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5. Metodologias de ensino favoráveis ao desenvolvimento de competências globais

5.1. Metodologias ativas

5.1.3. A Aprendizagem Baseada em Projetos

O Ensino com base em Projetos tem sido amplamente aplicado em particular às áreas científicas como a Engenharia, através de outras abordagens como a Aprendizagem com base em Problemas (Aida Guerra 2014).

Trata-se de uma metodologia com ênfase na lógica do “aprender a fazer”, mas também no “aprender a transformar-se e a transformar o mundo”. De acordo com Sandra Fernandes e Maria Assunção Flores (2011), a Project-Led Education (PBL), tal como é comum nas metodologias ativas de ensino, coloca o aluno no centro do processo de ensino-aprendizagem promovendo “o trabalho em equipa, o desenvolvimento do

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espírito de iniciativa e da criatividade, o desenvolvimento de competências de comunicação e do pensamento crítico”.

Segundo as autoras, esta metodologia proporciona também a “articulação entre os conteúdos numa perspetiva interdisciplinar”, característica particularmente importante para a integração do ensino de língua com os conteúdos da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (Aida Guerra 2014). O PLE na sua vertente mais prática implica a aprendizagem colaborativa em que os trabalhos de grupo são fundamentais e o resultado é um produto final concreto. À semelhança do que vimos anteriormente com o AILC (ou CLIL), o PLE permite a combinação de conteúdos de diferentes áreas, como. por exemplo. o ensino de línguas estrangeiras com outras disciplinas:

De uma forma geral, o PLE promove o trabalho em equipa, a resolução de problemas e a articulação teoria/prática, através da realização de um projecto que culmina com a apresentação de uma solução/produto a partir de uma situação real, articulada com o futuro contexto profissional (Powell & Weenk, 2003). O PLE apresenta vantagens também ao nível da aquisição e desenvolvimento de competências transversais, uma vez que permite a integração de conteúdos de diferentes unidades curriculares (UCs), evitando-se, assim, a compartimentação do saber decorrente da divisão por UC (Heitmann, 1996; Helle et al., 2006). (Fernandes & Flores 2011: 307)

O site The Glossary of Education Reform33 refere também o conjunto de habilidades

que os alunos terão de aplicar durante a execução das atividades dos projetos em que forem envolvidos, cuja duração, ainda de acordo com a mesma fonte, pode ir de uma semana a vários meses, todo um semestre ou um ano:

When engaged in project-based learning, students will typically be assigned a project or series of projects that require them to use diverse skills—such as researching, writing, interviewing, collaborating, or public speaking—to produce various work products, such as research papers, scientific studies, public-policy proposals, multimedia

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presentations, video documentaries, art installations, or musical and theatrical performances, for example. Unlike many tests, homework assignments, and other more traditional forms of academic coursework, the execution and completion of a project may take several weeks or months, or it may even unfold over the course of a semester or year.

No decurso da aplicação desta metodologia em turmas (na área de Engenharia) do Ensino Superior em Portugal, as autoras Sandra Fernandes e Maria Assunção Flores (2011) destacaram os aspetos positivos mencionados pelos alunos e professores: a motivação relacionada com a aprendizagem com vertente prática, o desenvolvimento de competências de comunicação e resolução de conflitos e a relação mais próxima entre aluno e professor com um feedback mais ativo. Por outro lado, a sobrecarga de trabalho, o cumprimento de prazos e a gestão de tarefas, as dificuldades decorrentes da negociação de grupo e a gestão desses conflitos tanto para alunos como para docentes foi vista como negativa.

No contexto específico da aplicação do Ensino baseado em Projetos ao ensino de línguas estrangeiras, Erin Mikulec e Paul Chamness Miller (2011) analisaram a forma como este tipo de metodologia poderia ser utilizado para alcançar os standards nacionais (EUA) relativos ao ensino de língua estrangeira (neste caso francês). Para além das características já mencionadas sobre o processo de ensino-aprendizagem através de projetos, estes autores mencionam uma componente adicional que se trata de uma reflexão sobre o processo e o produto final durante a implementação da metodologia de projeto e da necessidade de ensinar a competência cultural como parte integrante das restantes competências essências à aprendizagem de línguas: ouvir, falar, ler e escrever. Os autores referem-se ao conceito de “meaningful instruction” para se referir à abordagem comunicativa:

When one learns about the language (e.g., through methods such as grammar translation or audiolingual instruction), one learns for reasons such as passing an exam. However, when one learns through the communicative approach, one learns to use the language (Lightbown and Spada 1999). Richards and Rodgers (1986) also maintain that in order for learning to occur, it is important for language learners

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to engage in meaningful tasks where they use language for real purposes. (Mukulec e Miller 2011: 82)

Alguns exemplos específicos dados pelos investigadores deixavam de lado exercícios descontextualizados em detrimento de atividades baseadas em contextos reais:

(…) students might work in pairs where one student gives clues in the target language describing an object, and the other partner must guess what the object is. Another example is to ask students to bring in a picture from a family vacation. Each student describes, either in written or oral form, what was going on when the picture was taken. In both of these situations the learner must use language for a real, meaningful purpose. (Mukulec e Miller 2011: 82)

Neste mesmo estudo, Mukulec e Miller (2011: 85) apontam alguns dos desafios na implementação do Ensino Baseado em Projetos tais como: a necessidade de planeamento prévio e detalhado da aula, no qual o docente deve determinar todos as metas e objetivos e de que forma o projeto permitirá atingi-los; a criação de propostas baseadas em temas interessantes para os alunos e que os motivem a empenhar-se; durante o desenrolar do projeto, o docente deve continuamente guiar e orientar os grupos e assegurar-se de que todos os alunos estão a comunicar na língua-alvo e a trabalhar nas atividades do projeto e ajuda-los no processo de aprendizagem.

Outro desafio está relacionado com a questão de integrar o estudo da língua e cultura para estimular a compreensão de outras culturas (não apenas a da língua-alvo) seria necessário aplicar vários projetos de enfoque em várias outras culturas. É também difícil assegurar o uso da língua alvo fora da sala de aula, embora a internet e outras tecnologias permitam neste momento o acesso a outros contextos de contacto com a língua sem se limitarem à aula de língua. Neste caso, outra preocupação, segundo os autores, deverá ser que todos os alunos tenham igualdade de oportunidades no acesso a recursos de que necessitam para completar as atividades/tarefas que escolhem. Para isso, é fundamental que exista espaço e material durante a aula para fazer as atividades. Os aprendentes deverão também ser capazes de usar o tempo de que dispõem de forma

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eficiente, devendo as instruções dos docentes ser o mais explícitas e detalhadas possível e a estrutura dos projetos clara.

Em situações de maior longevidade e complexidade de alguns projetos e das tarefas a ele associadas, é recomendado pelos investigadores incluir um sistema de reporte ao professor de forma a garantir o acompanhamento de todos os elementos do grupo.

Por último, o nível linguístico dos alunos pode também colocar alguns desafios a aplicação desta metodologia, para ultrapassar estas questões os autores sugerem alguns exemplos adequados aos níveis:

For example, in the beginning levels, tasks might include descriptions of self and family or simple poems. At the intermediate level, tasks might include narrations, dialogues or written responses to current events in the target culture. Finally, at the more advanced levels of language study, tasks might include creative writing and mini- dramas. (Mukulec e Miller 2011: 86)

Desta sequência de desafios, podemos também alavancar as maiores vantagens: “Great teachers are great learners” uma das conclusões resultantes do relatório da OCDE sobre o Futuro da Educação (2017: 71), os melhores professores estão constantemente a aprender e as melhores aulas são aquelas em que os alunos têm um papel mais ativo que o professor. Estas conclusões integram o capítulo sobre “active learning” que implica um comportamento ativo, com propósito, baseado na curiosidade e no pensamento ativamente crítico direcionado para o questionamento e procura constante de sentido nas atividades que se desenvolve, sendo este o principal objetivo do presente estudo.

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6. A Educação para a sustentabilidade - a experiência A Maior