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CAPÍTULO 1: MOTIVAÇÃO PARA APRENDER MATEMÁTICA NO CURSO

1.2. Autorregulação da aprendizagem

1.2.2. A autorregulação da aprendizagem na formação docente

Embora a noção de autorregulação da aprendizagem não seja novidade na formação de professores, pode-se perceber que, nos últimos anos, ela ganhou destaque. Segundo Kremer-Hayon e Tillema (1999), podemos considerar, entre os principais fatores que levaram a esse fato:

 A necessidade de autonomia e da responsabilidade, características que podem ser aplicadas somente se os professores se tornarem aprendizes autorregulados, pois ninguém pode ser autônomo ou responsável pela própria aprendizagem se ela for organizada por terceiros;

 A recente mudança educacional de uma orientação de racionalidade técnica para a reflexão e ação. Esse modelo de racionalidade técnica está em desacordo com o modelo pedagógico que visa envolver professores em uma relação dialógica e igualitária com os alunos. Essa proposta chama a atenção para ambientes de aprendizagem autorregulada em que o aluno possa gerenciar seu aprendizado;  A mudança na percepção dos professores, quanto ao seu papel no processo de

ensino e aprendizagem. O professor percebe que seu papel não é monopolizar o conhecimento, mas, sim, ajudar o aluno a construí-lo;

 O rápido processo de atualização do conhecimento, que exige sempre a formação continuada do professor.

Para ensinar, o professor precisa ter ciência de como acontece o processo de aprendizagem. Ele deve ser capaz de buscar estratégias que lhe permitam a otimização do aprender. Somente assim, ele conseguirá oferecer aos alunos condições para se tornarem protagonistas na construção do conhecimento e buscar caminhos para a sua formação continuada.

Bembenutty et al. (2015) consideram que a autorregulação é como uma empresa social que envolve um aprendiz e um indivíduo que possua os conhecimentos

necessários para guiar esse aprendiz em sua jornada. Com base na teoria social cognitiva de Bandura e no modelo de autorregulação de Zimmerman, os autores descrevem que o desenvolvimento da autorregulação na formação docente requer aprendizes sensíveis a algumas pistas sociais como: atenção, retenção, produção e motivação. E expõem também que tanto estudantes quanto professores têm tarefas e responsabilidades no desenvolvimento da autorregulação, que é composto pelos seguintes níveis, conforme o modelo de Zimmerman: observação, emulação, autocontrole e autorregulação.

A fase de observação envolve a capacidade dos alunos para perceber e manter os padrões comportamentais demonstrados pelo professor, analisando suas estratégias, suas potencialidades e fraquezas. A fase de emulação envolve os esforços dos alunos para reproduzir os padrões observados. Nessa fase, cabe ao professor acompanhar o aluno, oferecendo-lhe feedback sobre seus comportamentos. Na terceira fase, os alunos buscam desenvolver os padrões comportamentais observados sob a mínima orientação do professor. Nessa fase, os alunos devem autoavaliar as estratégias empregadas e cabe ao professor orientá-los quando necessário. A quarta fase envolve a tentativa dos estudantes de reproduzir de forma independente os comportamentos observados. Nessa fase, cabe ao professor incentivar seus alunos por meio de desafios.

Para se tornarem capazes de ensinar, além de dominar os conteúdos específicos, é fundamental que os professores saibam aprender a aprender. Com base em seus estudos em Sternberg (1996), Boruchovitch (2014) apresenta considerações importantes sobre a autorregulação na formação docente, dentre as quais aponta uma questão central, que é a identificação das características e ações de docentes e discentes considerados excelentes por futuros professores. Segundo descreve o autor, essas características são: domínio de conhecimento específico de forma organizada e integrada, amplo conhecimento de procedimentos e capacidade para aprendizagem autorregulada aguçada.

Outros pesquisadores apontados por Boruchovitch, como Dembo (2001) e Veiga Simão (2004), consideram respectivamente que, para melhorar a formação de professores, o ponto de partida deve ser o professor como estudante, suas crenças e seus comportamentos, e que a formação de professores deve ser pensada num processo de dupla vertente, isto é, o professor como alguém que ensina e que aprende.

Recomenda-se que sejam dadas oportunidades para que os professores possam desenvolver sua autorregulação durante sua formação. Docentes em formação devem

refletir sobre sua aprendizagem, sobre suas concepções de ensino, sobre o que os bons alunos fazem para alcançar suas metas e, sobretudo, sobre o que é ser aluno. Pesquisadores consideram que a reflexão é uma forma de o professor ganhar conhecimentos sobre si, mas também uma forma de perceber o papel que ela exerce nas suas ações e no seu pensamento (BORUCHOVITCH, 2014).

Investigações mostram que há possibilidade de promover a aprendizagem de futuros professores, por meio da utilização de alguns instrumentos que favoreçam o desenvolvimento metacognitivo e a tomada de consciência como, por exemplo, os diálogos coletivos, os portfólios, os ciclos de reflexão e análise de estratégias. Ou, ainda, por meio de intervenção sistêmica em curso de formação de professores ou disciplina específica (BORUCHOVITCH, 2014).

Tendo como base as pesquisas desenvolvidas na área da autorregulação de aprendizagem, nota-se que os professores precisam ser melhores preparados para intervir com estratégias para a aprendizagem autorregulada junto a seus alunos.

A consciência dos nossos próprios processos cognitivos, a metacognição, é o que possibilita que iniciemos o seu controle e regulação. Na realidade, para ser estratégico, o professor tem que ser primeiro estudante autorregulado. Acredita-se que futuros professores precisem vivenciar a metacognição como um exercício, como uma possibilidade de autorreflexão acerca de suas próprias facilidades e dificuldades de aprender a aprender e ensinar para aprender a aprender (BORUCHOVITCH, 2014, p. 406).

Acredita-se que um bom professor seja capaz de refletir sobre a forma como se aprende. Segundo Boruchovitch (2014), é fundamental que as escolas promovam espaços em que o futuro professor possa refletir sobre a dupla vertente de sua formação, estudante e professor, para que possa, além de aprender a aprender, vivenciar esse processo para que seja capaz de ensiná-lo. Essas iniciativas serão valiosas para a formação docente, mas, sobretudo, para a criação de escolas capazes de formar alunos mais autorregulados.

Em uma sociedade que exige cada vez mais aprendizagem, a capacidade de orientar a própria aprendizagem torna-se muito importante, para que o aluno atinja sucesso, seja ele acadêmico ou não (KREMER-HAYON e TILLEMA, 1999). Esse fato torna-se ainda mais relevante, quando associamos a motivação à metacognição. Segundo Wolters (2003 apud VRIELING, 2012), a motivação pode ser vista como produto ou como processo.

Quando vista como produto, os alunos têm o nível de motivação que eles experimentam e isso pode influenciar suas escolhas com relação a uma atividade. Quando é vista como processo, refere-se não apenas ao estado final de uma tarefa, mas também aos meios através dos quais esse estado final foi determinado, isto é, as mudanças ocorridas durante o processo de aprendizagem. Ainda conforme esse mesmo autor, os alunos podem aprender a regular seu estado emocional e, uma vez autorregulados, são capazes de aplicar as estratégias de aprendizagem em tarefas acadêmicas.

Em sua pesquisa com formação de professores do ensino primário, Vrieling (2012) constatou que o uso de habilidades metacognitivas por professores em formação aumentou significativamente em ambientes com grandes oportunidades de autorregulação de aprendizagem. Também foi verificado que houve um reforço na motivação para a aprendizagem desses futuros professores.

Com base nos estudos apresentados, acreditamos que a autorregulação é fundamental na formação docente. Quando futuros professores passam a gerenciam a sua aprendizagem, eles começam a refletir sobre as suas atitudes enquanto alguém que aprende e que ensina. A reflexão sobre as situações de aprendizagem e a utilização de estratégias de autorregulação podem auxiliá-los na obtenção do êxito e no aumento da confiança em sua capacidade, o que poderá levar a satisfação pessoal durante desenvolvimento das tarefas, bem como ao desenvolvimento da motivação para aprender.

A seguir, apresentamos o caminho esboçado ao longo da pesquisa na busca de respostas à nossa questão de investigação.

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