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A cessão de direitos hereditários

No documento Inventário e partilha extrajudicial (páginas 47-54)

De acordo com o estabelecido no artigo 1.793 do Código Civil, é possível que o herdeiro realize a cessão da integralidade ou de parte de seus direitos hereditários, seja de forma gratuita ou onerosa.

Contudo, faz-se necessário frisar que quando alguém falece, o seu patrimônio é considerado, para efeitos de direito sucessório, como um todo unitário, ou seja, mesmo que o de cujus possua vários bens, como por exemplo, uma casa na praia,

um carro, um terreno, e bens que guarnecem a residência, no inventário eles serão considerados como se um fosse, de forma conjunta. Para este efeito dá-se o nome monte-mor. Só por ocasião da partilha que os herdeiros terão a quota parte na herança individualizada (PARODI; SANTOS, 2007).

Diante do acima exposto, Cassetari (2013, p. 199) destaca a seguinte lição: “Assim, impossível será fazer a cessão de direitos hereditários de bens considerados singularmente, haja vista que os herdeiros, antes da partilha [...], são donos de uma parcela do acervo hereditário [...].”

Neste mesmo sentido, é o disposto no parágrafo segundo do artigo 1.793 do Código Civil, in verbis:

§ 2.º. É ineficaz a cessão, pelo co-herdeiro, de seu direito hereditário sobre qualquer bem da herança considerado singularmente.

Contudo, o próprio parágrafo terceiro do mesmo artigo dispõe que:

§ 3.º. Ineficaz é a disposição, sem prévia autorização do juiz da sucessão, por qualquer herdeiro, de bem componente do acervo hereditário, pendente a indivisibilidade.

Ou seja, há uma exceção à regra, no entanto, deverá haver uma previa autorização judicial, caso contrário, o ato será ineficaz.

Vale, ainda, ser destacado que “com a escritura pública em mãos, o cessionário terá legitimidade para abrir o inventário, seja ele extrajudicial [...] ou judicial, para se realizar a partilha.” (CASSETARI, 2013, p. 199).

A seguir o entendimento do Conselho Nacional de Justiça exarado na resolução 35:

Art. 16. É possível a promoção de inventário extrajudicial por cessionário de direitos hereditários, mesmo na hipótese de cessão de parte do acervo, desde que todos os herdeiros estejam presentes e concordes.

Por fim, quanto à incidência de tributos com relação à transmissão dos direitos hereditários, teremos duas situações distintas, a saber: a) quando ocorre a transmissão dos direito hereditários de forma gratuita – incidirá o ITCMD (Imposto De Transmissão Causa Mortis E Doação). Contudo, incidirá duas vezes, uma vez que, num primeiro momento, se transmite pelo evento morte e após realiza-se a doação. B) Se onerosa, apenas incidirá o ITBI - Imposto De Transmissão De Bens Móveis (FISCHER, 2007).

Diante de todo enredo, verifica-se que a transmissão de direitos hereditários é possível, desde, é claro, que devidamente observadas as suas objeções. Outrossim, constitui uma forma fantástica, uma vez que um terceiro que não possui nenhum parentesco com o de cujus também poderá fazer parte do inventário extrajudicial, inclusive, poderá proceder a abertura do mesmo.

CONCLUSÃO

Este trabalho teve por objetivo o estudo da inovação ocorrida através da Lei n. 11.441/07, que alterou alguns dispositivos do Código de Processo Civil, qual seja, a possibilidade da realização de inventário e partilha, agora, pela via extrajudicial.

Num primeiro momento, abordou-se a questão da sucessão em geral, pois sem essa introdução, não seria possível a compreensão do estudo do objeto principal. Por sucessão, entende-se o ato pelo qual uma pessoa substitui outra, no que diz respeito à administração dos bens, quando do falecimento de uma pessoa, como visto no decorrer deste trabalho, este fenômeno veio para não deixar o patrimônio do de cujus perecer, pois se não ocorresse a transmissão desde o momento da morte do falecido, não haveria quem desse continuação na administração do patrimônio do mesmo. Por isso, que com a sua morte ocorre, a partir de uma ficção jurídica, a transmissão da herança aos sucessores, ou seja, o Código Civil adotou o princípio da saisine. Logo, a sucessão é aberta no momento do falecimento de uma pessoa. De acordo com a nossa legislação, a sucessão será decorrente de lei (sucessão legítima) ou de ato de disposição de última vontade do falecido (sucessão testamentária).

Posteriormente, transcorreu-se acerca do procedimento do inventário e partilha pela via judicial. Pode-se dizer que inventariar nada mais é do que trazer para dentro do processo, o rol (uma lista) de todos os bens que pertenciam ao falecido, sejam eles móveis ou imóveis, bem como dívidas e créditos, a fim de que no final do processo sejam os mesmos divididos entre os herdeiros de forma igualitária. O Código de Processo Civil aduz que seja feito o requerimento da abertura do inventário no prazo de 60 dias a contar da abertura da sucessão, ou

seja, da morte do de cujus. Já o foro competente para processar e julgar o Inventário será a do último domicílio do réu, mesmo que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro.

Por fim, realizou-se um longo estudo acerca do inventário e partilha extrajudicial, principalmente acerca dos requisitos exigidos para a lavratura da escritura pública, haja vista que, se não forem observados os requisitos exigidos pela legislação, a escritura pública será declarada nula. Foram citados como requisitos exigidos pela legislação: não ter interessado incapaz na sucessão, haver concordância de todos os herdeiros capazes, não ter o de cujus deixado testamento, obrigatoriedade de partilhar todos os bens deixados pelo falecido, como forma de vedação à partilha parcial, a presença de advogado ou Defensor Público, a quitação dos tributos incidentes e, por fim, ser o Brasil o último domicílio do falecido.

Através do inventário e partilha realizados por meio de escritura pública será observada a vontades das partes, uma vez que o Tabelião apenas instrumentalizará o ato. Diante da análise dessa alteração, é possível concluir que antes da edição da Lei n. 11.4412007, a via judicial era o único meio pelo qual era possível a realização de inventário e partilha.

De mais a mais, o procedimento adotado no inventário e partilha extrajudicial, quando observados os requisitos exigidos pela lei, como por exemplo, serem todos os herdeiros maiores e capazes, assim como estarem todos concordes, é mais célere que o adotado pela via judicial.

A partir do desenvolvimento deste trabalho, é possível afirmar que o inventário e partilha extrajudicial (administrativo) constitui um instituto jurídico de grande valia, pois além de ser um benefício para a população brasileira, é também, importante para o do Poder Judiciário, uma vez que provocará o desafogamento da via judicial, pois, agora, o Poder Judiciário poderá se ater mais especificamente às lides litigiosas. Já as lides conciliatórias, que necessitavam apenas da homologação do Magistrado, como é o caso do inventário consensual, poderão ser feitas extrajudicial.

Por todo o exposto no presente trabalho, pode-se dizer que a Lei n. 11.441/07 criou um instituto jurídico eficaz, pois tornou o procedimento do inventário e da partilha mais célere e benéfico para as partes.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Código Civil. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 19 maio 2014.

______. Código de Processo Civil. Disponível em <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5869compilada.htm>. Acesso em: 19 de maio 2014.

______. Agravo de Instrumento Nº 70013303599, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ricardo Raupp Ruschel, Julgado em 21/12/2005. Disponível em<ttp://www.tjrs.jus.br/busca/?q=princ%EDpio+da+saisine++transmiss%E3o+da+h eran%E7a&tb=jurisnova&pesq=ementario&partialfields=tribunal%3ATribunal%2520d e%2520Justi%25C3%25A7a%2520do%2520RS.%28TipoDecisao%3Aac%25C3%2 5B3rd%25C3%25A3o%7CTipoDecisao%3Amonocr%25C3%25A1tica%7CTipoDecis ao%3Anull%29&requiredfields=&as_q=&ini=0>. Acesso em 08: de jun. 2014.

______. Resolução 35 do Conselho Nacional de Justiça. Disponível em < http://www.cnj.jus.br/images/stories/docs_cnj/resolucao/rescnj_35.pdf>. Acesso em: 10 de set. 2014.

CASSETTARI, Christiano. Separação, divórcio e inventário por escritura pública. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2013.

CATEB, Salomão de Araujo. Direito das sucessões. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011. CUNHA, Sérgio Sérvulo da, Dicionário compacto do direito. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

FISCHER, José Flávio Bueno. Escrituras públicas: separação, divórcio, inventário e partilha consensuais. 2. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008.

GONÇALVES, Carlos Roberto Gonçalves. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, v. 7.

GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Procedimentos especiais. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

LEITE, Eduardo de Oliveira. Direito civil aplicado: direito das sucessões. 6. ed. São Paulo: RT, 2004.

PARODI, Ana Cecília; SANTOS, Clarice Ribeiro. Inventário e rompimento conjugal por escritura: praticando a Lei nº 11.441/2007. Campinas: Russell Editores, 2007.

No documento Inventário e partilha extrajudicial (páginas 47-54)

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