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Esta seção objetiva apresentar a nossa compreensão de avaliação da aprendizagem, já discutida nas páginas anteriores, aplicada à realidade da Escola Municipal Maria Francinete Gonçalves Maia. Esse relato de experiência busca responder aos objetivos específicos da pesquisa, em elaborar e experimentar instrumentos de verificação da aprendizagem que correspondam aos conceitos aqui defendidos e atendam às dimensões do conhecimento propostas na BNCC.

Para que nossa descrição permita ao leitor uma honesta compreensão da experiência realizada, se faz necessário um detalhamento do contexto em que foi desenvolvida. Não nos referimos aos aspectos estruturais, organização da escola, números e funcionamento, pois isto já está descrito na seção destinada à metodologia, no início do trabalho. Nos referimos aqui aos detalhes específicos de como tem sido a avaliação da aprendizagem do componente curricular Educação Física na referida escola e o que foi possível de construir.

A Escola Maria Francinete foi fundada em 2011, desde então, o professor de Educação Física, responsável em desenvolver esta pesquisa, atua neste estabelecimento. Ao longo desses anos, o “desenho” organizativo da disciplina perante a matriz curricular do município foi objeto de intensas modificações, as quais inevitavelmente interferiam diretamente na atuação pedagógica. Passamos por aulas ocorridas no contraturno escolar dos estudantes, agrupando as turmas com alunos dentre os sextos e nonos anos sem divisão de horário, sem sala de aula disponível, com baixa frequência, de aproximadamente 4 a 5 alunos de cada turma de 30, apenas para fazer atividades esportivas na quadra da escola.

Por meio de lutas e reivindicações, os professores do município mudaram este panorama e passamos a compor a “grade” de horários das demais disciplinas dentro do mesmo turno, dispondo de 2 aulas semanais de 50 minutos cada. Além disto, pensando na continuidade de haver prática de ensino de esportes na escola, permitindo a participação da mesma em jogos escolares, os professores da rede municipal de ensino, dispunham de parte de suas cargas horárias para formação de equipes esportivas.

Embora nos últimos dois anos tenha havido redução da porção destinada ao treinamento de equipes esportivas, bem como o critério para o

desenvolvimento desta prática, esse desenho organizativo permanece o mesmo. Contudo, para os fins desta pesquisa, enfatizaremos as 2 aulas horas/aula de 50 minutos como que de fato ocorrem.

Todo ano o horário do tuno vespertino (6º ao 9º ano) tem modificações que são causadas por mudanças nos dias e horários disponíveis de alguns professores, por entrada e saída de algum professor e daí o horário deve se adequar, bem como por qualquer outra causa de comum ocorrência. O destaque aqui é para as supostas aulas de 50 minutos que a depender de qual horário ela se encontra, há uma defasagem que interfere completamente na condução pedagógica da disciplina. Tomemos como exemplo o ano de 2019, em que se desenvolveu esta experiência.

O professor pesquisador estava responsável por 3 turmas do 6º ano, 2 turmas do 8º ano e 2 turmas do 9º ano. As aulas ocorriam nas terças, quartas e quintas feiras, apresentando a organização descrita no quadro abaixo:

Quadro 1 – Organização semanal das aulas

TERÇA-FEIRA QUARTA-FEIRA QUINTA-FEIRA

1º horário (13:00 h) 8º ano A 6º ano C 8º ano B

2º horário (13:50 h) 8º ano A # 8º ano B

3º horário (14:40 h) 6º ano C 6º ano A 6º ano A

Intervalo (15:30 h)

4º horário (15:50 h) 6º ano B 9º ano B 9º ano A

5º horário (16:40 às 17:30 h) 6º ano B 9º ano B 9º ano A

Fonte: produção do próprio autor (2019).

Para que não nos estendamos em analisar tal configuração, apontaremos o que tradicionalmente ocorre de fato na execução do cumprimento deste horário. Para o início das aulas perdemos de 15 a 20 minutos em decorrência de atrasos de professores e alunos com todo o tipo de justificativa. Algumas bem plausíveis, do tipo locomoção e distância da escola e outras menos aceitáveis.

O início do intervalo que deveria começar as 15:30 h, é antecipado de 5 a 10 minutos devido a alguns professores que liberam suas turmas precocemente e uma vez liberadas, inicia-se um processo de agitação que impossibilita as demais continuarem em aula. Isso se deve em muito a arquitetura da escola, com

salas extremamente abertas (portas e janelões) o que permite que qualquer ruído interfira nas aulas. A volta do intervalo é comprometida com 10 a 15 minutos também, pois os professores, que deveriam retornar para suas salas às 15:50, o fazem as 16:00 e 16:05, ou mais.

O último horário é o mais comprometido, uma vez que um número absurdo de alunos necessitam: pegar irmão menor na creche ao lado, que libera as 17:00 h; pegar meio de transporte coletivo que passa por volta das 17:00 h; se deslocar para grandes distâncias ainda com luz do dia; entre outras justificativas. Dessa forma, habitualmente a escola termina seu expediente vespertino às 17:15 h, soando a sirene. Embora alguns professores começam a liberar seus alunos às 17:00 h, o que inicia aquele processo de agitação para os demais que pretendem cumprir até o soar da sirene.

Dito isto, e observando a tabela acima, podemos ver que turmas como o 6º ano C, na quarta feira, perde 15 minutos de uma única aula de 50, restando 35 minutos para iniciar, desenvolver e encerrar uma aula bem prejudicada. Sendo que a outra aula dessa turma é o 3º horário da terça-feira, que também é prejudicada na saída para o intervalo. As turmas que tem duas aulas conjugadas, permite melhor aproveitamento nos encontros, embora as que assim o são nos 4º e 5º horários perdem tempo na volta do intervalo e na saída de aula.

Esse foi um dos critérios para escolhermos o 8º ano A como participantes desta experiência pedagógica, uma vez que os dois primeiros horários da terça- feira são possíveis de ter maior rendimento do tempo total de aula. Para todas as aulas da intervenção, iniciamos as 13:00 h numa espécie de acordo com a turma, o que deu certo de modo geral. Tivemos problemas com alguns alunos que só conseguiam chegar as 13:10 h e as outras turmas que atrapalhavam nossas aulas por estarem ainda sem professor em sala.

Fora isso, a escola ainda apresenta normalmente vários dias que as aulas são interrompidas, parcial e integralmente, como por exemplo quando falta energia ou água; quando houve dedetização agendada pela secretaria de educação; quando houveram vários pontos facultativos decretados pela prefeitura em dias ditos “imprensados” por feriados; quando de preparações para amostra de conhecimento, gincana, festa junina e outras comemorações que demandam maior investidura; quando ocorreu algum evento para toda a escola como palestras, apresentações culturais, formações sobre temas gerais e etc.

Essas quebras, na sequência “normal” das aulas planejadas estão sendo referidas aqui como dentro dos dias letivos presentes no calendário, mas que não estavam planejadas, e por isso subtraia a quantidade de encontros com os alunos para desenvolvimento da disciplina.

Esses dados são relevantes para compreendermos as possibilidades e limites de uma intervenção que se propõe real e objetiva, percorrendo entre a ruptura e a continuidade do sistema de ensino. As escolas municipais estão cingidas a certos aspectos do sistema escolar que nos mantem fatidicamente numa continuidade dos processos, embora temos aberturas que nos possibilitam rupturas significativas para elaborarmos novas sínteses.

Foi nesse contexto que se organizou esta experiência pedagógica, é com essas limitações que propomos avaliar a aprendizagem na Educação Física Escolar, atendendo as oito dimensões do conhecimento propostas na BNCC. Isso nos é algo extremamente caro, uma vez que o componente curricular em questão tem anualmente, teoricamente, 80 aulas de 50 minutos, sendo 2 aulas por semana, 20 por bimestre, 4 bimestres por ano e uma demanda formativa significativamente robusta.

Quando consideramos que de cada 20 aulas de um bimestre apenas, em média, 12 ou 15 de fato se efetuam, e que dependendo dos horários, vários minutos se perdem dessas aulas, como fica o planejamento? O que de fato se consegue realizar?

Essas provocações se fazem necessárias para que quando do relato das experiências, o leitor mantenha a sagacidade de compreender quão limitante foi pensar em avaliação da aprendizagem num cenário em que os momentos de aprendizagem estão debilitados. Ora, quando falamos em avaliação da aprendizagem, existe uma máxima que diz que só pode ser avaliado o que foi desenvolvido, “ensinado”. Não faz muito sentido ocupar os 10 encontros (neste caso) de um bimestre com momentos avaliativos de práticas de ensino que não houveram. Então, como avaliar pensando-se em cada uma das oito dimensões? A organização das aulas nesse contexto permite isso? Que estratégias foram possíveis?

Já adiantamos que para equacionar parte desses problemas, pensamos em instrumentos de verificação da aprendizagem que agrupam dimensões comuns, como conceitos, procedimentos e atitudes, sem deixar de frisar

especificidades como o fruir, experimentar, uso e apropriação, análise. Outro recurso possível foi utilizar dois bimestres para podermos falar de mais instrumentos. Em um bimestre com 10 encontros, se fossemos utilizar oito deles, sendo um para cada dimensão, não teríamos aulas propriamente ditas. Dessa forma, além de condensar algumas dimensões, traremos aqui experiências do 3º e 4º bimestre do ano de 2019.

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