2. OBJETIVOS, ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO PROGRAMA NOVAS
2.7. Programa de educação de adultos
2.7.4. A avaliação das aprendizagens e das competências
O reconhecimento e a validação das aprendizagens não-formais e informais inscrevem-se no campo da avaliação (Jacob & Lonchamp, 1994).
Os responsáveis pelo estudo da OCDE sobre a avaliação, estudo citado por Lobo (2012), reconhecem que na iniciativa Novas Oportunidades o modelo de avaliação merece uma atenção especial, deve ser “centrado no aluno” e “assente no apoio individualizado”. Assim, o modelo de avaliação deve assentar num conjunto de “estratégias para a avaliação focada em motivar os alunos, dando uma resposta de elevada qualidade, incluindo a participação ativa dos alunos no processo de avaliação” (2012: 1).
Esta avaliação tende a ocorrer imediatamente após a realização de um módulo ou unidade de curso em vez de no término de um ano ou ciclo.
49 Daí que, e para a referenciada modalidade de avaliação, realça-se a utilização de uma avaliação que vai além dos usuais testes escritos, permite centrá-la no desempenho do aluno, colocando-o, deste modo, no centro da aprendizagem e do processo avaliativo. A ideia principal recai na "necessidade de utilizar a avaliação para motivar os alunos a aprender, ao invés de simplesmente se proceder com a avaliação ou com o teste é reconhecida como fundamental por aqueles que trabalham neste setor" (Idem, ibidem: 1), diz o estudo.
Dentro de uma cultura escolar de massas, o desafio ganho pelo Novas Oportunidades parece ter sido o de contrariar a tendência geral do sistema educativo para a falta de apoio mais personalizado aos alunos. O autor que vimos citando afirma ainda que:
«enquanto as oportunidades permanecerem por explorar na íntegra, e amplamente reconhecidos os desafios do diálogo de apoio dentro de uma cultura individualizada de escolaridade, o programa Novas Oportunidades faz deles os seus pontos fortes e tem muito a oferecer ao sistema de avaliação de todos os alunos nas escolas» (Idem Ibidem: 1).
As práticas de reconhecimento e de validação exprime a conjugação da auto e heteroavaliação das competências dos alunos e da avaliação realizada pelo professor, para obtenção de informação com vista à definição e ao ajustamento de processos e estratégias de ensino-aprendizagem.
Como demostrámos anteriormente, a competência é uma construção social e depende das convenções ou dos pontos de vista que se adotam.
No domínio da avaliação das competências, considerando a perspetiva com que desenvolvemos este trabalho, interessa-nos abordar a problemática do ponto de vista dos processos de educação/formação dos adultos.
O ato de avaliar consiste em situar um objeto em relação a um critério através de uma escala de valor determinado.
Na área do reconhecimento e da validação, para Aubret, Gilbert & Pigeyre, é possível fazer a distinção entre momentos e funções da avaliação: a função formativa diagnóstica da avaliação é contínua e sistemática durante uma aprendizagem; já a avaliação sumativa, traduz-se na formulação de um juízo globalizante sobre o grau de desenvolvimento das aprendizagens do aluno e tem como referência os objetivos fixados no currículo, adaptando-se às modalidades da validação (1993: 222).
A avaliação das aprendizagens experienciais, nos diferentes domínios, pessoal, profissional ou social, não se conjuga com os métodos tradicionais de avaliação dos conhecimentos no ensino regular. Todavia, no domínio do reconhecimento e da validação há um esforço de reflexão para definição dos critérios e das normas utilizadas. Daí a importância de cada individuo, através do diálogo, avaliar o seu próprio trabalho (auto- avaliar-se), com base nas suas vivências.
50 A avaliação formativa tem uma função de diagnóstico, trata-se de uma avaliação interativa, centrada nos processos cognitivos dos alunos tendo por base os processos de auto-avaliação e de auto-regulação das aprendizagens.
A avaliação sumativa realiza-se sempre que seja necessário fazer o balanço das aprendizagens desenvolvidas, e aprecia o nível das aprendizagens efetuadas. É considerada sumativa, a avaliação que se materializa, normalmente através de um exame, de classificações, e pela atribuição de diplomas ou certificados.
A validade da avaliação sobre as competências encontra-se, relacionada com o diálogo e com a partilha de diferentes perspetivas, com o cruzamento de visões, com a comparação de ideias entre sujeito e sujeito e/ou sujeito e objeto. Neste sentido, leva-nos a concretizar que o processo da avaliação de competências no âmbito do Novas Oportunidades tem que ter em conta algumas implicações, tais como:
a avaliação é um processo inacabado;
a avaliação deverá ser sempre uma decisão ajustada entre o individuo envolvido (aluno) e o professor, através do diálogo, baseado na criação do objeto da avaliação;
Assim, temos consciência dos limites e dos riscos inerentes às práticas de avaliação de competências, pois comporta uma etapa prévia de reconhecimento e de identificação dos saberes detidos.
O reconhecimento das aprendizagens escolares é, sobretudo, efetuado através da via da equivalência (estudos secundários ou profissionais já sancionados por uma autoridade competente), determinando o Ministério da Educação quais os cursos admitidos como equivalentes e as exigências em vigor.
No ensino secundário, quer seja de formação geral quer seja de formação profissional, identificam-se duas modalidades distintas de reconhecimento: a das aprendizagens escolares, e a das aprendizagens extra-escolares (Formação em Contexto Escolar).
Em síntese, apresentámos as especificidades do Programa Novas Oportunidades e evidenciámos que a educação de adultos exige métodos e estratégias próprios que mobilizem as experiências de vida e os saberes do adulto-aprendente. Neste sentido, sujeito aprendente deve também ser substituído por sujeito consciente e reconstrutor da sua realidade, do seu conhecimento e da sua história de vida.
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