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CAPÍTULO IV CRÍTICAS, REVISÕES E NOVOS CAMINHOS

4.1 Críticas à defesa do livre-arbítrio

4.1.3. A Avaliação de Plantinga

Como Plantinga (2009, p 183) avalia a argumentação de Otte? “Eu tenho pouco a dizer sobre a peça penetrante de Otte se não sim e amém (e obrigado)”19. Quanto à argumentação de H & O, Plantinga reconhece que com base na depravação transmundana, R (Deus criou um mundo contendo bem moral, no entanto, não estava dentro de seu poder criar um mundo contendo bem moral, sem criar um contendo o mal moral) falha se R está fundamentada na versão original da depravação transmundana. Se esta versão primeira estivesse em mira, a avaliação de H & O de que Deus e o mal são incompatíveis seria correta. Mas o ataque de H & O diz respeito à versão da depravação transmundana já revisada por Otte, ou seja, TMD1 ou TMD3.

18 “The idea is this: Take any dispositional profile that is coherent and, according to this metaphysic, some

essence at every world has that profile. Suppose, then, that some essence E1 has a dispositional profile which includes going wrong with respect to some action A in some choice situation C, were that essence instantiated in maximal world segment S. According to the metaphysic in question, in every possible case of this sort, there is another essence E2 which is just like E1 except that were E2 instantiated in S, E2 would go right with respect to A in C. Such is the plenitude of essences. In effect, the essences differ in the distance relations they bear to various worlds in which they are instantiated: for E2, the S world which includes going right with respect to A in C is closer than the S world which includes going wrong with respect to A in C, while for E1, the S world which includes going right with respect to A in C is further away than the S world which includes going wrong with respect to A in C. If we assume the plenitude that this metaphysic posits, the thought that every possible essence that suffers from transworld depravity has a omplement (so to speak) that is blessed with transworld sanctity becomes very compelling.”

19

Para H & O, é razoável crer em santidade transmundana (Necessariamente, pelo menos uma essência é abençoada com santidade transmundana) como crer em ◊ depravação transmundana (possivelmente todas as essências sofrem de depravação transmundana). A dúvida que Plantinga levanta é se de fato é razoável crer em santidade transmudana como em ◊ depravação transmundana. Vejas as proposições abaixo:

Cada essência E e E-mundo perfeito M, se o segmento inicial relevante de M fosse atual. E + iria errar.

Cada essência E e E-mundo perfeito M, não é o caso que se os segmentos iniciais relevantes t de W fossem atuais. E + iria errar.

Em uma comparação entre as definições de depravação transmundana e santidade transmundana, Plantinga destaca que a primeira trabalha com a verdade dos contrafactuais da liberdade, já a depravação transmundana aceita a falsidade dos contrafactuais da liberdade. Para que a depravação transmundana e a santidade transmundana sejam semelhantes, a segunda deve aderir à verdade dos contrafactuais da liberdade. Plantinga procede em demonstrar uma tentativa de fazer a santidade transmundana se ajustar a essa condição, mas ela fracassa. A conclusão é que a santidade transmundana produz contrafactuais da liberdade que são falsos:

E +, portanto, é de tal forma que não existe um mundo possível em que ela erra com relação a qualquer ação, portanto não há nenhuma ação em relação a qual é possível que ela erre, daí não há nenhuma ação de tal forma que ela é livre para errar em relação a ela, por isso ela não tem liberdade significativa20 (PLANTINGA, 2009, p. 186).

A segunda falha para a qual Plantinga chama à atenção quanto à santidade transmundana é que H & O sugerem que haja pelo menos uma essência que seja abençoada com santidade transmundana. No entanto, Plantinga passa a demonstrar que nenhuma essência é tal que tenha essa propriedade essencialmente. A única situação em que pelo menos uma essência x teria uma propriedade P é quando se trata de comparação entre xs. Nesta relação estrutural entre os xs pelo menos um deles tem que

20“E +, therefore, is such that there is no possible world in which she goes wrong with respect to any

action; hence there is no action with respect to which it is possible that she go wrong; hence there is no action such that she is free to go wrong with respect to it; therefore she does not have significant freedom.”

ganhar. Ele assevera:

Mas nós não temos essa estrutura aqui. Não há nenhuma razão estrutural porque pelo menos uma das essências deve gozar de STM. Se houver um número finito de essências, lá terá que haver um ou alguns que são maximais no que diz respeito ao seu perfil de bondade (onde o último é algo como uma integração do bem que fazem ao longo dos mundos em que eles são exemplificados); se há seres humanos por apenas um período de tempo finito, não haverá uma ou mais essências desfrutando da distinção de ser a primeira a ser exemplificada; mas nada disso vale para STM21(PLANTINGA, 2009,

p. 187).

A Terceira objeção é que a santidade transmundana não goza de suporte intuitivo. Para Plantinga embora seja possível que alguma essência desfrute de santidade transmundana a proposição santidade transmundana simplesmente não parece ser necessária, em contrapartida à sua negação (~ STM). Possivelmente nenhuma essência goza de santidade transmundana, desfruta de suporte intuitivo. Quando este critério de suporte intuitivo é aplicado à depravação transmundana o inverso é que é verdadeiro, isto é, ◊DTM, possivelmente todas as essências sofrem de depravação transmundana, goza de apoio intuitivo em contraste com sua negação ~◊DTM necessariamente alguma essência não sofre de depravação transmundana, que não tem suporte intuitivo.

Por fim, Plantinga argumenta como saída adicional um conceito mais fraco que a depravação transmundana: U Para cada mundo perfeito M, há uma essência E e uma ação A em um tempo I tal que E é exemplificado em M, e se Deus fosse para atualizar tl (M), E + iria errar em relação a A22(PLANTINGA, 2009, p. 190).

Essa proposição, embora seja mais fraca que depravação transmundana, pode desempenhar o papel da depravação transmundana na defesa do livre-arbítrio. Ela parece possível e deve ser considerada verdadeira até que apareça uma proposição que sendo “incompatível com a possibilidade de U tem igual ou maior garantia intuitiva,

21 “But we don't have that structure here. There is no structural reason why at least one of the essences

must enjoy TWS. If there are finitely many essences, there will have to be one or some that are maximal with respect to their goodness profile (where the latter is something like an integration of the good they do over the worlds in which they are exemplified); if there have been human beings for only a finite length of time, there will have to be one or more essences enjoying the distinction of being the first to be exemplified; but nothing like that holds for TWS.”

22“For every perfect world W, there is an essence E and an action A at a time I such that E is exemplified

que pareça pelo menos tão provável como (◊U)”23(PLANTINGA, 2009, p. 190). Ele não sabe como provar que uma proposição assim de fato existe. Assim, Plantinga conclui que, diferentemente do veredito H & O, a defesa do livre-arbítrio é convincente.

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