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Os primeiros anos da gestão de Anísio Teixeira e a criação dos Centros de

1. A ATUAÇÃO DO INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS (INEP)

1.1. Os primeiros anos da gestão de Anísio Teixeira e a criação dos Centros de

Ao assumir a direção do INEP, Anísio Teixeira em seu discurso de posse, defendeu a descentralização administrativa da educação e a produção do conhecimento científico e da experimentação educacional como essenciais para elaboração de políticas públicas. Criticou também a política educacional de expansão do sistema escolar realizada pelo governo federal, considerada por ele rígida e burocratizada e ainda a expansão sem planejamento que não atendia às novas exigências de uma sociedade urbano-industrial.

Para Anísio, a estrutura educacional, ao invés de colaborar para as soluções dos problemas, acabou por agravar os profundos desequilíbrios já existentes entre as várias regiões do país, por isso, considerava fundamental fazer um diagnóstico do sistema educacional, através de pesquisas subsidiadas pelo INEP. (TEIXEIRA, 1952).

O Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos tem de tentar uma tomada de consciência na marcha da expansão educacional brasileira, examinar o que foi feito e como foi feito, proceder a inquéritos esclarecedores e experimentar medir a eficiência ou ineficiência de nosso ensino (TEIXEIRA, 1952, p.76).

A intenção de Anísio Teixeira era tornar o INEP mais dinâmico e adotar estratégias para contornar a falta de pessoal especializado e a inércia da burocracia estatal. A primeira estratégia foi a criação de duas campanhas nacionais: CALDEME e CILEME. (MENDONÇA; XAVIER, 2008).

Em 1952 teve início a Campanha do Livro Didático e Manuais de Ensino (CALDEME) com o objetivo de prestar assistência técnica aos professores dos Ensino Primário e Médio, através do fornecimento de guias ou manuais escritos especialmente para a sua orientação.. Em 1956 a CALDENE se integrou à Campanha Nacional de Material de Ensino. Foram feitos acordos com vários

especialistas de diversas áreas, que resultaram na publicação pelo INEP, entre 1955 e 1967 de 10 volumes dedicados aos professores do Ensino Primário, nove volumes para o Ensino Secundário, além de três livros-texto. (BITTENCOURT, 1959).

A segunda Campanha, instituída pela portaria nº 160 de 26 de março de 1953, foi a Campanha de Inquéritos e Levantamentos do Ensino Médio e Elementar (CILEME). O objetivo dessa Campanha, segundo Bittencourt (1959) era medir e avaliar a real situação do Ensino Médio e do ensino elementar em todo o país, com profundidade e generalidade suficiente, ressaltando as modalidades sob as quais se apresentavam, as circunstâncias que lhes deram origem, e o papel que representavam no quadro geral das instituições.

Por fazer parte das chamadas Campanhas Extraordinárias de Educação, a CILEME contou com recursos próprios, que lhe foram consignados pelo MEC com rapidez e independência, sendo necessário apenas apresentar um plano de aplicação dos recursos e posterior prestação de contas. A Campanha contou com especialistas e equipes auxiliares, especialmente contratadas nos estados onde as pesquisas foram realizadas.

Até então, os levantamentos sobre os sistemas de ensino estaduais eram feitos a partir de dados estatísticos, apurados pelo serviço de estatísticas do Ministério da Educação e Cultura e pelos serviços de estatísticas existentes nos estados. Com a CILEME os objetivos foram ampliados, pois, além dos estudos da relação escola e meio social em que funcionava, a Campanha tinha a ambição de apresentar propostas de intervenção.

Com a finalidade específica de realizar investigações científicas na área da educação foram criados os Centros de Pesquisa Educacionais, subordinados ao INEP que passariam a realizar pesquisas em ciências sociais, além de levantamentos estatísticos, pesquisas pedagógicas e psicológicas, análise e interpretação das relações entre educação escolarizada e as mudanças sociais, políticas e econômicas que estavam ocorrendo em diferentes ritmos nas várias regiões do Brasil.

Art. 2º - Os Centros de Pesquisa a que alude o artigo anterior têm os seguintes objetivos: I – Pesquisa das condições culturais e escolares e das tendências de desenvolvimento de cada região e da sociedade brasileira como um todo, para o efeito de conseguir-se a elaboração gradual de uma política educacional para o país; II – Elaboração de planos, recomendações e sugestões para a revisão e a reconstrução educacional do país – em cada região – nos níveis primário, médio e

superior e no setor de educação de adultos; III – Elaboração de livros de fontes e textos, preparo de material de ensino, estudos especiais sobre administração escolar, currículo, psicologia educacional, filosofia da educação, medidas escolares, formação de mestres e sobre quaisquer outros temas que concorram para o aperfeiçoamento do magistério nacional; IV – treinamento e aperfeiçoamento de administradores escolares, orientadores educacionais, especialistas de educação e professores de escolas normais e primárias (DECRETO nº 38.460, de 28/12/1955).

O regime de financiamento para os Centros foi o mesmo estabelecido para as Campanhas Nacionais de Educação, o que permitiu às novas instituições ter acesso mais rápido aos recursos orçamentários com a possibilidade de contratação de pessoal para a realização de projetos de pesquisa específicos. O decreto também previa o estabelecimento de convênios para a manutenção e administração dos Centros Regionais.

Estas pesquisas deveriam gerar subsídios científicos para a tomada de decisões políticas, relativas à educação tanto na esfera federal, como local. Estrategicamente, portanto, os Centros se instalaram nas capitais de seis estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia.

Com o objetivo de divulgar os trabalhos realizados pelo INEP, além da publicação, desde 1944, da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (RBEP); o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE) publicou, entre 1956 e 1962, a Revista Educação e Ciências Sociais; e o Centro Regional de Pesquisas Educacionais de São Paulo (CRPE/SP), publicou a Revista Pesquisa e Planejamento, entre 1957 e 1975.

A criação dos Centros de Pesquisa se insere num movimento de intensificação da ação governamental, no sentido de construir aparatos oficiais de estudos e planejamento no campo educacional. Segundo Neves (2002), ao lado do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB)16e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL/USP), os Centros de Pesquisa do INEP faziam parte dos esforços empreendidos, no sentido de

16Os ideais nacional-desenvolvimentista se afirmaram como doutrina oficial do estado. O Instituto Superior de

Estudos Brasileiros (ISEB) foi criado no Ministério da Educação e Cultura poucos meses antes da criação dos Centros do INEP. Na teorização elaborada pelo ISEB podem ser encontradas considerações sobre o papel da educação no processo de desenvolvimento nacional. No programa de metas do governo de Juscelino Kubitschek estabelecido para o período de 1956 a 1961, a educação foi incluída como um dos cinco setores considerados estratégicos para o desenvolvimento nacional, juntamente com a energia, transporte, alimentação e indústria de base. (SKIDMORE, 1976).

compreender a realidade social e educacional brasileira, discutindo alternativas para a sua transformação.

Desde a década de 1930, a educação já era vista como um problema nacional e, portanto responsabilidade do estado. A criação do INEP e dos Centros Brasileiro e Regionais de Pesquisas Educacionais faziam parte da estratégia, dentro do aparato burocrático, de dotar o MEC de uma estrutura que produzisse conhecimentos considerados válidos cientificamente e tecnicamente, para que subsidiassem o governo federal na tomada de decisões no campo educacional. Estes órgãos serviam à racionalização, ou seja, à modernização do estado brasileiro.

Na estrutura dos Centros foi feita uma divisão entre as pesquisas em ciências sociais e a pesquisa educacional. Em cada um dos Centros estava previsto o funcionamento de uma divisão de Estudos e Pesquisas Sociais (DEOPS) e de uma Divisão de Estudos e Pesquisas Educacionais (DEPE).

A Divisão de Estudos e Pesquisas Sociais previa a realização de pesquisas em ciências sociais com contribuições da Sociologia, Psicologia Social, Antropologia, Economia e demais disciplinas sociais. A Divisão de Estudos e Pesquisas Educacionais tinha como alvo obter informações sobre o Ensino Primário, Médio e Superior nos estados com estudos sobre currículo, métodos de ensino, materiais didáticos, administração educacional, estrutura física da rede de ensino, expectativas dos alunos em relação ao ensino, condições socioeconômicas dos alunos, desenvolvimento psicológico e aprendizagem, estudos sobre medidas de rendimento escolar, testes de inteligência e estudos interpretativos e críticos sobre estatísticas educacionais. (CBPE, 1956).

A proposta dos Centros era, portanto, substituir o método opinativo, do ―senso comum‖, pelo uso do método científico, considerado o único capaz de atribuir ao planejamento das políticas educacionais a racionalidade que uma sociedade moderna, tecnológica, urbana e industrial tanto necessitava. Assim, as pesquisas em ciências sociais aplicadas à educação e as pesquisas educacionais, realizadas através da colaboração entre cientistas sociais e educadores, seriam utilizadas nos Centros do INEP como instrumentos para favorecer a articulação entre conhecimento científico, e a solução racional dos diversos problemas na educação, existentes nas diversas regiões do país. Conforme afirmava Anísio Teixeira:

Os nossos Centros de Pesquisa Educacional se organizaram, assim, num momento de revisão e tomada de consciência dos progressos do tratamento científico da função educativa e, por isto mesmo, têm certa originalidade. Pela primeira vez, busca-se aproximar uns dos outros os trabalhos de ciências especiais, fontes de uma possível ciência aplicada da educação. Esta aproximação visa, antes de tudo, levar o cientista especial, o psicólogo, o antropólogo, o sociólogo, a buscar no campo da ―prática escolar‖ os seus problemas. (TEIXEIRA, 1957, p.78-79).

O trabalho de pesquisa desenvolvido nos Centros do INEP se alinhava ao pragmatismo, defendido pelo grupo de intelectuais que trabalhavam com Anísio. Com a finalidade de tornar a educação um fator de mudança cultural, provocada no sentido de favorecer o processo de desenvolvimento do país.

Enquanto as pesquisas em ciências sociais aplicadas à educação deveriam investigar as mudanças em curso na sociedade brasileira considerando a diversidade regional existente e suas relações com a educação escolarizada, as pesquisas educacionais deveriam estudar os diversos aspectos relacionados à administração escolar. Conforme afirma Libânia (1999), uma ação formulada no tempo presente, sendo que os resultados não se esgotariam nos ajuste das necessidades imediatas, mais sim, na projeção de uma situação futura, racionalmente conduzida.