• Nenhum resultado encontrado

3. Análise das especificidades culturais que influenciam a

4.2 A atuação do MASP à frente de seu acervo de

Instituir um espaço museal não é uma tarefa fácil, devido às múltiplas funções e necessidades específicas referentes aos seus ambientes, acervos e mão-de-obra qualificada. Uma grande logística se faz necessário para o desenvolvimento de um museu para que, assim, os processos de acondicionamento, conservação e exposição ocorram seguramente e possibilitem a perpetuação de seus acervos. No caso dos acervos de indumentárias, devido a sua materialidade frágil e de possível deterioração, a atenção deve ser redobrada. O desenvolvimento de acervos têxteis dependem desde o interesse do museu em colecioná-los “às políticas de conservação e aquisição, aos interesses curatoriais e ao atendimento ao público geral ou especializado, a presença deste tipo de artefato em museus parece distante de consolidar um destino estável” (ANDRADE, 2016, p. 10).

Diferentemente de outros espaços museais, o Museu de Arte de São Paulo oferece, ao seu acervo de indumentárias, avançados sistemas e tecnologias, tanto às exposições quanto ao seu acondicionamento em reserva técnica. Segundo especialistas do setor de Conservação e Restauração do MASP, frequentemente, novos recursos são implantados com a intenção de garantir a perpetuação das indumentárias e artefatos têxteis ao promover conhecimento e ferramentas aos seus colaboradores, assim como, uma estrutura avançada aos seus objetos têxteis.

Estivemos na reserva técnica do MASP, junto a equipe do Centro de Conservação e Restauração, para analisar os vestidos Christian Dior, Salvador Dali e Nelson Leirner e obtivemos a oportunidade de adentrar nesse espaço que como um grande cofre realiza a salvaguarda dos seus mais variados e valiosos bens. Quanto ao setor da reserva técnica que resguarda o acervo de indumentárias, este oferece uma infraestrutura imponente que, segundo Nalu Maria (colaboradora do setor de conservação), garante a conservação dos artefatos ali acondicionados, devido ao controle de luz e temperatura, assim como, a forma de armazenamento das peças. De fato, ao vermos a aparelhagem

e recursos disponíveis, é nítida a impressão de que o MASP realizou um grande investimento em seu espaço de reserva técnica. Investimento este que garantirá a permanência de seu acervo a outras gerações.

Em entrevista à Indranni Taccari, colaboradora do MASP do setor de acervo, foram realizadas algumas perguntas pontuais a respeito do desenvolvimento da coleção de indumentárias e, consequentemente, os seus principais desafios, como narrado a seguir:

Autora: Como ocorreu a escolha dessas indumentárias através dos processos curatoriais (seleção, salvaguarda e patrimonialização)? Obtive em alguns livros e em documentos, no Centro de Pesquisa do MASP, a informação de que houveram doações por parte do Paulo Franco (vestido Christian Dior e Salvador Dalí) e Rhodia (vestido Nelson Leirner), porém gostaria de maiores detalhes sobre o processo de musealização e patrimonialização desses vestidos, pois os processos patrimoniais são o mote de minha pesquisa.

Indranni Taccari: A política cultural de aquisição de peças acompanha as transformações da instituição ao longo do tempo, bem como suas condições técnicas de acondicionamento, por isso uma pesquisa mais extensa é necessária para a obtenção de um panorama dessas transformações, precisamente desde 1951 até o momento atual.

Autora: Qual o tipo de política cultural utilizada no MASP, especificamente, aos objetos têxteis? Quais as maiores dificuldades enfrentadas, quanto ao acondicionamento desses objetos?

Indranni Taccari: Sobre a musealização e patrimonialização das peças de vestuário, estas podem ser vistas também como resultado de iniciativas curatoriais, que por sua vez podem apontar para os contextos mais amplos de políticas culturais adotadas em cada momento da instituição.

Além das informações disponibilizadas pelos colaboradores dos setores de acervo e conservação, para o desenvolvimento dessa pesquisa, também, tive o amparo do Centro de Pesquisa do MASP, no qual recebi o suporte através de importantes documentos institucionais pertinentes aos seus arquivos, assim como, o apoio da equipe dessa área.

A partir da coleta dos dados, primários e secundários, pude realizar o cruzamento de todas essas informações e perceber que pequenas falhas derivadas de possíveis mudanças de equipe e do sistema administrativo

aparecem em seus documentos curatoriais e desenvolvem lacunas nos informes a respeito, especificamente, dos vestidos investigados neste estudo, como apresentado a seguir:

1) Vestido-obra Christian Dior

Figura 107: Ficha catalográfica do vestido Christian Dior Fonte: Arquivo do Centro de Pesquisa do MASP

Ao observarmos a ficha catalográfica do vestido Christian Dior nos deparamos com as seguintes incorreções:

● O tipo de material descrito como de origem natural não coincide com a realidade de composição têxtil que foi desenvolvido, também, com material sintético, especificamente, na saia do vestido e no chapéu. Vale destacar que o chapéu não recebeu a devida atenção, em relação, as suas especificações técnicas. Assim como, houve falta de informações sobre os itens utilizados para a criação dos elementos nos punhos e ao longo da saia.

● A doadora mencionada, Anita Cevidalli Salmoni, não condiz com a realidade de doação informada em documentos institucionais, no qual é indicado como doador o Sr. Paulo Franco.

● A data de doação do vestido, segundo fontes primárias, foi o ano de 1951, diferentemente, do ano de 2002 mencionado na ficha catalográfica.

2) Vestido-obra Salvador Dali

Figura 108: Ficha catalográfica do vestido Salvador Dali Fonte: Arquivo do Centro de Pesquisa do MASP

Na análise da ficha catalográfica do vestido Salvador Dali encontra-se omitida a informação sobre o processo de desenvolvimento e costura que foi realizado, segundo fontes primárias, pelo costureiro russo Karinska, na Casa Vogue, em São Paulo, enquanto apenas a idealização do vestido ficaria na autoria de Salvador Dali.

3) Vestido-obra Nelson Leirner

Figura 109: Ficha catalográfica do vestido Nelson Leirner em parceria com Ugo Castellana e Alceu Penna

Fonte: Arquivo do Centro de Pesquisa do MASP

● O vestido Nelson Leirner, em parceria com Ugo Castellana e Alceu Penna, apresenta o erro sobre o tipo de material, pois, em vez, de ser um tecido de origem vegetal, a composição correta é de origem sintética, intitulado “Rhodianyl”, material este desenvolvido pela própria empresa RHODIA que doou a sua coleção ao MASP.

● Foram excluídos da participação do processo de desenvolvimento do vestido o ilustrador Alceu Penna e o estilista Ugo Castellana, os quais são os responsáveis pela idealização e costura do vestido, enquanto, Nelson Leirner criou a estampa.

As informações desencontradas e omitidas nas fichas catalográficas, em relação aos seus percursos naturais, geram documentos confusos que impedem uma leitura realista, pois a função dos documentos institucionais é o de fornecer,

fidedignamente, a sua própria história, por isso, pede-se a atenção à constante revisão de seus arquivos para que estas arestas sejam reparadas.

Diante dessa investigação, vê-se problemas contornáveis, em relação a outros cenários museais. Apesar desses impasses, é percebível que o MASP, através de sua infraestrutura e política museal interna, oferece um panorama propício ao acolhimento de objetos têxteis e, logo, as suas perpetuações, por isso tem-se no MASP um exemplo a ser seguido por outros espaços museais. Podemos destacar, também, que o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, pioneiramente e naturalmente, realiza a educação patrimonial à sociedade destacando sempre a importância da existência da cultura para o nosso desenvolvimento civilizatório.

Documentos relacionados