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3. Análise das especificidades culturais que influenciam a

4.3 Uma noção sobre Educação Patrimonial

A educação patrimonial objetiva o exercício educativo centrado no Patrimônio Cultural ao visar conhecimento, apropriação e valorização à sociedade sobre a sua herança cultural, através da experiência direta e indireta com as múltiplas expressões da cultura. Esse processo possibilita a capacitação social acerca de uma melhor conhecimento, reconhecimento e apropriação desses bens culturais ao despertar uma consciência de identidade e cidadania desencadeando, dessa forma, a preservação desse legado patrimonial. Portanto, o processo educativo do patrimônio alfabetiza culturalmente a comunidade conscientizando-os sobre a sua relação sociocultural na linha do tempo da história da humanidade, através de mostras e manifestações resultantes da interação entre o homem e o seu meio, como: sítios arqueológicos, centros históricos urbanos ou rurais, produções artesanais ou industriais, expressões folclóricas e saberes populares, entre outros.

A Educação Patrimonial constitui-se de todos os processos educativos formais e não formais que têm como foco o patrimônio cultural, apropriado socialmente como recurso para a compreensão sócio- histórica das referências culturais em todas as suas manifestações, a fim de colaborar para seu reconhecimento, sua valorização e preservação. Considera-se, ainda, que os processos educativos devem primar pela construção coletiva e democrática do

conhecimento, por meio da participação efetiva das comunidades detentoras e produtoras das referências culturais, onde convivem diversas noções de patrimônio cultural (IPHAN).

O desenvolvimento de uma postura educativa sobre o patrimônio cultural à sociedade dependem de frentes atuantes, como, por exemplo, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) que norteia essa ação através do destaque de alguns princípios necessários:

● A sociedade deve participar ativamente dessas atividades educacionais; ● Os legados culturais estão presentes no espaço social da comunidade,

por isso, esses espaços promovem a educação patrimonial;

● O sistema educativo do patrimônio age como um mediador, pois o “patrimônio cultural é um campo de conflito”;

● A ação educativa do patrimônio deve ocorrer paralelamente a “intersetorialidade das políticas públicas” e promover “uma abordagem transversal e dialógica da educação patrimonial” (IPHAN).

Embora, as ações educativas do patrimônio sejam percebidas como algo recente, na verdade, a necessidade dessa atividade já era entendida e implantada, em meados de 1936, desde o anteprojeto para a fundação da Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), hoje conhecido como Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Para o seu anteprojeto, o SPHAN teve Mario de Andrade como mentor do documento que previa a “organização dum serviço de fixação e defesa do patrimônio artístico nacional” (IPHAN, 2014, p. 05).

Já no anteprojeto para a criação do então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN, Mário de Andrade apontava para a relevância do caráter pedagógico estratégico dos museus e das imagens. A criação de um órgão federal dedicado à preservação do patrimônio histórico e artístico nacional foi motivada, de um lado, por uma série de iniciativas institucionais regionais e, de outro, por clamores e alertas de intelectuais, parte deles ligada à Semana de Arte Moderna de 1922, veiculados na grande imprensa brasileira (IPHAN, 2014, p. 05).

O anteprojeto, proposto por Mario de Andrade, destaca-se por ter o princípio artístico como base em seu desenvolvimento e por preconizar a criação de uma “Seção de Museus” que ficaria responsável pela organização dos museus nacionais pertinentes ao SPHAN, como também, a promoção de exposições regionais e federais e da articulação entre os espaços museais inseridos em uma mesma região. Nessa configuração, “os museus municipais deveriam ser ecléticos, com acervos heterogêneos, e os critérios de seleção das peças ditados pelo valor que representam para a comunidade local” (IPHAN, 2014, p. 05). Andrade vislumbrava, também, a organização de museus técnicos, os quais seriam responsáveis através de uma narrativa histórica pela exposição de saberes e técnicas referentes aos ciclos econômicos do Brasil.

Com a contribuição de Mario de Andrade, a convite do ministro da Educação Gustavo Capanema, em 1937, é fundado o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) tendo em seu “dna” dinâmicas voltadas à educação patrimonial.

Desde a sua criação, em 1937, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN manifestou em documentos, iniciativas e projetos a importância da realização de ações educativas como estratégia de proteção e preservação do patrimônio sob sua responsabilidade, instaurando um campo de discussões teóricas, e conceituais e metodologias de atuação que se encontram na base das atuais políticas públicas de Estado na área (IPHAN, 2014, p. 05).

Os espaços museais representam uma rica oportunidade à imersão ao (re)conhecimento dos saberes e práticas de um povo por serem os guardiães e testemunhas de diversas manifestações da cultura material.

A trajetória do desenvolvimento do museu na sociedade ocidental deriva dos cabinets de curiosités que até o final do século XVII era uma prática comum entre os nobres. Porém, o acesso aos acervos desses gabinetes era limitado e apresentado, apenas, pelo colecionador aos seus exclusivos convidados. A partir da Revolução Francesa, mais precisamente de sua premissa à democratização da cultura, os acervos privados dos gabinetes tornam-se acessíveis à população e disponibilizam o seu alcance às obras raras religiosas

e plásticas, assim, originando ambientes que expõe as artes dos ofícios. Outras transformações na sociedade como a Revolução Científica e a Revolução Industrial trariam um novo panorama aos espaços expositivos, enquanto a primeira revolução incluiria máquinas, artefatos e ciências, a segunda revolução incorporaria a tecnologia e teria um novo tipo de público, ou seja, o indivíduo urbanizado e em condições de lazer (FIGUEIREDO; VIDAL, 2013, p. 231).

Nas Américas, o museu representava um símbolo de prestígio e glória da metrópole sendo, portanto, abrigado, por uma arquitetura majestosa e constituído de coleções centradas na cultura européia. Nos Estados Unidos, o Museu Americano de História Natural de Nova York (1869), criado para sustentar uma prova do enriquecimento cultural da nova nação, incorporou a presença de grandes objetos de exposição seguindo a prática expositiva desenvolvida na época (FIGUEIREDO; VIDA, 2013, p. 232).

A partir do século XIX, com a criação do Museu Real (1818) temos o rudimento do marco museal em terras brasileiras, porém com o viés do olhar europeu.

Se analisarmos o conjunto das políticas culturais no Brasil, desde os tempos da colônia, pensando na política de museus e nas coleções herdadas do Estado português, poderemos perceber influências importantes do pensamento europeu acerca das instituições museais, que no século XIX, ultrapassam os antigos gabinetes de curiosidades e privilegiam os museus históricos, com tendências a articular a filosofia iluminista com a discussão da questão nacional e a expor objetos que possuíam a dupla função de relembrar o passado e comprovar fatos da história das nações (FIGUEIREDO; VIDAL, 2013, p. 145).

Durante a Era Vargas, nos anos 30, com a implementação de políticas de cunho social e econômico, buscou-se a criação do Estado Nacional e, consequentemente, da identidade nacional da sociedade brasileira. Logo, em 1934, a partir da atuação de Gustavo Capanema no Ministério da Educação e Saúde, é estabelecida a ideia de proteção de monumentos históricos e artísticos no Brasil.

A partir daí, com a efetiva entrada do Estado na problemática da preservação patrimonial e da criação de museus, é que se pode, de fato, efetivar uma legislação própria brasileira e o ideário do patrimônio passou a ser integrado ao projeto da construção da nação pelo Estado (FIGUEIREDO; VIDAL, 2013, p. 151).

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