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A avaliação da educação superior no processo de criação deste nível de

A constituição da educação superior no Brasil é algo recente na nossa história. Entre 1500 e 1800, período de dependência econômica e cultural em relação a Portugal, não tivemos nenhuma escola de nível superior instalada no país.

Portugal avalia não ser apropriada a constituição do ensino de nível superior na colônia, seja devido ao papel subordinado que esta ocupa perante a metrópole, seja porque as elites realizam seus estudos superiores na Europa (FÁVERO, 1977).

As primeiras escolas isoladas de nível superior só foram implantadas, aqui, a partir da chegada das elites portuguesas no Brasil (AMORIM, 1992). A partir de 1808, mesmo o Brasil sendo a sede da Monarquia, D. João VI permite apenas a criação de algumas escolas superiores, a saber:

• Academia Real da Marinha (Rio de Janeiro, 1808) e Academia Real Militar (Rio de Janeiro, 1810) – instituições que têm como objetivo realizar a formação de oficiais e engenheiros civis e militares;

• Curso de Cirurgia (Bahia, 1808), Curso de Cirurgia, Anatomia e Medicina (Rio de Janeiro, 1808, 1808 e 1809, respectivamente) – para a formação de médicos e cirurgiões para o exército e a marinha;

• Curso de Agricultura (Bahia, 1812; Rio de Janeiro, 1814), Curso de Química (Bahia, 1817), Curso de Desenho Industrial (Bahia, 1818) e Cadeira de Economia (Bahia, 1808), além da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios (Rio de Janeiro, 1816)12 – para realizar a formação de diferentes “técnicos”.

Estas escolas apresentam-se circunscritas ao Rio de Janeiro e à Bahia e, segundo FÁVERO (1977), caracterizam-se por um caráter claramente profissionalizante e pela sua instituição e organização enquanto um serviço público – portanto sustentado e controlado pelo Governo – com fitos à qualificação de pessoal para desempenhar as mais diversas funções na Corte.

Embora a apresentação de indicações e projetos sobre a necessidade de constituição de instituições universitárias seja significativa durante a Independência – destaque para a proposta de criação de uma universidade na Corte, datada de 1824 –, a situação descrita acima permanece durante todo o Império, de modo que, ao final destes e às vésperas da Reforma Leôncio de Carvalho (1879) existem no país apenas seis instituições civis de ensino superior – e nenhuma universidade –, a saber: as Faculdades de Direito de São Paulo e Recife, as Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia, a Escola Politécnica do Rio de Janeiro e a Escola de Minas de Ouro Preto (FÁVERO, 1977).

Apenas nos anos de 1900 são criadas as primeiras universidades brasileiras, dentre elas a Universidade de Manaus (1909), a Universidade do Paraná (1912) e a Universidade do Rio de Janeiro (1920)13. Neste sentido, “enquanto se desdobrava na Europa a implantação de uma rede de universidades em todas as suas latitudes – da Península Ibérica à Rússia e do sul da Itália aos países nórdicos –, a universidade aporta nas Américas.” (TRINDADE, 1999d)

12 A Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios foi alterada em 1820 para Real Academia de Pintura, Escultura e Arquitetura Civil.

13 A criação da Universidade do Rio de Janeiro, a título de ilustração, está relacionada à vinda do Rei belga Alberto I ao Brasil nas comemorações do 1o Centenário da Independência. Como se deseja honrá-lo, dentre outros, com o título de Doctor honoris causa, grau concedido apenas por instituições universitárias, é preciso inventar uma universidade para realizar tal tarefa (FÁVERO, 1977).

Existe no meio acadêmico uma grande disputa a respeito de qual destas universidades deve ser considerada a primeira universidade brasileira. Entretanto, trata-se esta de uma polêmica que não cabe explorar aqui. Interessa apenas ressaltar que estas instituições, muito embora atendam pela alcunha de universidade, não representam e desenvolvem, neste momento histórico, práticas diferentes daquelas das escolas superiores. A existência apenas nominal destas instituições, contudo, contribui para suscitar a discussão – e avaliação – pública a respeito do problema da universidade no país.

A Reforma Rocha Vaz – Decreto no 16.782-A de 1925 – autoriza em seu artigo 260 a criação de universidades nos estados de Pernambuco, Bahia, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, segundo os moldes da Universidade do Rio de Janeiro. Francisco Campos, logo após assumir o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública no ano de 1930 formula uma série de decretos para as reformas do ensino secundário, comercial e superior (ROMANELLI, 1996).

Especialmente no que concerne ao ensino superior, dois decretos são promulgados no Diário Oficial, ambos assinados em 15 de abril de 1931, são eles:

• Decreto no 19.851 – relativo à organização das universidades brasileiras e

• Decreto no 19.852 – que trata da reorganização da Universidade do Rio de Janeiro e do ensino superior brasileiro.

A instituição universitária é entendida enquanto instituição que tem finalidade social, ou seja, tem a função de formar tecnicamente as elites profissionais, bem como de ser um espaço de investigação científica, desinteressada. A Reforma define também, dentre outras, a exigência de pelo menos três escolas de nível superior para a constituição de uma universidade – Escola de Medicina, Direito e Engenharia ou duas delas e uma Faculdade de Educação, Ciências e Letras –, a concessão de relativa autonomia administrativa e didática às universidades (enquanto preparação para a “autonomia plena”), a introdução do concurso de títulos e regulamentação da função do livre docente, a permanência do regime de cátedra, a ampliação da variedade de cursos oferecidos na educação superior – especialização, aperfeiçoamento e extensão universitária – e medidas para a organização acadêmica – como a flexibilidade e a diversificação de metodologias e o

alargamento do processo avaliativo e da participação ativa dos alunos (FÁVERO, 1977).

No início da Segunda República existem no país cerca de vinte escolas de nível superior. A partir dos anos de 1930 são realizadas tentativas de superação da organização universitária existente, no intuito de criar organizações universitárias como instituições orgânicas integradas. Estas tentativas correspondem à criação da Universidade de São Paulo em 1933 e da Universidade do Distrito Federal em 1935.

Entretanto ainda predomina a “Universidade como mera justaposição de escolas estanques” (FÁVERO, 1977).

A criação da Universidade de Brasília (pela Lei no 3.998, de 15 de dezembro de 1961) representa um novo ensaio de superação da fragmentação da organização universitária até então existente no Brasil e responde às necessidades de integração dos cursos universitários à ciência moderna e à tecnologia.

Segundo FÁVERO,

Entre os pontos mais relevantes de organização estrutural da Universidade de Brasília destacam-se:

a) substituição da estrutura tradicional, composta de faculdades isoladas, com cátedras autárquicas e duplicadoras, por uma estrutura tripartida e integrada, composta por Institutos centrais de ensino e pesquisa, por Faculdades responsáveis pela formação profissional e por órgãos complementares destinados a funcionar supletivamente como centros de extensão para a Capital e demais pontos do país;

b) ênfase no papel dos Institutos centrais encarregados de oferecer cursos básicos nos demais campos de conhecimento, ao mesmo tempo em que se constituiriam em centros de pesquisa e de formação de cientistas e humanistas ao nível de graduação e pós-graduação;

c) extinção da cátedra e criação do Departamento como unidade universitária. (op. cit., p. 42-43)

A autora ressalta, entretanto, que esta proposta não é implementada plenamente devido, dentre outros fatores, à mudança política ocorrida no Brasil no ano de 1964.

2.2. A avaliação da educação superior e a Reforma Universitária de 1968: o