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A apresentação de Corpo Permanente de Árbitros pelo centro de arbitragem da

CAPITULO III – O CENTRO DE ARBITRAGEM DA ANATEL

3.3. A apresentação de Corpo Permanente de Árbitros pelo centro de arbitragem da

Dentro da função de administrar o procedimento arbitral, o centro de arbitragem da Anatel pode124 fornecer uma lista de pessoas aptas a exercerem a função de árbitro, o Corpo Permanente de Árbitros.

Vera Cecília Monteiro Barros125 esclarece que o fornecimento de uma lista de árbitros tem por objetivo garantir a qualidade da arbitragem. A prática revela que as partes, muitas vezes, buscam essas listas de árbitros e se sentem seguras e

124 As Câmaras e Centros de Arbitragem geralmente possuem lista sugestiva de árbitros, pois não é

algo indispensável. Note-se que a Corte Internacional de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional – CCI não possui lista de árbitros. Não existe restrição à nacionalidade do árbitro, na legislação nacional, podendo ser indicado árbitro um cidadão brasileiro ou estrangeiro. (LEMES, Selma Maria Ferreira. O papel do árbitro. Disponível em: http://selmalemes.adv.br/artigos/artigo_juri11.pdf. Acessível em julho de 2019.)

125 BARROS, Vera Cecília Monteiro. A reforma da Lei de Arbitragem e as listas de árbitros. In

CHAHALI, Francisco (org) Arbitragem: estudos sobre a Lei n. 13.129, de 26/5/2015. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 602.

confortáveis com elas. Isso acontece porque as partes têm a ciência que as instituições examinam a idoneidade do árbitro e seus atributos profissionais, pessoais, éticos e morais, conferindo legitimidade ao processo arbitral. Ao criar as listas, as entidades objetivam controlar a qualidade dos procedimentos que administram, pois têm receio de que a livre indicação dos árbitros possa comprometer a seriedade e o prestígio da arbitragem.

Diante dessas características, oportuno se pensar que os centros de arbitragem, ao fornecer as suas listas, o façam como lista fechada, isto é, apontando a impossibilidade de que sejam escolhidos árbitros fora de sua lista.

Francisco José Cahali126 bem descreve a importância da lista fechada de árbitros como medida de controle da Câmara de Arbitragem.

Algumas instituições restringem a atuação sob sua gestão apenas aqueles que constam de sua relação de árbitros, ou exige que alguns deles seja o te predo painel. A chamada “lista fechada” permite à Entidade o controle, em certa medida, da qualidade das decisões, pois nela integram aqueles profissionais que previamente foram reconhecidos por um órgão (geralmente Conselho) da instituição pelos seus méritos, sendo periódica também a revisão para manutenção ou alteração de nomes, e acompanha- se a dinâmica dos árbitros no procedimento arbitral, uma vez que estes ficam sob os cuidados da Entidade. Dessa forma, esta opção de “lista fechada” tem sentido e razão de existir. Certamente muito ainda se debatera a respeito, não só quanto a essência da previsão, como também a propósito de como seria o controle da escolha pela câmara, especialmente quanto ao efeito da respectiva decisão. Por exemplo, recusada a escolha no controle exercido pelo órgão competente da instituição, promove-se nova indicação, indefinidamente, até que algum árbitro seja aceito, ou manter-se- á o(s) escolhido(s), transformando-se o procedimento em arbitragem “ad hoc” (cf. Capitulo 5, item 5.3.2. Arbitragem ad hoc ou avulsa), substituindo o quanto previsto na convenção a respeito. Sob este aspecto, entendemos que não se poderá impor â Instituição, contra suas regras e em oposição A decisão do órgão competente^, por mais impropria que eventualmente seja a conclusão, a obrigação de administrar o procedimento, não teria proposito a intervenção na intimidade da entidade e deliberações com fundamentação ligada à estratégia e valores internos corporis. Desta feita, no embate final entre a vontade das partes e a decisão contraria da Instituição, deve-se ter por afastada a administração do procedimento pela entidade escolhida, seguindo-se a arbitragem ad hoc, ou administrada por outra instituição a ser escolhida pelas partes.

Ocorre que a Lei n. 13.129, de 2015 alterou o art. 13 da Lei de Arbitragem, o qual passou a ter a previsão de que as partes poderão escolher árbitros que não os presentes na lista fornecida pelo centro, mas autorizou que seja estabelecido um

126 CAHALI, Francisco José. Curso de Arbitragem. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, p.

procedimento de controle sobre a indicação de árbitros fora da lista127. Vera Cecília Monteiro Barros128 descreve a motivação dessa alteração como uma forma de coibir a reserva de mercado.

As regras das Câmaras de Arbitragem sobre nomeação de árbitros fazem parte das disposições sobre a condução administrativa dos procedimentos e há certo rigor nas instituições quanto à possibilidade de alteração de tais regras, sempre na busca pela excelência na prestação do serviço. Algumas instituições são mais rígidas que outras na condução da questão. Na medida em que as principais Câmaras de Arbitragem brasileiras possuem listas de árbitros, como veremos a seguir, sendo que várias delas determinam que o árbitro único ou o Presidente do Tribunal Arbitral seja necessária ou preferencialmente membro destas listas, passou-se a questionar a restrição à autonomia da vontade das partes na livre indicação dos árbitros e a criação do que se costuma chamar de reserva de mercado dos árbitros.

E foi com o objetivo de coibir tal reserva de mercado dos árbitros e para dar maior aplicação à autonomia da vontade das partes, que é um dos grandes pilares da arbitragem, é que foi aprovada a nova redação o art. 13, § 4º da Lei Brasileira de Arbitragem.

Nesse ponto, tendo em vista a expressa previsão de que as partes podem escolher árbitros não pertencentes ao Corpo Permanente de Árbitros, entende-se que o regulamento já deve, previamente, estabelecer quais serão as regras de controle a serem observadas para a admissão de árbitros não pertencentes a sua lista, conforme prevê a segunda parte do § 4º, do art. 13 da lei de Arbitragem.

Como apontado, o ganho para a sociedade na constituição do centro de arbitragem da Anatel é existir um centro de arbitragem especializado em questões que envolvem o setor de telecomunicações, com um procedimento preestabelecido, facilmente identificável e divulgado publicamente, sobre o qual se tenha confiança

127Art. 13. Pode ser árbitro qualquer pessoa capaz e que tenha a confiança das partes.

§ 4º As partes, de comum acordo, poderão afastar a aplicação de dispositivo do regulamento do órgão arbitral institucional ou entidade especializada que limite a escolha do árbitro único, coárbitro ou presidente do tribunal à respectiva lista de árbitros, autorizado o controle da escolha pelos órgãos competentes da instituição, sendo que, nos casos de impasse e arbitragem multiparte, deverá ser observado o que dispuser o regulamento aplicável.

128 BARROS, Vera Cecília Monteiro. A reforma da Lei de Arbitragem e as listas de árbitros. In

CHAHALI, Francisco (org) Arbitragem: estudos sobre a Lei n. 13.129, de 26/5/2015. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 589.

nos critérios avaliativos e no que tange à capacidade técnica daqueles que compõem o seu Corpo Permanente de Árbitros.

Ora, apesar de não ser o centro de arbitragem o responsável direto pela decisão arbitral, a reputação dele é diretamente afetada pela dos árbitros que por ele são chancelados para atuarem, utilizando-se dos seus regulamentos e estruturas129.

129 De fato, as partes não precisam vincular-se a um órgão arbitral institucional ou entidade

especializada para poder utilizar-se do regulamento de procedimento arbitral por ela estabelecido. Isto é, podem as partes utilizar-se da ideia procedimental estabelecida em um regulamento, se este for um documento público.