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4. SINDICALISMO, CAMPANHAS SALARIAIS E GREVES

4.2. Campanhas salariais e greves

4.2.1. A campanha salarial de 1953

Observamos a indignação dos trabalhadores com os rumos de uma negociação de aumento salarial em 1953, intermediada pelo Delegado do Trabalho Álvaro Mendes de Oliveira, na qual os operários foram enganados por um acordo entre os industriais das fábricas têxteis e o Delegado do Trabalho.352 Em reunião da diretoria do STFV, do dia 2 de julho de 1953, o presidente do sindicato fez ciente aos presentes que havia ido ao “diretor da Fábrica Carmen, Sr. Dr. Alberto Brito Bezerra de Melo a fim de solicitar aumento de salário para os operários em geral e fazer-lhe ver as necessidades dos companheiros”. Ainda segundo o presidente sindical, Alberto Bezerra de Melo mostrou boa vontade em atender a solicitação.353

O presidente conta que alguns dias após a visita ao diretor da fábrica foi convidado a comparecer a Delegacia Regional do Trabalho, a fim de assistir a uma reunião de presidentes

350

Ibid., Ibidem.

351IBGE.http://pt.wikipedia.org/wiki/Infla%C3%A7%C3%A3o#.C3.8Dndices_da_infla.C3.A7.C3.A3o_.28IBG

E.29. Acesso em 01 de dezembro de 2011.

352 Pressionado pela classe operária foi retirado do cargo e entregue a Edson Falcão. 353

Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Fiação e Tecelagem de Fernão velho. Ata da reunião, 02 de julho de 1953.

sindicais. Na referida reunião houve um impasses entre o preterido pela categoria e o que os patrões aceitaram aumentar. Com o fim da reunião, os têxteis pleitearem um aumento de salário e o acordado naquela reunião foi um aumento de 40% sobre o salário mínimo, ficando encarregado o Delegado do Trabalho de apresentar a proposta aos industriais. O presidente adiantou que conforme entendimento anterior, Álvaro Mendes de Oliveira e o diretor da Fábrica Carmen, Alberto Bezerra de Melo, tinham chegado ao acordo de pagar 20% sobre o salário.

Em prosseguimento à reunião do dia 02 de julho, foi pedida a opinião dos presentes para decidir se aceitavam os 20% ou se pleiteavam os 40%. De acordo com a ata, o operário Silvio Lira não concordou com os 20%, pois achava o aumento muito pouco para a situação dos operários e solicitou a convocação de uma assembleia geral, pois assim um número maior de associados discutiria o assunto. Em seguida, o operário Arlindo Lopes “incentivou os companheiros a unirem-se aos esforços do Sr. Presidente”.354

Os sindicatos pediram 40% e os patrões queriam pagar apenas 20%. Os presidentes dos sindicatos aceitaram a contraproposta patronal, reduzindo pela metade o cálculo dos têxteis para um “salário justo”. Porém, não podemos afirmar se era uma estratégia de lançar um valor alto esperando uma contraproposta com uma redução desse valor, ou se podemos interpretar que os sindicatos não tinham força para pleitear o desejado e os 20% foi considerado bom. A segunda interpretação parece mais sensata, tanto pela participação do Estado nas negociações, cumprindo o papel de mediador, quanto pelo fato do valor combinado entre as partes ser a metade do proposto pela classe.

A assembleia geral aconteceu no dia 5 de julho de 1953, no prédio do Recreio Operário. Fazendo uso da palavra, “o presidente adiantou que, na sua opinião, os 20% sem

luta e com boa vontade dos patrões seria preferível aos 40% com lutas e com atrapalhos.” Em seguida, foi dada a palavra ao associado e representante do sindicato junto a Federação, João

Nunes de Melo, a fim de explanar sobre uma reunião no Palácio do Trabalhador, cujo tema foi o aumento de salário pretendido pela Federação. João Nunes concordava com os 20%. Silvo Lira usou da palavra “para interrogar ao Sr. Presidente: se os 20% era coisa certa, pois se assim fosse, não adiantaria lutar pelos 40%, ficando assim decidido por unanimidade a aceitar-se os 20% de aumento salarial.”355

Levantamos a hipótese de que a proposta de 20% já

354 Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Fiação e Tecelagem de Fernão velho. Ata da reunião, 02 de

julho de 1953.

355 Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Fiação e Tecelagem de Fernão velho. Ata da Assembleia de 05

de julho de 1953. O operário e dirigente do PCB Silvio Lira havia tentado levar a votação salarial para a assembleia, pois sabia das necessidades da categoria e que a possibilidade de aprovar lutar pelos 40% era maior

havia sido discutida e aceita entre as diretorias dos sindicatos têxteis alagoanos e a DRT. E, nas reuniões, as diretorias fizeram valer sua vontade convencendo o conjunto dos trabalhadores que era melhor aceitar a contraproposta dos industriais. Mas a proposta de 20% de aumento seria modificada durante o processo, em novo acerto entre a administração das fábricas e o Delegado Regional do Trabalho Álvaro Mendes de Oliveira.

A modificação no acordo salarial feita pelo Delegado do Trabalho e os empresários foi debatida pela diretoria do sindicato, em reunião acontecida no dia 16 de julho de 1953. Pela nova proposta, faria parte do aumento de 20% todas as compensações no salário desde 1952, prevalecendo também a assiduidade ao trabalho. Com isso os operários não receberiam nem os 20% antes proposto pelos patrões. Os operários ficaram indignados por terem sido enganados pela DRT. Em forma de desabafo, o associado Mario Cavalcante perguntou por que os delegados do trabalho de Alagoas sempre afirmam que os operários deviam sempre aceitar as ofertas dos patrões e pediu a união dos operários pelos seus direitos. Silvio Lira disse que iria averiguar se haviam outros termos no acordo para prejudicar os operários. No entanto, nenhuma proposta de luta foi apresentada.356 As dificuldades de mobilização da categoria diante da falta de apoio da DRT e da pressão dos patrões desencorajaram o enfrentamento.357 O salário mínimo ficou em torno de 1.000,00 (mil cruzeiros) para a capital e um menor valor para o interior.

Os operários foram enganados pelo Delegado do Trabalho. Esse acertou novos termos na negociação salarial, resultando em um aumento menor que os 20% acordados entre trabalhadores e empregadores. A categoria ficou de mãos atadas, pois a “traição” incluiu o representante legal do Estado, reduzindo assim as possibilidades de luta. Os operários fizeram referência ao passado, remetendo essa situação de serem prejudicados pela DRT, como algo já conhecido entre eles.

Outro ponto importante a frisar é que a diretoria do STFV no período não era combativa, comandada por Carlos Araujo, mestre geral, e de certa forma ligado aos autos escalões da fábrica. Isso tem que ser levado em conta, pois não houve nenhuma posição do sindicato, na ata, sobre o desfecho da campanha. As únicas consequências positivas foram a unidade dos sindicatos têxteis em busca de uma pauta econômica, resultando no aumento do salário. E em pouco tempo o Delegado do Trabalho Álvaro Mendes foi destituído do cargo.

se houvesse muitos trabalhadores na assembleia, estimulando o enfrentamento. No entanto, Silvio Lira, estrategicamente, recuou e aceitou a proposta de 20% sem maiores disputas na assembleia geral quando percebeu que o conjunto da categoria pretendia aceitar “os 20% sem luta”.

356 Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Fiação e Tecelagem de Fernão Velho. Ata da reunião de 16 de

julho de 1953.