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2. VIGILÂNCIA SOCIOASSISTENCIAL

2.5. A CAPTURA DE DADOS E O CARÁTER PREVENTIVO DA

financiamento da política [de Assistência Social]” (TAPAJÓS, 2007, p. 73). O sistema, construído coletivamente via consultas aos atores envolvidos, reuniu e deu sentido às informações coletadas em diversos níveis e espaços da política, efetivamente estabelecendo um sistema interligado82.

A centralidade da gestão da informação e da tecnologia para a política de Assistência Social é inequívoca e estratégica83. Concretizou uma política de informação para o SUAS e estabeleceu referências, diretrizes, fluxos e instrumentais para a vigilância socioassistencial. Nesse sentido, considerando “[…] a tecnologia da informação enquanto alicerce fundamental”, a “instituição da Vigilância Social [se efetiva] como uma área de gestão da informação” (SILVA, 2012, p. 83).

Esta estrutura tecnológica e informacional que se direciona para a efetivação e para a defesa de direitos ratifica a vigilância socioassistencial como participante da modernização da política de Assistência Social. Inclui-se nesta atualização não só a introdução de uma estrutura técnico-profissional, mas principalmente a preocupação com a superação de obstáculos históricos quanto ao acesso aos direitos a partir da política de Assistência Social84.

Um desses obstáculos, que deve ser enfrentado nos espaços de operacionalização da vigilância socioassistencial, é a compreensão da realidade com vistas à antecipação de situações de risco e vulnerabilidade social, promovendo ações socioassistenciais reativas e preventivas.

2.5. A CAPTURA DE DADOS E O CARÁTER PREVENTIVO DA

82“A REDE SUAS, como suporte essencial à gestão da política de assistência social em todo o território nacional, alcança todos os setores, profissionais e instâncias envolvidos na operacionalização dessa política, favorecendo o controle social e, sobretudo, o acesso do usuário ao direito”. Cf. BRASIL. SUAS: Configurando os Eixos de Mudança. Brasília: MDS, 2008. (Série CapacitaSUAS, v. 1). p. 121.

83“A gestão da informação, por meio da integração entre ferramentas tecnológicas, torna-se um componente estratégico para: I – a definição do conteúdo da política e seu planejamento; II – o monitoramento e a avaliação da oferta e da demanda de serviços socioassistenciais” (BRASIL, 2012, p. 43). 84“O uso da informação e da tecnologia qualifica a gestão social quando rompe com a leitura mecânica ou apenas técnica da realidade, mas também quando possibilita relacionar, problematizar e questionar os dados frente às demandas sociais e às potencialidades da população” (BRASIL, 2013, p. 41).

POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

Na interpretação das Orientações Técnicas (BRASIL; SNAS, 2013), a PNAS (BRASIL, 2015b) aponta inequivocamente para a materialidade da área de atuação da vigilância socioassistencial, “[…] ligando-a à produção, sistematização das informações, indicadores e índices territorializados” (BRASIL; SNAS, 2013, p. 20). O novo compromisso implicou, portanto, em situar a política de Assistência Social “como política pública de monitoramento e prevenção de riscos” (SILVA, 2012, p. 76). O conceito de vigilância socioassistencial demarcou a presença de ações que exigem atitudes de antecipação (RIBEIRO, 2014). Há claramente uma tentativa de superação de algumas dificuldades históricas da política em relação às ações imediatistas, reativas e assistemáticas.

A vigilância socioassistencial é assumida como função preventiva e antecipadora da ocorrência de riscos e vulnerabilidades sociais, pela produção de estudos, pesquisas, diagnósticos sociais , indicadores e índices para identificar situações de exclusão social e, como decorrência, produzir sistemas de informações, mapeados e subsídios para orientar o planejamento da ação. (V

CONFERÊNCIA NACIONAL DE

ASSISTÊNCIA SOCIAL apud GONÇALVES et al, 2007, p. 6)

O fundamento da concepção de previsão se encontra no modelo de proteção social brasileiro, assentado no princípio preservacionista da vida e na garantia das seguranças e dos direitos sociais (SPOSATI, 2009). A proteção social estatal deveria resultar na manutenção e no fortalecimento da vida social, ação proativa, e não somente em impedir sua deterioração, ação reativa. Para que as seguranças sociais se efetivassem era preciso uma atitude de observação constante, de forma a apreender os sentidos e as condições da produção e da reprodução social (SPOSATI, 2009).

É a partir desta interpretação que se compreende nas Orientações Técnicas (BRASIL; SNAS, 2013, p. 21) o balizamento dos “dois principais comprometimentos da Vigilância [socioassistencial]” e da “razão de sua existência”85. Um motivo fundamental de instituição da

vigilância socioassistencial é a necessidade de efetivar a dimensão preventiva e a reduação de agravos (BRASIL; SNAS, 2013, p. 21). Reconhecida essa dupla necessidade, a vigilância socioassistencial incorre no comprometimento de apoiar os diversos setores da política na forma de manipulação e divulgação de informações, “[…] imprimindo caráter técnico à tomada de decisão” (BRASIL; SNAS, 2013, p. 21). Gestão da informação, reação e prevenção são linhas de força articuladas na vigilância socioassistencial.

De certo modo, as atividades de gestão da informação já eram feitas na política de Assistência Social antes da constituição da vigilância socioassistencial. É razoável supor que a manipulação de informações é condição imprescindível para uma organização complexa funcionar. Contudo, as práticas de coleta de informações, análises e diagnósticos operavam de forma assistemática, e as ações preventivas ficavam restritas ao fato de que “[…] grande parte dessa informação se encontra[va] fragmentada, desestruturada e desorganizada” (BRASIL; SNAS, 2013, p. 25).

O nexo entre a prevenção e a atuação pôde ser percebido pela ênfase no procedimento de busca ativa enquanto ação proativa dos agentes estatais. A busca ativa “[…] refere-se à localização, inclusão no Cadastro Único86 e atualização cadastral de todas as famílias pobres, assim como o encaminhamento destas famílias aos serviços da rede de proteção social” (BRASIL; SNAS, 2013, p. 32). A busca ativa, subsidiada pelas informações da vigilância socioassistencial, qualifica o trabalho socioassistencial, “[…] potencializando o caráter preventivo das ações, ou, no mínimo, evitando o agravamento dos danos” (BRASIL; SNAS, 2013, p. 32).

Em última instância, os apontamentos levaram à compreensão de que o “[…] Estado, portanto, passa a responsabilizar-se pela produção de informações sobre quem necessita de proteção social” (RIBEIRO, 2014, p. 24). E para realizar este encargo deveria determinar quais dados seriam coletados, sistematizados ou produzidos. Esta conclusão foi importante e foi retomada em capítulo posterior, quando se problematizou as concepções sobre as práticas de vigilância que podem

86“O Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (Cadastro Único) é um instrumento que identifica e caracteriza as famílias de baixa renda, permitindo que o governo conheça melhor a realidade socioeconômica dessa população”. Cf. BRASIL. MDS. Cadastro Único: o que é e para o que serve. Acesso em: 10 de setembro de 2016. Disponível em: <http://mds.gov.br/assuntos/cadastro-unico/o-que-e-e-para-que-serve>.

vir a ocorrer na vigilância socioassistencial.

2.6. DEBATES SOBRE A DIMENSÃO ÉTICO-POLÍTICA NAS