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1. Avaliação em educação: conceito(s) e significado(s)

1.1. A Avaliação Externa das Escolas em Portugal

Tal como foi referido anteriormente, a AEE em Portugal teve por base o referencial do modelo escocês “How Good is our School” e assenta num dispositivo legal originário do ano de 2002. Contudo, já a LBSE (Lei n.º46/86) tinha definido como funções para a administração central, entre outras, a coordenação global e a avaliação da execução das medidas da política educativa (Artigo 34.º), e a inspeção e tutela para garantir a qualidade do ensino (artigo 44.º). Ao nível da avaliação do sistema educativo, este mesmo diploma definiu que esta deve ser continuada e que, tendo como objeto principal o desenvolvimento, regulamentação e aplicação da lei, a inspeção escolar deve ser autónoma e com a função de avaliar a realização da educação, com vista à prossecução dos objetivos previstos. Em sentido idêntico, os programas de alguns dos Governos de Portugal, tal como é mostrado na tabela 5, fazem referência à vontade e necessidade de serem implementados processos de avaliação e, mais especificamente, da intenção de se criar uma cultura de avaliação no interior das escolas.

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Tabela 4: Programas do Governo Constitucional Português que fazem referência à implementação de processos de autoavaliação.

Programa do XV Governo Constitucional

2002-2004

Apresenta, ao nível da educação, a intenção de:

 Introduzir uma cultura de avaliação das instituições, dos docentes, dos funcionários e dos alunos;

 Criar medidas de avaliação do desempenho das escolas, com publicitação dos resultados e criação de um sistema de distinção do mérito e de apoio às escolas que apresentem maiores dificuldades.

Programa do XVI Governo Constitucional

2004-2005

Apresenta ao nível da educação a intenção de:

 Continuar a promoção de uma cultura de avaliação das instituições, dos docentes, dos funcionários e dos alunos;

 Criar medidas de avaliação do desempenho das escolas. Programa do XVII

Governo Constitucional

2005-2009

Apresenta ao nível da educação a intenção de:

 Enraizar a cultura e a prática da avaliação e da prestação de contas;  Criar um programa nacional de avaliação das escolas básicas e secundárias. Programa do XVIII

Governo Constitucional

2009-2011

Apresenta ao nível da educação a intenção de:

 Prosseguir o programa de avaliação externa, como base para o reforço contratualizado da autonomia;

Programa do XIX Governo Constitucional

2011-2015

Apresenta ao nível da educação a intenção de:  Implementar uma política de avaliação global.

Paralelamente, a intenção política associada à avaliação é também demonstrada nos documentos legais sobre a autonomia escolar (Decreto-Lei n.º 115 -A/98; Portaria n.º 1260/2007; Decreto-Lei n.º 75/2008; Portaria n.º 265/2012) que apontam como aspeto essencial, e como responsabilidade e contraponto da autonomia adquirida, a capacidade de autorregulação das escolas e consequente a prestação de contas sobre o trabalho desenvolvido. Esta orientação regulatória, expressa na forma de processos de autoavaliação e de processos de avaliação externa, é justificada como meio de verificação e aferição do funcionamento e do “uso adequado” da autonomia conferida às escolas. Em síntese, existe uma força política comum que aponta para a necessidade da implementação de processos de avaliação nas escolas.

A institucionalização do modelo que começou a ser seguido pela AEE, em Portugal, ocorreu na sequência do Despacho conjunto n.º 370/2006 que estabeleceu e legislou a criação de um Grupo de Trabalho44 responsável por organizar e definir os processos de

44 Pode ler-se: «O Programa do XVII Governo Constitucional assumiu como um dos seus objetivos

prioritários, em matéria de política educativa, a adoção de medidas com vista a enraizar a cultura e a prática da avaliação em todas as dimensões do sistema de educação e formação, designadamente através do lançamento de um programa nacional de avaliação dos estabelecimentos de educação pré-escolar e

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avaliação de escolas, por construir um referencial para a autoavaliação e por organizar o processo e o referencial de avaliação externa. No ano seguinte, o Decreto Regulamentar n.º 81-B/2007 atribuiu à Inspeção-Geral da Educação (IGEC) a função de participar no desenvolvimento do processo de avaliação das escolas, sendo esta oficialmente responsável pelo processo de AEE a nível nacional. O 1º ciclo de AEE decorreu entre 200645 e 2011, onde 1131 escolas públicas foram avaliadas. Neste ciclo avaliativo, o quadro de referências baseou-se em 5 domínios principais46 que se vieram a alterar no 2º ciclo de AEE, ao qual esta investigação se reporta.

Para dar continuidade à AEE, o XVIII Governo Constitucional criou, sob a coordenação da IGEC, um novo Grupo de Trabalho que teve como principal função apresentar uma proposta de modelo para o 2º ciclo de AEE. O Despacho Conjunto nº 4150/2011 (de 4 de Março) atribuiu a este Grupo a missão de reapreciar os referenciais e as metodologias seguidas no 1º ciclo de AEE e elaborar um novo modelo que foi apresentado e fundamentado no Relatório Final desde Grupo de Trabalho (2011).

O 2º ciclo de AEE começou no ano de 2011 e terminou em 201747. Do 1º para o 2º ciclo existiram sete alterações principais:

1)Redução de cinco para três domínios de análise no quadro de referência (Resultados; Prestação do Serviço Educativo; e Liderança e Gestão).

dos ensinos básico e secundário. Assume-se também, explicitamente, uma relação estreita entre a avaliação e o processo de autonomia das escolas, cujo desenvolvimento pressupõe a responsabilização, a prestação regular de contas e a avaliação. Para a concretização desta prioridade, importa proceder à constituição de um grupo de trabalho com o objetivo de estudar e propor os modelos de autoavaliação e de avaliação externa dos estabelecimentos de educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário, e definir os procedimentos e condições necessários à sua generalização, tendo em vista a melhoria da qualidade da educação e a criação de condições para o aprofundamento da autonomia das escolas» (Despacho conjunto n.º 370/2006).

45 No ano de 2006 foi levado a cabo um projeto-piloto pelo Grupo de Trabalho de Avaliação das Escolas que «visou, sobretudo, a preparação da fase piloto de avaliação externa, que foi conduzida e concluída até ao final do ano letivo e que teve duas vertentes: o estabelecimento dos termos de referência para a avaliação externa e a execução e avaliação do piloto de avaliação externa» (Relatório Final do Grupo de Trabalho, 2006: 2 em http://www.ige.min-edu.pt/upload/Relatorios/AEE_06_RELATORIO_GT.pdf). A fase seguinte do processo de AEE começou em 2007, já sob a responsabilidade da IGEC.

46 Ver Quadro de referência para a avaliação de escolas e agrupamentos de escolas em http://www.ige.min-edu.pt/upload/AEE_2011/AEE_10_11_Quadro_Referencia.pdf.

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2) Aplicação prévia de questionários de satisfação à comunidade, nomeadamente, a encarregados de educação, trabalhadores não docentes, alunos e docentes;

3) Utilização do valor esperado na análise dos resultados das escolas, em que foram construídos modelos de valor esperado para os resultados escolares de cada ano de final de ciclo de ensino;

4) Auscultação direta das autarquias, através da criação de um painel de entrevistas autónomo em que participam membros das autarquias;

5) Introdução de um novo nível na escala de classificação, sendo que cada um dos domínios passou a poder ser classificado de Insuficiente, Suficiente, Bom, Muito Bom e Excelente.

6) Necessidade de cada escola avaliada conceber e aplicar um plano de melhoria. Tendo por base a Recomendação nº 1/2011 do CNE, este plano de melhoria, de um modo seletivo, sintético e pragmático, deve conter a ação que a escola se compromete a realizar nas áreas identificadas na avaliação externa como merecedoras de prioridade no esforço de melhoria;

7) Variabilidade dos ciclos de avaliação, sendo o intervalo mínimo entre avaliações de 3 anos e o máximo de 5 anos.

Neste 2º ciclo de AEE foram avaliadas 812 escolas/agrupamentos de escolas. A tabela 6 apresenta o número de escolas/agrupamentos avaliados por ano letivo.

Tabela 6: Número de escolas/agrupamentos avaliados no processo de AEE por ano letivo

Anos letivos Escolas/Agrupamentos

2011-2012 231 2012-2013 144 2013-2014 137 2014-2015 123 2015-2016 100 2016-2017 77 Total 812

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É importante referir que a investigação realizada, e os dados aqui apresentados no que diz respeito à AEE, se reportam aos anos letivos 2012/2013, 2013/2014 e 2014/2015, uma vez que foi nesse período que se realizou a análise documental dos relatórios de AEE, bem como a recolha de informação sobre as classificações, critério seguido para a seleção das escolas em que, neste estudo, foram realizadas entrevistas.