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5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5.2 A amostra e os informantes

A amostra desta pesquisa, constituída por 36 inquéritos, foi extraída do banco de dados orais Norma Oral do Português Popular de Fortaleza (NORPOFOR). Porém, antes de tecermos considerações mais detalhadas sobre a organização dele e a configuração de nossa amostra, julgamos relevante retomar os motivos os quais nos levaram a escolhê-lo: em primeiro lugar, o uso de uma modalidade de língua falada, já que, por ser mais flexível e sofrer certas coerções de ordem pragmática, favorece a variação e a mudança linguísticas; em segundo, a necessidade de análise do fenômeno em dados enquadrados na norma popular, uma vez que trabalhos anteriores (LIMA, 1999; CAMACHO, 2002, 2003) voltaram o olhar principalmente para o falar culto; em terceiro, o atendimento às exigências de uma pesquisa da Sociolinguística Quantitativa no que se refere aos critérios de seleção dos informantes e de coleta de dados.

Sobre a constituição do NORPOFOR, informamos que ele é resultado do Projeto Norma Oral do Português Popular de Fortaleza (significado da sigla), coordenado pela professora Aluiza Alves de Araújo, que contou com o apoio de bolsistas do Programa de Iniciação Científica da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e dos professores Kilpatrick Müller Campelo e Socorro Abreu. O trabalho foi realizado no período de agosto de 2003 a julho de 2006 e teve como objetivo-mor o armazenamento de material linguístico satisfatório e representativo da fala popular dos fortalezenses (ARAÚJO, 2011).

Segundo a coordenadora do projeto, os informantes selecionados – que somatizam 198 – têm as seguintes características: a) nasceram em Fortaleza ou vieram do interior do Ceará para morar nesta cidade com no máximo cinco anos de idade; b) residem nas seis regionais da capital; c) nunca se ausentaram da cidade por mais de dois anos consecutivos; d)

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são filhos de pais cearenses. Esses informantes estão distribuídos por faixa etária, escolaridade, tipo de registro e gênero.

No que se refere à faixa etária, o NORPOFOR apresenta três tipos, a saber: a) Faixa I – 15 a 25 anos; b) Faixa II – 26 a 49 anos; c) Faixa III – 50 em diante. A primeira delas, que cobre um intervalo de 10 anos, compõe-se de adolescentes e jovens, que dependem dos pais economicamente, que estão tentando ingressar no mercado de trabalho ou que nele ingressaram recentemente. A segunda, abrangendo um intervalo de 23 anos, constitui-se de adultos que exercem ou estão em condições de exercer trabalhos profissionais. A terceira, sem intervalo definido, mas que, na verdade, não ultrapassa o intervalo de 25 anos, compõe-se de adultos que também exercem ou estão em condições de realizar atividades profissionais, bem como de idosos aposentados.

Além disso, o corpus em questão apresenta três níveis de escolaridade, a saber: a) 0 a 4 anos; b) 5 a 8 anos; c) 9 a 11 anos. O primeiro contempla tanto pessoas que nunca frequentaram a escola como aquelas que têm o antigo primário completo ou incompleto. O segundo abrange informantes os quais apresentam o primeiro grau completo ou incompleto. Já o terceiro contempla indivíduos que têm o segundo grau completo ou incompleto. Convém salientarmos que os membros organizadores do projeto optaram pela nomenclatura do antigo currículo para facilitar aos informantes a identificação do nível de escolaridade em que se encontravam, já que a maior parte deles desconhecia a reforma curricular.

Quanto aos tipos de registro, identificamos três no NORPOFOR: a) Diálogo entre Dois Informantes (D2), constituído de conversas espontâneas entre dois informantes com certo grau de informalidade; b) Diálogo entre Informante e Documentador (DID), constituído de entrevistas; c) Elocução Formal (EF), constituído de pregações e palestras.

No que concerne ao sexo, os informantes também foram distribuídos igualitariamente entre homens e mulheres segundo a faixa etária, a escolaridade e o registro, evitando, desse modo, a falta de equivalência quantitativa entre todas as variáveis envolvidas.

Devemos destacar que a seleção dos informantes do corpus em questão, quanto ao local de residência, incluiu 69 bairros, distribuídos entre as seis regionais de Fortaleza, o que possibilita uma representação geográfica de toda a área da cidade (ARAÚJO, 2011).

Feitas tais considerações, informamos que a amostragem de nossa pesquisa a ser retirada desse corpus constituir-se-á de 36 inquéritos, com duração de 60 minutos cada. Sua estratificação se dará em função das seguintes variáveis:

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a) Faixa etária (1 – 15 a 25 anos e 3 – 50 anos em diante); b) Escolaridade (A – 0 a 4 anos; B – 5 a 8 anos; C – 9 a 11 anos) c) Sexo (h – masculino e m – feminino).

Ressaltamos que as letras e os números destacados em negrito nos auxiliarão na composição objetiva das células da amostra e no operacional reconhecimento dos fatores selecionados. Além disso, como pode ser percebido acima, optamos apenas pelas faixas etárias 1 e 3. Isso se deve a dois motivos: a) o corpus ao qual recorremos se encontra em fase de estruturação, por isso muitos dos inquéritos da faixa 2 (26 a 49 anos) ainda não foram transcritos e revisados pelos coordenadores. Como precisávamos obedecer ao princípio de ortogonalidade das células, preferimos descartar a faixa intermediária nesta pesquisa; b) a possibilidade de identificação de um fenômeno em variação comparando apenas as faixas polarizadas: a mais jovem e a mais idosa. Devemos deixar claro que não queremos, de forma alguma, afirmar que a faixa intermediária pode ser facilmente descartada, porém, como alguns estudos (GAUCHAT, 1905 apud LABOV, 1972; LABOV, 1972) apontam, os indivíduos dessa idade tendem a usar as variantes conservadora e inovadora sem predominância de nenhuma delas, o que viabiliza a realização desta investigação. Sabemos que, obviamente, esse quadro se alteraria em casos de mudança em tempo aparente, já que a faixa 2 se mostraria fundamental.

Por fim, ainda salientamos que trabalhamos apenas com o registro DID (Diálogo entre Informante e Documentador) por dois motivos principais: a) a presença tanto de marcas formais – em virtude da intervenção direta do entrevistador – como de marcas informais – tendo em vista a discussão sobre temas da vida pessoal do informante com o objetivo de lhe permitir um maior relaxamento na produção do discurso; b) a falta de acesso aos outros tipos de registro (D2 e EF), já que ainda há a necessidade de finalização das transcrições e revisões por parte da equipe responsável pela organização do NORPOFOR.

As células e a quantidade de informantes – dipostas a seguir – são configuradas em obediência aos princípios da sociolinguística quantitativa, vez que desejamos evitar problemas estatísticos quando do cruzamento dos dados coletados com as variáveis selecionadas.

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Quadro 1 – Distribuição dos informantes por sexo, faixa etária e escolaridade na amostra constituída a partir do NORPORFOR

ESCOLARIDADE SEXO FAIXA ETÁRIA 0 a 4 anos (A) 5 a 8 anos (B) 9 a 11 anos (C) FEMININO (m) 15 a 25 anos (j) 3 (m1A) 3 (m1B) 3 (m1C) 50 em diante (v) 3 (m3A) 3 (m3B) 3 (m3C) MASCULINO (h) 15 a 25 anos (j) 3 (h1A) 3 (h1B) 3 (h1C) 50 em diante (v) 3 (h3A) 3 (h3B) 3 (h3C)

Para justificar o tamanho total de nossa amostra, baseamo-nos em Braga e Naro (1994), segundo os quais o cálculo do número de informantes da amostra não leva em consideração o número total de falantes do universo. Desse modo, a proporção de falantes é irrelevante, sendo significativo, de fato, o grau de variabilidade do fenômeno linguístico. Além disso, conforme Bauer e Aarts (2003), a representatividade da amostragem é percebida por meio da distribuição equânime dos mesmos critérios presentes na organização e seleção da população. Sendo assim, se a amostra representa a população a partir de um determinado número de critérios – conforme se observa em nossa pesquisa – então ela representará também a população naqueles critérios nos quais alguém esteja interessado.