• Nenhum resultado encontrado

1 APRESENTAÇÃO DO CASO EM ESTUDO

1.4 A Avaliação Institucional na Escola Pesquisada: Discutindo o caso

A idealização para implementação da avaliação institucional na E. E. Professora Palmira Morais surgiu quando o pesquisador na condição de gestor iniciou o Curso de Especialização em Gestão Escolar3 na UFOP (Universidade

Federal de Ouro Preto) no ano de 2013. Cabe ressaltar que a vice-diretora da escola também era cursista na mesma turma. O curso previa como um dos requisitos para diplomação a produção de um texto científico apresentando os resultados de um projeto de intervenção nos moldes da metodologia da pesquisa-ação. Dessa forma os cursistas, em sua maioria gestores de escolas públicas, foram instigados a lançar um olhar investigativo e reflexivo sobre a escola que atuavam. Assim, o ponto de partida para iniciar a pesquisa seria revisitar o PPP da escola, detectar possíveis distorções e posteriormente desenvolver um plano de ação com foco na prática da gestão escolar.

Dentro desta perspectiva, durante a fase preliminar da pesquisa iniciada em abril de 2014 foi identificado que a implantação da avaliação institucional era uma das metas do PPP construído em novembro de 2012, mas que ainda não tinha sido efetivada.

Seguindo os objetivos acadêmicos adotados, para buscar elementos que justificassem a implementação da avaliação institucional como instrumento de

3 O Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica Pública faz parte das ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Surgiu da necessidade de se construir processos de gestão escolar baseados nos princípios da moderna administração pública e de modelos avançados de gerenciamento de instituições públicas de ensino. Busca qualificar os gestores das escolas da educação básica pública, a partir do oferecimento de cursos de formação a distância. A formação dos gestores é feita por uma rede de universidades públicas, parceiras do MEC. (Fonte site UFOP)

gestão, foi feita uma imersão no cotidiano da EEPPM e a partir das observações e reflexões das práticas constatou-se que alguns problemas que mereciam uma atuação mais eficiente da equipe gestora.

Para Moura e Eleutério (2014) dentre os problemas detectados o primeiro deles era a falta de coesão da equipe. A diversidade de expectativas marcada possivelmente pelo conformismo de cada ator que restringia sua ação apenas no seu âmbito de atuação escolar sem a preocupação com princípio de responsabilização. Sobre esse aspecto, Senge (1993, apud Lück, 2000), afirma que quando os membros de uma organização concentram-se apenas em sua função, não se sentem responsáveis pelos resultados. Isso acabou revelando não só a falta de objetivos comuns que a priori deveriam ser emanados do projeto escolar construído coletivamente (norteador das expectativas comungadas), mas também a falta de um plano estratégico de gestão para liderar as mudanças necessárias neste processo, sobretudo de forma mais acentuada no segundo semestre de 2011.

Considerando esse contexto de 2011, supõe-se a priori, que a derrota da equipe gestora antecessora nas eleições, tendo ainda pela frente mais de 5 meses de gestão, tenha corroborado para um sentimento de anomia dentro da instituição. Situações como essa se repetiram em algumas escolas do munícipio onde houve a derrota eleitoral da equipe que gerenciava a escola. Nesse caso, a legitimidade do gestor era questionada e em outros, o próprio gestor negligenciava suas responsabilidades após a derrota.

Acredita-se que esse contexto pós eleitoral aliado a uma greve de mais de 100 dias no mesmo ano, possa ter relação com a desorganização institucional da escola e também com os baixos resultados educacionais internos e externos da escola registrados em 2011 e 2012. Conforme já destacado, outro problema que veio à tona a partir do olhar investigativo revelou a ausência de um planejamento estratégico tanto na dimensão pedagógica como administrativa-financeira.

Segundo Moura e Eleutério (2014), todo o esforço do trabalho era despendido com foco na reatividade por demanda externa por planos meramente funcionais impostos hierarquicamente pela SRE/SEE ou pelas demandas internas, situação costumeira como a resolução de problemas inesperados. Essas situações são conhecidas nas escolas pelo termo usual: ―apagar inc ndio‖.

Essa ausência de metodologia de planejamento invariavelmente se configura de maneira muito comum nas escolas como uma forma de administrar por crises.

Segundo Lück (2009, b), essa forma de gestão escolar é estimulada e orientada por descobertas ocasionais e espontâneas, de caráter imediatista, por uma visão de senso comum e reativa da realidade e, portanto, limitada em seu alcance, muito influenciada pela tendência de se agir por tentativas e erros.

Assim, durante a elaboração do projeto na UFOP ficou evidenciado para os pesquisadores que ao colocarem em prática a meta I do PPP (implantação de um modelo de avaliação institucional na escola) estariam dando o primeiro passo para a compreensão dos problemas identificados e que para solucioná-los seria imprescindível mapear todos os processos administrativos e pedagógicos desenvolvidos na escola para então propor as mudanças necessárias.

Curiosamente a ideia de incluir um modelo de avaliação institucional como Meta no PPP da escola se deu em meio a um debate sobre a avaliação de desempenho durante a fase de elaboração do PPP em 2012. Um grupo de professores que ainda se posicionavam como oposição à nova gestão, temendo um rigor maior na avaliação de desempenho como forma de retaliação questionou se não seria possível que os servidores também avaliassem o gestor da escola.

O debate se aprofundou e dentro dos princípios democráticos chegou-se ao consenso de que não só seria perfeitamente possível avaliar o gestor escolar como toda a instituição em seus diversos setores. Assim, surgiu a Meta I do PPP que seria: ―Criar um método de avaliação institucional para diagnóstico e monitoramento da escola considerando aspectos diversos das ações dos gestores, da equipe pedagógica, dos docentes, da equipe administrativa, do colegiado e dos demais servidores com aplicação semestral‖ (MOURA e ELEUTÉRIO, 2014).

Retomando o caso, em 2014, após constatar estes problemas e verificar a necessidade de uma intervenção real na escola a equipe gestora, na condição de pesquisadores, discutiram com a orientadora da Especialização em Ouro Preto, a viabilidade para desenvolver o projeto de intervenção.

Ao receber o aval, deu-se início a fase de planejamento ou etapa de preparação. O primeiro passo foi o levantamento bibliográfico para apropriação dos pressupostos teóricos sobre o tema e posteriormente tentar compreender a dinâmica das ações que antecedem a implementação e o processo avaliativo propriamente dito. Assim boa parte do tempo foi dedicada a pesquisa bibliográfica com o objetivo de analisar conceitos, concepções, princípios, e metodologias da avaliação institucional no âmbito das escolas públicas de ensino básico.

Durante esse processo, surgiu um dos primeiros entraves ao desenvolvimento do projeto. Como já foi exposto o tema é abundante quando a abordagem enfoca a avaliação institucional nas IES (Instituições de Ensino Superior).

Quando o foco da pesquisa se debruça no estudo da avaliação institucional na escola de educação básica constata-se que há uma escassez de trabalhos acadêmicos, teses e dissertações publicadas.

Nesse sentido os referenciais teóricos usados para embasar a metodologia de implementação da avaliação institucional na escola pesquisada foram os estudos de Brandalise (2010), Gadotti (2010) e Oliveira (2013). Esses autores evidenciam que as avaliações institucionais são realizadas nas Universidades, desde a década de 1980 porém a prática precisa ser amplamente divulgada e trabalhada nas escolas de ensino fundamental e médio. De acordo Oliveira (2013, p.30) ―no Brasil, a prática sistemática da avaliação institucional no âmbito educacional é uma realidade das universidades‖.

Após esse levantamento bibliográfico, foi então elaborado um cronograma de ações (Quadro 2). Seu objetivo era guiar as ações para implementação dentro de um prazo pré-estabelecido pela coordenação do curso de Especialização.

Quadro 2 - Cronograma de ações Implantação da Avaliação Institucional na EEPPM CRONOGRAMA DE AÇÕES IMPLANTAÇÃO DA AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL NA EEPPM E T AP A S INT E R V E N

ÇÃO AÇÕES REGISTRO DAS AÇÔES

PERÍODO P RE V IS ÃO IN ÍCIO RMINO

1 Divulgação Divulgar o Projeto de Intervenção seus objetivos e metas a serem alcançados.

15 dias 14/07 01/08

2 Sensibilização Sensibilizar a comunidade escolar. 15 dias 04/08 22/08

3 Diagnóstico Diagnosticar a atual situação da escola nas dimensões de ensino, pessoal e estrutura física.

15 dias 04/08 22/08 4 Construção e validação dos instrumentos de avaliação Construir os instrumentos estabelecendo as dimensões, a categoria de análise e os indicadores. 60 dias 04/08 26/09

5 Aplicação Aplicar estabelecendo o período de início os instrumentos de final do processo.

6 Tabulação Tabular os dados obtidos. Emitir relatórios com gráficos demonstrativos.

15 dias 03/11 21/11

7 Interpretação Interpretar os resultados com base no referencial teórico observando a metodologia estabelecida.

40 dias 13/10 28/11

8 Publicação Elaborar relatório dos resultados para publicar no âmbito da escola e comunidade. 15 dias 01/12 19/12 9 Programa de melhorias

Elaborar um plano de metas e ações visando à melhoria dos aspectos apontados de forma negativa.

15 dias 01/12 19/12

10 Avaliação do processo Reavaliar o projeto institucional de intervenção e promover as alterações no projeto

15 dias 01/12 19/12

Fonte: Moura e Eleutério (2014, p. 15).

Esse cronograma revelou outra dificuldade ao projeto, que seria o fator tempo. Obviamente por se tratar de um projeto acadêmico, todo o processo deveria ser concluído em pouco mais de 4 meses. A questão tempo, ou melhor dizendo, a falta dele, implicou por exemplo na insuficiência da pesquisa qualitativa com grupos focais, na análise mais detalhada dos dados e sobretudo na ausência da construção de um plano de melhorias baseado nos resultados obtidos.

Também não foi possível criar uma comissão especial para acompanhar e coordenar o processo.

A priori, percebendo essa dificuldade pensou-se em atribuir ao próprio colegiado escolar a missão de coordenar o processo, porém o ineditismo da prática na escola aliada a limitação sobre os conhecimentos técnicos metodológicos e teóricos sobre o tema já era um empecilho para os próprios pesquisadores, que dirá para os pais, alunos e professores que nunca tiveram contato com a experiência. Assim a comissão não foi constituída.

De posse de um esboço de projeto e de um cronograma na condição de pesquisador, foi solicitada uma reunião com o Colegiado Escolar para apresentação e aprovação para implementação do Projeto de Intervenção na escola. Essa reunião ocorreu em maio de 2014. Posteriormente, visando cumprir as etapas 1 e 2 referenciadas no Cronograma de Ações (Quadro 2), foi realizada outra reunião em 29 de julho de 2014. Nessa reunião, o projeto de intervenção que consistia na implementação da avaliação institucional foi apresentado aos servidores e professores da escola. Na ocasião, foi esclarecido que a Avaliação Institucional seria um mecanismo para diagnóstico e monitoramento da escola em suas múltiplas

dimensões. Para legitimar o processo e quebrar a resistência principalmente dos professores, foi relembrado aos participantes que a avaliação institucional era uma das metas do PPP da escola e que ainda não havia sido implementado e por este motivo foi contemplada neste projeto.

Ainda focado na divulgação e sensibilização junto à comunidade escolar foi realizada a segunda reunião com o colegiado no dia 03 de setembro de 2014 cujo objetivo era informar sobre a avaliação institucional e buscar a parceria do mesmo nessa empreitada. O colegiado foi incorporado ao processo constituindo a comissão de acompanhamento que em tese seria responsável pela coordenação de todo o processo avaliativo. Mas como foi mencionado anteriormente havia uma série de obstáculos para a atuação plena e efetiva do Colegiado naquele contexto e o processo acabou centralizado pelos gestores.

A divulgação também foi feita aos alunos e através de cartazes nos murais e salas de aulas. Em 16 de agosto de 2014 no chamado dia ―D‖ momento em que a comunidade escolar se reuniria para discutir os resultados das avaliações do SIMAVE foi apresentado o projeto de avaliação institucional aos pais dos alunos. Nessa reunião foi reforçada a importância da avaliação institucional principalmente como instrumento de transparência e responsabilização da escola com a comunidade.

Para Moura e Eleutério (2014), diferentemente dos professores e funcionários que naturalmente se sentem constrangidos com a possibilidade de serem avaliados pela comunidade, os pais de alunos encararam o projeto como uma novidade que ainda não haviam vivenciado. Demonstraram interesse em participar e colaborar, sobretudo, porque compreenderam que o processo poderia implicar em melhoria da educação oferecida pela escola.

Pode-se afirmar que a relevância dessa dissertação está na retomada da reflexão sobre avaliação institucional implementada na escola pesquisada possibilitando uma nova oportunidade para fomentar a cultura de autoavaliação e responsividade da escola através do PAE. Este projeto se justifica também pela possibilidade de se estabelecer um debate teórico mais consistente de modo a contribuir com o tema da avaliação institucional na escola. Outro aspecto relevante da pesquisa é a oportunidade de realizar um estudo de caso, analisando de modo crítico as experiências vividas na EEPPM com a metodologia da avaliação institucional, validando seus resultados podendo inclusive aperfeiçoar os pontos

falhos para posteriormente reeditá-la com o propósito de colher subsídios para elaboração de um instrumento mais eficiente inclusive sugerir a implantação para outras escolas da rede a partir desta experiência.

Enfim, diante do exposto, o que se pretende com este trabalho é propor um aperfeiçoamento da avaliação institucional já experimentada na E. E. Professora Palmira Morais, de modo a possibilitar sua efetividade como instrumento de gestão estratégica. Por outro lado, é importante reafirmar que não se pretende a conclusão definitiva do estudo, mas sim desenvolver referenciais com caráter instrumental para novos estudos. Apesar da complexidade de estabelecer uma base para generalizações considerando que cada escola tem suas próprias especificidades institucionais é possível vislumbrar como produto final deste trabalho além do aperfeiçoamento do instrumento de avaliação institucional implantado, sua potencial aplicação também em outras escolas.

2 AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL NA ESCOLA: ASPECTOS CONCEITUAIS,