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A assistência profissional na prevenção e solução de conflitos locatícios

CAPÍTULO 4 Perspectivas da mediação na prevenção e solução

4.3 A assistência profissional na prevenção e solução de conflitos locatícios

Sempre que o mediador identificar a necessidade da assistência de um profissional de formação específica, deverá sugerir às partes que participem do procedimento de busca dessa assistência.

A assistência profissional pode ser realizada por diversos profissionais: advogados, psicólogos, assistentes sociais e outros. O profissional a ser escolhido vai depender da área deficitária que requer a assistência profissional.

Se a área deficitária for jurídica, deve-se buscar um advogado conhecedor do procedimento de mediação e, preferencialmente, que já tenha assistido, em outras oportunidades, a tal procedimento, pois o seu desconhecimento ou inexperiência pode comprometer toda a solução que está sendo construída. Esse profissional, por um dever do ofício, analisará todos os detalhes legais com a máxima cautela e talvez, por milímetros de desajuste às

leis, interferirá negativamente na concretização do acordo.

A contratação de um advogado que não acredita no processo de mediação ou tem uma atitude preconceituosa sobre a mediação pode ser um erro estratégico lastimável. Além da hipótese pouco provável de um acordo com a presença desse profissional, as partes podem perder a confiança no processo e se fecharem para a alternativa da mediação em qualquer outra oportunidade.

Os advogados que investem na litigiosidade atrapalham o processo de mediação e devem ser mantidos longe da sala em que se realiza seu procedimento.

Segundo Álvarez477, a maioria dos advogados realiza uma apresentação inicial dirigida ao mediador, relatando sua versão da história em

linguagem carregada de justa indignação e tão adversarial como se estivessem se dirigindo a um juiz cuja mente se busca persuadir contra o adversário.

Segundo Serpa478, o problema central da presença dos advogados na mediação é que os mesmos ainda estão voltados para o trabalho de enquadrar todas as coisas e pessoas, o que dificulta uma visão ampla e flexível de todos os fatores determinantes de uma situação.

Segundo Álvarez479, a maioria dos advogados não se prepara e nem a seus clientes para uma atuação adequada no procedimento da mediação.

De modo amplo, pode-se dizer que qualquer profissional que for auxiliar uma das partes no processo de mediação deve ter conhecimento desse processo e da sua seriedade e, acima de tudo, deve respeitar e acreditar na possibilidade de as partes concretizarem autonomamente uma solução para os seus problemas

Segundo Lagrasta Neto480, os advogados têm papel de destaque na implementação dos meios alternativos. Para o autor, os advogados devem participar mais ativamente nesse trabalho, prestando efetivamente assistência jurídica (mais ampla do que a judiciária, voltada exclusivamente para a representação em juízo), indicando aos interessados a forma de esclarecimento para todas as questões, buscando evitar os conflitos e acreditando nos meios alternativos.

478 SERPA, Maria de Nazareth. op. cit., p. 306.

479 Para uma boa mediação, os clientes devem saber e entender o procedimento; a variedade de opções e possíveis compromissos alternativos capazes de solucionar a questão; o que se pode considerar justo, de acordo com as circunstâncias e com realismo; o alcance de uma disputa e o valor de poder apreciar as emoções dos demais; a importância de saber escutar com a mente aberta e predisposta à reavaliação do problema; quais são as suas melhores e piores alternativas, no caso de se chegar a um acordo ou não, além de outros tópicos. ÁLVAREZ, Gladys S. op. cit., p. 244.

Para Vezzula481, o mediador é um profissional que não pode dar nenhum tipo de assessoramento legal ou de qualquer outra espécie que não o de mediador, ou seja, enquanto trabalha como mediador, apenas pode exercer essa função. Não pode exercer outra profissão concomitantemente.

Segundo Vezzula482, a mediação não é uma técnica de aplicação obrigatória pelos advogados. O mediador não precisa nem mesmo ser formado em Direito. Para esse autor, a mediação é um conjunto de técnicas e de ciências de origens diversas e, fundamentalmente, um modo diferente de enfrentar os conflitos que só pode ser coordenado por um mediador.483

Muitos advogados são hostis à idéia de as partes construírem a solução de seus conflitos sozinhas ou através de um mediador sem formação em Direito; pensam que apenas o profissional com formação jurídica tem a capacidade de realizar um acordo justo.

Parte dessa idéia é fruto do medo que certos advogados têm da mediação. Eles a vêem como uma ameaça ao seu campo de trabalho.484

Vezzula485 recomenda que, antes de ser assinado, qualquer acordo seja revisado por um advogado, ainda que o mediador seja também advogado.

Essa revisão tem um aspecto positivo e outro negativo. O positivo é a possibilidade de verificação do ajuste do acordo firmado ao ordenamento jurídico

481 VEZZULLA, Juan Carlos, op. cit., p. 116. 482 VEZZULLA, Juan Carlos, op. cit., p. 116. 483 VEZZULLA, Juan Carlos, op. cit., p. 116. 484 SERPA, Maria de Nazareth, op. cit., p. 305. 485 VEZZULLA, Juan Carlos, op. cit., p. 116.

pátrio, até mesmo facilitando, se for necessária, a utilização da via judicial para a execução do acordo firmado.

Os aspectos negativos são: a) encarecimento do processo, devido ao custo da prestação de serviço de mais um profissional; b) perda parcial da característica principal da mediação, que é a voluntariedade, pois o advogado, ao realizar a comparação entre os dispositivos legais e o acordo entabulado, mesmo que indiretamente, recomendará nova redação de algumas cláusulas contratuais, bem como alterações e outras medidas; c) morosidade do processo, uma vez que, após toda a mediação concluída, seu produto será submetido à vistoria de um advogado, o que torna o processo menos célere.

Não é necessário que, antes de ser assinado, qualquer acordo seja revisado por um advogado. Entretanto, o mediador deve recomendar essa revisão quando julgar necessário.

Caso essa revisão seja encarada como requisito indispensável à mediação, a solução proferida se distanciará cada vez mais da solução alternativa dos litígios, correndo-se o risco do retorno, a passos largos, ao formalismo tão caro aos juizes, promotores e advogados ineficientes.486

A assistência profissional na prevenção e solução de conflitos locatícios segue o procedimento normal de quase toda mediação, pois cabe ao mediador avaliar a necessidade ou não da assistência de um profissional de formação específica no caso por ele analisado.

486 LAGRASTA NETO, Caetano. Meios alternativos de solução dos litígios. Revista dos Tribunais, volume 639. São Paulo: Revista dos Tribunais, janeiro de 1989, p. 22/31, p. 23.