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3. As fases de aprendizagem da leitura

3.5. A importância do conhecimento das letras e da consciência fonêmica na

3.5.2. A aprendizagem formal da consciência fonêmica

Durante a Educação Infantil a instrução explícita é a maneira mais eficiente das crianças aprenderem a se concentrar na análise de fonemas nas palavras. Há várias maneiras para ensinar a consciência fonêmica por meio de tarefas. O ensino pode ser feito pela extração de fonemas iniciais ou finais das palavras; identificação de fonemas compartilhados em palavras diferentes; segmentação de palavras em fonemas compartilhados em palavras diferentes; segmentação de palavras em fonemas; mistura de fonemas; pronúncia de uma palavra reconhecível ou apagar fonemas de palavras e depois dizer qual fonema permaneceu (Ehri & Roberts, 2006).

Essas tarefas podem ser ensinadas oralmente ou com marcadores que podem ser fornecidos para representar os fonemas que estão sendo manipulados. Esses marcadores podem ser os dedos das mãos, fichas de jogos, imagens da boca articulando fonemas particulares, ou letras do alfabeto que representam os fonemas manipulados. É importante ressaltar que ensinar a consciência fonêmica é um meio para atingir o objetivo do ensino da leitura e não um fim em si mesmo, ou seja, não é o ensino puro e simples de fonemas que vai garantir a aprendizagem efetiva da leitura. Esse ensino servirá de base forte para que a aprendizagem da leitura seja construída de forma sólida.

Ensinar as crianças a segmentar palavras em fonemas usando letras, é na verdade, ensiná-las a inventar grafias de palavras. Isso permitirá a eficácia do ensino da

consciência fonêmica e, também reforçar a aprendizagem da leitura e da escrita (Ehri & Roberts, 2006).

Castiglioni-Spalten e Ehri (2003) realizaram um estudo com 33 crianças em duas escolas. Ambas as escolas não ensinam as crianças a ler no jardim de infância. Para serem incluídas no estudo as crianças tinham que estar na fase alfabética parcial, possuir pouca consciência fonêmica e conhecer o nome de 13 das 17 letras alvo. As autoras realizaram dois tipos de intervenção: uma intervenção utilizando imagens de articulação fonêmica (fotos de bocas) e uma intervenção com imagens de ouvido para ensinar a consciência fonêmica. Os resultados da experiência desenvolvida pelas autoras mostraram que ambas as formas de instrução: com imagens de articulação fonêmica e com as imagens do ouvido para o ensino da consciência fonêmica foram eficazes, em comparação ao grupo controle, sem instrução alguma desse tipo. A habilidade da consciência fonêmica foi transferida para a tarefa de escrita para ambos os grupos que escreveram palavras com mais precisão do que o grupo controle. O treinamento com imagens de articulação foi transferido para a tarefa de leitura. Segundo as autoras o estudo tem pontos fortes. Os dados sugeriram que a instrução oral feita com as imagens de articulação fonêmica pode ter sido mais envolvente em comparação com a instrução de ouvido, ou seja, pareceu haver preferência com relação às imagens articulatórias. Essa preferência se deve ao fato de que as crianças precisam conquistar a consciência fonêmica com a instrução articulatória, ou seja, ensinar este ingrediente explicitamente pode ser a melhor maneira de garantir que ele seja aprendido. Se a instrução com imagens de articulação revela-se mais atraente e motivadora que a instrução com imagens de ouvido, como os resultados sugeriram, os professores podem facilitar o ensino em consciência fonêmica se eles usarem as imagens de bocas. Outro fator importante com relação à instrução articulatória é que ela facilita a conexão de processo de formação para lembrar como ler as palavras. Dessa forma, ensinar a consciência fonêmica com esse tipo de instrução pode exercer um impacto maior no aprendizado imediato de palavras. As autoras esclarecem que ambas as formas de instrução utilizadas no estudo não transformam as crianças em leitores da fase alfabética plena, mas as duas formas de instrução fortalecem os processos na fase alfabética parcial.

Um estudo realizado por Boyer e Ehri (2011) com crianças da Educação Infantil, na fase pré-alfabética, teve como objetivo verificar se a instrução em consciência fonêmica ajudaria a criança a mover-se para a fase alfabética parcial e a capacitá-la a ler

e escrever palavras. A hipótese das autoras era de que a intervenção com imagens articulatórias (fotos de bocas) ajudaria a fixação de fonemas e grafemas na memória na aprendizagem de palavras. Participaram do estudo 60 crianças de quatro e cinco anos. Foram formados três grupos de crianças: no primeiro grupo as crianças receberam instruções das correspondências de fonemas e segmentação fonêmica utilizando cartões com letras; no segundo grupo as crianças receberam a mesma instrução que o primeiro grupo recebeu e, além disso, foram ensinadas a segmentar palavras em fonemas com imagens de articulação fonêmica; no terceiro grupo as crianças não receberam nenhuma instrução.

As autoras concluíram que as intervenções na segmentação de fonemas realizadas com letras isoladas ou combinadas com imagens de articulação ajudaram as crianças na habilidade de escrita fonêmica e elas transferiram essa habilidade para a leitura de palavras e não-palavras. A adição das imagens de articulação foi positiva para a segmentação de letras, sete dias depois (pós-teste 2). O grupo que recebeu o treinamento com imagens de articulação foi superior ao grupo que não recebeu essas instruções em segmentação fonêmica, oralidade e leitura, no pós-teste das não-palavras. Uma explicação para a contribuição da formação de articulação na segmentação para o processo de aprendizagem da leitura de palavras por reconhecimento automatizado é fornecida pela visão conexionista de aprendizagem proposta por Ehri (2005). Os resultados mostraram que as crianças que receberam o treinamento da articulação foram capazes de ler ou escrever palavras no pós-teste e, assim, se deslocaram para a fase alfabética parcial. Esses resultados dão suporte à teoria de Ehri (2005) no que diz respeito ao conhecimento de letra e segmentação fonêmica. Esses conhecimentos são centrais para permitir que as crianças se movam da fase pré-alfabética para a alfabética parcial. Outra explicação para o fato das crianças do grupo ensinado com imagens de articulação terem tido melhor desempenho é que essa formação pode melhorar a memória fonológica das crianças. Essa melhora pode permitir-lhes lembrar como ler as palavras. Dito de outra forma é possível que quando as crianças aprendem a escrever palavras em fonemas aprendem as ligações fonema-grafema tornando-as incorporadas no sistema de representação fonológica. Esse sistema de representação fonológica serve para distinguir constituintes fonêmicos para prolongar a sua duração na memória quando as palavras são ouvidas e, portanto, a capacidade de repetir não-palavras é reforçada. As autoras ponderam que a validade externa do estudo é limitada porque os

participantes foram pré-escolares da classe média-alta e tinham o vocabulário acima da média, além de saberem as letras-alvo.

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