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Nos últimos anos, alguns processos da Construção Civil, que demandavam um tempo considerável para serem executados, foram substituídos por mecanismos implantados nos canteiros de obras, sem qualquer “aviso prévio” para a preparação dos trabalhadores. Hoje observa-se a instalação de “mini indústrias” nas obras, que possibilitam uma auto suficiência para a produção de materiais, antes adquiridos no mercado. São lajes, blocos de concreto, materiais pré-moldados, fabricação de concreto e peças cerâmicas de encaixe para a edificação, dentre muitos outros. A indústria da Construção Civil apresenta características próprias em relação à indústria de transformação. Dentre algumas peculiaridades destaca-se: a imobilidade do produto produzido, forte dependência de habilidades motoras do trabalhador e alta rotatividade da mão de obra. Articulam-se a estes fatores a precarização do trabalho, aumento das desigualdades sociais que levam o trabalhador a um estado em que a ausência dos saberes tecnológicos, dentre outras ausências, são percebidos como uma condição pessoal e não como conseqüências socioeconômicas e estruturais promovidas no capitalismo.

Nesse sentido, o aumento da produtividade no setor da Construção Civil se organiza de forma distinta no que se refere à preparação dos profissionais para operacionalizar processos, antes manuais, agora com uso de tecnologias. O resultante é uma força motriz trabalhadora que se torna excedente devido ao aumento considerável do número de desempregados escolarizados. Essa afirmativa encontra respaldo nos dados do PNAD/2006, quando constata que os trabalhadores menos escolarizados, com até 3 anos de estudo, estão perdendo espaço no contingente de ocupados, reduzindo sua participação de 25,6% em 1992, para 19,7% em 2006.

Segundo Martins (1997, p.30), existe um processo de exclusão que é inerente à lógica da sociedade capitalista de “tudo desenraizar e a todos incluir porque tudo deve ser lançado no mercado”. Nesse bojo, as relações entre trabalho e educação são partes importantes dessa contradição, uma vez que estão associadas às exigências da produção industrial, onde uma nova forma de organização e gestão se configura como um modelo onde o trabalhador precisa ser altamente qualificado e polivalente, sem que isto venha a acarretar custos para a empresa.

Acrescenta-se a estes dados o fato que muitos dos trabalhadores incluídos na categoria de menos escolarizados, dificilmente conseguirão alcançar o índice de apropriação digital demandado pelo mercado de trabalho atual. Na Construção Civil, o conceito de “exclusão” está diretamente relacionado ao de “alta produtividade”, ou seja, está passível de ser “excluído” todo trabalhador que não conseguir adequar-se ao modo de produção predial em larga escala, resultando em um contingente de desnecessários sob o ponto de vista econômico. Ainda, segundo Martins (1997, p.30-32), essa é uma marca que se denomina como “população sobrante” criada pelas relações assimétricas entre capital e trabalho.

Durante a entrevista concedida para esta pesquisa, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção, Florisvaldo Bispo dos Santos, também afirma que as tecnologias estão “chegando com vontade na Construção Civil” e exemplifica que determinados serviços que antes eram executados em três dias, por

muitos homens, agora são realizados pela grua5 em questão de horas. Lembra

que a betoneira mecânica desempregou muita gente porque o uso de material pré- moldado causou uma grande revolução no setor e hoje exige que o trabalhador saiba identificar as placas de concreto a partir das informações da planta arquitetônica da obra, o que requer muito mais cuidado e leitura do trabalhador para não errar o projeto.

IMAGEM 2 – FABRICAÇÃO DE BLOCOS E LAJES DE CONCRETO NA OBRA

Foto: arquivo pessoal da autora

Ainda em seu relato, o presidente destaca a instalação, na Bahia, de empresas da Construção Civil vindas da região Sudeste do país, onde os processos e as exigências são distintos dos que se encontram no mercado baiano:

[...] lá eles usam tudo que há de mais avançado em tecnologias e padrão de qualidade, além de não contratarem pessoas analfabetas e, quando chegaram aqui, tiveram que contratar essas pessoas porque não encontraram profissionais bons e com experiência que estejam alfabetizados, aí tiveram que se render. (Florisvaldo Bispo dos Santos).

Sobre essa realidade, a matéria publicada na página do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil do Estado da Bahia traduz a acirrada

5 Grua é um equipamento utilizado para a elevação e a movimentação de cargas e materiais pesados,

usando uma ou mais máquinas simples para criar vantagem mecânica e então mover cargas além da capacidade humana. (wikipedia.org)

concorrência do mercado imobiliário, o que requer uma mudança necessária no cenário da Construção Civil da Bahia, onde a maioria dos indicadores sociais difere, negativamente, dos resultados das demais regiões do Brasil. A chegada de empresas de outras regiões à Bahia requer uma tomada de decisão diante da competitividade e uso das tecnologias na Construção Civil.

[...] A busca incessante por novidades e avanços tecnológicos, seja nas técnicas construtivas, nos métodos gerenciais ou na comunicação com a sociedade, fez da construtora Norcon, empresa sergipana com quase 50 anos de atuação no mercado, a segunda maior construtora do Norte e Nordeste. De acordo com pesquisa realizada recentemente pela revista O Empreiteiro,6 de 24/10/2007, a Norcon, que nos últimos dois anos também atua em Alagoas e na Bahia, subiu duas posições em apenas um ano. [...] De acordo com Caroline Teixeira, diretora de Marketing da Norcon, o bom desempenho da construtora tem acontecido ainda pelo domínio da tecnologia de ponta aliado ao contínuo investimento na qualificação e motivação dos seus colaboradores. “Isso resulta em um trabalho bem estruturado, que prima pela inovação e satisfação das expectativas dos clientes.

Na perspectiva dos trabalhadores, sobre as mudanças que ocorreram na Construção Civil, com a chegada de máquinas e equipamentos com recursos digitais, eles mostram-se ainda surpresos com os avanços, ao tempo em que consideram positivas essas mudanças. Os profissionais entrevistados identificam como principal vantagem a diminuição do esforço físico necessário para realizar determinadas tarefas: “antigamente, pra medir a massa, era numa padiola de madeira, hoje tem um carrinho que já vem com a medida certa do que vai ser usado no serviço. Isso melhorou muito as condições de trabalho na obra” (Sr. Armando, grifos nossos).

O que se questiona na atualidade é até quando o mercado da Construção Civil, reconhecido como o maior empregador de trabalhadores com menor escolaridade, continuará a absorver esses profissionais, visto que os processos de transformações produtivas também estão chegando a esse setor. Um exemplo dessa transformação tecnológica são as construções mais modernas, identificadas como “edifícios inteligentes”. Vários equipamentos, antes manuais, agora são automáticos, e alguns materiais estão sendo preparados no próprio canteiro de obras (pré-moldados, blocos, argamassa), demandando maior apropriação de conhecimentos por parte do

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trabalhador, especialmente os relacionados à aquisição de práticas necessárias à operação dos equipamentos recém chegados à obra.

Dentre os exemplos de tecnologias presentes nos canteiros de obra, citados pelos entrevistados, foram mencionados e traduzidos, de acordo com a fala do trabalhador, os seguintes equipamentos, considerados por eles importantes na construção: a máquina que jateia direto na parede e o pedreiro apenas sarrafeia7, o elevador de carga, o computador onde eles podem ver a planta completa da construção através de software específico, a betoneira automática e o relógio de ponto digital que deixou de ser através de uma alavanca como lembra a figura abaixo

IMAGEM 3 – ANTIGO RELÓGIO DE CARTÃO DE PONTO E O CRACHÁ DIGITAL