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CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSÕES

4.1 A APA Morro do Urubu

Segundo Plácido (2005), a terminologia Morro do Urubu deve-se a uma chacina de índios ocorrida ali no século XIX. A carnificina encontrada no local atraiu um grande número de urubus. Contudo, o fato é que esses animais permanecem no local até hoje. A explicação mais plausível é que o espaço sempre foi um dormitório de urubus, por ser o ponto mais elevado da cidade protegido pela mata.

A condição física do Morro do Urubu remete a um sítio natural elevado, no qual se localiza o Parque da Cidade “Governador José Rollemberg Leite”, o qual é abrangido pela APA (Figura 06), onde há ocorrencia de terraços marinhos planos e baixos onde se desenvolve o tradicional arruamento do bairro, pertencentes à margem direita do Rio Sergipe; a Invasão do Coqueiral em terrenos das encostas do Morro e da planície flúvio-marinha, com ou sem mangue, apresentando no prolongamento desta Invasão a ponte sobre o Rio do Sal (SILVA, 2004).

Entretanto, apesar de abrigar o ultimo remanescente de Mata Atlântica do municio de Aracaju, o interesse do poder público para a preservação do Morro do Urubu deu-se a partir da década de 1970. Conforme Silva (2004), no ano de 1975, técnicos da prefeitura procuraram a coordenação de Recursos Naturais do

Figura 06 – Morro do Urubu visto a partir do Rio Sergipe. Fonte: MATOS, A. A. - Trabalho de Campo, 2009.

CONDESE para solicitar um levantamento da cobertura vegetal da área com o intuito de implantar uma “floresta urbana”. A prefeitura municipal de Aracaju em 1979 adquire uma área correspondente a 299 hectares para a implantação de uma área de lazer, o futuro Parque José Rollemberg Leite, este por sua vez tinha a finalidade de contribuir para a preservação dos fragmentos de Mata Atlântica nativa existente naquela área (PINTO, 2008).

Contudo, o funcionamento do parque não impediu o incremento das atividades agrícolas de subsistência, tampouco das ocupações e invasões no local (Figura 07). Em vistas da área especificada no decreto de criação da APA, observa-se que no período de 1979 a 1993, parte da mata (aproximadamente 86 hectares) foi devastada, principalmente pela forte pressão urbana no entorno da unidade (PINTO, 2008).

Em conseqüência dos conflitos pela ocupação desordenada da área e sua conseqüente degradação ambiental, no ano de 2000, foi criado o Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica - RBMA (decreto 18.638, de 21/02/2000 – em anexo VII), tendo como atribuições, o dever de promover a conservação da biodiversidade do desenvolvimento sustentável e do

Figura 07 – Bairro Porto Dantas visto a partir do Morro do Urubu. Fonte: MATOS, A. A. - Trabalho de Campo, 2009.

conhecimento científico da Mata Atlântica e seus ecossistemas associados, além do dever de assegurar, no Estado de Sergipe, a reserva da Biosfera da Mata Atlântica reconhecida, inclusive, pela UNESCO10. A missão e as funções da RBMA estão de acordo com as preconizadas pelo Programa Homem e Biosfera11 para as reservas da biosfera que consistem na conservação da biodiversidade, promoção do desenvolvimento sustentável, fomento à pesquisa, monitoramento e à educação ambiental.

Em 19 de Julho de 2006 foi emitido Parecer Técnico aprovando a renovação do titulo de Posto Avançado da RBMA ao Parque Estadual José Rollemberg Leite (anexo VIII), justificando sua renovação a partir da disponibilidade de infra-estrutura mínima necessária para atendimento ao público e realização de atividades de educação ambiental que estão sendo realizadas na área do Parque e a produção do conhecimento cientifico realizado através de parcerias com a Universidade Federal de Sergipe e a Universidade Tiradentes. Vale ressaltar que não há registro de nenhuma reunião do Comitê da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica do Estado de Sergipe posterior ao parecer que renovou o título do parque.

Segundo o Diagnóstico Ambiental da APA Morro do Urubu realizado em 2004, o Porto Dantas, região caracterizada como área rural pela ocupação de sítios com atividades agrícolas e salinas até a década de 60, iniciou seu processo de urbanização a partir da construção da Avenida Euclides Figueiredo (em 1975), quando surgiu então o primeiro loteamento, iniciando assim, o processo de ocupação da zona norte da cidade (caracterizado de forma lenta e gradual). Na década de 90, com a construção da segunda ponte ligando a capital ao município

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Organização das Nações Unidas para a educação, á ciência e a cultura

11 O Programa Homem e Biosfera (MaB – Man and the Biosphere) foi criado como resultado da

"Conferência sobre a Biosfera" realizada pela UNESCO em Paris em setembro de 1968. O MaB foi lançado em 1971 e é um programa de cooperação científica internacional sobre as interações entre o homem e seu meio. Busca o entendimento dos mecanismos dessa convivência em todas as situações bioclimáticas e geográficas da biosfera, procurando compreender as repercussões das ações humanas sobre os ecossistemas mais representativos do planeta (www.rbma.org.br/mab/unesco_01_oprograma.asp)

de Nossa Senhora do Socorro, intensificou-se a urbanização no local, surgindo, assim, o assentamento subnormal do Coqueiral (PINTO, 2008).

Em se tratando de um problema socioambiental, as ocupações subnormais e seu conseqüente impacto ambiental constituem-se como reflexo de algumas camadas sociais de menor poder aquisitivo, que ocupam áreas sem qualquer tipo de infra-estrutura urbana, ordenamento territorial ou mesmo a titularidade da área ocupada, constituindo dessa forma assentos subnormais conhecidos popularmente por favela. A região do Coqueiral localizada no bairro Porto Dantas detém estas características e segundo COOTRAM (2004) a época do Diagnóstico Ambiental em 2004 já havia 4.500 habitantes nestas condições.

O Diagnóstico Ambiental da APA realizado em 2004 aborda questões físicas e ambientais do local. Segundo o estudo, a natureza geológica dos terrenos, do Grupo Barreiras, classificação do Terciário e estruturas de camadas sub-horizontais, diferenciadas em silte-arenosos e argilas variegadas e de textura siltosa, caracterizam a elevação topográfica do Morro do Urubu. Esta caracterização mostra que os solos reagem mecanicamente às intervenções, por escavações e remoção da cobertura vegetal, com a queda da resistência e conseqüente erosão superficial.

Em relação à fauna e flora no local, o diagnóstico ambiental da APA identificou que a formação vegetal corresponde originalmente a Floresta Mesófila Decídua. De acordo com o mesmo documento, podem-se distinguir na área os ecossistemas manguezal (presente na área de influência indireta, altamente antropizados, inclusive) e Mata Atlântica. O levantamento da flora mostra a pequena variabilidade florística para o ambiente de Mata Atlântica, tendo sido encontradas 59 espécies nativas do ecossistema. Em se tratando do inventário da fauna, foram identificadas 40 espécies, predominando as de ampla importância ecológica, onívoras e de pequeno porte. Esse resultado reflete o processo de antropização pelo qual a região vem passando (PINTO, 2008).

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