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7.2 JORNALISMO SEM POLITIQUÊS

7.2.1 A aproximação com o público

A diretora do canal, Beatriz Prates, pontua que, além da informação mais aprofundada defendida pelo programa Sem Politiquês, o mais importante seria a preocupação em contar bem a história, e contá-la de maneira simples. Inclusive, para Myrian Clark, essa característica é uma forma de fidelizar o público, já que possibilita a diversidade de opiniões.

No programa do dia 16 de outubro, Haddad num beco sem saída, a jornalista Daniela Lima utiliza uma série de figuras de linguagem. Entre elas: “O que aconteceu no Senado? Ali foi um maremoto, terremoto, procure o desastre que quiser” e “Ninguém mais quer ver o Brasil no buraco” (SEM POLITIQUÊS, 16 de outubro de 2018). Estas declarações são do programa apresentado após o primeiro

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turno das eleições de 2018, quando foram divulgados os Senadores e Deputados eleitos. A utilização de palavras com outra denotação poderia gerar mau entendimento da informação. Contudo, na Internet essa coloquialidade pode aproximar o internauta. Isso acontece porque a linguagem utilizada está mais próxima de sua realidade e do cotidiano, sendo possível devido às transformações proporcionadas pela convergência digital.

Além desses exemplos, para falar dos resultados do primeiro turno das eleições, Daniela usa a seguinte expressão: “o eleitor deu um chute em quase metade dos deputados que já estavam na Câmara e colocou pecinhas novas” (SEM POLITIQUÊS, 09 de outubro de 2018). Além de repassar as informações, Daniela consegue adicionar um tom de humor e descontração em suas falas. De acordo com Barbeiro e Lima (2002), a característica da comunicabilidade é fundamental no audiovisual, para criar proximidade e empatia com seu público. A diretora do canal Beatriz Prates pondera que mesmo sendo assuntos mais sérios, a apresentadora fala de forma simples e brinca com os internautas, com piadas ou apenas um tom mais descontraído. Os assuntos políticos geralmente envolvem legislação, questões judiciais e outros temas mais complexos. A apresentadora Daniela Lima, de fato, consegue traduzir as informações com facilidade através da linguagem.

Ela não fala de um jeito muito formal, tem essa coisa da linguagem que ela usa, que é bem acessível e a pessoa consegue entender o que ela está falando. Ela é uma pessoa divertida na hora que vai dar a notícia, consegue sair desse “politiquês”, que seria esse jeito de falar todo complicado, e transmitir a notícia de uma forma bem didática. Sem ser chata. (PRATES, 2019).

Além do Sem Politiquês, a diretora do canal ressalta que essa descontração observada no programa é uma característica do My News como um todo. Os demais programas também buscam agregar uma linguagem leve. A exemplo, o Segunda Chamada, apresentado por Antônio Tabet. Ele, que trabalha com humor também no YouTube, no canal Porta dos Fundos, apresenta temas do cotidiano no My News, inclusive políticos, e adiciona o bom humor à apresentação. Beatriz Prates (2019) comenta que este tipo de abordagem ajuda a despertar o interesse do público pela política.

O canal My News oferece aos internautas um ambiente para o debate saudável. Não apenas o Sem Politiquês, mas também os outros programas buscam

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envolver diferentes assuntos, personagens e posicionamentos, sem gerar conflito ou benefícios para um ou outro envolvido. Em outros programas do canal, os diretores possibilitam a presença de pessoas com diferentes ideologias em um mesmo debate, justamente com o objetivo de promover a troca de ideias e mostrar ao internauta as diferentes visões sobre um assunto. Esse tipo de abordagem dificilmente acontece nos veículos tradicionais de comunicação.

Além da locução em tom de conversa para aproximar-se de seu público, a apresentadora lança alguns questionamentos ou comentários, instigando quem assiste a pensar um pouco mais sobre o assunto em questão. Ao falar sobre a campanha de Bolsonaro no programa Duelo de Titãs: propaganda eleitoral na TV x Internet, publicado em 4 de setembro de 2018, ela questiona: “será que com a força que ele tem na Internet ele vai conseguir se blindar dos ataques que ele sofre na TV?” (SEM POLITIQUÊS, 04 de setembro de 2018). Isso faz com que o internauta pense sobre o assunto, mesmo que logo em seguida apareça a explicação ou a contextualização do fato. Neste mesmo vídeo, ela inicia o assunto já de uma maneira coloquial: “terça-feira da semana decisiva, galera” (SEM POLITIQUÊS, 04 de setembro de 2018).

O programa também funciona como uma aula de cidadania, já que a jornalista utiliza o espaço para chamar atenção do internauta para alguns assuntos. Nos programas publicados durante as eleições de 2018, Daniela Lima alerta para que os eleitores prestem atenção nas notícias e campanhas dos candidatos, principalmente nas últimas semanas que antecedem as votações. Ela fala, ainda, para que votem com consciência; que tenham a mente tranquila para votar nulo ou branco caso desejem; e que prestem atenção aos nomes de deputados que elegeram para cobrar ações. Além disso, em vários programas a jornalista responde aos questionamentos feitos pelos internautas em vídeos anteriores. Esse contato permite que o internauta tenha a sensação de pertencimento ao veículo, o que geralmente não acontece na TV aberta, por exemplo. A Internet possibilitou uma participação mais ativa dos internautas. De acordo com Bernadazzi e Costa (2017), além do contato mais próximo, o público pode direcionar sua atenção apenas para o conteúdo que lhe interessa e selecionar suas preferências.

Por possibilitar uma diversidade de informações, contextualização e explicação dos fatos em detalhes, Beatriz Prates (2019), ressalta que o programa é feito para qualquer público, desde aquele que não está por dentro do cenário até um

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agente financeiro que precisa estar sempre por dentro das novidades políticas, sabendo o que vai acontecer ou as possíveis turbulências. Para quem já possui conhecimento mais avançado sobre política, o conteúdo do programa pode parecer cansativo ou superficial, mas, de qualquer forma, ele ajuda a elucidar questões que são úteis para qualquer público.

Em alguns momentos, a apresentadora recebeu críticas sobre a divulgação dos dados das pesquisas e acusações sobre informações falsas. Diante disso, ela ressalta o que havia falado em vídeos anteriores, destacando que o importante nas pesquisas não é o número final, e sim a curva ascendente. Dessa forma, a jornalista reforça o trabalho da equipe e a garantia de credibilidade. Ela também faz um pedido para que o internauta siga acompanhando as informações do programa, já que o cenário político estava sofrendo mudanças constantes e passando por alguns escândalos. “Como eu sempre digo, pesquisa não é previsão do resultado da eleição, pesquisa é indicação de tendência. Como você também está tendo chance de acompanhar, tudo está mudando muito rápido” (SEM POLITIQUÊS, 25 de setembro de 2018).

Nos comentários é possível perceber que o público sente a liberdade de dialogar com a jornalista e sugerir mudanças ou alertar sobre alguma falha. Isso acontece porque Daniela Lima ressalta esse pedido a cada programa e dá a liberdade para tal. Pontes (2018) revela que durante as eleições foram registrados softwares automatizados que disseminaram conteúdo partidário em redes sociais, com postagens no Twitter e Facebook, por exemplo. No YouTube uma série de comentários feitos no programa Sem Politiquês são de perfis sem fotos ou vídeos publicados, no entanto, não é possível afirmar que se tratem de bots sem uma análise mais complexa.

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