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2.4 O DESIGNER, SUAS IMPLICAÇÕES E DIFERENÇAS NA ATUAÇÃO

2.4.3 A atuação do designer em cursos e projetos de EaD

Desde o surgimento da função do designer até o momento atual, muitas mudanças ocorreram em relação à compreensão do seu papel em cursos de ensino a distância. Se houve momentos em que o DI e o DE eram tratados com outras nomenclaturas, como tecnólogo educacional, projetista, ou ainda engenheiro pedagógico, cuja função era de inserir aos materiais didáticos elaborados pelo professor suportes tecnológicos para atender às necessidades do ensino contemporâneo, atualmente, devido aos diversos estudos científicos na área, houve uma abrangência na discussão sobre o tema, inferindo maior importância na atuação do profissional, além da compreensão sobre o seu papel.

Hoje o designer não somente verifica as possibilidades tecnológicas adequadas para o projeto de curso e materiais didáticos, como também acompanha, planeja e auxilia na

elaboração de cursos. Além disso, esse profissional acompanha a equipe multidisciplinar durante o processo, a fim de garantir que o conteúdo refletido e planejado pelo professor chegue ao estudante de forma fiel aos conceitos e metodologias propostos. Assim, o que no ensino presencial é de total responsabilidade do docente, no ensino a distância o professor conta com uma equipe de diferentes perfis para auxiliá-lo nesse processo.

Nessa concepção, Belloni (2003, p. 81) apresenta o conceito de professor coletivo e o define como “a transformação do professor de uma entidade individual em uma entidade coletiva”. Ou seja, o trabalho que antes era isolado e solitário, passa a ser em equipe, priorizando a colaboração.

No meio científico, há outra vertente da EaD que trata do trabalho do professor nomeada de polidocência. Nesse conceito Mill (2010) trata da docência em cursos a distância como um trabalho do coletivo, segmentado e hierarquizado, que extrapola os saberes docentes e abarca todos os perfis, de diferentes habilidades e competências que possam emergir em um projeto de EaD.

Se por um lado Mill ressalta e valoriza o trabalho do designer, por outro o autor descentraliza e desvaloriza o saber docente com a afirmação: “Quem ensina na EaD é um polidocente”. (MILL, 2010, p. 24), compreendendo que o polidocente mencionado é qualquer membro da equipe multidisciplinar. Assim, por não concordar com o conceito da polidocência, esta pesquisa se baseará no conceito do professor coletivo, que preenche mais assertivamente a visão desta pesquisa.

A equipe multidisciplinar em EaD refere-se aos perfis de todo o processo de desenvolvimento do curso. Cada metodologia empregada nos modelos de cursos a distância possui formas diferenciadas em determinar a equipe, mas o que se vê com maior frequência são grupos de profissionais especialistas em áreas distintas, conforme apresentado a seguir.

Coordenação pedagógica.

Docentes e professores autores (nesse caso, pode ser o mesmo professor que seleciona e elabora os conteúdos didáticos a acompanhar os alunos durante o ensino aprendizagem, ou profissionais diferentes atuando separadamente durante o curso). Designer educacional e/ou designer instrucional.

Revisor ortográfico (que realizam a análise ortográfica e gramatical, além das normas da ABNT).

Programadores (incumbidos do desenvolvimento técnico do AVEA, além de softwares e mídias em metodologias mais inovadoras).

Equipe de tutoria (presencial, que acompanha os alunos nos polos de apoio presenciais e a distância, que dão o suporte de orientação virtual nas atividades desempenhadas durante o curso).

Cada especialista, dentro do projeto de desenvolvimento de cursos a distância, tem seu papel previamente estabelecido em um processo hierárquico. Contudo, Belloni (2003) adverte para o fato de que há modelos em que a figura do professor fica desligada do processo global de ensino, denotando a ele apenas uma das partes de concepção do projeto.

O modelo de EaD tem sido identificado com os modelos ‘fordistas’ de produção industrial, por apresentar as seguintes características principais: a racionalização, a divisão acentuada do trabalho, o alto controle dos processos de trabalho, a produção em massa de “pacotes educacionais”, a concentração e a centralização da produção e burocratização. (BELLONI, 2003, p. 18)

Esta visão segregada apresenta a ideia de que o professor, dono do conhecimento a ser ensinado, contribui inicialmente na autoria dos conteúdos didáticos, enquanto o restante da equipe dará a sequência pedagógica e técnica necessárias, mas sem o acompanhamento do autor, como exposto na ilustração:

Figura 10: Processo hierárquico de desenvolvimento de materiais e cursos a distância.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

Observa-se que no esquema acima o processo de desenvolvimento do conteúdo didático se dá de forma linear, em que os atores do processo desempenham suas atividades cada um em um momento posterior ao outro, não havendo uma interação entre as fases. O

Professor Seleciona e escreve os conteúdos DI Adequação da linguagem Revisor Ortográfico Análise gramatical Diagrama- dor intervenção nas ilustrações Programa- dor Publicação no AVEA Equipe de Tutoria Estudante

estudante está ao final do processo juntamente com a equipe de tutoria, que nesse tipo de modelo tem acesso ao que será ensinado na mesma fase que o aprendiz, isto é, quando o conteúdo já estiver publicado no ambiente virtual de aprendizagem. Vale ressaltar que, em alguns casos, a tutoria é apenas de acompanhamento, ou seja, não possui formação específica da área, desse modo a orientação e correção das atividades é feita pelo docente. Nos casos em que a tutoria é específica da área de conhecimento do curso, o tutor tem a função de dar continuidade ao andamento do curso, orientando e corrigindo as atividades realizadas pelos estudantes. Importante frisar que nas duas situações, se a metodologia empregada for hierárquica e linear, a tutoria só terá ciência dos conteúdos ao final do processo de elaboração e desenvolvimento.

Sobre o designer, observa-se que no esquema ele surge no meio do processo, entre o professor e o revisor ortográfico, ou na prática, entre o conteúdo específico e a análise ortográfica e gramatical. Nesse contexto, o seu papel refere-se à adequação da linguagem para o modelo da EaD, de modo a tornar o material didático assimilável textualmente ao estudante a distância.

Na perspectiva do conceito do professor coletivo apresentada por Belloni (2003), e também nos estudos desta pesquisa, o designer faz parte de um modelo de concepção de projetos e cursos de EaD da seguinte maneira:

Figura 11: Processo cíclico de desenvolvimento de materiais e cursos a distância.

Tutoria Revisão Ortográfica Diagramador Programador Coordenação pedagógica Designer Professor Ensinar a Aprender Estudante

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

Nessa percepção, o docente é o norteador do conhecimento, porém trabalha em interação com a equipe multidisciplinar. O foco é ensinar o estudante a aprender, pois de acordo com as características da EaD, em que existem diferentes recursos didáticos tecnológicos, além da constante possibilidade de pesquisas pela web, o conteúdo desenvolvido para o curso passa a ser um estímulo ao aprendizado ubíquo, pois de acordo com Santaella (2010) a ubiquidade ocorre “quando a continuidade temporal do vínculo comunicacional é assimilada a uma plurilocalização instantânea”. Ferreira (2005) destaca que esse conjunto de profissionais

[...] se assemelha a uma rede de pessoas cujo conjunto de experiências, conhecimentos, afetos e competências estão interligados e em permanente diálogo com motivação intrínseca caracterizada pela representação interna comum de desejos, necessidades, objetivos e metas [...] (FERREIRA et al., 2005, p. 4).

Em outras palavras, para a efetivação desse modelo, o diálogo é fator preponderante durante o processo de desenvolvimento. No esquema apresentado, o processo passa a ser dinâmico e cíclico, em que todos os envolvidos participam igualmente das decisões, e, em relação à metodologia do curso, a coordenação pedagógica dá o parecer final, e em se tratando do conteúdo didático o docente participa de toda a evolução deste, validando os materiais antes de o estudante ter acesso a eles.

Dentro desse modelo cíclico, o designer aparece entre os personagens que participarão das discussões acerca dos conteúdos e materiais a serem desenvolvidos. Sua função, na visão desta pesquisa, sugere uma atuação dialógica e interativa entre os envolvidos na concepção dos projetos a distância. Para isso, entende-se que, quando o designer possui formação na área de conhecimento, a sua participação se torna mais assertiva, pois dessa forma assegura a especificidade dos materiais e recursos didáticos.