Neste subcapítulo são elencadas algumas referencias arquitetónicas em taipa, edificadas no território Português nos últimos 25 anos. A amplitude da faixa temporal deve-se a escassez de referencias. Todos os exemplares abaixo mencionados foram edificados em taipa.
Fig. 51 – Fotografia do edifício (Fernandes & Correia, 2005)
Fig. 52 – Fotografia do edifício (Fernandes & Correia, 2005)
Nome/tipologia: Atelier Alexandre Bastos Local: São Luís, Odemira
Ano: 1993/1995
Arquiteto: Alexandre Bastos
Empresa construtora: Equipa do mestre taipeiro José Maria Manuel Área: 110 m2 / Volume de taipa: 90 m3
Tipo de taipa: Taipa extraída de solos com características distintas; Técnica
tradicional; Taipa autoportante sem estruturas adicionais; 166 blocos (0,50 X 0,50 X 2,20); Argamassas diversas; Ausência de reboco, taipa à vista quer nas alvenarias exteriores quer nas interiores;
Outras características: Embasamento em betão de cimento; Alicerces
segundo a técnica romana (mistura de pedra e cal); Abertura em arco numa das empenas; Cobertura em telha Lusa assente em estrutura de madeira.
Fig. 53 – Fotografia do Mercado (Fernandes & Correia, 2005)
Fig. 54 – Fotografia do lateral (Fernandes & Correia, 2005)
Nome/tipologia: Mercado de São Luís Local: São Luís, Odemira
Ano: 1998
Requerente: Câmara Municipal de Odemira e Junta de Freguesia de São Luís Arquiteto(s): Teresa Beirão e Alexandre Bastos
Tipo de taipa: Taipa não portante; Alvenarias com extensas superfícies de
terra à vista; Sinais de evidente degradação (descolamento dos rebocos; arrastamento dos finos da terra; remendos em cimento).
Outras características: Alicerces e estrutura em betão; Uso de redes de
95 Fig. 55 – Fotografia da habitação (Fernandes
& Correia, 2005)
Nome/tipologia: Habitação particular do arquiteto Henrique Schreck Local: São Teotónio, Odemira
Ano: 1998
Arquiteto: Henrique Schreck
Tipo de taipa: Alvenarias exteriores com cerca de 50 cm de espessura;
Alguns painéis não apresentam revestimento.
Outras características: Cobertura em telha Lusa assente em estrutura de
Fig. 56 – Fotografia das habitações (Betão e Taipa, 2006)
Fig. 57 – Fotografia do exterior das habitações (Betão e Taipa, 2006))
Nome/tipologia: Cantar do Grilo - Habitação unifamiliar e edifício de
turismo rural
Local: Serpa
Ano: 2006 (habitação unifamiliar); ampliação em 2008 (edifício de turismo
rural)
Arquiteto: Maria da Luz Seixas Empresa construtora: Betão & Taipa Área: 593 m2 / Volume de taipa: 411 m3
Tipo de taipa: Taipa executada com terra proveniente da abertura dos
caboucos das fundações; Reboco tradicional de cal aérea em pasta e caiação com introdução de pigmentos naturais.
Outras características: Estrutura em betão armado; Tetos em abóbada e
caniço; Pavimento em tijoleira artesanal.
97 Fig. 58 – Fotografia da habitação (Betão e
Taipa, 2006)
Fig. 59 – Perspetiva do edifício (Betão e Taipa, 2006)
Nome/tipologia: Habitação unifamiliar em Vale de Rocins Local: Salvada, Beja
Ano: 2006
Arquiteto(s): Bartolomeu Costa Cabral, João Gomes e Mário Anselmo
Crespo
Empresa construtora: Betão & Taipa Área: 550 m2 / Volume de taipa: 260 m3
Tipo de taipa: Taipa executada com terra proveniente da abertura dos
caboucos das fundações; Alvenarias com cerca de 60 cm de espessura; Utilização de rede na interface de ligação entre as paredes de taipa e os elementos de betão; Reboco tradicional de cal aérea em pasta e caiação com introdução de pigmentos naturais.
Outras características: Estrutura mista de betão armado e madeira com
remates em zinco; Chapas de aço reforçadas com cutelos sobre as aberturas; Alvenarias interiores em tijolo furado; Pavimentos em tijoleira artesanal, madeira e auto-nivelante; Teto em madeira ou com laje maciça à vista; Moradia autosuficiente. Reboco tradicional de cal aérea em pasta e caiação com introdução de pigmentos naturais.
Fig. 60 – Fotografias de detalhes (Betão e Taipa, 2007)
Nome/tipologia: Herdade do Rocim – Adega Local: Cuba
Ano: 2007
Requerente: Movicortes Arquiteto: Carlos Vitorino
Empresa construtora: Betão & Taipa Volume de taipa: 660 m3
Tipo de taipa: Taipa executada com terra proveniente da abertura dos
caboucos das fundações; Taipa sem função estruturante com alvenarias com cerca de 10 metros de altura e 60 cm de espessura; Ausência de reboco.
Outras características: Estrutura em betão armado revestida por
alvenarias em taipa.
99 Fig. 61 – Fotografia da habitação (Betão e
Taipa, 2007)
Fig. 62 – Fotografia da construção (Betão e Taipa, 2007)
Nome/tipologia: Habitação unifamiliar Local: Ferreira do Alentejo
Ano: 2007
Arquiteto: Arquisol / Maria da Luz Seixas Empresa construtora: Betão & Taipa Área: 90 m2 / Volume de taipa: 61 m3
Tipo de taipa: Taipa executada com terra proveniente da abertura dos
caboucos das fundações; Rebocos à base de cal aérea em pasta e pinturas com tintas de silicatos.
Outras características: Estrutura mista em betão armado e madeira e
arcos em blocos de terra comprimida (BTC); Alvenarias interiores em BTC; Tetos em caniço e barrotes de madeira.
A semelhança do que tem acontecido nos restantes países industrializados, a arquitetura contemporânea em taipa em Portugal sofreu algumas alterações nos últimos anos. Autores como Schreck, Bastos ou Beirão apoiam-se numa abordagem mais neo romântica de arquitetura vernácula em taipa, que se reflete na linguagem arquitetónica das suas obras. Os elementos secundários das alvenarias destacam-se na leitura do edifício. Os embasamentos, elementos de remates dos vãos ou mesmo os tipos de coberturas inspiram-se na linguagem das arquiteturas vernaculares alentejanas. Outros autores como Costa Cabral, Correia ou Vitorino têm uma abordagem conceptual diferente, seguindo uma linguagem arquitetónica mais depurada e mais modernista. Ao analisar-se as obras desses mesmos autores pode-se verificar que eles expressam linhas mais minimalistas. Os elementos secundários as paredes de taipa tentam diluir-se no desenho arquitetónico do edifício. Os embasamentos, remates, reforços dos vãos aparecem em soluções mais esbeltas. As coberturas planas são introduzidas como elementos autónomos às paredes em taipa, deixando de desempenhar a funcionalidade de um “bon chapeau” que os avanços das coberturas garantiam. O revestimento das paredes de taipa torna-se inexistente, manipulando a plasticidade do material. A obra de Seixas embora apresente uma volumetria muito próxima das casas vernaculares em taipa alentejana, ideia reforçada pela opção da sua cobertura inclinada em duas águas, pode- se observar que o avanço da mesma é quase inexistente. Seixas resolve o remate da cobertura com um simples beirado. O dimensionamento dos seus vãos também se inspira na arquitetura vernacular onde a dimensão dos vãos é reduzida. Embora o edifício se inspire na arquitetura tradicional, o tratamento dos remates dos vãos e dos elementos da construção seguem linhas mais puristas e despidas de ornamentação. A leitura da volumetria purista é acentuada pelo tratamento do revestimento exterior da construção onde as paredes em taipa apresentam-se rebocadas.
Em suma, analisando os exemplares acima referidos, podemos concluir que a arquitetura contemporânea tem vindo a sofrer alterações conceptuais, à
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imagem do que se tem produzido pelo mundo, em países industrializados, em Portugal a construção em taipa tem vindo a se aproximar cada vez mais da linguagem arquitetónica moderna das construções edificadas com materiais convencionais.