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CAPÍTULO 4 – A ESCOLHA DOS LIVROS DIDÁTICOS

4.5 A avaliação do processo pelos professores

Depois de apresentado o processo de organização do livro didático dentro do Projeto EJA BH, os principais critérios que os professores levaram em conta na avaliação das obras e os principais motivos da participação pouco acentuada de docentes, cabe neste momento destacar a avaliação feita pelos professores em relação ao desenvolvimento da escolha ocorrido no ano de 2008 e a chegada do livro didático na

sala de aula. A observação da repercussão do livro didático se tornou relevante, uma vez que percebemos que alguns docentes se posicionaram contra o processo de escolha, mas apresentaram maior aceitação dos livros após sua chegada nos espaços escolares. Essa constatação só foi possível porque escolhemos alguns coordenadores e professores para realizarem uma segunda entrevista após o uso dos livros. Não detalharemos com maior precisão esses aspectos, com receio de perdermos o foco central de nossa pesquisa, que é o processo de escolha dos livros didáticos pela Instituição.

A organização da escolha do livro didático no Projeto EJA BH gerou, ao final do

processo, olhares críticos e reflexões sobre a forma como foi conduzido pelos coordenadores e as limitações vivenciadas pela escolha de critérios de organização. Alguns se colocaram contra a forma de organização da Instituição:

“Quando ficou decidido que o Projeto iria tirar uma comissão para ver a questão do livro, eu mesma fui contra esse negócio de comissão, porque é uma característica minha de achar que quando é um coletivo maior, você acerta mais, mas, como já tava entrando de férias, teve a comissão. Então faltou uma organização que atendesse mais o coletivo dos professores” (Ana, coordenadora pedagógica).

Outros dizem que, durante o processo, as discussões se tornaram tumultuadas dentro das escolas, por apresentar arquivos online, comprometendo a avaliação por parte dos professores:

“Eu achei a escolha muito tumultuada porque, na verdade, nós conseguimos imprimir os títulos, porque chegou tudo via e-mail. E chegou muito em cima da hora; eram arquivos muito grandes, eu não entendo direito essa questão de internet, entende? E custamos para conseguir ter acesso. Primeiro porque não imprimia, a gente tinha de ficar em frente o computador, um professor vem aqui, senta e olha, depois vem de dois em dois e olha, então não foi bom” (Aparecida, professora alfabetizadora).

“Por internet as pessoas costumam achar que é democrático, mas é aparentemente democrático, aquilo lá não tem nada de democrático, porque o grupo que estava falando não representa nem um terço do que é o todo” (Romilda, professora alfabetizadora).

“Nesse sentido, eu sou muito crítica com relação à forma que a política da EJA acontece, você chegar na véspera de férias pedindo a pessoa para ler livro e avaliar é muito complicado. Com o pé em janeiro e no final do semestre, é meio querer demais dos professores. E isso dificultou a participação” (Romilda, professora alfabetizadora).

Constatamos que a maioria dos docentes apresenta preferência pelas reuniões presenciais, onde têm a oportunidade de confrontar seus critérios e decidirem

coletivamente o livro didático adequado a todos. Além disso, os professores desejam manusear as obras e conhecer seus textos e atividades:

“Você tem que articular as coisas no real, no concreto, se você não pega o livro, põe ali na mão, igual acontece nas escolas, em reuniões específicas, é super difícil a participação” (Aparecida, professora alfabetizadora).

“Outra coisa que é dificultador é você não poder pegar no livro que vai escolher, você não avalia diagramação, as palavras, os enunciados, então fica uma escolha muito abstrata, pouco concreta” (Maria, professora alfabetizadora).

Como já mencionamos, os professores priorizam a escolha presencial por considerar mais apropriada à análise dos livros, e por ainda manifestarem dificuldades no acesso aos meios virtuais:

“O professor tem que escolher, tem que avaliar, tem que discutir, tem que falar por que gosta deste. Agora virtualmente é para poucos, e não porque as pessoas não queiram, é porque nós estamos na geração da transição, nós ainda temos gente que nasceu antes da tecnologia do computador e está tentando se adequar a essas tecnologias” (Rosilene, professora alfabetizador).

Outra grande deficiência diz respeito à impossibilidade de consulta nos próprios materiais escolares para seu reconhecimento e avaliação. A comissão responsável por fomentar a discussão online também avaliou o período conturbado para a escolha e demonstrou clareza sobre a necessidade de maior dedicação por eles próprios com o processo de organização da discussão:

“Eu avalio que a gente sentiu falta de encontrar, mesmo sendo férias, com quem podia para discutir nossas leituras, então nós sentimos falta de ter essa chance. Talvez se tivesse tido um encontro só para amarrar, já que não tinha muito tempo de aprofundar, pelo menos nós que ficamos nessa comissão” (Lourdes, coordenadora pedagógica).

“O processo foi um momento de formação, se a gente tivesse tido tempo de organizar durante as formações de sexta-feira, os argumentos seriam melhores do que foram usados, com certeza” (Helena, coordenadora geral).

Percebe-se, com os relatos, que os participantes conseguiram verificar as lacunas ocorridas no processo de discussão e os empecilhos causados pelo meio virtual. As contribuições relevantes em relação à escolha estão na auto-reflexão dos professores sobre as limitações do processo e a pretensão de organizar uma escolha mais formativa para o ano seguinte. Devemos, assim, levar em consideração que o Projeto viveu seu

primeiro ano de avaliação e escolha do livro didático. É natural identificar problemas e buscar outras medidas que atendam melhor às expectativas dos docentes. Nesse sentido, é necessário que o Projeto EJA BH avance nas orientações e encaminhamentos para melhor auxiliar os professores em escolhas bem organizadas e fundamentadas para os anos seguintes.