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3 O NASCIMENTO DO COOPERATIVISMO E O COOPERATIVISMO NO

3.2 As Cooperativas e a Economia Solidária

3.2.2 A Autogestão

O termo da autogestão encontra-se presente nas orientações das cooperativas, em que se denominam autogeridas pelos seus donos, assim como adotaram os Pioneiros de Rochdale, em 1844.

Nesse sentido, Economia Solidária e Autogestão, se não são sinônimos, são termos que caminham juntos. Podemos mesmo afirmar que há autogestão sem economia solidária e que não pode haver economia solidária sem autogestão. (DOURADO, 2004, p. 2).

A reconversão das estruturas sociais cooperativas pressupõe a construção de outras formas sociais de organização, consulta e gestão democrática aos trabalhadores referindo às práticas de autogestão e cooperação.

Primeiro, porque o capital só pode ser eliminado quando os trabalhadores estiverem aptos a praticar a autogestão, o que exige um aprendizado que só a prática proporciona. De outro modo, o que colocar no lugar da gestão capitalista? Certamente não um planejamento geral que centraliza todas as decisões econômicas nas mãos dum pequeno número de "especialistas" Segundo, porque a economia solidária melhora para o cooperador as condições de trabalho, mesmo quando estas continuam deixando muito a desejar. Afinal de contas, assumir o poder de participar das decisões e portanto de estar informado a respeito do que acontece e que opções existem é um passo importante para a redenção humana do trabalhador. Terceiro: o surgimento e o fortalecimento da economia solidária reforça o poder de luta de todos os trabalhadores assalariados contra a exploração capitalista, no mínimo porque diminui o exército de reserva. (SINGER, 2012, p. 6).

Complementadas por Gaiger (2003, p. 191), as práticas de autogestão e cooperação dão a esses empreendimentos uma natureza singular,

pois modificam o princípio e a finalidade da extração do trabalho excedente. Assim, naquelas práticas: a) predomina a propriedade social dos meios de produção, vedada sua apropriação individual ou sua alienação particular; b) o controle do empreendimento e o poder de decisão pertencem à sociedade de trabalhadores, em regime de paridade de direitos; c) a gestão do

empreendimento está presa à comunidade de trabalho, que organiza o processo produtivo, opera as estratégias econômicas e dispõe sobre o destino do excedente produzido.

Nascimento (2007, p. 31), afirma que

sem dúvidas, o termo “autogestão” é relativamente novo. Contudo, se a PALAVRA é recente, a IDEIA é tão antiga quanto o próprio movimento operário, remontando ao início do século XIX. Sob palavras distintas e doutrinas diferentes, reencontramos a mesma aspiração na qual se inscreve o projeto da autogestão. A autogestão é imanente ao próprio movimento operário e a seu movimento de emancipação.

O termo da autogestão nos empreendimentos cooperativos e solidários recebe uma intencionalidade política ideológica, diferentemente da semântica pura e simples do termo autogerir-se.

A primeira dimensão refere-se às áreas de gestão e administração econômica dos empreendimentos de forma geral. Neste item os trabalhadores precisam superar a “descrença generalizada na capacidade de ‘meros trabalhadores’ de as gerirem com eficiência”. (SINGER, 2012, p. 7). O processo a ser desenvolvido passa, então, pela desconstrução de conceitos e posturas em relação à administração, transformando se num novo saber.

Esta racionalidade se desenvolveu junto com o cientificismo da modernidade, onde há os especialistas com capacidades de gerir empreendimentos complexos e os que se designam ao trabalho manual.

Há que se ressaltar que a autogestão extrapola os aparatos administrativos e burocráticos esperados em uma instituição jurídica. Também é resultado de sua experiência de vida, de sua capacidade de apreender, a partir também da prática, das relações que se constroem, não se limitando a cálculos matemáticos.

A autogestão com base no desenvolvimento de novas capacidades acaba se tornando um processo pedagógico de aprendizado. “A qualificação do trabalhador aprimora a sua formação geral e pode desenvolver, se for oferecida a partir de uma visão emancipadora, uma cultura de solidariedade, de paz e de sustentabilidade”. (GADOTTI, 2009, p. 62).

A segunda dimensão da autogestão é a gestão coletivizada. A autogestão compreendida nas organizações cooperativas com base solidária acredita que a gestão coletiva é uma das condições para estabelecer, com os seus membros, o

ambiente de identidade coletiva e, por este ambiente, construir a mutualidade e reciprocidade de interesses.

Esse sistema implica numa opção por um processo de tomada de decisão cooperativa que ocorre por meio de estruturas que asseguram aos atores sociais o direito de influir nos resultados que os afetam, assim como prevê acesso às avaliações, treinamentos e fontes de confiança para desenvolver e comunicar as próprias preferências. (PRADO, 2007, p. 27).

Esta categoria de autogestão constrói redes de confiança entre os membros, ou ainda estabelece um conjunto de relações sociais resgatando novas formas da vida social das pessoas que passam a ter domínio sobre os instrumentos técnico- gerenciais para a tomada de decisões. Há a geração de conhecimento e comprometimento para com a coletividade.

Nesse sentido, a sociedade autogestionária é uma sociedade de experimentação social, que se institui e se constrói por si mesma. A autogestão é um método e uma perspectiva de transformação social. É um movimento, produto da experiência de vitórias e de derrotas; é um amplo processo de experiências em todo o conjunto da vida social. (NASCIMENTO, 2007, p. 5).

Deste modo, não se pode dizer que apenas o saber escolar será suficiente para a gestão dos empreendimentos coletivos, que se embasam pela autogestão. A autogestão pressupõe a construção da participação organizada, no plano local, gerando um processo de mudanças para a transformação da sociedade (GOHN, 2006), onde cada sujeito, não pela individualidade, mas pela coletividade é capaz de propor referências organizativas para si e para os semelhantes.

É nesse sentido que a prática da categoria da autogestão, dentro da iniciativa de economia solidária, é embasadora. Os processos de compreensão de uma sociedade coletiva requerem mudanças significativas na forma de formar os sujeitos do mundo. Para a economia solidária, exige-se uma mudança cultural nos valores centrados na coletividade, na reflexão sobre o mundo e na práxis humana. (BARBIERI, 2007).