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A ampliação do conceito de gestão de cadeia de suprimentos

3.2 GESTÃO AMBIENTAL DA CADEIA DE SUPRIMENTOS (GREEN SUPPLY

3.2.1 A ampliação do conceito de gestão de cadeia de suprimentos

Linton, Klassen e Jayamaran (2007) observam que, nas últimas décadas, as iniciativas para otimizar operações deixaram de considerar apenas uma única organização para abranger toda a chamada cadeia de suprimentos.

Uma cadeia de suprimentos é formada pelos agentes que contribuem direta ou indiretamente para a produção e comercialização de um bem ou serviço, como mineradores, fabricantes, transportadores, armazenadores, varejistas e os consumidores finais (CHOPRA; MEINDL, 2003). Segundo Handfield e Nichols (1999), a cadeia de suprimentos abrange todas as atividades associadas tanto ao fluxo de transformação de produtos que vai da extração de matérias-primas até o usuário final, como aos fluxos de informação associados; em outras palavras, tanto materiais como informação fluem em ambos os sentidos da cadeia.

Alguns questionamentos surgem a partir dessa definição: Sarkis (1999) observa que ela claramente descreve a cadeia de suprimentos como um processo linear, não cíclico. Para Beamon (1999), o conceito tradicional de gestão da cadeia de suprimentos abrange apenas os

Produto (não-resíduo) PREVENÇÃO

Resíduo Preparo para reuso

Reciclagem

Recuperação

Disposição final

aspectos logísticos e econômicos da relação entre as empresas participantes, como formas de otimização da obtenção de matérias-primas dos fornecedores e da distribuição dos produtos aos clientes. A autora entende que é necessário considerar também os aspectos ambientais de cadeias de suprimento, isto é, os efeitos totais imediatos e eventuais de um produto ou serviço sobre o meio, em um processo que constitui o primeiro passo para desenvolver formas de coexistência simbiótica entre o desenvolvimento industrial e a proteção ambiental. O estado e tendência da degradação ambiental indicam uma necessidade de mudança na forma como os sistemas produtivos operam, visando à redução no uso de materiais e insumos, como água e energia. O próprio aumento no interesse sobre as questões ambientais, motivado por pressões econômicas, legais e da sociedade em geral tem ressaltado a necessidade de compreender e gerenciar melhor os aspectos e impactos ambientais das atividades humanas (BEAMON, 1999).

Com efeito, os conceitos de gestão ambiental, em resposta a essa necessidade de mudança, têm percorrido um longo caminho evolutivo, partindo inicialmente da abordagem de ‘fim de tubo’, consistente em apenas tratar os resíduos gerados, chegando-se recentemente à ideia de considerar todo o ciclo de vida do produto em questão.

Barbieri (2011) lembra que o ciclo de vida de um bem ou serviço no contexto da gestão ambiental refere-se ao ciclo físico formado pelos sucessivos estágios do processo de produção e comercialização desde a origem dos recursos produtivos no meio ambiente até a disposição final após o uso ou consumo, passando pelos estágios intermediários, como beneficiamento, transportes, estocagens e outros, incluindo os reaproveitamentos na forma de reuso, reciclagem e revalorização energética, entre outros10. Quando aplicado a produtos concretamente definidos, o conceito ‘ambiental’ de ciclo de vida ambiental corresponde a um conjunto de atividades realizadas por agentes econômicos específicos, como empresas de vários tipos, tamanhos e setores, configurando uma cadeia de suprimentos (BARBIERI, 2011).

Assim, para abordar questões ambientais referentes ao ciclo de vida do produto, como consumo de recursos e energia, emissões de CO2 e geração de resíduos, é necessário considerar toda a cadeia de suprimentos, pois evidentemente todas as organizações participantes contribuem para o impacto ambiental total associável ao produto final dessa

10 O autor também ressalta a diferença entre o ciclo de vida ‘ambiental’ e o ciclo de vida ‘mercadológico’ de um produto, que corresponde aos estágios por que um produto passa, desde sua introdução (nascimento) até a sua retirada do mercado (morte), compreendendo ainda o crescimento da demanda, a maturidade e o declínio.

cadeia. A propósito, Lamming e Hampson (1996) já indicavam que o conceito de ciclo de vida do produto está diretamente relacionado ao de responsabilidade pelo produto (product stewardship), que reconhece que a influência da companhia focal vai além das fronteiras de suas instalações, incluindo o impacto ambiental de produtos e serviços a montante (upstream) e a jusante (downstream) da cadeia que estabelece e em que está inserida; concluem, no entanto, que poucas companhias consideram de forma estratégica os fatores ambientais que afetam seus negócios. Tsoulfas e Pappis (2006) lembram que qualquer atividade na cadeia de suprimentos pode ter um impacto indesejável na cadeia ambiental e, da mesma forma, qualquer perturbação no equilíbrio ecológico pode afetar atividades produtivas e mesmo o bem-estar social, em longo prazo. E, idealmente, os fabricantes deveriam não somente ser responsabilizados pelos processos que ocorrem em suas instalações, mas também pela seleção de fornecedores e parceiros comerciais.

Kogg (2003) descreve o comportamento de determinadas organizações que se sentem compelidas a assumir responsabilidade por certos aspectos ambientais que ocorrem além das fronteiras de suas próprias instalações, seja devido a novos marcos regulatórios, exigências de mercado, pressão de partes interessadas ou à intenção de diferenciar seus produtos ou sua imagem como ambientalmente superior a seus competidores. Tais companhias empreendem esforços no sentido de melhorar e/ou controlar o desempenho ambiental a montante (em direção aos fornecedores) ou a jusante (em relação aos consumidores), e a esses esforços, a autora dá o nome de Gestão Ambiental da Cadeia de Suprimentos11.

A Gestão Ambiental da Cadeia de Suprimentos também pode ser definida como: - o conjunto de políticas de gestão de cadeias de suprimentos que são mantidas, ações tomadas e relações estabelecidas em reação às preocupações relacionadas ao ambiente natural no tocante ao projeto, aquisição, produção, distribuição, uso, reuso e disposição final dos bens e serviços de uma organização (ZSIDISIN; SIFERD, 2001).

- a integração do pensamento ambiental à gestão da cadeia de suprimentos, incluindo projeto do produto, busca e seleção de material, processos de manufatura, entrega do produto final aos consumidores, além do gerenciamento do fim de vida do produto após seu tempo de vida útil (SRIVASTAVA, 2007).

Em outras palavras, a visão linear “extração-beneficiamento-produção-consumo” é abandonada em favor de uma visão cíclica. E para o fechamento, ao menos teórico, deste

ciclo, é necessária a integração de processos ditos ‘reversos’, através dos quais os resíduos são reinseridos como matérias-primas nos processos produtivos.

Nesta visão da cadeia de suprimento identificam-se quatro tipos básicos de atores: - atores a montante (upstream), como os fornecedores de matérias-primas, componentes e serviços necessários à fabricação de um determinado produto;

- a empresa focal, organização ao redor da qual organiza-se a cadeia;

- atores a jusante da cadeia (downstream), como os distribuidores e revendedores e os consumidores, que têm papel de destaque nesta estrutura por constituírem a interface entre as cadeias direta e reversa;

- entidades e organizações privadas ou públicas e mesmo pessoas físicas que desenvolvem atividades que se prestam ao fechamento do ciclo produtivo, e que neste texto e na pesquisa como um todo serão denominados genericamente de atores da cadeia reversa.

A figura 4, a seguir, retrata a aplicação do conceito de Green Supply Chain Management, com a integração das cadeias direta e reversa, identificando os atores mencionados. Ressalta-se que se trata de uma cadeia hipotética: as etapas e operações evidentemente podem variar caso a caso.

Figura 4 - Contexto de Green Supply Chain Management: integração das cadeias direta e reversa (fonte: o autor, 2012)

Identificados os atores, é fundamental também existir o que Vachon e Klassen (2008) chamam de ‘colaboração ambiental’ entre eles. Os autores acrescentam que essa interação de caráter ambiental entre as organizações integrantes de uma cadeia de suprimentos visando ao planejamento conjunto e compartilhamento de conhecimentos ou experiências constitui uma forma de gestão proativa, relacionada a práticas que visam à prevenção de falhas em vez da

simples resolução de problemas. No mais, todas as partes envolvidas podem se beneficiar dessa colaboração: os fornecedores podem se tornar capazes de identificar requisitos tecnológicos logo no início do processo colaborativo, o que lhes permite investir nas capabilidades e requisitos de capacidade necessários para atingir objetivos de projeto mais desafiadores, bem como elevar os padrões de desempenho de seus produtos e processos (HANDFIELD; NICHOLS, 1999).

A título de exemplo, em estudo sobre a prevenção da poluição aplicada às embalagens de uso industrial, Castro (2005) conclui que a relação da empresa com os fornecedores constitui fator que determina o sucesso (ou não) de medidas visando à redução na fonte, especialmente no caso de empresas montadoras, e observa que as organizações de modo geral e seus respectivos fornecedores devem trabalhar juntos, de forma a maximizar seu desempenho ambiental, levando em conta as implicações econômicas e logísticas associadas.

3.2.2. Gestão de resíduos sólidos em um contexto de Green Supply Chain Management