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A assessoria como alicerce metodológico da intervenção

CAPÍTULO II. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

2. A intervenção

2.1. A assessoria como alicerce metodológico da intervenção

Relativamente à intervenção em si, e como tenho vindo a referir, considerei tratar-se de um trabalho inserido no campo das assessorias às escolas (Bolívar, 2003). A escolha da auto-avaliação como foco central da intervenção foi bastante natural, depois de ouvidas as preocupações da Coordenadora do TEIP, e após o primeiro contacto com a instituição, e o conhecimento prévio que já tinha, resultante da análise feita ao PE. A Equipa de auto-avaliação foi formada no inicio do ano lectivo 2009/2010 tendo por função desenvolver e realizar o processo de auto-avaliação do TEIP, desde a sua planificação, construção de instrumentos e análise dos mesmos e redacção dos respectivos relatórios de avaliação. A equipa era constituída por professores do Agrupamento sem experiência nesta actividade, encontrando-se neste papel pela primeira vez, com poucos conhecimentos sobre as directrizes para a auto-avaliação, bem como com poucos conhecimentos teóricos sobre o processo em si, nas várias perspectivas e teorias sobre avaliação. Logo no primeiro contacto senti que a equipa estava algo desorientada. Assim, tornou-se claro que o TEIP, e nomeadamente a equipa de auto-avaliação, necessitavam de alguém que os ajudasse a dar início ao processo. A minha presença nas reuniões, enquanto alguém externo à instituição foi sentida como fundamental solicitando-me opinião para todas as questões. Nesta posição assumi a

postura “amigo crítico” defendida por Leite (2002) e definida como «… alguém em quem se confia e com quem se está disposto a partilhar receios, dúvidas e também os êxitos […] e a quem se reconhece competência para connosco colaborar» (Leite, 2002:97), procurando ajudá-los a dotar-se de ferramentas materiais, pessoais e profissionais para desenvolverem o processo, ganhando autonomia crescente e capacitando-se enquanto executores desta complexa e importante tarefa.

É no quadro destes argumentos e tendo em conta as necessidades detectadas, que justifico a opção pela assessoria como metodologia de intervenção. Nesta linha os assessores constituem-se como facilitadores do processo de mudança, e como estimuladores de:

«… inovação das escolas […] Segundo esta perspectiva o assessor actua como um dinamizador do processo de desenvolvimento organizativo da escola. Em vez de se apresentar como um perito que diagnostica os problemas […] e propõe soluções […] o assessor, enquanto agente da mudança, trabalha em conjunto com os professores, quer fazendo de mediador entre o conhecimento pedagógico e as escolas, quer colaborando na identificação e solução de problemas» (Bolívar, 2003:209).

Esta foi a orientação que segui na intervenção que desenvolvi junto do TEIP em geral e da equipa de auto-avaliação, em particular.

Esta opção permitiu-me manter um acompanhamento constante e uma contínua contextualização face à realidade do Agrupamento e às necessidades do TEIP e da Equipa, o que por sua vez foi crucial para o meu papel de assessora externa, construindo e efectivando uma intervenção que se inclui nos verdadeiros moldes da intervenção em Ciências da Educação, pensada para o contexto, de acordo com as suas características e necessidades, sendo os sujeitos agentes activos do processo e não meros alvos da acção, trabalhando numa lógica conjunta e de cooperação. Como assessora da Equipa de auto- avaliação, procurei adoptar uma postura de profissional em educação, com conhecimentos técnicos e teóricos, sem me apresentar como especialista possuidora de respostas certas, mas sim como uma voz aliada, que apresenta diferentes e novas perspectivas e opiniões, auxiliando e possibilitando uma reflexão conjunta, a fim de encontrar respostas para os desafios e problemas que a Equipa encontrou no seu percurso.

Assessoria e Auto--Avaliação: uma experiência de intervenção em contexto TEIP

FPCE UP 45

Dentro dos modos de assessoria relativamente à permanência no tempo e forma da relação, devido às necessidades do TEIP e características do processo de auto- avaliação, o meu trabalho foi de assessoria temporal14, tendo eu assessorado a equipa de auto-avaliação durante a maior parte do ano lectivo 2009/2010, tempo em que decorreu o primeiro ano do processo de avaliação.

Segui, como na parte teórica sustentei, uma postura assente na filosofia: «Trabalhar ―com‖ em vez de intervir ―em‖» (Bolívar, 2003), procurando trabalhar conjuntamente com a equipa de auto-avaliação, em reflexões e discussões conjuntas e partilhadas, numa relação de igualdade de estatuto. Esta atitude alia-se, por sua vez, à perspectiva da «Função de mediação/ligação» (ibidem) adoptando o papel de ponto de ligação entre conhecimento existente sobre a avaliação e auto-avaliação, na teoria e práticas, transmitindo-as à equipa.

As tarefas realizadas no âmbito da assessoria serão apresentadas num dos próximos pontos deste relatório. Ainda relativamente às opções metodológicas é necessário referir que ao longo do tempo de estágio recolhi notas de terreno das várias reuniões e visitas ao TEIP e equipa de auto-avaliação. A intenção subjacente à tomada de notas de terreno foi a de manter um registo actualizado do decorrer do processo, bem como das “vozes” da equipa, das questões e necessidades que iam surgindo à medida que o processo se desenvolvia, para que, assim, pudesse ir adaptando a minha abordagem para responder às solicitações e necessidades.

A opção por estes registos permitiu ainda registar elementos das reuniões que me parecessem relevantes, bem como construir percepções sobre o funcionamento das reuniões e o modo como os diferentes actores iam reagindo às propostas a que tinham de responder. Em síntese, estas notas permitiram-me a recolha de informação contextualizada, mantendo um registo constante da evolução dos trabalhos, da equipa e da realidade e contexto, e tornaram-se elementos cruciais para a intervenção. Assumimos, portanto, as notas de terreno como «… formas de um estágio inicial de análise durante a recolha de dados, contendo informação bruta necessária para uma análise elaborada posterior» (Fetterman, 1998:107)15.

14

De acordo com as orientações sobre as formas de realizar assessoria, apresentadas no ponto 3.3. da

Parte II.

Ainda dentro das opções metodológicas recorri à entrevista semi-estruturada. Assim, elaborei uma, à coordenadora do TEIP, de modo a ser possível ouvir, na primeira pessoa, as suas ideias e concepções sobre a auto-avaliação, procurando identificar processos, e qual a sua percepção sobre o processo desenvolvido. Correspondendo ao tipo de entrevista referida, construi um guião organizado de acordo com aquele que é o tema de interesse, mas que se desenvolve com total abertura às ideias e concepções do entrevistado, procurando-se ouvir as suas opiniões e deixar o seu pensamento e discurso fluírem livremente. Desta forma, citando Bogdan & Biklen, (1994) «…a entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo» (ibidem: 134).

Por razões de foro temporal, a entrevista não foi realizada em tempo presencial. Dado o pouco tempo que possuía, e o quotidiano igualmente ocupado e frenético da Coordenadora do TEIP, tornou-se mais exequível o envio do guião via email, para que fosse respondido e posteriormente me fosse reenviado para análise, o que veio a acontecer.