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Capítulo 1 – Status: Refugiado

1.3 A Cáritas e os refugiados

A Cáritas Internationalis é uma ONG da igreja católica presente em 200 países e territórios, ramificada em outras instituições localizadas, denominadas Cáritas Nacionais. Sediada no Vaticano, possui ainda escritórios nos EUA e em Genebra, responsáveis por representá-la na ONU.

Quando em 1948, depois dos fortes terremotos que abalaram regiões do Japão, a igreja católica buscou criar um fundo para socorrer as vítimas de catástrofe naturais, esta sentiu a necessidade de criar para tal tarefa um organismo responsável por captar e distribuir esses recursos. Em 1950, então, institui-se oficialmente26, a Cáritas

Internationalis responsável por este trabalho de captação e distribuição de recursos a nível internacional, destinados às populações vítimas de catástrofes em todo o mundo.

Atualmente, mesmo sendo em si uma organização, ela é composta por uma confederação global de 165 organizações católicas membro, trabalhando em emergências humanitárias e em projetos de desenvolvimento internacional.

Inspirada pela fé cristã e pelos valores gospel, nós trabalhamos com os pobres, os vulneráveis e os excluídos, sem olhar para raça ou religião. Nossa grande força é a diversidade de nossos membros, que varia de pequenos grupos de voluntários, até algumas das maiores organizações humanitárias e de desenvolvimento do mundo (...). Através do alcance incomparável da Igreja Católica, somos capazes de reunir conhecimentos locais no nível das organizações de base, com a combinação da experiência e dos recursos de uma rede global.27.

Mais especificamente, tais membros são organismos nacionais de caridade ou grupos destas, que trabalham com o apoio de sua respectiva igreja. Podem também ser uma instituição de caridade internacional reconhecida pelo Vaticano, dedicada à “promoção humana” e ao “desenvolvimento”. Apesar de muitos de seus membros operarem sob o nome Cáritas, alguns são conhecidos por outras denominações como o Catholic Relief Services nos Estados Unidos, a Catholic Agency For Overseas Development (CAFOD) na Inglaterra e País de Gales, o Secours Catholique na França, a Cordaid na Holanda e a Trocaire na Irlanda.

26 Não oficialmente, sua origem remonta ao século XIX (JUBILUT, 2005), como uma pequena organização na Alemanha.

27Trecho extraído do manual “We are Caritas”, disponível em www3.caritas.org/upload/eng/english-online1.pdf,

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A rede Cáritas Internationalis está subdividida em sete regiões: América Latina e Caribe, África, Europa, Oceania, Ásia, América do Norte e a chamada MONA - Oriente Médio e Norte da África. Sua principal forma de atuação é através de parcerias com organismos nacionais e internacionais, com enfoque na questão da “defesa dos direitos humanos, em uma perspectiva ecumênica” 28. Desde 1967 tal organização tem o status de observadora do Conselho Econômico e Social da ONU (ECOSOC).

Em 1955, durante o 36º Congresso Eucarístico Internacional, iniciou-se um estudo para fundar a Cáritas Brasileira, que é criada no ano seguinte. ONG reconhecida pelo governo brasileiro como entidade de utilidade pública federal, também é um organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Setor Pastoral Social. Conta atualmente com 176 entidades-membro espalhadas pelo país e atua em 12 regionais: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Norte II (Amapá e Pará), Maranhão, Piauí, Ceará, Nordeste II (Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte) e Nordeste III (Bahia e Sergipe).

Em seu surgimento, a Cáritas Nacional brasileira atendia às camadas mais pobres da população, através da distribuição dos mantimentos doados por organizações europeias.

Com o término do programa de alimentos e com o passar dos anos, a Cáritas Brasileira foi redimensionando sua prática no que diz respeito à sua metodologia de trabalho e prioridades de ação. Aos poucos, foi passando de um trabalho simplesmente assistencial para um trabalho articulado com as demais pastorais sociais e com o movimento popular, dando ênfase à construção e à conquista da cidadania através de relações democráticas e políticas sociais públicas. (Corrales, 2007, p. 85)

Diferentemente de outras pastorais sociais, no entanto, a Cáritas Brasileira não tem um público assistido específico. “Sua missão é estar atenta às necessidades dos seres humanos e organizar formas de solidariedade em favor de todos que vivem em emergência social (...) e passa pela conquista de políticas sociais realmente favoráveis a todas as pessoas” (Cáritas Brasileira, 1994, p.13). Trabalhando em colaboração e parceria como outras pastorais, movimentos e organizações sociais, através de assembleias de nível nacional, a Cáritas Brasileira define e realiza suas linhas de ação permanente – o serviço da solidariedade, a animação pastoral social, a formação de agentes – além de outras intervenções que respondem a problemáticas conjunturais,

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como o apoio a projetos alternativos comunitários, o desenvolvimentos de programas junto a crianças e adolescentes e a participação em organizações populares (Cáritas Brasileira, 1994).

Atualmente, sua forma de atuação tem se dado através do que denomina “solidariedade pela vida”:

A Cáritas atua na defesa dos direitos humanos e do desenvolvimento sustentável solidário na perspectiva de políticas públicas, com uma mística ecumênica. Seus agentes trabalham junto aos excluídos e excluídas, muitas vezes em parceria com outras instituições e movimentos sociais 29.

A Cáritas regional de São Paulo é um organismo da Arquidiocese de São Paulo, fundada em 1968. Ela atua, principalmente, em quatro frentes específicas: políticas públicas; ações emergenciais; ações de organização das comunidades; trabalho, renda e economia popular solidária (Jubilut, 2005). Está dividida em seis núcleos regionais: Belém, Brasilândia, Ipiranga, Lapa, Santana e Sé (onde está localizado o Centro de Acolhida para refugiados).

Figura 1: Folder de divulgação do trabalho da CASP. Coletado em campo pela pesquisadora.

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A ação pastoral junto aos refugiados no Brasil tem seu início nos anos 70 com o pedido do Vicariato da Solidariedade do Chile, dirigido ao então arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Eugênio de Araújo Sales, de que recebesse refugiados políticos chilenos em sua arquidiocese.

E uma das primeiras ações do Cardeal depois de encarregar a Cáritas de ‘organizar, de fato, um serviço de atendimento a refugiados latino-americanos’, foi, intervir, junto às autoridades militares da época, dando-lhes ciência desta ação da igreja, pela vida e segurança dos ‘refugiados’ que fugiam das perseguições dos regimes ditatoriais da época. (Milesi, 2007).

Além da CARJ, em 1977 a Comissão Justiça e Paz junto ao grupo Clamor, criado para denunciar violações aos direitos humanos nos países sul-americanos, passa a atuar pela causa dos refugiados na região.

O Centro de Acolhida para Refugiados da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo foi fundado oficialmente somente em 1999, tendo como tarefa “assistir, orientar e auxiliar a população refugiada a recomeçar suas vidas e resgatar sua dignidade” (Jubilut, 2005, p.96).

Projeto do Santo Padre, João Paulo II, neste ano da Caridade, em preparação ao grande Jubileu do ano de 2000, que visa despertar a solidariedade e obras de misericórdia em favor dos refugiados nas comunidades da Arquidiocese de São Paulo, o Centro de Acolhida para Refugiados foi aprovado e recomendado pelo Pontificiun Conciliun COR UNUM (...). A CÁRITAS Arquidiocesana de São Paulo, em nome da Arquidiocese, há mais de 20 anos vem atendendo milhares de Refugiados que buscam asilo no Brasil, protegidos pelas Nações Unidas/ACNUR, e acolhidos pelo governo através do CONARE – Comitê Nacional para Refugiados, do qual a CÁRITAS faz parte, porque é ela que na sua sede, recebe, atende e encaminha todos os Refugiados com seus programas de proteção, assistência e integração local. (Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, 1999).

No entanto, assim como no Rio de Janeiro, o trabalho da Arquidiocese de São Paulo na acolhida à população refugiada já acontecia desde meados da década de 70 quando o então bispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, passou a acolher nas dependências da arquidiocese refugiados latino-americanos perseguidos por regimes ditatoriais em seus países de origem.

Sem o reconhecimento do governo brasileiro durante o período ditatorial, o ACNUR entendia que a parceria com a Cáritas Brasileira auxiliaria o trabalho de assistência aos refugiados no país. Em 1976 representantes da agência da ONU e de entidades da igreja católica se reuniram para debater um projeto de assistência. No ano

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seguinte a CASP é instituída com parceira operacional do ACNUR, recebendo fundos para assistir os solicitantes de refúgio no Brasil.

Desde sua instalação no Brasil em 1977, como um escritório ad hoc, portanto, o ACNUR atuou através do apoio da CARJ e CASP e da Comissão Pontifícia Justiça e Paz, mediante convênio específico, dentro de seus três programas de ação: proteção, assistência e integração local do refugiado (Barbosa e Hora, 2007). Com a redemocratização do país e com a promulgação da Constituição de 1988 a proteção aos refugiados entra na agenda política nacional e o trabalho de acolhida e assistência a esta população concentra-se cada vez mais no âmbito das Cáritas Arquidiocesanas.

Atualmente, a CASP atua como “agência implementadora” dos programas do ACNUR no país. Condição também assumida por outras 500 ONGs em todo o mundo, entre elas 17 Cáritas Nacionais (Jubilut, 2005).

1.4 A “estrutura tripartite” como um aparato transnacional de