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3.1. As Campanhas e a Formação das Alianças Eleitorais

3.1.2. A Campanha de 1990: as elites empresariais

As eleições para o Governo do Ceará em 1990, com vitória de Ciro Gomes, foram de significativa importância para criar as condições de hegemonia da elite empresarial que se originou no CIC e ascendeu ao poder, em 1986, através do apoio partidário do PMDB, em alianças com partidos de esquerda e outros setores progressistas. E novo momento eleitoral, o grupo tassista enfrentou as urnas amparado em outra coligação partidária (ver Tabela 08). Isto aconteceu porque, com as divergências ocorridas durante o primeiro governo, esse grupo já havia saído do PMDB e fundado o PSDB no Ceará, partido pelo qual concorreria às eleições de 1990. Por sua vez, as alianças eleitorais deste pleito também se distinguem da primeira campanha por não mais contar com o apoio dos partidos comunistas. Ainda assim, aparece nessa coligação um dos setores da esquerda, o PDT, sob a influência de Lúcio Alcântara que havia se transferido do PFL para esse partido durante o processo da Constituinte de 1988. Entretanto, não foi uma posição unânime neste partido, como veremos mais adiante.

TABELA 08

ELEIÇÕES PARA GOVERNO DO CEARÁ – 1990 Fortaleza/Ceará

Agosto de 2007

CANDIDATO PART./COLIGAÇÃO VOTOS % NO

ESTADO

CIRO GOMES

VICE: LÚCIO ALCÂNTARA PSDB-PDT-PDC 1.279.492 44,18 PAULO LUSTOSA

VICE: LUIZA TÁVORA PDS-PMDB-PFL-PTR-PSD-PT do B 871.047 30,08 JOÃO ALFREDO

VICE: VASCO WEYNE PT-PCB-PSB-PC do B 185.482 6,40 AGUIAR JÚNIOR

VICE: PRADO JÚNIOR

PRN 19.508 0,67

VOTOS BRANCOS 298.216 10,30

VOTOS NULOS 242.440 8,37

TOTAL 2.896.185 100,00

FONTE: TRE-CE

Vale ressaltar que a transferência de Alcântara para o PDT não é um caso isolado. “Nas eleições 1990, já tinha ocorrido a migração de muitos políticos do PDS e PFL para o PSDB e PDT” (LEMENHE, 1995: 225). Nessas redefinições partidárias também contaram as relações que o grupo tassista conseguiu estabelecer no cenário nacional, sobretudo quanto às eleições presidenciais de 1989, quando ocorrem novas fraturas nos quadros do governo. Naquele momento, alguns secretários manifestaram sua insatisfação com a possibilidade de Tasso Jereissati apoiar Collor de Mello, do PRN e acabaram saindo do governo. Faço referência, aqui, a Eudoro Santana, Ariosto Holanda e Nildes Alencar (Educação)102.

As divergências com o PMDB também ocorreram na medida em que Tasso e seu grupo buscavam um espaço próprio na política brasileira. A despeito da reconhecida importância conquistada em nível nacional, havia fortes limites para eles nesse espaço partidário, tanto pelos conflitos com os grupos históricos do PMDB, dificultando a liderança do “grupo das mudanças” no contexto estadual, quanto pelo fato de suas aspirações de maior destaque na política nacional terem sido refreadas

102 “Eudoro diz que ainda tentou negociar, aceitando o apoio a Mário Covas. Segundo ele, o próprio governador descartou a hipótese. Pelos jornais, os três secretários davam a senha que a saída era só questão de tempo. ‘Se Tasso collorir, eu desboto’, disse Eudoro, numa manchete publicada pelo O POVO. Era a gota d´água de um processo de desgaste. O grupo acabou caindo, e Tasso apoiando Covas, com quem manteria uma forte relação ao longo dos anos”. (O POVO, 18 de março de 2002).

por Ulysses Guimarães, presidente nacional do PMDB e candidato à Presidência do Brasil, naquele pleito103.

A perspectiva de apoio a Collor, cuja afinidade com o grupo tassista era manifestada em seus discursos com claro teor neoliberal, havia sido apresentada com caráter pragmático do ponto de vista eleitoral:

Se eu disser no meu Estado que estou com Collor, mais de 200 mil pessoas me acompanharão num comício; se disser que estou com Covas, terei de fazer grande esforço para levar alguns gatos pingados à praça; mas se apoiar Ulysses, ficarei falando sozinho. (Tasso. In: SOUZA, 1989).

Todavia, a aliança de Collor com Adauto Bezerra e o PFL no Ceará acabou inviabilizando a adesão de Tasso à essa candidatura presidencial. Para tanto, também contribui o pouco entusiasmo do candidato do PRN com a “questão Nordeste”104. Com a inviabilidade do apoio a Collor de Mello, o grupo local decidiu reforçar a candidatura de Mário Covas, do PSDB, passando, logo depois, a organizar esse partido no Ceará.

O vínculo com o PSDB ampliará o espaço do “grupo das mudanças” na política nacional, sobretudo quando esse partido ganhou as eleições presidenciais em 1994. Deve-se reconhecer, porém, que só alcançou essa dimensão na medida em que as suas experiências administrativas e suas posições políticas estavam em consonância com a hegemonia neoliberal no Brasil. Há uma via de mão dupla que fortaleceu a relação do grupo local com a elite nacional que se articulava em torno dessa política. No Ceará, esse partido se aproximou, inicialmente, de Moema São Tiago (eleita deputada federal pelo PDT e com forte atuação na campanha de

103 É conhecido o episódio em que Tasso Jereissati teria sido convidado pelo presidente José Sarney para o Ministério da Fazenda. Na ocasião, seu nome fora vetado pelo presidente nacional do PMDB, Ulysses Guimarães (PARENTE, 1998: 53).

104 O episódio é relatado, na época, pelo jornal O POVO: “Tasso Jereissati e Geraldo Melo, então governador do Rio Grande do Norte, organizaram um encontro em Fortaleza a fim de que as questões do Nordeste fossem discutidas por técnicos ligados aos problemas desta região. Desse encontro foi produzido um documento (Nordeste: uma questão nacional) e apresentado ao candidato Collor que, entretanto, não demonstrou muito entusiasmo. Diante desse fato, Tasso teria recuado no apoio a Collor: ‘Tasso Jereissati confirmou que não apoiará o candidato do PRN, Fernando Collor de Melo, porque, como disse, esse postulante não quis aceitar as sugestões favoráveis a região’. (GOVERNADOR admite que vai apoiar candidatura Covas, O POVO, 29 ago. 1989). Em outra ocasião, Tasso chegou a afirmar que foram as alianças políticas de Collor que o levaram a se afastar do candidato do PRN: ‘... todas as vezes que eu chegava perto do seu entorno, me assustavam enormemente as pessoas que o cercavam. Eu tive oportunidade de dizer isso a ele (...) foi essa a razão pela qual eu não tive coragem de apoiá-lo para a Presidência, quando tinha até muita vontade de fazê-lo’.(COLLOR assusta para ficar intocável, diz Tasso. Entrevista a Clóvis Rossi, FOLHA DE SÃO PAULO, 26 abr. 1991)”. (NOBRE, 1999: 98).

Tasso). Essa deputada, ainda durante a Constituinte, se aliou ao referido grupo paulista e participou da formação do novo partido. Registro ainda outras duas aproximações iniciais de lideranças cearenses com os tucanos nacionais: Firmo de Castro e Amarílio Macedo. Este último teve, inicialmente, o seu ingresso no PSDB negado por conta da dissidência com Tasso105 (PARENTE, 1998). Nos momentos iniciais do novo partido, o peso do grupo tassista é gigantesco:

É no Ceará onde o partido tucano tem sua maior bancada: 1 governador, 8 deputados federais, 1 senador, 18 deputados estaduais, 3 suplentes de deputado em exercício, 9 vereadores em Fortaleza e 655 vereadores de um total de 2.050. Para fechar a hegemonia tucana 104 dos 178 prefeitos municipais, remanescentes de partidos como Arena, PDS e PFL, aderiram nos últimos anos ao PSDB numa corrida continuada. (PSDB do C será “fundado” hoje, O POVO, 04 ago. 1991).

De um lado, a aliança com o PSDB era possível, e também desejável, em função do próprio pioneirismo do grupo cearense em realizar as experiências de controle financeiro e administrativo da máquina burocrática estatal. Isto traria rendimentos políticos ao PSDB, no seu próprio fortalecimento enquanto um novo partido que buscava se afirmar em âmbito nacional. De outro lado, o nível de participação conquistado pelo "grupo das mudanças" na esfera federal resultaria em maior prestígio na política local, sobretudo quando esse apoio se traduziu no acesso a verbas do governo federal e a outros recursos políticos e administrativos. Este último aspecto não restringiu a ação e os objetivos do grupo local, já que o apoio incondicional às reformas neoliberais era, também, de ordem ideológica. De fato, as mudanças político-institucionais que foram sendo conduzidas desde o governo Collor, e intensificadas nos governos de Fernando Henrique Cardoso, eram necessárias para que se aprofundassem aqui as condições que permitiriam uma maior acessibilidade do capital transnacional, bem como outras transformações exigidas pela nova fase de acumulação capitalista no Ceará.

Portanto, para que o novo ciclo de poder hegemônico se realizasse foi importante a projeção nacional do "grupo das mudanças" e o tipo de alianças que se formaram nesse âmbito: inicialmente no PMDB e depois, com mais relevância, no PSDB. Na política cearense, por sua vez, as redefinições em torno dos aliados

105 “Eu continuava na luta para ver se o PSDB se organizava no Ceará. Nessa hora, eu ouvi do Fernando Henrique Cardoso que havia uma pressão forte do grupo governista do Ceará para entrar no partido e para que eu não integrasse o diretório do partido”. (Amarílio Macêdo. In: MATOS E OUTROS (orgs.). Op. cit.:134).

políticos do governo consolidaram uma base de apoio com conotação mais conservadora, agregando cada vez mais políticos de feição tradicional, ao mesmo tempo em que a elite empresarial investia em diversas estratégias políticas para construir sua hegemonia, como veremos no próximo capítulo.

No âmbito da política estadual, para alcançar êxito nesse segundo momento eleitoral, a elite empresarial, além de consolidar alianças com as lideranças políticas locais, buscou materializar apoios também em outros setores, sobretudo nos estratos urbanos. Com isto, o grupo tassista:

(...) tenta antecipar a organização da sociedade civil, criando novas lideranças ou liberando o eleitor que se tornará acessível ao ‘marketing político’ (...) Torna-se, portanto, menos dispendioso. A desvantagem imediata é o tempo para implementação dessa estratégia e a possibilidade desse eleitor liberado do ‘cabresto’ tornar-se também presa ‘fácil’ das esquerdas. É necessário, portanto, apresentar uma ideologia onde não só se privilegie o moderno, a competência, mas uma visão de bem-estar social, não demagógica, que se mostre realizável. (PARENTE, 1992: 28).

Para evitar a influência das esquerdas entre os eleitores e a sociedade em geral, sobretudo nas áreas urbanas, os “governos das mudanças” criaram canais de comunicação direta com a sociedade, desconsiderando o papel das lideranças e dos partidos políticos. Por sua vez, tentaram interferir na dinâmica dos movimentos sociais, em seu cotidiano. Isto ocorreu através de vários mecanismos, ao cooptar suas lideranças, redefinir suas demandas e burocratizar as entidades quando as tornaram responsáveis pela realização de políticas públicas. Nesses casos, pretendia-se que o ‘voto solto’ não fosse usado por lideranças políticas à revelia do grupo tassista, mesmo de sua base partidária, criando uma peculiar forma de dominação na política. Tasso anuncia de forma clara o usa dessas estratégias, quando estabeleceu o contato direto com o povo:

Era a única saída... eu vivia em palanque (...) Tiveram as famosas associações comunitárias, em que nós fazíamos aqueles programas (...) Hoje, isso continua de outra maneira, que é o São José. Era um processo de juntar as pessoas na comunidade, em associações, discutir quais eram as melhores obras e passar recurso para que eles executassem. (...) passando por cima do intermediário, que era o vereador (...) Várias e várias vezes, eu fui fazer comício, no meio do governo, em cima da necessidade de apoio; lá eu dizia o que estava acontecendo, da necessidade de apoio. (In: MATOS E OUTROS (orgs.), op. cit: 166).

Nessa perspectiva de construção hegemônica de seu poder, a elite empresarial teve intervenção decisiva nas eleições municipais de 1988. Em um

balanço dessas eleições, Parente revela que os partidos ligados a Tasso (PMDB e PMB), conquistaram as prefeituras mais importantes do Ceará naquela eleição:

Além de eleger os prefeitos das cidades de maior importância, Fortaleza e, na zona metropolitana, Maracanaú, elegeu os prefeitos das principais cidades do Sul do Estado, como Juazeiro do Norte e Crato (Coligação PMDB-PL-PMB), também Acopiara e Tauá. A região Norte, apesar de não ocorrer no município de Sobral, fez os prefeitos de municípios circunvizinhos, como Acaraú, Cruz, Amontada, todos com o domínio ‘clientelista da família dos Ferreiras Gomes, conhecidos como Filomenos’. (PARENTE, 1988: 27).

Por sua vez, o PFL, comandado por Adauto Bezerra, também conseguiu um bom desempenho, elegendo prefeitos em espaços estratégicos, embora já estivesse dividido com a saída de Lúcio Alcântara para o PDT. Este foi o partido de esquerda com melhor desempenho nessa eleição, perdendo em Fortaleza para Ciro Gomes por menos de 1% dos votos. Parente ressalta que o governo estadual reforçou “... suas investidas de campanha em pontos estratégicos, em municípios maiores que liderariam na circunvizinhança ou em outros, menores, onde as disputas fossem significativas” (PARENTE, 1988: 24).

Nessa linha estratégica a elite empresarial também procurou tirar proveito da divisão entre seus antigos opositores, “os coronéis”, reforçando, na capital,

(...) um destes grupos, a coligação ‘Trabalhando por Fortaleza’ (PFL-PDC) ao conservar o irmão do pastor-candidato a prefeito, Gineton Dantas, em posto significativo da administração estadual (...) Era uma potencial de aliança posterior. (Idem: 16).

Esta estratégia passava, portanto, pelo amparo a outros partidos que não só o PMDB, onde ainda estava reunido o grupo do CIC. Isto foi feito também quando criaram o Partido Municipalista Brasileiro – PMB para dar suporte a políticos tradicionais que não se abrigavam no PMDB. Com esse outro partido, o grupo tassista conseguiu vitória em 16 dos 178 municípios (BONFIM, 2002: 51). Em sua análise geral, Parente (1988) também ressalta que a vitória nas eleições de 1988 não significa a consolidação da hegemonia do CIC, mas esta hegemonia foi favorecida pelas divisões entre as outras forças políticas: entre os ‘coronéis’, cada um liderando seu próprio grupo; entre as esquerdas que estavam, mais uma vez, divididas na disputa de Fortaleza e sem uma estratégia conjunta para os demais municípios.

Diante desse quadro – em que o grupo tassista aglutina forças, mas não detém ainda a hegemonia política – os esforços na eleição de 1990 estarão canalizados para a conquista de apoios entre aquelas forças políticas conservadoras, sobretudo, de alguns chefes políticos locais que, durante o governo Tasso I, sofreram as resistências da elite empresarial tendo em vista o objetivo de modernização da estrutura burocrática do Estado, que implicava enfrentar os excessos das práticas clientelistas e patrimonialistas. Assim também, os novos dirigentes procuraram manter uma feição mais moderna em suas alianças eleitorais a partir de um acordo com o PDT, sob a liderança de Lúcio Alcântara. No primeiro caso, em relação aos políticos com inserção nos municípios do interior, repetiu-se nessa eleição de 1990, o mesmo ritual de apresentação dos aliados, inclusive com matérias pagas nos jornais. Aqui ganha evidência a adesão de lideranças que ainda estavam articuladas em torno dos “coronéis”:

Ciro (...) recebeu (...) durante comício em Morada Nova as adesões da prefeita Auxiliadora Damasceno Girão, do PFL; Isaías Castro, irmão do ex- governador Manoel de Castro e de Xavier Andrade Girão e José Ossian Nântua – ambos disputam vagas na Assembléia (...) A prefeita (...) disse que, tradicionalmente, o grupo que apóia a Geração Ceará Melhor disputa o poder político local. ‘A minha vida toda votei nos coronéis, mas hoje estou convencido de que não dá mais para continuar com eles’, acrescentou Franciné Girão, candidato a deputado estadual (...) Para o candidato a senador, Beni Veras, o comício de Morada Nova, marcou o fim do suporte oposicionista do Município ‘Subiram no palanque velhos rivais, que descobriram os caminhos da administração do futuro’, afirmou ele mencionar os nomes de Luiza Cunha Saldanha, prefeita de Jaguaretama, e Assis Bezerra de Nunes, de Russas, bem como Dartagnan Barbosa (PDC), José Renato Torrano, Nestor Nogueira (PSDB), que disputam vagas no Legislativo estadual. O deputado federal Firmo de Castro, do PSDB, Moroni Torgan (PDC) e Zilzo Evangelista (PSDB) também se fizeram presentes. (...) ‘É urgente a união de todos para um grande projeto de mudança de mentalidade, visando mais do que tudo a dignidade do cearense do interior e da capital’, salientou José Ossian Nântua. (DIÁRIO DO NORDESTE, 28 de junho de 1990. Grifos meus)

Na citação acima, chama atenção, além da ruptura de acordos com os “coronéis”, também a presença, no mesmo palanque, de lideranças políticas que, tradicionalmente, disputavam o poder local, mas se alinharam em torno do candidato governista. Isto estava ocorrendo em vários municípios.

(...) lideranças de Tianguá vieram a Fortaleza, ontem, manifestar o apoio a Ciro (...) Gilberto Moita (...) trouxe consigo dez vereadores de Tianguá e o presidente municipal do PFL, Audir Nunes. João Nunes, por sua vez, outros sete vereadores (...) Líder político da região, João Nunes congrega as forças políticas de Américo Nunes e José Bia que, nas eleições de 1988, disputaram as eleições pelo PMDB, concorrendo com o atual prefeito

Gilberto Moita (...) O prefeito GM disse que sempre admirou CG (...) já tinha estreito relacionamento com o candidato a governador anteriormente. Admitiu ainda: ‘Essa admiração estendeu-se ao governador TJ, que faz um governo sério, levando aos nossos municípios obras da maior importância (...) João Nunes, ressaltando ser pensamento da sua família, disse (...) ‘CG tem a melhor proposta de governo e representa a seqüência de um trabalho que venceu velhos vícios da nossa política, garantindo competência, moralização e visão social para o Estado’. (DIÁRIO DO NORDESTE, 13 de julho de 1990).

Este acordo entre lideranças locais de Tianguá é apresentado por Byron Queiroz, coordenador político do governo, como um grande êxito dos “governos das mudanças”:

uma conquista significativa porque sentaram-se à mesma mesa adversários de campanhas passadas, o que serve para solidificar o esquema político que votará em Ciro para governador e Beni para o Senado. O prefeito Gilberto Moita ao lado dos irmãos João e Tancredo Nunes, a que se deve somar mais 17 vereadores, formarão uma só força, num acordo que garantirá uma vitória tranqüila... (DIÁRIO DO NORDESTE, 13 de julho de 1990).

As adesões diziam respeito também a políticos do PMDB, partido que agora estava alinhado ao PFL e PDS na disputa pelo governo estadual, cujas lideranças eram os mesmos “coronéis” com quem o PMDB, e o antigo MDB, disputaram espaço na política cearense desde o período da Ditadura Militar. Com a saída do grupo tassista para o PSDB, o PMDB enfrentava os mesmos problemas dos outros partidos de oposição: a infidelidade de suas bases políticas:

Irauçuba hoje é um Município sem oposição. O prefeito e os 11 vereadores subiram na última segunda-feira ao palanque para anunciar apoio a Ciro, Lúcio e Beni. Ao PSDB somaram-se as lideranças até então no PFL, PMDB, PDS de tal forma que em três de outubro a chapa Geração Ceará Melhor não terá concorrente já que inexiste, desde ontem, oposição naquele município. (DIÁRIO DO NORDESTE, 30 de agosto de 1990. Grifos meus).

As dissidências entre o grupo tassista e o PMDB apareceram, para algumas lideranças do interior, muito mais como incoerências do PMDB, agora alinhado dos “coronéis”, do que do grupo governista. Isto é evidente, por ocasião de um Comício em Barreiras, no Maciço de Baturité, quando o vereador do PMDB justifica sua adesão a Ciro Gomes:

Questionado sobre o fato de não temer penalidades, por parte do PMDB, o vereador Antônio Peixoto disse que a aliança Compromisso Ceará Verdade, feita pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro com outras agremiações, combatidas pelos peemedebistas, descaracterizou a história da agremiação. ‘Infelizmente, hoje, o partido está aliado a outros que, durante seus governos, desvirtuaram administrações. É por isso que

continuamos mantendo nosso ideário de permanecer defendendo o processo de mudanças’, disse. Segundo ele, em Barreira, se faz necessário pôr fim às oligarquias que ainda restam no Estado. (DIÁRIO DO NORDESTE, 16 de julho de 1990).

Certamente, contava para esse ritmo de adesões o fato de Ciro Gomes ser um candidato governista, o que foi reforçado, em vários momentos, quando ele acompanhava Tasso Jereissati em eventos de inauguração de obras, situações amplamente divulgadas nos jornais. A circunstância de ser governo, por sua vez, impôs a Ciro Gomes o esforço de resolver insatisfações que existiam nas bases aliadas, decorrentes do processo de modernização da máquina estatal. Como exemplo dessas insatisfações, é quando, nas convenções do PSDB, Tasso:

(...) foi cercado por um grupo de vereadores da bancada do partido em Fortaleza, que queria um maior estreitamento deles com a cúpula partidária: ‘O problema é que há insatisfações e não queremos dispensar o grupo’, declarou para Tasso o líder da bancada Pedro Ribeiro. (DIÁRIO DO NORDESTE, 09 de abril de 1990).

Essas insatisfações estavam também relacionadas às disputas por bases eleitorais. Algumas delas são mapeadas pelo próprio candidato Ciro:

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