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2.2 ESTUDO EPISTEMOLÓGICO DA TERMINOLOGIA E ETIMOLOGIA DO DESIGN

2.2.2 Estudo semântico

De acordo com Pretto (2005), existem propostas de EaD pautadas na produção de recursos pedagógicos em larga escala, com características de uma produção industrial6. Esses

modelos “fordistas7” apresentam peculiaridades pontuais para o planejamento, implementação

e desenvolvimento de projetos de EaD, como a divisão de tarefas hierarquizando o processo. Além disso, outros termos utilizados remetem também a esse processo industrial, como: produção de material, que compreende a elaboração de materiais didáticos; usuário, para definir o aluno que acessa o ambiente virtual de ensino aprendizagem; cliente, para as Instituições de Ensino Superior (IES); conteudista, para denominar o professor especialista que escreve o material didático; e fábrica ou produtora de conteúdos, compreendendo as empresas responsáveis em desenvolver esses materiais para as instituições de ensino.

No entanto, paradoxalmente, esses modelos baseados na produção industrial adotam, em alguns casos, o uso do termo Design Educacional para definir o profissional que fará a adequação da linguagem dos materiais didáticos, como e-book, videoaulas e objetos de aprendizagem para o formato dialógico que a EaD requer. Nesse contexto, compreendendo que o ato de instruir é distinto do ato de educar, surgem alguns questionamentos: qual papel a Educação exerce nessa função? O DE, caracterizado nesse modelo fordista, é realmente

6 Esse tipo de produção de materiais e cursos foi proposto por Otto Peters, fundador e primeiro reitor da

universidade a distância da Alemanha a Fernuniversität.

7 Fordista é um termo referente ao Fordismo, disseminado pelo norte-americano Henry Ford (1863-1947). O

modelo fordista adveio do mercado automobilístico e industrial em 1914, que se baseava na linha de produção em massa de um produto.

aquele que faz a transposição didática8 voltada ao ensino-aprendizagem? Quais subsídios ele possui para, dentro de um processo hierarquizado, realizar o seu papel educacional? Qual é a dimensão semântica para os termos instruir e educar?

Apesar de o trabalho proposto não ter a expectativa e o intuito de realizar uma pesquisa linguística adentrando os pormenores dos conhecimentos científicos desse campo específico, entende-se que, por ser a linguagem um instrumento de comunicação, estamos diante de uma problemática semântica em que, além da análise terminológica e etimológica das palavras instruir e educar, ou instrucional e educacional, faz-se necessário analisar os sentidos atribuídos a elas, para não gerar um problema de significado ao serem tratadas como iguais. Assim, além do contexto sócio-histórico-cultural, apresentaremos também um breve estudo semântico do tema.

Nesse sentido, a sinonímia, vertente de estudo da semântica, infere que não existem palavras semanticamente iguais, ou seja, que propõem o mesmo significado, apenas palavras que se aproximam quanto ao sentido, pois há diferenças no uso, seja ele técnico, seja afetivo ou cultural.

Para o falante ordinário, aqui entendido como o usuário da linguagem despreocupado com o estudo científico da linguagem – como é o caso dos linguistas –, a necessidade de compreender o significado de palavras isoladas é o mais importante. Ou seja, para tal falante, o fato de que as palavras, quando organizadas em sentenças, contribuem com seu significado para compor o significado da sentença, onde, uma vez em contraste com as outras palavras ali encontradas, podem até mesmo perder seu significado tido como original, não é tão importante quanto o fato de que as palavras apresentam significado por si só, livres do contexto da sentença. (BRAUNER, 2008, p. 27)

A partir dessa afirmação, compreende-se que apesar de ser importante conhecer o significado isolado das palavras instrução e educação, como apresentado anteriormente, o estudo semântico é imprescindível para entender os distintos significados que essas palavras podem adquirir, de acordo com os contextos em que estão inseridos e como essas palavras formam o significado de uma sentença. (BRAUNER, 2008.)

Em uma abordagem mais aprofundada, a semântica lexical, que integra a semântica estruturalista, argumenta que as palavras são definidas umas em relação às outras. Segundo Pustejovsky (1995), que defende a teoria do léxico gerativo, ou seja, a multiplicidade de

8 O conceito de transposição didática foi tratado inicialmente por Michel Varret (1975), mas foi disseminado em

1991 por Yves Chevallard, em La Transposition Didactique: du savoir savant au savoir enseigné, ou seja, “A transposição didática: do saber sábio ao saber ensinado”. Aprofundaremos mais o conceito na seção 2.3.1 deste estudo.

significados que uma palavra pode possuir, o uso criativo das palavras em novo contexto e a permeabilidade dos sentidos em que o significado das palavras remete a outros significados e palavras auxiliam-nos na compreensão da complexidade da discussão do uso das terminologias designer instrucional e designer educacional por fazerem parte de um mesmo campo semântico. Para explicar melhor, se por um lado o contexto de educação e instrução, em uma perspectiva humanista, demonstra-se distantes e distintos, por outro, quando mencionamos “instrução” ou “instrucional”, a compreensão histórica de educação está inserida em sua conjuntura.

Desse modo, ao analisarmos semanticamente o Quadro 4, apresentado anteriormente, em que 29 das obras lidas para esta pesquisa utilizam o termo Design Instrucional em uma perspectiva de instruir, abordada nas teorias de instrução de Gagné, Ausubel e Skinner, num contexto de estímulo, resposta, instrumento ou instrumental, feedback e direcionamento, observa-se, porém, que esse termo é continuamente referido ao ensino. Nota-se, contudo, que no Brasil há uma forte visão humanista, pois em 18 das obras lidas faz-se a opção terminológica por Design Educacional, num contexto geral do processo educacional, elencados pela interação, o didático, o pedagógico, de modo a priorizar a transformação do estudante ao se deparar com aquele objeto de estudo, que no caso da EaD são todos os materiais disponibilizados (AVEA, material impresso, videoaulas, objetos de aprendizagem etc.).

Notou-se também que uma parte das literaturas, cinco no total, utiliza tanto o termo DI quanto o termo DE ao longo do texto, sem fazer nenhuma distinção terminológica, o que nos leva a crer que os autores os entendem como sinônimos, tanto de modo conceitual como na prática de suas atividades.