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2. Capítulo II A experiência turística e a cocriação em contexto rural

2.3. A cocriação, criatividade e inovação em turismo rural

A atividade turística tem vindo a ser encarada como uma solução para o desenvolvimento sustentável das zonas rurais, que atualmente sofrem um pouco os efeitos da modernização, e consequente queda das suas atividades primárias, envelhecimento ou mesmo perda da sua população. A tendência recente da busca do turista pela autenticidade destes espaços, tem contribuído positivamente para o seu desenvolvimento. No entanto, torna-se fundamental cri- ar estratégias capazes de diferenciar destinos rurais, e oferecer experiências capazes de cor- responder a estas expectativas, aproveitando recursos existentes (Sasu & Epuran, 2016), e evitando a globalização gerada pelo turismo de massas, nos quais os destinos acabam por per- der a sua identidade copiando estratégias de outros destinos (Sasu & Epuran, 2016). Desta forma, têm surgido atividades criativas que pretendem envolver os turistas nas tradições de cada local. A criatividade adota assim o papel principal na criação de experiências de turismo rural.

Segundo Richards (2012), a criatividade é um estímulo para a inovação. É entendida como a “formação das ideias, e a inovação é a sua colocação em prática” (Mota, Remoaldo & Ribei- ro, 2012, p. 62). Segundo Tavares, Salvador e Moraes (2014), a inovação é um elemento po- tenciador do dinamismo das mais diversas atividades, sendo capaz de revitalizar destinos já

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conhecidos, ou potenciar o desenvolvimento dos mais desconhecidos, motivando a sua procu- ra.

Existem diversos modelos de inovação em turismo, sendo que os seus processos têm sofrido diversas alterações ao longo dos tempos (Tavares, Salvador & Moraes, 2014). Se os modelos iniciais adquiriam formatos mais lineares que reconheciam a inovação como uma consequên- cia direta de acontecimentos ocorridos nas organizações, os modelos mais atuais admitem a influência de agentes externos, como a comunidade, o conhecimento científico e o próprio mercado (Tavares, Salvador & Moraes, 2014). Estes modelos atuais baseiam-se na premissa da inovação em rede (Macedo, Miguel & Filho, 2015; Tavares, Salvador & Moraes, 2014), reconhecendo que não se trata de um processo linear, mas sim de um processo de sinergias entre agentes internos e externos. Estas sinergias foram potenciadas pelos avanços dos siste- mas de informação, nomeadamente a internet. A internet acaba por fazer com que as tais si- nergias aconteçam a uma velocidade alucinante (Tavares, Salvador & Moraes, 2014), contri- buindo ainda para a informação do próprio turista quase a tempo real. Desta forma, acaba por estar facilitada a tarefa de difusão de informação por parte das entidades organizadoras do turismo, restando recorrer à criatividade e inovação para se destacar no mercado competitivo em que se insere.

Podemos reconhecer que a criatividade se trata de um elemento crucial e diferenciador para a revitalização e promoção de destinos turísticos rurais, tendo em conta o sem número de op- ções que nos dias de hoje o turista tem à sua disposição, à distância de um clique. Através da conjugação da criatividade com o turismo, é possível inovar nos produtos e serviços ofereci- dos, acabando o destino por beneficiar do fator diferenciação (Carvalho & Alves, 2017). A inovação e criatividade deverão então estar presentes no desenvolvimento e processo de cria- ção de produtos e serviços, ou experiências, no contexto do turismo rural.

No entanto, a criatividade foi em tempos entendida como algo indecifrável por muitos, e por vezes até intangível. No passado, a criatividade foi vista como “desafiadora das leis divinas”,

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Como pudemos observar no capítulo anterior, o turismo criativo pode proporcionar experiên- cias autênticas que colocam o turista numa posição participativa, envolvido com a comunida- de, produzindo a sua experiência, conjuntamente. Segundo Richards (2012), as zonas rurais são privilegiadas para a existência de turismo criativo, já que possibilitam a integração de turistas nas atividades do dia-a-dia das populações. Deste modo, podemos identificar a cocria- ção de experiências como uma estratégia criativa que beneficia tanto o turista, como a comu- nidade, e mesmo o espaço em que decorre.

Estas experiências criativas estão então intimamente ligadas com costumes das populações locais, como o artesanato, a gastronomia, o teatro, ou mesmo as festividades. Poderão tradu- zir-se em workshops de cozinha típica, ateliers de cerâmica ou mesmo pintura, sendo que qualquer atividade económica se poderá relacionar com o turismo criativo (Richards, 2012). O exemplo das vindimas acaba por ser um bom exemplo da prática local rural que permite a participação imersiva do turista, promovendo a sua aprendizagem e consequente enriqueci- mento pessoal (Carvalho & Alves, 2017). Contudo, existem um sem número de atividades que poderão encaixar-se nesta modalidade de turismo, de acordo com as características espe- cíficas de cada local. Richards (2012) enumera, por exemplo, a participação na reconstrução de aldeias, associada ao turismo de voluntariado, a utilização de itinerários associada a aplica- ções móveis, ateliers de processos de produção de sabonetes, de queijaria, cestaria, entre ou- tros. A imaginação é o limite, e a intenção é reinventar processos que poderão contribuir para o desenvolvimento sustentável da zona rural em questão, nunca esquecendo de corresponder às necessidades do turista, promovendo a autenticidade, o contacto com a população e a con- servação de recursos tangíveis e intangíveis.

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No lado da oferta, a aplicação de estratégias criativas possui então a capacidade de trazer con- sigo enumeras vantagens tanto no campo empresarial como a nível pessoal. Em relação às empresas, tem a capacidade de melhorar produtos e serviços, nomeadamente garantindo a sua qualidade e atuando como um fator de diferenciação. Procura ainda soluções inovadoras não- -convencionais, através da melhoria da produtividade e promovendo relações interpessoais. São ainda enunciadas vantagens ao nível da redução de custos e consequente redução do im- pacto ambiental (Costa et al., 2011). Já ao nível pessoal de cada indivíduo, poderá contribuir para a superação de dificuldades, levando a cabo a identificação de necessidades e promoven- do a melhoria da sua qualidade de vida (Costa et al., 2011).

Em suma, a criatividade e a inovação são elementos cruciais para o desenvolvimento de expe- riências turísticas em contexto rural, já que permitirão a cocriação de experiências, e a promo- ção da diferenciação entre destinos, através de uma correta gestão de recursos autóctones. O envolvimento do turista nas mais diversas atividades diárias da população local, em contexto rural, promove o bom funcionamento do destino enquanto destino turístico, além de que po- derá ser considerado um processo criativo que responde às necessidades do turista e da popu- lação. A cocriação de experiências turísticas pode então ser entendida como uma estratégia criativa para o desenvolvimento do turismo rural. Se a criatividade é um estímulo para o pro- cesso de inovação e a inovação promove o dinamismo das mais diversas atividades económi- cas, então a criatividade pode contribuir para o dinamismo da atividade turística, não só rural, mas também.

Então e o design enquanto disciplina? Será que poderá também influenciar a experiência turís- tica em contexto rural, promovendo a diferenciação de destinos, ou particularmente, de em- preendimentos? No próximo capítulo pretende-se compreender o que é afinal o design, bem como o processo de design thinking, processo este que poderá também ser aplicado como um processo gerador de inovação (Macedo, Miguel & Filho, 2015).

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