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2 AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL NA ESCOLA: ASPECTOS CONCEITUAIS,

2.3 A Avaliação Institucional como instrumento de gestão

Como destacado na seção anterior, nas últimas décadas, a avaliação assumiu uma centralidade em diversos contextos nacionais, não apontando sinais de declínio. Ao contrário, percebe-se sua expansão para outras dimensões que vão além da avaliação da aprendizagem do aluno tida como ―carro chefe‖ dos processos avaliativos do campo da educação.

Numa lógica pragmática e sistêmica, a avaliação é vista como um mecanismo de controle administrativo e pedagógico. Aliada a uma visão gerencialista, a avaliação pode se tornar um instrumento de seleção pelo mérito, centrando-se em questões como a produtividade, prestação de contas e responsabilização de modo

que os resultados produzidos sejam objetos para análise e formulação de políticas públicas ou ações de gestão mais eficientes.

Conforme afirmam Sordi e Ludke (2009), o discurso pragmático é construído a partir de um modelo que valoriza a centralidade das avaliações externas e de larga escala. No entanto, as autoras afirmam que esse discurso perde potência e eficácia quando os sujeitos da relação desconhecem a natureza multifacetada deste fenômeno e tendem a valorizar somente os resultados obtidos em circunstâncias pontuais, desconsiderando os processos em que se ancoraram. Para Sordi e Ludke (2009), o processo avaliativo deixa de ser eficaz ao desconsiderar o trabalho pedagógico desenvolvido e as condições intra e extraescolares que afetam estes resultados avaliativos.

Este tipo de enfoque tende a penalizar também as escolas, em especial aquelas localizadas em áreas de maior vulnerabilidade social, provocando um certo mal-estar em toda a equipe escolar quando se deparam com a divulgação de resultados ruins.

Portanto, é preciso ampliar a perspectiva sobre a avaliação, de modo a compreender que existem outras dimensões no processo avaliativo que requerem uma estratégia organizadora específica permitindo múltiplos olhares e ações sobre a realidade de cada escola. Dentro dessa perspectiva, Belloni (1999), propõe diferenciar a avaliação educacional externa da avaliação institucional, pois enquanto a primeira incide sobre aprendizagem, desempenho escolar e currículos, a segunda se refere a políticas e instituições, devendo buscar a compreensão da realidade, voltar-se para o processo decisório e produzir respostas a questionamentos, atuando de forma a promover o autoconhecimento e a reflexão, a fim de orientar a tomada de decisão e a disponibilização de informações à própria instituição, ao sistema e à sociedade, orientando políticas, prioridades e alocação de recursos.

Não obstante, para Oliveira (2013) as avalições externas, juntamente com as avaliações internas, (autoavaliação) servem de base para a realização da avaliação institucional. Segundo a autora o cruzamento dos dados sobre a realidade permite às instituições um olhar mais sistêmico e qualificado sobre suas ações, facilitando, assim, a tomada de decisões estratégicas que venham melhorar a qualidade dos serviços educacionais prestados à sociedade.

Segundo Afonso (2014), dentro da complexidade do campo da avaliação educacional estão associadas à avaliação institucional das escolas; a avaliação

profissional dos docentes; a avaliação pedagógica das aprendizagens dos alunos e a avaliação das políticas educativas. Portanto, no que tange a avaliação institucional objeto desta pesquisa, é imprescindível enquadrá-la como uma das dimensões conceituais da avaliação educacional de modo a compreender e fundamentar sua relevância para as instituições de ensino básico. Esse tipo de avaliação voltada para a melhoria da qualidade institucional possui essencialmente um caráter de avaliação formativa e participativa.

Já Oliveira (2013), tomando como perspectiva o cenário brasileiro, sintetiza a avaliação educacional em três modalidades: a da aprendizagem; a do sistema, ou seja, as avaliações externas e a institucional. Para a autora os agentes avaliadores, se alternam conforme a categoria da avaliação. Segundo Oliveira (2013) na avaliação da aprendizagem, o agente avaliador é o professor e o avaliado, o aluno; no âmbito do sistema, a avaliação (externa) passa a ser responsabilidade do Estado sendo avaliados os alunos, os professores e a escola (essas duas categorias são mais focados nos resultados do processo educativo); por sua vez, na avaliação institucional (interna) é a comunidade escolar quem planeja, executa, avalia e toma decisão, aqui o foco é centrado na melhoria dos processos internos do trabalho escolar.

Quando se propõe um estudo sobre avaliação institucional, o termo avaliação interna ou autoavaliação é recorrente. De um modo geral na literatura do tema o conceito de avalição institucional emerge associado aos termos avaliação interna e autoavaliação que dizem respeito ao processo avaliativo que é feito pelos próprios atores da instituição ou por entidades exteriores à instituição em análise, mas que atuam a pedido da mesma. (BETINI, 2009; BRANDALISE, 2010; MOREIRA, 2005 e OLIVEIRA, 2013).

Contudo, Moreira (2005) adverte que a avaliação realizada pelos atores da própria instituição não significa necessariamente que a iniciativa tenha partido da instituição. A iniciativa pode ser promovida tanto por entidade ou atores internos como por entidades externas à instituição educativa como, por exemplo, entidades acadêmicas, órgãos regionais ou órgãos centrais da administração do sistema de ensino.

No que diz respeito à avaliação institucional interna, Baptista (2007) orienta que quando se pretende a melhoria da qualidade e o desenvolvimento da escola, o importante é envolver todos os atores da instituição atribuindo a estes, condições

para que determinem o que é útil avaliar e possam intervir na definição de critérios. Neste caso, a avaliação interna assume um caráter participativo. Se a avaliação interna pretender prestar contas às autoridades educativas ou transmitir informação de apoio à avaliação externa, são as autoridades que definem os critérios, sendo a avaliação interna mais tecnicista ou administrativa.

Não obstante, é preciso ressaltar que existem várias nuances possíveis na conceituação da avaliação institucional, entretanto, para compreensão do caso em estudo, o enfoque dado pressupõe uma avaliação de iniciativa interna com a participação dos diferentes grupos da organização escolar avaliando o mesmo aspecto sendo que o resultado da avaliação surge da contribuição de cada grupo.

Dentro dessa perspectiva, Rodríguez e Calatayuda Becerra (apud Moreira, 2005, p.32) afirmam que a autoavaliação é ―entendida como um mecanismo a partir do qual a instituição entra num processo de reflexão e autoanálise, se converte num processo educativo da própria instituição e dos seus membros‖.

Seguindo na mesma linha Brandalise (2010) apresenta uma concepção complementar sobre a avaliação institucional a qual a autora também denomina de autoavaliação,

A autoavaliação da escola é aquela em que o processo é conduzido e realizado por membros da comunidade educativa. Pode ser definida como uma análise sistemática da escola com vistas a identificar os seus pontos fortes e fracos, e a possibilitar a elaboração de planos de intervenção e melhorias. Frequentemente é realizada tendo como motivação principal o acompanhamento do projeto pedagógico da escola, no quadro de uma dinâmica de desenvolvimento organizacional e institucional. A avaliação inserida nas várias ações desenvolvidas na escola se coloca como mediadora do crescimento da comunidade escolar (BRANDALISE, 2010, p.6).

Para D’Avila (2013), o que importa na avaliação institucional é levar a escola a pensar e definir seus objetivos e a partir deles avaliar suas ações com a finalidade de melhorar a qualidade da educação. A autora enfatiza que nesse contexto, o primeiro fundamento de um processo de avaliação institucional deverá ser a ênfase na definição clara dos objetivos da escola.

A avaliação institucional interna oportuniza uma prestação de contas à sociedade, permite a reformulação das práticas pedagógicas, a melhoria da comunicação e das relações humanas. Pode-se dizer que a avaliação institucional

mostra os pontos fortes e fracos e permite a correção e aperfeiçoamento da trajetória a ser seguida por todos envolvidos na comunidade escolar.

A avaliação institucional como estratégia de gestão pode ser um instrumento essencial para construção do planejamento e organização da escola. Assim, uma escola que se propõe a implementar um projeto de avaliação institucional, poderá encontrar subsídios para o aprimoramento das ações nas diversas dimensões da gestão escolar, ou seja, poderá encontrar elementos importantes para nortear o trabalho dos atores escolares e melhorar as práticas de gestão e ensino estabelecendo um canal democrático e legítimo de comunicação entre a escola e a comunidade escolar.

É importante lembrar que, numa abordagem mais técnica, a implementação de um processo de autoavaliação na escola implica o desenvolvimento de um sistema de coleta de dados produzidos a partir da observação das práxis educativa e organizacional em suas diversas dimensões. O processo também requer tratamento e análise das informações coletadas tendo por base a construção de indicadores com vistas ao controle da qualidade do serviço educativo prestado à comunidade.

Assim, independente do viés que se queira assumir para definição do conceito de avaliação institucional é imprescindível também ter a clareza de que enquanto processo de avaliação sua prática envolve necessariamente compreender a complementaridade entre as vertentes das avaliações internas e externas.

Segundo Moreira (2005), esse processo avaliativo deve ser realizado de forma sistemática prolongando-se no tempo o que implica a disponibilização de condições para sua consecução. A autora esclarece que a importância desse mecanismo está no fato de que ao final de um ciclo suas conclusões se constituam como pontos de partida para a reformulação e melhoria da ação avaliativa e da ação pedagógica da escola.

Apesar da importância já salientada da avaliação institucional interna, percebe-se que esta não é uma prática muito comum nas escolas de ensino fundamental e médio. As escolas se submetem à avaliação externa realizada pelos órgãos governamentais, mas a maioria não tem na sua cultura avaliativa a prática da avaliação institucional.