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5.1 A base teórica dos Livros Didáticos de Português

A explicitação da base teórica do trabalho proposto pela obra, bem como orientações metodológicas no Manual do Professor são requisitos essenciais para a aprovação no PNLD. As Coleções Português: Linguagens e Tecendo Linguagens satisfazem essa norma e, com isso, permitimo-nos conhecer as declarações dos autores no que se referem aos gêneros no eixo de leitura e produção textual.

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5.1.1- O Manual do Professor da Coleção Português: Linguagens

volume 4

Esta seção busca evidenciar o embasamento teórico das propostas de atividades do ensino da língua portuguesa, no que se refere ao tratamento dos gêneros, baseando-se no Manual do Professor do livro Português: Linguagens – vol. 4. Como vimos anteriormente, essa coleção atinge um grande público, já que foi a mais distribuída na Rede Pública de Ensino Fundamental, em todo o país.

No Manual do Professor, os autores procuram interagir diretamente com os professores, oferecendo-lhes orientações de uso, a descrição do livro didático, metodologia e pressupostos teóricos da obra, bem como cronograma e sugestões de atividades.

Serão destacadas as explicitações dos fundamentos dos trabalhos propostos nos eixos de leitura e produção textual. Como se trata da 7ª edição, os autores afirmam aprofundar e confirmar os trabalhos das edições anteriores.

Sobre o eixo de leitura, os autores propõem:

[...] um trabalho consistente de leitura, com uma seleção criteriosa de textos – que vão dos clássicos da literatura universal aos autores da literatura contemporânea brasileira -, comprometida com a formação de leitores competentes de todos os tipos de textos e gêneros em circulação social. (CEREJA e MAGALHÃES, 2012, Manual do Professor, p. 4)

Para isso, tem-se por base a referência dos PCN (BRASIL/SEF, 1998, p. 36) quando assinalam que um leitor competente é aquele que compreende o que lê, que identifica os elementos implícitos, que estabelece relações com outras leituras, que reconhece que um texto apresenta diversos sentidos possíveis e que é capaz de justificar a sua leitura com os elementos discursivos.

Os autores dizem acreditar que tanto a leitura em classe quanto fora dela, deve ser uma prática constante que cabe à escola promover, oferecendo aos alunos uma diversidade de textos e gêneros textuais.

77 Quanto à abordagem de textos literários, os autores recomendam um diálogo com outras artes e linguagens, e enfatizam o caráter artístico, cultural e dinâmico da literatura. Os diálogos que ocorrem em seu interior vão além das fronteiras geográficas e linguísticas. Segundo eles:

Quando se propõe uma perspectiva dialógica para o trabalho com a literatura brasileira, não se pretende desprestigiar nossas tradições, nossa cultura nem nossa formação étnica e linguística, mas, sim, perseguir os diálogos travados por nossa literatura, com ela mesma ou com outras literaturas, e assim compreendê-la melhor e respeitá- la em sua historicidade. (CEREJA E MAGALHÃES, 2012, Manual do Professor, p. 19)

Portanto, no estudo com textos literários não cabe o limite estrito, mas cabem outras artes, como música popular, pintura, cinema, teatro, TV, cartuns, quadrinhos e gêneros da internet. Todas as linguagens e todas as mídias, ou seja, “cabe a vida que com a literatura dialoga” (p.19).

Sobre o eixo de produção textual, os autores têm como fundamento teorias de gêneros e a Linguística textual. Segundo eles, a obra reúne contribuições de mais de uma linha teórica, mas revela-se um interesse especial pelas teorias de gêneros do discurso.

Eles evidenciam a teoria gêneros de Bakhtin (2011), destacando os três aspectos básicos coexistentes: o tema, o modo composicional e o estilo. Dizem não desprezar os tipos textuais, tradicionalmente trabalhados em cursos de redação, mas adota-os numa perspectiva ampla, a da variedade de gêneros.

Os estudos de Schneuwly e Dolz (2004) também fundamentam o eixo de produção textual. Evidenciam-se a adoção da diversidade textual, de forma espiralada; do agrupamento de gêneros e da progressão curricular propostos pelos pesquisadores de Genebra. Para os autores do livro didático: “Com o trabalho de produção textual centrado nos gêneros, o ato de escrever é dessacralizado e democratizado: todos os alunos devem aprender a escrever todos os tipos de texto” (p. 32).

Os autores do referido livro didático baseiam-se na proposta de Schneuwly e Dolz de oportunizar aos alunos, de todos os anos de escolaridade, o contato com gêneros de todos os grupos tipológicos. Assim, tornar-se-ão conhecidas as tipologias textuais: narração, descrição, relato, argumentação e exposição; e

78 especialmente, o contato com diversos gêneros de distintas esferas sociais, para dessacralização e democratização do ato de escrever.

Com essa proposta eles acreditam que seja possível transformar o espaço da sala de aula numa oficina de textos de ação social e, ainda, redefinir o papel do professor de língua portuguesa, em vez de “professor de redação” distante da realidade do aluno, um “especialista nas diferentes modalidades, orais e escritas, de uso social” (p. 32).

Vimos, portanto, que em relação ao eixo de leitura os autores assumem o compromisso de um trabalho consistente oferecendo, por meio de diferentes perspectivas, uma seleção criteriosa de textos de todos os tipos e gêneros de circulação social, mesmo sem adotar teorias de gêneros. Eles declaram buscar análises que contemplam os elementos implícitos, os elementos discursivos, a relação com outras leituras e os diversos sentidos possíveis produzidos; bem como uma abordagem dialógica dos textos literários com outras artes.

No eixo de produção textual, os autores baseiam-se nas vertentes da teoria de gêneros de Bakhtin e de Schneuwly e Dolz, garantindo, assim, atividades com todos os tipos de textos e diversidade de gêneros.

A adoção de diferentes perspectivas como base para o ensino da língua portuguesa parece-nos positiva, mas o nosso interesse está nas perspectivas sobre gêneros, pois estes perpassam a obra como um todo e os autores só fundamentam explicitamente o eixo de produção textual com as teorias que se referem aos gêneros. Esperamos encontrar uma interação entre essas perspectivas com a nossa investigação e ver como isso dá conta do estudo dos gêneros apresentados no Livro do Aluno.

Consideramos que esses princípios e organização, explicitados no Manual do Professor, sejam a formação da voz dos autores, suas crenças e concepções professadas sobre o ensino da Língua Portuguesa (LP), influenciados pelos parâmetros do PNLD e adaptações editorias. Convém destacar que este trabalho não tem objetivo de avaliar a qualidade dos livros, dos autores e das editoras, mas sim compreender se a abordagem dos gêneros encontra-se conformidade com alguma(s) vertente(s) das teorias de gêneros; e caso esteja, qual (quais) tem (têm) maior influência nas atividades.

79 Passamos, agora, ao Manual do Professor da Coleção Tecendo Linguagens