal em que o réu tinha seus crimes ou pecados recitados em voz alta, o julgador sinalizava com o polegar se era culpado ou inocente, sem direito à defesa. Tal qual era feito nas festas romanas de gladiadores, em que o imperador escolhia vida ou morte do sucumbente.

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A relevância que tal herança cultural possui, é que os povos descendentes de indígenas, tanto dos Incas e o povo Mapuche habitam as áreas que posteriormente foram repartidas, tanto por conta de guerra ou convenções entre Estados pós independências. Acreditam, devido aos antigos ensinamentos, que suas gerações anteriores habitavam determinadas áreas. Influenciando então, em parte, as causas da Guerra do Pacífico e outros atritos, tanto o lado peruano-boliviano quanto o chileno. Levando em consideração os conflitos que os Incas tiveram para se expandirem até a área do Rio Maule, que é coincidentemente, a área que Chile procura adicionar ao seu território durante a Guerra, pois em ambos os contextos beligerantes – tanto os Incas contra Mapuches e Peru, Bolívia contra Chile – havia muito interesse na área do deserto de Atacama, que possui muitas riquezas minerais e recursos naturais, detalhados posteriormente.

Ao longo da segunda metade do século XV, os incas deram início ao processo de conquista dos territórios meridionais. Esses territórios receberam o nome de Kolla

Suyu. No entanto, apesar dos esforços incas, a fronteira se extenteu apenas até o rio

Maipú. A presença inca mais ao sul se dava apenas em expedições militares porque, nas proximidades do rio Maule, os índios locais imprimiam uma tenaz resistência. Essa postura belicosa desses índios levou os incas a lhes chamarem aukas, que em quéchua significa inimigo, rebelde ou selvagem. Especula-se que os termos Arauco e Araucano sejam derivados dessas expressões incas e, exatamente por isso, hoje considera-se que são termos de caráter pejorativo. (GREGORY, 2011, p. 10)

Vale lembrar que o povo Mapuche, também chamados de Araucanos, possuem certa rivalidade com os povos nortenhos, em decorrência de antigas rivalidades. Tiveram tais concepções de forma hereditária, tendo em vista que nos Andes os costumes, tradições e hábitos, são passados de pai para filho.

Quanto à origem do povo Mapuche, há diversas teorias que explicam suas primeiras aparições na região Andina. Segundo o historiador Ricardo Latcham, é um povo que veio do Norte, mais precisamente da área amazônica, por conta de serem nômades caçadores e coletores, foram procurando novos espaços para se estabelecer. Acabaram cruzando a região do Chaco da Argentina, logo atravessaram os Andes e firmaram sua estadia na região Araucana do Chile. (GLEISNER; MONT; CANO, 2014).

Em contrapartida, há outra teoria envolvendo a origem do estabelecimento do povo Mapuche na América Andina, em que segue para compreensão.

A segunda teoria foi postulada por Tomas Guevara, considerado um dos primeiros etnógrafos da vida “araucana” conforme seus estudos, o povo Mapuche chegaram desde o Norte em coerência com os padrões de ocupações do continente americano. A evidência de tal hipótese estaria na adoção de certas palavras do idioma quéchua

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por parte dos Mapuches, assim como na adoção do culto ao sol, detalhe típico das culturas indígenas da zona andina. (GLEISNER; MONT; CANO, 2014).

O povo Mapuche vivia uma pequena harmonia social, eram conhecedores exímios da área geográfica em que estavam situados, exploravam os recursos naturais para as necessidades básicas coletivas, tinham conhecimentos rústicos de agricultura e viviam da caça e coleta de alimentos provindos da natureza. Passaram por pequenos conflitos entre diferentes grupos inerentes no próprio povo, a título de maiores obtenções de alimentos, futuramente os espanhóis utilizam isto como estratégia de conquista. Quando tiveram os primeiros contatos, houve um grande declínio demográfico, por conta das doenças trazidas pelos exploradores, a varíola foi uma arma mortífera contra os nativos, assim como as encomiendas que era um sistema de trabalho forçado imposto pelos colonizadores para facilitar a exploração de insumos, minerais, construção e transporte de cargas.

O primeiro grupo de espanhóis foi a campanha liderada por Pedro de Valdívia, em que entraram pelo Rio Bío-Bío, com o objetivo de fundar zonas de resistência e estabelecer novos polos de extração de minerais para a coroa, ideias que os Mapuches não compartilhavam, gerando um grande conflito, que foi chamado de desastre de Curalaba, no ano de 1598. Este conflito resultou na destruição dos primeiros estabelecimentos e inclusive o assassinato de um governador espanhol, a coroa ao saber, empreendeu a campanha de conversão indígena denominada de “Guerra Defensiva”, enviou missioneiros jesuítas para evangelizar o povo Mapuche e converte-los em súditos da coroa, assim como tentativa de instituir as

encomiendas, porém não obtiveram sucesso. (GLEISNER; MONT; CANO, 2014).

Em meados do século XVII, e após o fracasso da Guerra Defensiva, as relações entre Mapcuhes e espanhóis começaram a se desenvolver em torno dos parlamentos: espaços de negociação onde ambas as partes trocavam promessas para por fim à guerra. Estas reuniões políticas agrupavam os principais caciques para parlamentar com as autoridades militares e eclesiásticas espanholas. Em algumas reuniões, eram negociadas a troca de prisioneiros, combinavam limites e pactuavam compromissos de não agressão. O primeiro foi o de Picaví, em 1612. Outros de grande relevância foram os de Quilín em 1641, Negrete 1726, e no período republicano (uma vez que Chile independente da Espanha) (...) a história recente denomina estes duzentos anos de parlamentos como período de “relações fronteiriças” nas quais forjou-se um estilo de vida determinado pelo constante contato entre mapuches e espanhóis num contexto de fronteira onde houveram momentos de paz e violência, mas também de paz, comércio e intercâmbios. (GLEISNER; MONT; CANO, 2014, p. 21).

Com vistas no texto citado acima, é perceptível que como consequência da longa resistência, os espanhóis adotaram outro sistema de colonização para com o povo Mapuche, por conta das longas guerras e desgastes, decidiram compactuar com estes e compartilhar conhecimentos, produtos (cavalos, tecidos, alimentos) e inclusive o próprio território. Desta

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maneira, os colonizadores não tiveram outra escolha a não ser, aceitar o fato de que os nativos legitimaram sua estadia na região chilena.

Segundo a interpretação geralmente aceita, os Mapuche foram finalmente conquistados pelos chilenos logo após a Guerra do Pacífico. Por aproximadamente 340 anos, os “Mapuche” tinham imposto tanto aos espanhóis como aos chilenos uma severa resistência que lhes garantiu a autonomia durante todo este tempo. No entanto, crê-se que após a Guerra do Pacífico as tropas chilenas não só dispunham de mais uma experiência de combate como também se encontravam muito melhor equipadas do que em períodos anteriores. (GREGORY, 2011, p. 16).

Em meados do século XIX, durante o período da independência e república chilena os mapuches sofrem um programa de colonização chamado “Pacificação Araucana”, a qual consistiu na invasão do exército chileno nos territórios mapuches, para reduzir os territórios indígenas. Durante essa prática, destituíram terras dos antigos nativos, calcula-se que o Estado Chileno retirou-lhes aproximadamente cinco milhões de hectares, os quais foram destinados a leilões para vender as áreas para latifundiários, empresas privadas e investidores estrangeiros, isto causou grandes danos para o povo Mapuche pois ficaram apenas com dez por cento do seu antigo domínio e representou enormes perdas econômicas para estes. Mais tarde, o povo indígena se reúne e institucionaliza sua força por meios políticos, criaram a Sociedade Caupoilcán Defensora Araucana (1910), a Federação Araucana (1922) e a União Araucana (1926), visando proteger seus interesses e recuperar as terras que foram repartidas. Consequentemente, foi instituída a Ley Indígena de 1993, que visava a proteção das terras Mapuches, as quais não poderiam ser vendidas e contavam com a proteção do Estado, esta mesma lei, estabeleceu o reconhecimento do povo Mapuche como comunidade indígena, esta lei teve apoio pela ratificação do Convenio 169 da Organização Internacional do Trabalho – que tratava dos direitos dos povos indígenas a nível internacional – a convenção entrou em vigor no ano de 1991. (GLEISNER; MONT; CANO, 2014).

O povo Mapuche então, fica limitado a pequenas zonas que foram distribuídas pelo território do Sul do Chile, tal como pode ser visto na figura abaixo:

Figura 8 – Ubicación Geográfica, Región del Biobío, Región de la Araucaína, Región de los Ríos y Región de los Lagos.

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Fonte: GLEISNER, Christine; MONT, Sara; CANO, Daniel. Mapuche: Serie introdução histórica e relatos dos povos originários do Chile. Santiago: Ograma, 2014. p. 14.

À medida que vemos o mapa, nota-se pontos descritos como capitais regionais em azul, são as áreas que possuem maior relevância para o povo Mapuche, tendo em vista que são sedes institucionalizadas que visam a conservação da cultura nativa. Há muitos outros pontos de comunidades indígenas mapuches distribuídas pelo Chile e inclusive na fronteira com Argentina, porém, os que possuem maior relevância para a atual pesquisa seriam os citados acima. Já que, é neste contexto geográfico que se passaram as primeiras campanhas de colonização por conta de Pedro de Valdívia, via Rio Bío-Bío.

O processo histórico que o povo Mapuche e a herança dos Incas nas sociedades andinas, assim como a colonização e repartição territorial pela coroa espanhola, são temas chave para compreensão da dramática que envolveu três países durante as guerras por

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independências e assim como a Guerra do Pacífico, os quais serão apresentados no decorrer da pesquisa.

2.2 A AMÉRICA ANDINA DURANTE A CONQUISTA E COLONIZAÇÃO EUROPEIA

Regressando às disputas territoriais antigas, antes da chegada espanhola (meados de 1532) no mar do pacífico lado oeste da América Latina, ou do advento português (por volta de 1500) no lado atlântico leste latino, o que seria hoje litoral brasileiro, sabemos que já eram disputadas as terras da América (assim como outros continentes) por meio do Tratado de Tordesilhas (1494), assinado pelos reis católicos D. João II de Portugal, Fernando de Aragão e Isabel de Castela

FIGURA 9 – Por que o Brasil continuou um só enquanto a América espanhola se dividiu em vários países?

Fonte: BARRUCHO, Por que o Brasil continuou um só enquanto a América espanhola se dividiu em vários

países? 2018.

Para Moreira e outros (1978), neste tratado entre as metrópoles, a Igreja Católica teve um papel dominante, não só pelo fato de ter conduzido as negociações, mas também, por ter imposto sua doutrina de “legitimação do expansionismo” e colonização. Porém, condicionava que tal expansão, seja em nome da Santa Sé, e que os povos colonizados deveriam ser

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convertidos. Estabelecendo assim, uma expansão da fé com o intuito de ganhar mais adeptos e deles receber indulgencias e contribuições. Conforme os autores:

Segundo os autores, Moreira, Bugallo e Albuquerque, em 1978, indicam que o Tratado de Tordesilhas teria sido estabelecida em 7 de junho de 1494, e as esferas de influência estariam definidas, fariam parte de Castela as terras descobertas a além do meridiano que traspassava a 370 léguas a ocidente de Cabo Verde, limite diminuído para 200 léguas no que no tocante aos descobrimentos que Colombo pudesse fazer a segunda viagem, a qual estaria sendo programada.

Discute-se muito as razões secretas da escolha da linha divisória sendo a questão mais debatida a de saber se D. João II tinha já nessa data conhecimento da existência do Brasil. A intervenção da Santa Sé foi extremamente activa, como veremos. De tudo resultou que o tratado seja um marco fundamental no desenvolvimento de várias linhas políticas, e pelo menos as seguintes: a) O começo da execução de um projeto que temos chamado Euromundo e que veio a traduzir-se na submissão da totalidade do globo ao governo das potências ocidentais, todas de etnia branca; b) A definição de uma política colonial da Santa Sé, que veio a receber forma laica na ONU. (MOREIRA; BUGALLO; ALBUQUERQUE, 1978, p. 11).

Vale lembrar, que antes mesmo do Tratado de Tordesilhas acontecer, o poder papal dirimiu quatro Bulas papais com poder imperativo. A primeira Bula Romanus Pontifex, assinada em 8 de janeiro de 1454, por Nicolau V. Segunda, a Bula Aeterni Regis Clementia, de Sisto IV de 21 de junho de 1481 visando o Tratado de Paz de Toledo assinado no ano anterior, reconhecendo as ilhas do Atlântico como portuguesas, com exceção das Canárias e sobre o litoral da Guiné. (MOREIRA; BUGALLO; ALBUQUERQUE, 1978).

A terceira Bula a Inter Coetera, assinada em 4 de maio de 1493, estabeleceu a primeira linha de demarcação territorial, concedendo aos reis de Castela, Leão e Aragão, a posse das ilhas e terras firmes recém descobertas ou a descobrir. Encontradas a cem léguas a oeste do meridiano de Cabo Verde. Não abrangia o território do atual Brasil, logo, houve protesto do rei D. João II, visando renegociações para um novo tratado entre os reinados, gerando assim o Tratado de Tordesilhas. Nas palavras do autor:

Há de se notar a imprecisão dos limites estabelecidos pela Bula e pelo Tratado, o que se justifica diante da precariedade de conhecimento sobre as novas terras descobertas. No caso o arquipélago de Cabo Verde, com várias ilhas, a origem da contagem não ficou estabelecida, pois havia de várias dimensões. Isso tudo sem se citar a rusticidade dos instrumentos de medição astronômica. Com todas essas dificuldades, ficou entendido, entre portugueses e castelhanos, que o Meridiano de Tordesilhas, limite entre suas possessões na América do Sul, seria o que passasse na altura da hoje cidade de Belém e que se prolongaria para o sul até o porto de Laguna. A fronteira terrestre seria uma linha reta de Belém a Laguna. Se assim prevalecesse, a possessão portuguesa teria menos de três milhões de quilômetros

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quadrados. O Território brasileiro não teria a Amazônia, o centro oeste e o extremo sul. (BORBA, 2013, p. 61).

Já a quarta Bula de Júlio II, em 1505, oficializando o meridiano de separação definido pelo Tratado de Tordesilhas, de 7 de junho de 1494, fixada a 370 léguas a ocidente de Cabo Verde. (MOREIRA; BUGALLO; ALBUQUERQUE, 1978). Por conseguinte, ambos Estados, Espanha e Portugal, possuíam legitimidade para se expandir, apropriar-se e colonizar as novas terras a serem exploradas.

Neste contexto, as metrópoles lançam suas missões expedicionárias, a coroa espanhola envia os “conquistadores” Hernán Cortez para América central em 1502, Francisco de Pizarro em 1532 ao Peru e Bolívia, Diego de Almagro e Pedro de Valdívia em 1540 Chile e Argentina. Destes, os três últimos apresentarão maior relevância, devido à área que colonizaram, que é a América do sul. Procuram com estas campanhas, conquistar as partes correspondentes do Tratado de Tordesilhas. (BOULOS, 2013).

A Igreja Católica participou ativamente no processo de conquista e colonização, utilizando como meio para justificar sua intolerância por outras crenças. Representada na prática através da violência aos indígenas, proferida pelos conquistadores como atos de fé. Já que a matança seria para purificação de heresias como nudez, ídolos, rituais e danças. Também subjugaram e mataram escravos, degradavam os solos, exploraram, as jazidas de metais preciosos, legitimados pela santa inquisição. (ROSA, DEVITTE E MACHADO 2012). Uma outra análise pode ser vista em Elliot e outros (2004):

conquista podia significar, portanto, colonizar, mas também podia significar assaltar, saquear e seguir adiante. A conquista no primeiro sentido dava primazia à ocupação e exploração da terra. No segundo sentido, concebia o poder e a riqueza de uma forma muito menos estática – em termos muito mais de posso de objetos fáceis de transportar, como outro, pilhagem e gado, e de domínio sobre vassalos do que de propriedade de terra [...].” (ELLIOT; BETHELLV, 2004, p. 138).

Destarte, devido à agressividade durante a colonização, as colônias espanholas tinham a missão de: explorar minerais e limpeza étnica-religiosa. Tal era a crueldade, que a maior arma utilizada pelos conquistadores, não chegou a ser a pólvora e cavalos – que lhes prestava superioridade bélica no campo de batalha – mas, os vírus e bactérias trazidas do Velho Mundo. Disseminados com o propósito de reduzir populações, tornando-as, mais fáceis de controlar. Tendo em vista, os povos indígenas americanos não tinham conhecimento das enfermidades, logo, vinham a perecer de varíola, malária, sarampo, sífilis e tifo. (ROSA, DEVITTE E MACHADO, 2012).

Referências

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