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A combinação do binômio continuidade-terminalidade e a pretensão de superar

5. O LUGAR DO ENSINO MÉDIO NO ―PAÍS QUE VAI PRA FRENTE‖

5.1. A combinação do binômio continuidade-terminalidade e a pretensão de superar

função do ensino superior, e o ensino profissional, de caráte terminal

Com a implantação da Lei 5.692/71, o debate sobre a oposição entre formação humanista (formação geral) versus formação técnica reascendeu.

O humanismo entendido como a concepção de toda a herança cultura acumulada pela humanidade, que precisava estar adaptada as ideias democráticas da vida moderna. Já a educação técnica por definição era concebida como o trabalho humano, o fazer. O Humanismo não podia, portanto, permanecer estranho ao trabalho, porém seria suicídio divorciar da vida cotidiana os valores e princípios ético-sociais que o ideal humanista sintetizava.

Entre os educadores que escreveram na RBEP foi unânime a defesa da formação integral pois entendiam que isolada e particularizada a educação humanística era artificial, desligada da existência, já a educação exclusivamente técnica levava a especialização sem levar em conta o ser humano.

Depois da promulgação da Lei 5.692/71, a RBEP dedicou-se a divulgar e explicar as mudanças instituídas. Os artigos relacionados ao Ensino Médio deixaram de ser problematizadores e propositores e adquiram uma natureza prescritiva e de orientação legal.

A Resolução n° 8, de 1/12/71, anexo parecer n° 853/71 regulamentava no art. 1º estabelecia que: ―o núcleo-comum a ser incluído obrigatoriamente, nos currículos plenos do ensino de 1º e 2º graus abrangerá as seguintes matérias: Comunicação e Expressão, Estudos Sociais e Ciências‖, § 2º - Exige-se também Educação Física, Educação Artística, Educação Moral e Cívica, Programas de Saúde e Ensino Religioso, este obrigatório para os estabelecimentos oficiais e facultativo para os alunos. Com relação à qualificação para o trabalho, a RBEP publicou em janeiro de 1972 o Parecer aprovado pelo CFE a 12/1/72; sobre as habilitações mínimas para o 2º grau.

O Conselho Federal de Educação fixava o mínimo a ser exigido em cada habilitação profissional e tinha a função de aprovar habilitações outras para as quais não estivesse estabelecido previamente os mínimos necessários (art. 4º § 3º).

Quadro 5 – Resumo esquemático das competências na fixação dos currículos (2º

grau) – atuação das instituições de educação

CATEGORIAS COMPETÊNCIAS

CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO

FIXA

AS MATÉRIAS RELATIVAS AO NÚCLEO COMUM DEFINE

Os objetivos e a amplitude dessas matérias FIXA

1 – Mínimo (de matérias) de cada habilitação profissional

2 Mínimo (de matérias) de conjuntos de habilitações afins

APROVA

Outras habilitações profissionais propostas pelos estabelecimentos de ensino, com validade nacional 2 – CONSELHOS DE

EDUCAÇÃO

Relacionam

Para os respectivos sistemas de ensino, as matérias dentre as quais poderá cada estabelecimento escolher as que devam constituir a parte diversificada.

APROVAM

1 – A inclusão, nos currículos dos estabelecimentos, de estudos não decorrentes de matérias relacionadas para a finalidade prevista no item anterior.

2 – Outras habilitações profissionais diversas das fixadas na forma de §§ 3º e 4º do art. 4º da LEI, com validade apenas no âmbito regional.

3 – ESTABELECIMENTOS DE ENSINO

ESCOLHEM

As matérias que devam constituir a parte diversificada de seus currículos

ADOTAM

Com a aprovação do competente Conselho de Educação, outras habilitações para as quais nelas haja mínimos de currículos previamente estabelecidos.

Fonte: DOCUMENTAÇÃO. Qualificação para o trabalho no ensino de segundo grau, Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro: INEP, v. 57, n.125, p.132, jan/mar, 1971.

O objetivo era atender aos dois aspectos da educação, humanismo e tecnologia, ou seja, educação geral e formação especial. Segundo a Lei 5.692/71, os currículos do ensino de 1º e 2º graus teriam um núcleo comum, obrigatório em âmbito nacional, e uma parte diversificada para atender, conforme as necessidades e possibilidades concretas, às peculiaridades locais, aos planos dos estabelecimentos e às diferenças individuais dos alunos (art. 4°).

Era a regra geral dos colégios de 2º ciclo, de olho nos vestibulares, porta de entrada para o Ensino Superior, seguirem um currículo voltado para este fim. O grande desafio da reforma era de mudar subitamente a mentalidade dos alunos e suas famílias, e ao mesmo tempo aparelhar rapidamente as escolas com recursos humanos e técnicos, para esta transformação. A polêmica articulação do ensino de grau médio com o superior continuava a ser um problema que a reforma não não era capaz de resolveu, pois, a complexidade do assunto não comportava uma solução tão simplista somente com a modificação da lei.

O que se continuava pedindo nos vestibulares ultrapassava de muito, não apenas uma ou outra ―forma de educação do segundo grau‖, mas quase todas. Deste modo, não é possível ignorar – enquanto perdurar tal estado de coisas – a angústia dos alunos que desejam continuar seus estudos em nível superior e a preocupação das escolas em satisfazer este desejo, que é legítimo, de seus alunos. (...) Sou dos que acreditam que os vestibulares, enquanto assim concebidos, continuarão a ser elemento perturbador a atuar sobre os estudos do 2º grau, continuarão a fazer proliferar a solução esdrúxula dos ―cursinhos‖, que se podem considerar como elementos de legítima defesa (DOCUMENTAÇÃO, 1972, p. 128).

A implantação das habilitações para o 2º grau tinha sido condicionada a estudos que apurassem as necessidades do mercado de trabalho local e regional, porém este levantamento não foi feito. No livro publicado em 1976, ―Análise do currículo do ensino de 2° grau‖, Nadia Cunha afirma que o problema maior ao elaborar o currículo estava na dificuldade em se estabelecer a dosagem de cultura geral e cultura técnica mais adequada, isto gerou confusão e indecisão.

Segundo Cunha (1976) num primeiro momento, tinha-se a impressão de que a implantação da Lei 5.692/71 havia ocorrido sem grandes problemas, ao menos no que se refere à variedade de habilitações oferecidas, composição de currículos e carga horária.

Os Conselhos Federal e Estaduais de Educação deliberaram a recomendação para que os sistemas de ensino em 1972 não cumprissem prontamente a nova lei, sobretudo nas instituições de 2.° grau, que ainda não apresentam condições. A orientação era de que a implantação fosse feita paulatinamente conforme os estabelecimentos de ensino (oficiais e particulares) estivessem em condições adequadas para implementar os cursos profissionalizantes.

O que ocorreu, segundo Nadia Cunha foi o oposto, as escolas se sentiram muito à vontade na nova situação, tanto assim que montaram currículos, com poucas exceções, cuja carga horária e elenco de disciplinas de núcleo comum e profissionalizantes estavam não só dentro das recomendações legais, mas chegavam mesmo, em muitos casos, a suplantá-las.

O estudo mais demorado, porém, de cada caso e, sobretudo, o do conjunto das escolas envolvidas, revelou tendências comuns de certas acomodações, ditadas muito provavelmente pelas dificuldades antevistas pela citada Recomendação dos Conselhos de Educação. A verdade é que poucos, ao que parece, entenderam de fato a Lei, mas todos se sentiram levados a cumpri-la de imediato ou ao menos informaram atendimento às solicitações dos alunos; via de regra, as habilitações oferecidas, correspondem a variações das 3 antigas áreas — tecnológica, biomédica e de ciências humanas — em que os cursos científico e clássico procuravam organizar-se para preparar sua clientela para o vestibular (CUNHA, 1976, p.16-17).

O problema da aplicação da lei estava na inadequação entre os objetivos da mesma e o que os estudantes queriam, ou seja, continuar os estudos no Ensino Superior. Os colégios particulares através de uma ―maquiagem no currículo‖ continuaram a preparar os estudantes para o vestibular. Na rede pública a imposição da nova lei desestruturou e descaracterizou totalmente o curso secundário. Sem instalações e equipamentos adequados ou professores qualificados o currículo profissionalizante não cumpriu o objetivo de habilitar os jovens para o mercado de trabalho.