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4 FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

4.2 A análise de conteúdo

O procedimento de análise dos dados da pesquisa deve ter como referência uma base teórico-metodológica que permita a exploração das informações, de forma consistente e válida para dar sentido e significado à investigação.

Bardin (2009, p. 44) concebe a Análise de Conteúdo como:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens.

A decodificação de uma mensagem verbal, gestual, figurativa ou documental é o movimento interpretativo de olhar além do que está escrito ou

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representado. Para este tipo de interpretação a Análise de Conteúdo oferece um conjunto de técnicas que permitem operações de comparações, de classificações e de contagens de termos, frases ou palavras que possam expressar significados sobre o texto. A leitura minuciosa possibilita a codificação, a interpretação e a análise das informações de diferentes contextos.

De acordo com Franco (2008), os cinco elementos básicos que compõem a comunicação são: 1) fonte ou emissão, 2) processo codificador (mensagem), 3) receptor e 4) processo decodificador. Nesse sentido, a autora considera que o conteúdo das mensagens é baseado em três pressupostos:

a) Toda mensagem traz informações sobre o seu autor no que se refere às filiações teóricas, concepções do mundo, interesses de classe, traços psicológicos, representações sociais, motivações e expectativas;

b) O produtor/autor seleciona o que considera mais importante para “dar o seu recado” e interpreta sua mensagem de acordo com o seu quadro de referência;

c) A concepção da realidade é orientada pela base teórica do qual autor é o expositor.

Deste modo, a decodificação de mensagens deve apresentar um rigor metodológico que permita a seleção, a classificação e a interpretação de informações que estejam integradas com os objetivos propostos no plano da pesquisa, não perdendo de vista o quadro de referência do produtor da comunicação. Suas filiações, seus interesses e suas teorias permeiam as mensagens e devem ser consideradas na fase de análise das informações (FRANCO, 2008).

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No caso específico desta pesquisa, entendemos que o conteúdo das comunicações dos licenciandos em Matemática deve ser analisado de forma crítica, não deixando de lado a condição de estudante em fase inicial de formação. Assim, é necessário levar em consideração que cada licenciando tem o seu quadro de referência3, o qual justifica a inserção e o envolvimento com as atividades do subprojeto de Matemática do PIBID.

Para Bardin (2009) a organização da Análise de Conteúdo deve passar por três estágios:

a) A preparação do material: etapa em que cada discurso (entrevista- produção do locutor) deve ser transcrito na sua íntegra, ou seja, o riso, o silêncio, o tom irônico ou perturbações de palavras e de aspectos emocionais;

b) A análise temática: fase em que se utiliza um sistema de categorias e aplica uma teoria, ou seja, um corpo de hipóteses em função de um quadro de referência;

c) A análise da enunciação: momento em que cada entrevista é estudada separadamente, suscitando o aparecimento de indicadores que se entrelaçam ao tema da investigação.

Ainda sobre esse assunto, a autora afirma que:

A análise de conteúdo clássica considera o material de estudo como um dado, isto é, como um enunciado imobilizado, manipulável, fragmentável. Ora, a produção da palavra é um processo. A análise da enunciação considera que na altura da produção da palavra é feito um trabalho, é elaborado um sentido e são operadas transformações (BARDIN, 2009, p.216).

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A comunicação por meio de palavras, termos ou frases é um processo que exige elaboração e esforço, mas nem sempre expressa o conteúdo da mensagem. Por isso, a necessidade de olhar além do que está escrito ou reproduzido. No caso da entrevista, o relato não é um produto acabado, e sim uma comunicação permeada de incoerências, contradições e imperfeições que necessitam de decodificações (BARDIN, 2009).

Análise de Conteúdo como técnica de interpretação do conteúdo textual contempla três etapas:

a) Pré-análise: fase em que se lança mão da leitura flutuante, formulação de hipóteses e objetivos e elaboração de indicadores que fundamentem a decodificação dos dados;

b) Exploração do material: momento em que se opera a codificação dos dados a partir das unidades de registro;

c) Tratamento dos dados e interpretação: etapa em que se procede a classificação dos elementos a partir da identificação do que eles têm em comum (BARDIN, 2009).

No texto em que aborda a diferença teórica entre conteúdo e sentido, Laurence Bardin apresenta dois métodos usados pela análise de conteúdo: a dedução frequencial e a análise por categoria temática. O primeiro método consiste em enumerar a ocorrência de um signo linguístico, que aparece com frequência, não se preocupando com o sentido contido no texto. No caso da análise por categorias temáticas procura-se encontrar uma “série de significações” que o codificador detecta por meio de indicadores que lhe estão ligados (BARDIN, 2009, p.148).

Neste sentido, a autora explica que codificar ou caracterizar um segmento é classificá-lo em grupos de equivalência definidas, a partir das

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significações, em função do julgamento do codificador. Classificação esta, que exige qualidades psicológicas complementares como a fineza, a sensibilidade e a flexibilidade por parte do codificador para apreender o que é relevante nas comunicações.

Posto isto, no caso da presente investigação, o método que melhor se adapta à coleta de dados por entrevista, é a análise por categorias, visto proporcionar extrair significados dos termos agrupados em torno de eixos temáticos pré-estabelecidos.

Em um processo de investigação, a etapa de sistematização e análise das informações é delicada e trabalhosa e requer leituras repetidas do material disponível no sentido de localizar unidades de significados ou padrões de regularidades para posteriormente agrupá-los em categorias (FIORENTINI; LORENZATO, 2006).

Os teóricos da Educação Matemática afirmam que se o pesquisador escolher uma abordagem qualitativa de análise pode projetar categorias de classificação e interpretação dos conteúdos, considerando que:

A categorização significa um processo de classificação ou de organização das informações em categorias, isto é, em classes ou conjuntos que contenham elementos ou características comuns (FIORENTINI; LORENZATO, 2006, p. 134).

Bardin (2009) define categorização como uma operação de classificação dos elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e por agrupamento, com critérios previamente definidos. As categorias são classes que reúnem um grupo de elementos nomeados de unidades de registro em razão das características comuns destes elementos.

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Nesse caminho, direcionamos a análise dos dados em função da possibilidade de agrupar palavras ou termos que permitissem a produção de significado bem articulada com os eixos temáticos de análise4.

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