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4. PERCURSO METODOLÓGICO

4.3 A Análise dos Dados: O Discurso na perspectiva de Norman Fairclough

A concepção de análise dos dados escolhida para este estudo é analise do discurso, sobretudo pela forma de desenvolvimento de toda esta pesquisa, pois esta se respalda teoricamente e metodologicamente na Teoria do Discurso, mas especificamente da Análise Crítica do Discurso (ACD) proposta por Normam Fairclough (2001).

Este tipo de análise permite ao pesquisador estabelecer um quadro onde é possível perceber as conexões das relações de poder e dos recursos linguísticos desenvolvidos por pessoas ou grupos sociais. Nesse sentido, compreende-se que o campo da análise crítica do discurso permeia entre o linguístico e social, pois entende que o discurso é uma prática social que se materializa no mundo e na sociedade (REZENDE E RAMALHO, 2004).

Desta forma, acredita-se que o modo de análise desenvolvido por Fairclough (2001), possibilita uma maior aproximação para o que se almeja atingir em relação aos objetivos e questionamentos levantados neste estudo, pois pelo discurso está associado ao meio social este é capaz de produzir mudanças sociais. O presente trabalho constitui-se por um estudo direcionado as repercussões de uma política pública, sobretudo, de cunho social que está ligada ao campo educacional, e esta se apresenta como alternativa para superação/enfrentamento da pobreza no país (BRASIL, 2004).

Por se tratar de um estudo que tem enquanto objeto, uma política pública, entendendo esta como o Estado em ação, é prudente que o pesquisador que busque utilizar ACD tenha o intuito de investigar os processos de construções de sentido que permeiam a política. Deste modo, faz se necessário que os estudos que envolvam a perspectiva discursiva e as políticas públicas educacionais procurem desvendar as práticas que materializam a política e que podem ou não dar outros significados a esta (MARQUES, ANDRADE E AZEVEDO, 2017).

Assim, é necessário que os estudos viabilizem a compreensão dos diversos contextos, “partindo desse entendimento, consideramos que o foco da análise de políticas deve incidir sobre a formação do discurso da política e sobre a interpretação ativa que os sujeitos sociais que atuam no contexto da prática fazem para relacionar os textos da política à prática (MARQUES, ANDRADE E AZEVEDO, p. 59, 2017).

É preciso, com clareza, esclarecer inicialmente a construção de uma concepção de discurso, porque esta reverbera na lente com que se enxerga o objeto de estudo. Assim, a luz da Teoria e Análise Social do Discurso, os pesquisadores precisam adotar a compreensão do discurso que se constituirá elemento fundante durante o processo teórico- metodológico de construção de uma produção. Deste modo, é necessário considerar que os estudos de Norman Fairclough (2001), especificamente em sua obra Discurso e Mudança Social, compõe a concepção adotada para o desenvolvimento da pesquisa. Porém, assim como autor aponta é prudente discutir inicialmente as contribuições de Michel Foucault para a teoria de Fairclough, pois estas apontam as limitações do primeiro que repercute diretamente na Análise de Discurso Textualmente Orientada, doravante ADTO.

Dentre os estudos e conceitos produzidos por Michel Foucault, destacaremos neste texto a concepção de discurso utilizada pelo autor, assim, pode-se observar que para o autor o discurso precisa ser visto de forma constitutiva, ou seja, o discurso ele pode ser produzido e reproduzindo em diferentes espaços, contribuindo para a transformação da realidade,

sobretudo por estar atrelado a construção de significados que são absorvidos através dos discursos (FOUCAULT, 2007).

A partir disso, é possível conceber o discurso como um conjunto de enunciados, esses enunciados são compostos por relações entre objetos dentro de uma formação discursiva. (FOUCAULT, 2007). Outrora, o próprio Fairclough (2001), aponta que dentre as produções por Foucault, existem dois aspectos que contribuem com sua proposta de análise, a primeira se relaciona a concepção adota para compreensão do discurso, sendo este construído de forma social e historicamente, desta forma mantem relação direta com quem produz e reproduz esses discursos, justamente por situar as ordens do discurso e apontar as questões que autorizam ou desautorizam o discurso. Em um segundo momento, o mesmo autor coloca que outro importante conceito discutido pelo autor é a prática discursiva, essa sendo definida por suas relações com outras práticas, o que Fairclough posteriormente como interdiscursividade/intertextualidade.

Assim, para Fairclough (2001), discurso pode ser entendido como uma ação que parte de pessoas ou grupos sociais e que podem agir sobre o mundo e sobre a sociedade, mas também um modo de representação. Esse discurso se constitui, a partir de estruturas sociais e que possuem significados que constroem e reconstroem o mundo. Ainda complementando a ideia de discurso, precisamos compreender que:

...concepção de discurso que eu venho defendendo, a qual envolve um interesse nas propriedades dos textos, na produção, na distribuição e no consumo dos textos, nos processos sociocognitivos de produção e interpretação dos textos na prática social em várias instituições, no relacionamento da prática social com as relações de poder e nos projetos hegemônicos no nível social (FAIRCLOUGH, p. 276, 2001).

Dessa forma, percebemos que não existe discurso “vazio”, pois discursos fazem parte e se constroem e se constituem a partir das relações histórico-sociais, assim, o autor acredita que o discurso possui a capacidade de promover mudança social, uma “ruptura hegemônica”. É necessário compreender que o discurso é uma prática, que se constitui e constrói significados no mundo, assim, o discurso passa a refletir diretamente nas transformações sociais da sociedade.

Assim, para o autor, a análise do discurso perpassa por um modelo tridimensional, essas três dimensões são: o texto, a prática discursiva e a prática social (FAIRCLOUGH, 2001). Entendemos neste trabalho, cada dimensão dessa da seguinte forma:

A dimensão ‘texto’ cuida da análise linguística de textos. A dimensão ‘prática discursiva’ especifica a natureza dos processos de produção e interpretação textual. A dimensão ‘prática social’ cuida de questões de interesse na análise social, tais como as circunstâncias institucionais e

organizacionais do evento discursivo (MARQUES, ANDRADE E AZEVEDO, p. 60, 2017).

Para compreender com maior clareza cada uma das dimensões que compõe a análise do discurso, é importante perceber que na dimensão do texto, podemos considerá-la como elemento fundamental para compreender a análise textual discursiva se constitui, para isso, esta pode ser realizada observando quatro aspectos importantes o vocabulário, a gramática, a coesão e a estrutura. Esses itens que Fairclough (2001) chama atenção nesta etapa de análise possibilitam a compressão do ponto de vista interpretativo do discurso como texto, pois esse precisa ao final ter uma coerência, ou seja, ele precisa fazer sentido, como o autor aponta que “um texto só faz sentido para aquele que nele vê sentido” (p.113), ou seja, aquele que é capaz de interpretar e formar opinião sobre o que absorveu.

O discurso como prática discursiva mantém relação direta com três aspectos, a produção, a distribuição e o consumo. Assim, na tentativa de materializar esses aspectos podemos considerar que a pratica discursiva busca identificar a partir do discurso que produz o discurso, mas também identificar o lugar que emite esse discurso, a partir disso podemos identificar que na pratica discursiva também é possível observar como esse discurso será reproduzido, ou seja, como esse esta se distribuindo, e por fim na prática discursiva é possível atentar-se para quem este discurso se direciona, ou seja, quem está consumindo esse discurso (público-alvo) (FAIRCLOUGH, 2001).

Portanto, é prudente que situemos o discurso a partir dos diferentes contextos (social, político, econômico, cultural) e atentando para a compreensão do lugar de quem emite o discurso e para onde ele se direciona (produção e consumo). Para isso, existem duas categorias fundamentais no discurso enquanto prática discursiva, a intertextualidade, que é se refere a constituição de um novo texto que possui elementos de textos anteriores, e a interdiscursividade, que é a relação de um discurso sendo construído com elementos de discursos anteriores.

A última dimensão de análise do discurso é a prática social, essa não está contraria a prática discursiva, porém nesta dimensão, dois conceitos são basilares na compreensão de um discurso enquanto prática social, o de ideologia e hegemonia, esses conceitos perpassam essa dimensão por acreditar-se que o discurso hegemônico ou ideológico pode levar sujeitos a reproduzirem discursos ainda que estes não façam sentidos a partir de sua prática social. Dessa forma, podemos compreender que essas dimensões acontecem simultaneamente no estudo e está associada uma construção de elementos históricos que

perpassam os discursos produzidos, pois qualquer ato social é um movimento de produção de sentidos, portanto discursos são elaborados e perpassados na sociedade.

Diante desses aspectos Fairclough (2001) vai apontar que “ao usar o termo ‘discurso’, proponho considerar o uso de linguagem como forma de prática social e não como atividade puramente individual ou reflexo de variáveis situacionais Isso tem várias implicações (p.91)”, nesse sentido, é importante perceber que “o campo da política educacional é eminentemente um campo de disputas, de lutas pela hegemonia, de práticas articulatórias. É, portanto, um ‘terreno’ não suturado, mas atravessado por relações contingentes, cuja natureza a análise discursiva pode ajudar a investigar (MARQUES, ANDRADE E AZEVEDO, p. 68, 2017).

5. PARA ALÉM DO TEXTO: OS PROGRAMAS, PROJETOS E AÇÕES DE