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8. ANEXO

3.1 A base do Triângulo de Ogden & Richards

Ao entender-se a Onomástica como o estudo dos nomes próprios, considera-se a Toponímia e a Antroponímia como ramos desse estudo, a primeira responsável pelos nomes de lugares e a segunda, pelo nome de pessoas.

O topônimo pode ser compreendido como o vocábulo que estabelece a função semiótica entre o homem e a língua, entre o homem e o espaço, como também entre o homem e o tempo em uma concepção de linguagem especializada sincrônica e diacrônica.

As relações homem/língua, homem/espaço e homem/tempo são fundamentais para justificar a interdisciplinaridade nesse campo de estudo, não podendo ele ser pensado isoladamente. A interdisciplinaridade, portanto, é parte inseparável desse ramo de conhecimento. A possibilidade de intercâmbio entre as principais áreas de pesquisa da Toponímia, a saber, a Linguística, a Geografia, a História, a Antropologia e a Psicossociologia, é fundamental para a formação de uma visão holística do ser humano e das relações que este mantém com o mundo.

Não se pode, porém, deixar de caracterizar a autonomia da Toponímia como ciência. Como já foi visto, ela possui seus códigos e objetos próprios de análise.

A linguagem é, aqui, entendida como uma parte integrante da vida social. Partiu-se do pressuposto de Lévi-Strauss35 de que a Linguística está estreitamente ligada à Antropologia Cultural. Como sistema de signos, portanto, sistema semiótico, a linguagem

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estabelece relações intrínsecas com a cultura. E, como disse Benveniste36, “nenhuma língua é separável de uma função cultural”. Procurou-se estudar o topônimo como unidade de língua, inserido nos princípios de classificação da Linguística, e como unidade cultural. Deu-se prioridade, na presente análise toponímica, a duas modalidades de aferição dos fenômenos de motivação, pois se entende serem essas as características que distinguem o topônimo no universo das linguagens, a saber:

1. primeiro, a intencionalidade que anima o denominador, acionado em seu agir por circunstâncias várias, de ordem subjetiva ou objetiva, que o levam a eleger, em um verdadeiro processo seletivo, um determinado nome para este ou aquele lugar;

2. a seguir, na própria origem semântica da denominação, no significado que revela, de modo transparente ou opaco, e que pode envolver procedências as mais diversas. (DICK,1990a, p.49)

Primeiramente, será apresentado o signo linguístico composto de significante, uma imagem acústica, e significado, um sentido, e cuja relação significante/significado se dá de forma arbitrária37, não existindo relação direta entre a palavra e a coisa que ela representa (o referente). Melhor explicando, citar-se-á o triângulo de Ogden e Richards modificado por Ullmann (1973).

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BENVENISTE, 2006, p.24. 37

A respeito da arbitrariedade do signo linguístico, Benveniste afirma que para aqueles que utilizam a mesma língua materna, a relação significante/significado se torna uma necessidade (1995).

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Ullmann (1973, p.116) chama de nome:

a combinação de elementos fonéticos e de sentido à informação que se comunica ao ouvinte. O objeto, com o qual se relaciona o nome, não se liga diretamente a este (como se indica pela linha pontilhada), mas se relaciona através do sentido. O significado de uma palavra será a relação recíproca que existe entre o som e o sentido.

É necessário que o topônimo seja analisado como nome próprio:

a diferença essencial entre os substantivos comuns e os nomes próprios reside na sua função: os primeiros são unidades significativas; os segundos, simples marcas de identificação (ULLMANN, 1973., p.160).

Diferente de outros signos linguísticos, como nome próprio, poder-se-ia dizer que o topônimo é um signo motivado ao partir-se do princípio de que a nomeação não é arbitrária, mas uma escolha. Entretanto, deve-se considerar que raramente se cria novas palavras para dar nome às coisas. Até pelo princípio de economia da língua se faz natural, mesmo ao denominar-se um novo objeto, ou “um novo lugar”, até então inexistente, aproveitar-se-á palavras que são parte do universo lexical, pinçadas do sistema e inseridas na norma linguística como vocábulos.

SENTIDO

OBJETO (REFERENTE) NOME

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Los términos son el conjunto de signo lingüísticos que constituyen un subconjunto dentro del componente léxico de la gramática del hablante (CABRÉ, 1995).

Logo, pode-se dizer que a motivação está no denominador e não no sistema linguístico. Segundo afirma Dick (1990a), a “compreensão da existência de um vínculo estreito entre o objeto denominado e seu denominador é que remeterá a toponímia taxionômica ao estudo das motivações da nomenclatura geográfica”.

Desse modo, poderia ser dito que a motivação na constituição do topônimo não altera a propriedade de arbitrariedade do signo linguístico, pois o ato de nomear pressupõe apenas uma restrição semântico-sintática de semas lexicais e gramaticais de um lexema (sistema), transformando-o em um vocábulo (norma). O que normalmente acontece com esse vocábulo é que ele adquire uma nova semantização ou ressemantização, recebendo acréscimo da combinatória dos semas contextuais de um campo de conhecimento, levando em consideração as variações diatópicas, diacrônicas, diastráticas e diafásicas.

Portanto, a motivação toponímica se efetivaria, realmente, em nível de palavra ocorrência, na qual o vocábulo seria ressemantizado, levando em conta um contexto geográfico, histórico, étnico, ideológico e, até mesmo, econômico e social, dentro de um percurso semiótico.

Barbosa (1995) diz:

a palavra ocorrência sofre ainda maior restrição (significação específica do texto), mas, ao mesmo tempo, recebe acréscimo da combinatória dos semas contextuais, no percurso sintagmático (epissemema).

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No processo de ressemantização, em nível de discurso manifestado ou palavra ocorrência, a denominação ou ato de nomear passa a ter valor monossemêmico, pois àquela expressão corresponde um só semema que nada mais é que o lugar que ela denomina. Neste momento, seria correto afirmar que o triângulo de Ogden e Richards se fecharia. A linha, antes pontilhada, poderia ser pensada, agora, como uma linha contínua, pois o nome de lugar se ligaria diretamente ao referente que é o próprio lugar.

E como diz Dick38:

acidente e nome de lugar, indivíduo e nome pessoal, configuram sempre, uma unidade inseparável, tornando-se difícil, por vezes, recuperar as distâncias entre a expressão e o objeto representado.

Nesse caso, não existiria um sentido comum que, segundo Hjelmslev (2006, p. 57), dependendo da língua, pode ser moldado diferentemente em expressão e conteúdo.

Pode-se, então, afirmar que a motivação do signo toponímico está no denominador e não no sistema da língua, sendo

38 DICK ,1999, p.121. SENTIDO OBJETO (REFERENTE) NOME

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essa motivação um dos principais objetos dos estudos onomásticos, isto é, a “intencionalidade que anima o denominador”.

Ao analisar-se os topônimos como palavra ocorrência dentro do universo da Onomástica, seguiu-se o processo semasiológico, aquele que parte do específico para o geral, “a abordagem que visa, a partir dos signos mínimos (ou dos lexemas), à descrição da significação”39

. No plano semiótico, partindo da análise das figuras para a análise das categorias fundamentais, ou da praxis ao logos.

E, novamente, Dick (1990a, p.209) vem esclarecer: “Tomando-se por base o topônimo concretamente manifestado, procedeu-se ao estudo etimológico das formas linguísticas”.